Capítulo-5

Me afastando de seu toque com a expressão vazia, sento na cama, e olho ele agora colocar o seu relógio de ouro no pulso.

— Então eu tenho que escolher entre você e a minha liberdade e meus sonhos papai? Isso continua sendo injusto para mim, porque eu amo todos. — Digo triste. Papai enfim me olha e então vejo compaixão em seu semblante antes de me responder. — Fernanda, eu estou velho, sua mãe internada em uma clínica. Se eu morrer amanhã minha filha, quero que esteja segura com alguém que nunca te faça mal algum. eu vi como Augusto é cuidadoso com a mãe, e também com a irmã mais nova. a maneira dele as tratar, me convenceu que ele era o adequado para você. Tenho medo de não conhecer um homem para qual se entregará no futuro. Não poderei descansar no meu túmulo, se você estiver sofrendo. Então me dê essa paz. — Papai se levanta e continua. — Pense, é como eu disse, se for me dar um sim, apareça no jantar.

Depois disso ele sai do quarto me deixando com os olhos cheios de lágrimas. — Augusto, seu mentiroso idiota... papai acordou cheio de disposição, e foi ele quem brigou comigo, vou me vingar de você.

Digo para mim mesma chorando, deixando enfim as lágrimas descerem pelo meu rosto.

— Senhorita Fernanda? Desculpe. Não vi que estava aqui. Achei que tinha ido tomar café da manhã, porque vi o seu pai saindo, aí aproveitei e vim arrumar o quarto. —  Eloisa tentou se explicar sem graça ao me ver chorando no quarto. Imagino o choque, já que ninguém havia me visto chorar antes. Limpo minhas bochechas molhadas rapidamente e me recomponho. Abrindo um sorriso largo para ela a respondo.

— Não se preocupe Eloisa, eu estava chorando de felicidade. Bom, vou embora porque tenho uma reunião importante de última hora. Eu lamento por não poder ficar para o café. — Sem deixar ela me impedir de ir, saio do quarto do meu pai e vou para o meu pegar a minha bolsa que havia deixado lá, em seguida saio o mais breve possível desta mansão sufocante.

No trabalho, as coisas andam bem. Tive sorte em remarcar minha reunião mais importante, o cliente que nos financia em uma boa parte do projeto atual, teve uma viagem inesperada, mas logo voltará. Olhando o porta-retrato onde está eu, minha mãe e  meu pai e meu irmão já falecido, sinto meu peito devastado. Eu sei que prometi a ele que estaríamos sempre juntos em família, mas me casar a troco disso? Esse é o único caminho para que eu possa manter minha promessa? Estou tão confusa, que parece que vou enlouquecer.

— Você mentiu para mim Oliver, me fez prometer que estaríamos sempre juntos, unidos, mas partiu primeiro. Você é o culpado sabia? Porque você se foi! — Grito com a foto, dentro do meu escritório chamando a atenção de todos os funcionários que estão trabalhando no lado de fora da minha sala.

— Fernanda, você está bem? — Rose entra após algumas batidas, preocupada. Eu então percebo que passei dos limites, e ficar aqui dentro não vai me fazer bem, não agora.

— Eu acho que não. Desculpa Rose, tenho que tomar um ar fresco ou vou acabar em um manicômio usando camisa de força.

Depois de alguns Minutos dirigindo, chego aonde eu queria estar no alto da montanha preferida de Oliver. Ele me trazia aqui e me dizia o quanto amava essa vista da cidade, principalmente no fim do dia ao pôr do sol. Enfim posso respirar novamente. Sinto o vento bater no meu cabelo longo e a brisa me acalmar. É como se Oliver estivesse aqui, na verdade eu acho que eu o sinto realmente aqui. Dou alguns passos mais à frente, levada pela sensação gostosa. Oliver tinha 22 anos quando morreu em um acidente de carro. Sua morte foi imediata. Uma carreta bateu no seu carro enquanto ele voltava para casa. Todos nós ficamos desesperados, eu tinha apenas 9 anos na época, foi um ano antes de me traumatizarem com a minha festa de aniversário. Oliver sempre foi o mais brincalhão e sorridente dentre nós. Sinto falta dele correndo pela casa, a Mamãe rindo conosco e o papai como sempre, resmungando se fazendo de difícil, como se fosse de Ferro. Mas com Oliver eu via em seu rosto um resquício de sorriso e tranquilidade nele, mesma a casa estando uma bagunça, era o nosso caos de felicidade. Com os olhos ainda fechados sussurro: — eu ainda o sinto, Oliver. Obrigada por estar comigo neste momento. Estendo minhas mãos para cima, ainda sentindo o vento que passa pelo meu corpo.

— Espera Fernanda! Não faça isso!

De repente, mãos me agarram e me puxam me tirando do meu momento relaxante. Assustada eu abro meus olhos e então vejo Augusto, que amorteceu a minha queda sobre o chão com o seu corpo, ao me tirar da beirada do abismo. Nossos olhares se encontram e nossos corpos alinhados parecem haver ondas de choque.

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