Capítulo-4

Eu fico desconcertada pela falta do seu toque. Meu Deus, que homem... que homem.

— Se já terminou com essa tentativa frustrante, gostaria de poder descansar um pouco, amanhã tenho reuniões importantes que foram desmarcadas hoje, por sua causa.

Me recomponho deste pequeno surto me fazendo de difícil. Não posso deixa-lo ver que me desestabilizou, mas mesmo assim eu tentando esconder, Augusto parece notar e me lança um sorriso meio que traiçoeiro.

— Vou embora, mas não porque me pediu e sim para você não ficar vermelha ainda mais, bonequinha. Aliás, sobre o seu pai, deixe ele descansar, ele pode acordar meio atordoado, então tenha paciência com ele e evite brigas no momento. — Depois disso, Augusto caminha até a porta e vai embora, juntamente com sua mãe que estava com a feição preocupada.

Começo a olhar por onde eles se foram e sinto um alívio tomar de conta de mim. Por que estou tão nervosa? Augusto me deixou assim pela sua atitude repentina. Só pode ser de susto, eu preciso descansar. Vou até o meu antigo quarto da época da adolescência, nada mudou aqui, tudo está da mesma forma, até mesmo as minhas roupas e ursinhos. Minha escrivaninha continua com as minhas metas que havia colocado para não esquecer no pequeno mural ao lado.... “ ser independe e ter minha empresa.” “Viajar pelo mundo”. “conhecer a pessoa certa para me entregar”. “Casar com a pessoa certa”.

É.... estou prestes a casar, mas não sei se é a pessoa certa, na real, nem sei quem ele é. Preciso parar esse casamento. Arranco os bilhetinhos do mural meio chateada e os jogos no lixo. Em seguida tomo um banho, visto o meu pijama e vou para a cama. Depois de um dia como esse tudo o que eu quero é descansar.

No dia seguinte me espreguiço assim que acordo e me levanto da minha cama. Dormir no meu antigo quarto não foi uma boa ideia, já que nunca gostei muito da minha cama e de estar aqui. O motivo é que esse ambiente me traz lembranças dolorosas, por isso me mudei assim que completei a maior idade. Papai na época não entendeu, mas eu não podia ficar. Via meu irmão por toda a casa, mesmo ele não estando entre a gente mais. Isso me doía muito, isso ainda me dói muito para falar a verdade. Mas também, por ter visto no que minha mãe se transformou após a morte dele.

De repente, começo a lembrar do passado, é inevitável, não consigo segurar. ( Lembranças de Fernanda: — Mamãe já vai sair? Mas hoje é meu aniversário, mamãe. Você prometeu que iria ficar. — Digo nervosa, ao vê-la com a chaves de seu carro. Mamãe sempre foi viciada em compras, mas seu estado se agravou depois da morte do meu irmão mais velho, Oliver. Tanto que ela quase foi presa uma vez por fazer barraco na porta de uma loja de roupas de marcas. Ele afirmava que era a loja preferida de Oliver, na época foi lamentável a ver assim. E tudo porque estavam fechando a loja e ela queria comprar peças que ainda nem chegaram para ele.

— Saí, menina... me deixa.  Se quer algo não me agarre, só diga o que quer que eu compre para você. Solta!

Aí! — Mamãe me empurra fazendo com que eu caia no chão. Meus olhos se enchem de lágrimas mas não é pela dor do joelho ralado, mas sim pelo jeito que eu havia sido tratada. Nenhum presente poderia suprir a presença dela e o seu afeto como mãe, que era o que eu mais queria naquele momento. 

Desde então não consigo pensar no meu aniversário como antes. Toda vez que essa data se aproxima eu não me sinto mais animada para comemorar, eu sempre arrumo um jeito de sumir. Por ter feito tanta questão no passado, abriram um poço no meu coração para que eu não sinta nada. Onde eu joguei todas as lembranças boas e deixei afundarem, sozinhas naquela escuridão. Nada é capaz de puxa-las para a superfície, não importa o que façam.

Volto para a realidade com o toque de notificação do meu celular. O pego na mesa de cabeceira onde estava carregando, vejo que é a Rose. Ela me mandou uma mensagem de texto com a agenda anexada. Avisando também sobre a minha primeira reunião do dia. A primeira de muitas. Tudo por culpa daquele maldito jantar! Que só me deu dor de cabeça.

— Senhorita Fernanda, o café da manhã já está posto a mesa. Quer que eu acorde seu pai para tomarem juntos? É raro ver a senhorita dormir nesta casa. Por isso me certifiquei de deixar pronto bem cedo para que tenham esse momento.  — Perguntou Eloisa, nossa governanta, assim que eu saí saio para fora no corredor.

— Não precisa chama-lo Eloisa, obrigada por sua atenção e por me avisar, vou eu mesma verificar se ele já acordou. Logo estaremos na mês para saborear sua comida deliciosa, que aliás eu estava morrendo de vontade de comer.

Eloisa me dá um sorriso e saí para organizar outras coisas. Ainda no corredor, vou em direção ao quarto do meu pai. Duante a noite vinha vê-lo algumas vezes preocupada com o seu estado. Apesar de tudo isso que estamos passando e essas brigas infantis, ainda me sinto me responsável em cuidar do meu pai, sinto também que fui eu a causa de sua crise naquele momento ontem. Talvez se eu não tivesse o deixado com raiva e gritado com ele, negando o casamento, ele teria tido essa crise mesmo assim? Essa dúvida cruel pondera sobre a minha cabeça desde ontem quando me deitei a agora quando acordei.

Assim que eu chego em frente à porta do quarto do meu pai, a abro. Papai já estava de pé arrumando a gola de sua camisa social.

— Bom dia pai. Vim ver como estava e te-

— Você é minha filha por acaso? Para me chamar de pai? Você abdicou os seus direitos como tais ontem, então que eu saiba, eu não mais uma filha. Vá embora, por favor e viva sua vida. — Suas duras palavras me cortam o coração como lâminas super afiadas, assim que ele interrompe o que eu estava dizendo. Ele mal me olha, ainda de costas para mim, dá para ver que ele que ele me ignora de propósito. Mas eu sou tão teimosa quanto ele, não gosto de ceder facilmente.

— Papai, não fala assim comigo. Você é tudo para mim, esqueça essa história de casamento papai. Você sabe o quão cruel está sendo comigo? Eu me importo muito com você, não faz assim. — Respondo o abraçando por trás, como eu sempre fiz desde quando era criança á agora, adulta. Como conheço bem o meu pai, sei que provavelmente ele não vai resistir. Dito e feito, sinto suas mãos envolverem os meus braços que estão na frente de seu corpo. — Sua pirralha! Se realmente se importa de verdade comigo, case com Augusto. Se não for ele, será outro homem para qual escolherei brevemente. Você não pode fugir disto, minha decisão já está tomada. Esse é o único jeito de você fazer as pazes comigo, Fernanda. Mas para não dizer que sou covarde com você, desta vez vou lhe dar um tempo, vou lhe dar dois dias para pensar na situação, sexta e sábado. Vou fazer outro jantar que será no domingo no restaurante que seu irmão amava. Pense bem, e se aceitar, compareça. Esse será o seu sim ao casamento e o seu bilhete de entrada novamente na minha vida.

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