Capítulo I

Eu estava cansado de esperar, não podia ficar escondido mais nem um dia sequer.

Ver minha família e amigos chorando em meu funeral foi difícil, mas eu me consolei em saber que eles estavam mais seguros com a minha morte fingida.

Com o passar dos meses me tranquilizei em saber que eles estavam seguindo com suas vidas, voltando a viver aos poucos.

Meu pai tinha voltado para a cadeira da presidência, dando uma pausa em sua aposentadoria.

Mamãe estava se reerguendo aos poucos, imaginei que seria mais difícil pra ela não ter seu caçula por perto, mas ela voltou a cuidar da loja que tanto amava.

Emma me encheu de orgulho quando decidiu destruir as correntes que a prendiam impedindo que ela vivesse de verdade. Minha irmã tinha voltado a não ter medo da vida, se arriscando e fazendo o que seu coração mandasse.

Pela primeira vez em anos ela estava se permitindo novamente.

Eu me contentei aqueles meses em passar alguns dias vigiando a vida deles de longe, ouvindo o que os policiais me contavam e vendo fotos da minha família.

Mas foi no dia que eu fugi que tudo mudou.

Sai escondido no meio da noite e peguei um táxi até o prédio de Elizabeth. Ela tinha estado tão destroçada no meu enterro, chorando de uma maneira que me chocou.

Lise deveria estar com ódio de mim depois de eu a ter levado pra cama e corrido de lá minutos depois que me esvazie dentro dela.

Todos ficaram sem falar comigo por semanas, Charles até mesmo saiu do país para não ver minha cara. Ele sim não compareceu ao enterro, mas ela ao invés de ficar tranquila com minha morte, se debulhava em lágrimas junto a minha família.

Ela não entrou no programa de proteção, não tínhamos nenhuma ligação que pudesse colocar sua vida em risco. Mas eu precisava vê-la, ter a certeza que ela estava bem sem mim, que tinha superado depois de meses.

Aproveitei a penumbra da noite e me mantive escondido entre as árvores de frente ao seu prédio, esperando o momento em que ela apareceria e eu poderia seguir em paz sabendo que ela estava bem.

Não sei por quanto tempo fiquei por ali, observando a rua quieta na madrugada, olhando para o andar onde eu sabia ficar seu apartamento, esperando por qualquer sinal dela.

Até que a baixinha de cabelos castanhos e o corpo de parar o trânsito apareceu.

Lise parecia radiante, um carro parou em frente a entrada do prédio e ela acenou abrindo um sorriso largo. Seu brilho finalmente tinha voltado e mesmo que me causasse um incomodo saber que eu nunca seria o causador de seus sorrisos, eu estava feliz que ela tinha seguido em frente.

Ela se voltou para dentro do prédio mais uma vez antes de sair arrastando uma mala. A porta do carro se abriu e um homem velho saltou do carro indo ajudá-la, provavelmente um motorista de aplicativo.

Lise estava indo viajar? Aquela hora da noite?

Mas assim que a mala foi colocada no porta malas, ele se virou para ela abraçando como se fossem bons amigos.

Quem era aquele homem? Tinha idade para ser seu pai com certeza, mas Lise não tinha uma relação tão boa assim com o pai dela, isso eu sabia.

Os dois se afastaram e ele levou as mãos a barriga dela, abrindo o sobretudo que Lise usava revelando uma pequena volta em sua barriga, a blusa branca apertada não deixava muito para imaginação.

Ela estava grávida!

Dei um passo em frente, saindo finalmente das sombras pronto para atravessar a rua e poder ver de perto. Podia ser meu? Faziam cinco meses que eu tinha partido, era pequena volta em sua barriga, mas eu não sabia medir o tempo daquelas coisas e duvidava muito que ela já estivesse grávida antes de nós dormirmos juntos.

O homem e ela sorriram conversando animadamente antes que ele a levasse até a porta do carona. Corri para o outro lado, mas antes que alcançasse o carro uma mão me segurou.

Gael me puxou para trás com força e jogou meu corpo contra a parede sem dar nem tempo para explicações.

— Porra ela não pode ir!

— O que você estava pensando? Atravessar a cidade e ficar observando a garota eu até entendo, mas ir falar com ela? Está ficando louco playboy? Quer matar a garota e se matar? — ele bradou e socou a parede ao lado da minha cabeça. — Se for isso me avisa que eu mesmo acabo com você e facilito meu trabalho.

Bufei irritado e empurrei seu braço pra longe de mim, caminhei até o meio da rua, mesmo que soubesse que não seria possível nem mesmo ver o carro mais.

Me sentei no meio fio e enfiei minha cabeça entre as mãos inconformado que tinha perdido a chance de falar com ela.

— Nem adianta pensar que poderia ter sido mais rápido. Você já foi otário de mais em não ter notado que te segui desde que deixou a casa. — é claro que eu deveria ter imaginado que não seria tão fácil assim fugir dele, o cara era uma cola no meu sapato.

Gael era o policial designado a me manter protegido até o fim da investigação.

Se eu imaginasse que minha vida se tornaria isso pensaria duas vezes antes de ajudar a polícia.

A verdade é que quando me procuraram dizendo que o chefe de uma grande quadrilha do Brasil estava querendo investir na empresa e que eu poderia ajudar a colocar um fim nessa quadrilha, eu não pensei nas consequências.

Na minha cabeça estúpida seria fácil, eu faria todos os contatos, deixaria que eles me colocassem dentro da operação, entregaria todas as provas pra polícia federal e eu seria um herói no fim da história.

Mas quando um deles fugiu sabendo que eu era o infiltrado que tinha recolhido as provas, virei um alvo ambulante.

As ordens eram que ninguém deveria saber, apenas eu e os policiais sabiam de todo o esquema. Estava proibido de contar para qualquer pessoa fora da polícia, parentes e amigos, ninguém podia saber até que tudo tivesse acabado.

— Ela está grávida! — exclamei quando senti a mão de Gael em meu ombro.

— Você acha que pode ser seu? — ele se abaixou ao meu lado e eu finalmente ergui a cabeça encontrando a expressão mais aliviada agora.

— Eu estava prestes a perguntar quando você me parou.

Gael era um policial bom, por isso foi designado a me seguir como uma sombra, éramos parecidos e ninguém desconfiaria de dois jovens perambulando pela noite.

Eu estava com vinte e cinco, mas ele já tinha trinta mesmo que não aparentasse.

O homem parecia um armário de tão grande, os ombros largos e braços fortes, ele malhava mais do que necessário eu podia dizer. Os cabelos pretos eram sempre mantidos baixos, assim como a barba que ele nunca deixava crescer mais do que dois dias.

Ser um policial disfarçado permitia que ele se vestisse do jeito que quisesse, mas sempre carregando um par de armas.

— Anda, levanta playboy. — ele bateu em minha cabeça como um irmão mais velho pé no saco. — Tem outros jeitos de descobrir se esse bebê é seu!

— E se for? Deus eu não vou ficar escondido e perder de ver meu filho, nem mesmo se me amarrar.

Gael sorriu olhando de um lado para o outro antes de abrir a porta do carro.

— Se for seu filho, os dois acabam de entrar no programa de proteção.

Eu pulei me levantando e seguindo ele até o carro. Depois de quase nove meses com ele em meu pé poderia dizer que nos tornamos amigos, mas é claro que o ranzinza negaria tudo. Mesmo que cuidasse de mim como um irmão, afirmava que era apenas seu trabalho e eu engolia a mentira calado.

Por isso não me surpreendi quando ele passou três dias até aparecer com a resposta que eu precisava.

— Onde estamos indo? — tinha se passado três dias desde que vi Lise, me corroía saber que a mulher não atualizava as redes sociais desde que eu fui dado como morto.

Tornava bem mais difícil para mim descobrir qualquer coisa sobre ela sem isso.

— Estamos indo ver sua namorada. — Gael falou tranquilo atrás do volante enquanto cortava o trânsito do centro da cidade. — Parabéns playboy! Você vai ser papai.

Arregalei meus olhos e busquei em seu rosto qualquer indício de que ele estava brincando. Era verdade? Lise esperava um filho meu?

— O que? E agora como isso vai funcionar? O que ela tem que fazer?

— Alguns policiais já foram designados pra proteger ela de longe, assim como está sendo com sua família.

— O que mas eu pensei que ela ficaria comigo, no esconderijo e não solta pela rua correndo riscos...

Colocar uma segurança em volta dela e do meu filho não eram suficientes! Se aquelas pessoas descobrissem sobre o bebê e que eu era o pai Lise e nosso filho estaria correndo grande perigo.

— Ei, se acalma playboy. É melhor assim, ou vai querer que sua família encare mais um luto?

Respirei fundo pesando suas palavras e pensando nas escolhas que eu tinha. Não ia permitir que aquela situação me atrapalhasse de ver a gravidez dela de perto, de poder segurar o meu bebê nos braços.

Ao mesmo passo que não podia fazer minha família encarar mais uma tragédia.

Porra eu estava em um beco e só via uma saída.

— Eu vou voltar!

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