Capítulo III

— Ainda não acredito que estamos mesmo fazendo isso, não deveria deixar que você se expusesse assim, ainda sim aqui estou eu. — Gael reclamou pela milésima vez.

Nós estávamos parados no carro esperando por muito tempo, até que todos chegassem na casa da minha mãe, enquanto a ceia não começasse ainda poderia chegar mais gente e eu só entraria lá depois de ter certeza de quantas pessoas tinham lá.

Não sabia se ficava feliz ou ainda mais irritado por saber que Charles estava lá dentro. Sim ele era meu amigo de infância, mas também era o homem que tinha tentando conquistar a mulher que estava esperando um filho meu.

— Pare de reclamar e vamos logo com isso, está na hora de você conhecer minha família.

— Já conheço sua família toda, li e reli a ficha de cada um deles mais de duas vezes. — esse era ele, o policial mais certinho e regrado que eu conhecia, mas também frio e solitário.

— Isso não é conhecer as pessoas, Gael. Já te disse mais de uma vez, nunca vai conhecer alguém de verdade se não deixar essa barreira sua cair.

— E você é o expert em pessoas, tanto que não hesitou em fingir pra todos da sua vida que tinha morrido. — ele jogou na minha cara. — Na verdade adorou conseguir se livrar de todo mundo.

Eu era culpado disso e não tinha desculpa para minha estupidez. Eu coloquei minha família em um sofrimento horrível, enquanto estava feliz de não precisar enfrentar mais os julgamentos por ter dormido com Lise.

Mas sofri também com eles, não queria que passassem por toda aquela loucura de proteção a testemunha, principalmente depois de todo o medo que tiveram perder Emma.

— Isso foi antes, antes de eu descobrir que Lise espera um filho meu. — ele bufou sacudindo a cabeça e conferindo a arma mais uma vez. — Sem falar que fiz isso para protegê-los, do contrario poderiam estar mortos.

— Continue dizendo isso a si mesmo até que acredite. — ele saiu do carro e analisou a rua enquanto eu dava a volta e parava ao seu lado. — Se o bem estar deles fosse mesmo importante pra você não estaria fazendo isso. Continuaria escondido no buraco que te colocaram.

Ignorei a figura ranzinza e atravessei a rua, sabendo que não tinha ameaça nenhuma nesse mundo que iria me impedir de estar ao lado da mãe do meu filho.

Entrei na casa com minha antiga chave e fui recebido pela decoração aconchegante de natal, as risadas e conversas animadas cessaram quando começaram a dar graças.

— Você fica aqui, não quero assustá-los logo de cara.

— Claro, porque você ressuscitando dos mortos é muito normal. — Gael falou com a mesma expressão taciturna, nem das próprias piadas ele ria.

— Amém. — falei junto com todos e o silêncio reinou na sala de jantar.

— Cheguei atrasado para a ceia? — perguntei parando na soleira da porta e recebendo os olhares assustados.

Todos me encaravam como se eu fosse uma aberração, um fantasma, e eu sabia que era exatamente isso o que estava acontecendo, eles passaram seis meses acreditando que eu estava morto e acabaram de começar a superar o luto, com algumas notícias boas, como a gravidez, dois netos chegando de uma vez.

— O que... — ouvi minha vó começando a falar, mas sorri a interrompendo.

— Sei que tenho muito o que explicar, porque fiquei longe todo esse tempo e porque pedi que mentissem pra vocês no hospital — entrei na sala de jantar, passando direto por meus pais e irmãos até alcançá-la — Mas quando soube que Lise estava esperando um filho meu, eu soube que tinha que voltar, precisava vir cuidar deles.

Me ajoelhei ao lado da cadeira da mulher linda, que eu tinha deixado sozinha na cama depois de ter colocado um filho dentro dela. Sorri encarando de perto a barriga de seis meses, nem podia acreditar que ali dentro tinha um pedaço meu e dela.

Ergui meus olhos pra ela, seu rosto estava pálido e eu corri me erguendo, segurei seu tronco antes que ela tombasse para trás desmaiada.

— Alguém me explica que porra é essa? — ouvi o grito da minha vó se sobressaindo a toda a gritaria enquanto todos corriam para acudir Lise — Você tem muito o que explicar, mocinho.

— E eu prometo que vou explicar tudo, mas agora ela é a prioridade aqui. — a peguei em meu colo e corri pra sala. — Gael, dá pra me ajudar aqui?

Ele correu junto comigo até o sofá da sala, coloquei Lise com cuidado sobre o estofado e Gael se curvou sobre ela testando os sinais vitais da minha pequena.

— Disse que não devia fazer isso, olha o susto que deu nela! — ele resmungou, como se eu já não estivesse preocupado o suficiente com ela.

— Só cala a boca e faz ela voltar. — gritei com ele para que não falasse mais nada.

— Já pensou que sua avó poderia ter infartado? Sua irmã também está grávida seu babaca. Continua pensando só no seu próprio rabo.

— Não sei quem é o idiota, mas a única coisa aqui que vai ter um infarto é você grandão! — vovó rebateu chegando mais perto e dando um tapa na cabeça de Gael.

Estaria rindo de como ela enfrentou o homem enorme com expressão fechada, mas eu estava mais preocupado com a mulher deitada ali desmaiada.

— Ela está voltando. — minha irmã falou e eu concentrei nela.

As pálpebras se agitaram antes que ela abrisse os olhos, coloquei minha mão na sua e senti seus dedos segurarem mais firme.

— Lise amiga, como você está se sentindo? — Emma perguntou assim que os olhos castanhos se arregalaram olhando em volta.

— Eu tive um sonho maluco, sonhei que Chris estava de volta, a coisa mais maluca... — ela se calou no momento que focou em mim, os olhos se arregalando de maneira assustadora.

— Não foi um sonho minha linda, eu voltei pra ficar, voltei para cuidarmos desse bebê juntos.

Dei meu melhor sorriso, o que eu sabia que mexia com ela e que Lise sempre se derretia. Mas dessa vez ao invés de receber seu olhar doce e as bochechas ficando avermelhadas, eu recebi foi um belo tapa na cara.

— O que você está fazendo aqui? Como está vivo? E como sabe do meu filho? — questionou me empurrando e fazendo as perguntas que todos queriam fazer.

— Nosso filho Lise, sei que é nosso. — a boca dela se escancarou e eu dei um passo para trás, dando mais espaço para ela. — Fiz as contas quando vi sua barriga e pra confirmar, o Gael ali, investigou descobrindo tudo.

— Oi pessoal. — ele acenou sem sorrir, como sempre fazia.

— Ele é da polícia federal e o motivo para eu ter um policial de babá é a razão para eu ter forjado minha morte.

— Acho bom você começar a se explicar mocinho. — mamãe apareceu ao lado de Lise, apoiando as mãos em seus ombros.

Eu sabia que ela estava rodeada pela família, nosso bebê já era amado antes mesmo de nascer e dava para notar por todos os olhares raivosos ali, que eu era o intruso, o que tinha abandonado a família e os deixado para trás sofrendo. Só que estava na hora de contar a verdade para eles.

— Eu ajudei a polícia a investigar um dos clientes da empresa, mas o envolvimento dele com coisas ilegais foi maior do que esperavam e eu estava correndo risco.

— Você o que, Christian? Perdeu a noção? — minha mãe não ia aguentar até o fim, já era de se esperar que ela fosse gritar desesperada quando soubesse disso.

— Mamãe, o deixe contar tudo antes de surtar!

— Obrigado pandinha, como eu estava dizendo, para não ter que colocar todos vocês em proteção a testemunha e perderem suas vidas normais, minha única saída foi forjar minha morte, foi a forma que encontramos para me esconder em segurança até o julgamento.

O silencio reinou na sala quando terminei de contar, claro que aquela era a versão resumida da história, sem os detalhes assustadores e nem das minhas perseguições a minha própria família.

— Garoto, você está estragando minha ceia de natal! — vovó gritou colocando um fim no choque de todos. — Anda, todos pra mesa, ele é um idiota, mas ainda é nata!

Mamãe me puxou para um abraço, me apertando tão forte que quase fiquei sem ar, isso não me surpreendia já que ela sempre ficava desesperada quando ficávamos longe por muito tempo, imagine depois de achar que eu morri.

— Ainda temos muito o que conversar menino. — ela sussurrou no meu ouvido antes de se afastar e deixar que os outros fizessem o mesmo.

Um por um me abraçaram e saíram da sala, até me deixarem sozinhos na sala com Gael e Lise. Me sentei ao lado dela, vendo nos seus olhos toda a dúvida e incerteza.

— Está se sentindo bem? Não quer comer? — perguntei tentando quebrar aquele gelo, mas tudo o que Lise fez foi continuar me olhando. — Sei que tem muitas perguntas pra mim e prometo que vou responder todas. Mas quero que saiba que voltei por você, por vocês dois, e não vou a lugar nenhum.

— Como você soube... como soube que era seu?

— Eu sai escondido do esconderijo uma noite, fui direto para o seu prédio e fiquei parado lá até te ver. Foi quando vi esse barrigão e soube, eu quis correr direto pra você e perguntar, mas Gael chegou a tempo me impedindo, podia estar sendo observado. Então eu tive que ser paciente e esperar que ele descobrisse para mim, antes de tomar a decisão de voltar.

Lise ficou quieta mordendo um lado da bochecha, suas mãos esfregavam freneticamente a barriga e eu queria de verdade poder tocá-la, poder sentir nosso filho. Eu também tinha tantas perguntas, se ele já se mexia, qual o tamanho, se já sabia o sexo, eram tantas as coisas que eu queria saber.

— Quer tocar? — ela perguntou me pegando de surpresa.

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