Cidade de “MJ”, 16 de janeiro, quinta-feira.
Acordou nas trevas!
Calculou ser nove ou dez horas de uma noite de vento brando, com a temperatura na faixa dos vinte e seis graus.
A fazenda às escuras.
A vontade de beber água ou qualquer líquido era insuportável. Suas mãos estavam horrivelmente inchadas. O sangue lhes dava um aspecto doentio. Seu rosto... pálido! Pálido como se não tivesse uma gota de sangue sequer! Pálido e quase em pânico.
Sua pele evidenciava pequenas feridas, devido às queimaduras provocadas pelo sol.
Defecou na fralda.
Foi obrigado a se acostumar com o fedor.
 
Cidade de “MJ”, 17 de janeiro, sexta-feira. Sozinho! A dificuldade de respirar aumentava. Em delírio → com o cérebro atrofiado → já não sentia mais nada, não via mais nada, não pensava em mais nada. Sentiu o tenebroso manto da morte se acercando... o tétrico manto do verdugo negro... realizando um reconhecimento... analisando as possibilidades... cheirando seu corpo... cutucando sua alma... lambendo seu espírito... num frenesi alucinado!!! E não tinha forças para lutar contra ele! Seria o fim? O fim... o fim... o fim... As dores no estômago aumentaram! Urinou novamente
Cidade de “FT”, 18 de janeiro, sábado. Não sonhou. Não teve pesadelos. A escuridão → no entanto → permanecia ao seu redor, profunda, sinistra, dominando o ambiente. Mansidão. Imobilidade. As dores diminuíram. Cidade de “FT”, 19 de janeiro, domingo. Saiu da UTI, sendo conduzido a um dos quartos. Abriu, enfim, os olhos. Pôde perceber o quarto; os aparelhos; as paredes brancas. Havia bandagens em quase todo o seu corpo. Parecia uma múmia, como nos tempos medievais. Além do mais, foi obrig
Cidade de “FT”, 19 de janeiro, domingo. Isso porque, à meia-noite, depois que a enfermeira lhe aplicou uma injeção, recebeu uma inusitada e horripilante visita. A visita do demônio! Um homem entrou na sala. Usava o jaleco branco, típico dos médicos. No pescoço, um estetoscópio. Calça jeans. Sapatos pretos. Cabeça raspada. Bigode discreto. Óculos escuros. Manteve a luz apagada. Apenas a luz do corredor iluminava o quarto. Aproximou-se da cama. → Boa noite, Macto → ele murmurou, sério. Estremeceu, ao reconhecer aquela voz! Tentou gritar, mas nada sai
Cidade de “FT”, 20 de janeiro, segunda-feira. Subitamente, um objeto foi colocado sobre seu rosto. Macio, mas que, naquele instante, o sufocava. O que seria? Um travesseiro??? Óbvio! Um discreto e eficiente travesseiro! Não recebeu uma facada nem um tiro. E muito menos uma pancada na cabeça. Por quê? Com certeza para parecer que teria morrido de parada cardíaca. Assim procedendo, não causaria suspeitas. Sim! Era um bom plano. O delegado Haroldo → apesar de enlouquecido → ainda não tinha perdido a inteligência.&nbs
Cidade de “FT”, 20 de janeiro, segunda-feira. Acordou quando faltavam dez minutos para as oito horas, segundo lhe informou a enfermeira. Ela, por sinal, lhe aplicara uma injeção e colocara o soro; porém não quis lhe dizer mais nada. Insistiu. No entanto, ela se mostrou irredutível. Ordens, havia dito. O médico também nada revelou. Permaneceu deitado, tomando soro e repleto de curiosidade. Curiosidade! A pergunta que lhe veio à mente era uma só: o que havia acontecido? Cidade de “FT”, 20 de janeiro, segunda-feira. Só foi saber das novidades
CRUCIFICADO de JODERYMA TORRES "CRUCIFICADO", de Joderyma Torres. Publicado no excelente site BUENOVELA, em setembro de 2021. Livro de ficção. Qualquer semelhança com a vida real é apenas coincidência. Inventei tudo isso, meu. Juro. Eheheheh. Obra dedicada &agrav
Cidade de “FT”, 13 de janeiro, segunda-feira. Às 8h35min, terminou o relatório, imprimiu e deu uma lida, fins corrigir possíveis erros. Assassinato! Um homem matou a ex-esposa → a facadas → e fingiu que nada tinha acontecido. Chegou a ir ao enterro, o vagabundo, numa ousadia e desfaçatez sem limites. Mas seus dias de glória logo chegaram ao fim. Após sete dias de investigações, descobriu → no local do crime → marcas de sapatos que coincidiam com as de um par usado pelo homem. Sapatos encontrados, por incrível que pareça, debaixo da cama dele. Além disso, seguindo orientação de uma filha descon
Cidade de “FT”, 13 de janeiro, segunda-feira. De volta ao segundo andar e à sua mesa, sentou-se, respirou fundo e deu uma lida no dossiê. Primeira parte → as análises do médico legista. A grosso modo, mostrava a hora provável da morte de “Ameba”. O dia. Os motivos: sede, asfixia etc. As substâncias ingeridas. O sangue. As impressões digitais. A surra que o sujeito levou, antes de morrer. As costelas quebradas como prova. O fato de ter permanecido cinco ou seis dias na cruz. O fato de ter sido crucificado num lugar e, após a morte, ter sido deixado no local onde foi encontrado. Fim de papo. Talvez pudesse achar um caminhão baú → repleto de sangue → na casa do ta