Ao entrarmos na sala, Beh dá uma voz de comando.
- Tela ligar. (A parede da frente escurece, não deixando transparecer mais a entrada da minha célula). - Monitoramento da mansão colina. (Várias telas de monitoramento se abrem cobrindo toda a parede de cinco metros de largura por dois e meio de altura). - Entrada da célula habitacional 3. (Era a minha célula. Por questão de privacidade. Nem todos os cômodos da casa são liberados para o monitoramento de todos. Dentro da minha célula só eu consigo acessar as câmeras. Assim como as outras células cada um tem seu acesso privado).
Uma pequena tela de vinte centímetros no canto direito da parede de vidro se expandiu tomando toda a parede. Um adolescente de mais ou menos dezessete ou dezoito anos está parado na porta da minha célula que dava acesso a mansão. Aparenta ser pouco mais baixo que eu. Cerca de 1,75 de altura. Eu tenho 1,81. Cabelos lisos num corte curto como os dos agentes das forças especiais. Está vestido com jeans azul, botinas marrom e uma camiseta azul clara. Tem um porte atlético.
Fico olhando para a tela, tentando entender o que aquele rapaz faz parado ali. Olho para Bernardo depois para minha mãe. E volto a olhar para a tela.
Bernardo percebeu minha impaciência diante a algo que eu não entendia. Ele sempre entende minhas expressões. Ele levanta o braço e trás o pulso com a mini tela de pulso próximo a sua boca e diz:
- Entre.
Volto a olhar para a tela e vejo o rapaz abrindo a porta. Me viro para trás e o vejo atravessando a pequena cozinha retangular e entrando na sala. Minha mãe esboça uma expressão de desconforto e espanto. Eu ainda sem entender apenas o observo. Bernardo ainda com aquele largo sorriso no rosto.
- O que acha Vitor?
- Do que?
- Dele!
- Não estou entendendo onde você quer chegar. (Conversavamos sem olhar um para o outro. Eu olhava apenas para o adolescente parado no meio da minha sala a quatro passos de distância).
- É um andróide Vitor. E será seu segurança, amigo, colega, irmão. Como você quiser chama ló.
- É brincadeira isso né. Só pode. Mãe...? (Olho para ela para ter uma resposta).
- Vitor você sabe como seus irmãos são com a tecnologia e os mimos que o dinheiro pode comprar. É um presente mais não quer dizer que você é obrigado a usa ló. (Ela diz num tom desaprovador).
- Obrigado mãe. (Responde Bernardo em um tom mais irônico do que realmente de agradecimento).
- Você sabe que não concordo com esse tipo de tecnologia Bernardo. Humanos sendo substituídos por andróides. (Ela ainda no mesmo tom).
Enquanto eles conversam eu me aproximo do andróide. Toco a pele do rosto dele. É muito real. Parece pele humana e na mesma temperatura. Percebo que seus olhos me observam. Suas feições são muito reais. As mãos tem até unhas, como as humanas. Os olhos o mesmo brilho de um humano. Que coisa bizarra. Eu já tinha visto andróides de todos os tipos. Inclusive andróides de segurança. Meu pai mesmo tem vários e são bem reais, mais esse se passa por humano em qualquer lugar. Chega a ser assustador.
Percebo que Beh e mamãe estão em silêncio e me viro para trás.
- Impressionante não acha?
- Sim Beh.
- Bom... Vou embora que tenho um cocktail com umas amigas hoje. Amanhã você janta comigo Vítor. Vamos comemorar.
- OK mãe. (Ela me deu um abraço e um beijo no rosto).
- Te amo filho.
- Também te amo mãe. (Ela sai e Bernardo a acompanha).
Olho para o Andróide. Ele parece me encarar.
- Você fala? (Pergunto esperando não ter resposta).
- Sim. (Meu Deus. Ele me assustou).
- Você tem nome? (Pergunto o encarando e o admirando ao mesmo tempo. Tenho a sensação de que ele até se parece comigo, quando eu era mais novo).
- Não senhor. Apenas meu número de registro e modelo. Sou um andróide MXT/1718. Sou da nova geração de andróides irmãos. Totalmente programável e adaptável ao que meu dono preferir. Posso mudar a cor dos olhos ou dos cabelos por exemplo. Posso iniciar o modo demostração se o senhor preferir e assumir o nome próprio que o senhor me designar.
- Por favor. Me mostre o que pode fazer. Porque to achando isso engraçado. (Dou uma risada e ele retribui com um leve sorriso no rosto).
Os olhos dele começam a mudar de cor gradualmente, de um castanho escuro, como os meus, indo para o âmbar depois amarelos em todos os tons, passando por verdes, azuis, vermelhos, pretos e voltando ao castanho. Depois começa a mudar a cor dos cabelos assim como foi com os olhos.
- Estão se divertindo sem minha presença! (Beh entra na sala exclamando).
- Ele estava me dando uma pequena demonstração de seus feitos. (Falo sorrindo).
- Porque me deu isso Bernardo?
- Você não tem amigos maninho. Imaginei que gostaria de ter um. Como a mamãe disse não precisa usa ló se não quiser.
- Pode ser interessante ter alguém para conversar. (Falei num tom meio desanimado).
- Ele é totalmente programável. Só receberá a sua voz de comando... E a minha para determinadas coisas. Sem contar que assim posso estar mais presente com você. Eu mesmo desenvolvi um software para ele no qual eu posso conversar com você através de uma bip mensagem de voz direta. Quer ver?
Balancei a cabeça afirmativamente. Beh saiu da sala e foi até o quarto de hóspedes. Então o MXT disse:
- Bip chamada de voz de Bernardo. Posso atender? (Abri os olhos de espanto. E depois ri).
- Sim pode atender. (Falei ainda rindo).
- E aí maninho. (A boca do androide se mexia como se ele estivesse falando. A voz não era a do meu irmão claro. Era a voz do andróide).
- Beh isso é bizarro.
- É eu sei mais é bem legal. Também programei ele pra receber as bip mensagem de voz direta da mamãe. Como você vê ele continua com a voz própria. Então se você estiver falando com a gente através dele, quem estiver próximo não saberá. Apenas você. Como você está no curso avançado de robótica. Achei que gostaria de um andróide. A pele dele é colocada como uma roupa. Então se você quiser fazer alguma alteração na parte mecânica é só remover a pele. Ele tem um sistema de segurança para proteger tudo o que você o ensinar ou falar para ele. Você pode manda ló fazer d******d do que precisar da nova rede, o que você quiser e ele aprenderá e executará. Se quiser saber, por exemplo, a previsão do tempo. É só perguntar que ele te responde. Eu também tenho acesso as câmeras que ele tem nos olhos. Tudo através da minha minitela de pulso. Porém ela liga e desliga a apenas um comando seu.
- Você está me vendo?
- Ainda não. Pois você não me autorizou.
- OK. E como faço?
- De a voz de comando a ele. "Liberar visão para Beh".
- OK. Liberar visão para Beh. Me vê agora?
- Sim vejo.
- O que estou fazendo? (Fiz uma careta).
- Pare com isso estou te vendo. (Ele disse rindo). - Vamos lá na garagem. Quero te explicar sobre o hidrocar.
Enquanto caminho até a garagem percebo que o andróide me acompanha.
- Isso é estranho Bernardo. É você mas é ele. (Ao falar isso me lembrei que já tive essa sensação. De ser eu mais também ser outra pessoa dentro de mim. Sorte do andróide não sentir isso. A mesma sensação estranha que sinto).
Bernardo riu e disse:
- Logo você se acostuma com isso. Eu sou o único que terei acesso aos movimentos do corpo dele. A mamãe não conseguirá fazer isso. Quando você estiver falando com ela através dele, ele continuará com os movimentos do corpo, pois a mamãe não tem acesso as câmeras visuais e nem ao software que tenho instalado na minha mini tela de pulso.
- OK Beh.
- Ah! Detalhe! A mamãe não precisa saber disso. Você sabe como ela é... E o que pensa sobre andróides. Só eu e você podemos saber disso...
- Tudo bem Bernardo. Segredo de irmãos...
Caminhamos até a garagem, abro a porta do lado do piloto e o andróide abra a outra do outro lado. As portas do hidrocar se abriam como asas, para cima. Entramos no hidrocar e o Bernardo começou a falar através do andróide e explicar tudo o que hidrocar era capaz de fazer. - Vítor esse será o único hidrocar de passeio. Eu não quis falar perto da mamãe porque... Você sabe... Ela começa com um monte de perguntas. E já foi difícil convencer o papai de que você tinha que ter um. Imagina ter que ficar com os mesmo discursos para a mamãe. (O andróide fez uma cara de insatisfação). - Imagino! Ele com certeza não ia querer nem que eu tivesse um aerocar comum. Quanto mais um que será "raro". Agora me diz. O que diferencia um aerocar de um hidrocar? - O hidrocar usa o mesmo sistema de impulso de um aerocar, a mesma tecnologia. Porém ele tem um sistema de propulsão turbo que dá mais força aos propulsores que sustentam s
- Holomensagem para Danilo Albuquerque. (Nada aparecia. Apenas a pequena claridade que o minusculo ponto de luz da mini tela de pulso incide para cima, no formato de uma pequena piramide de ponta cabeça onde se forma o holograma da holomensagem. De repente o holograma do Danilo aparece. Aquele sorriso lindo e branco se abre. Tinha esperança de que ele não atendesse. Mais o Igor sabia que ele atenderia. Por muitas vezes eu queria realmente ser o Igor. Por sua astúcia, sua força e sua determinação. Mas seria isso o certo? Seria isso uma boa ideia? Já que eu sei quais são as intenções do Igor? - Igor!? Ao falar o nome do meu outro eu, sinto o calor e o formigamento aumentar e a descarga de adrenalina percorrer meu corpo. - Oi Danilo. Sou eu mesmo. (Não dava mais para voltar. Igor já estava de volta. Mais firme e confiante do que antes).
Piloto até a mansão. Entro e vou direto ao banheiro. Tomo uma ducha. Ouço barulho da tela de transmissão de imagens se ligar. Quem será que ta aqui? Me lembro do meu novo irmão adolescente, MXT. Deve ser ele. Saio do banheiro e dou de cara com o MXT parado na porta. - Putz! Quer me matar de susto?! (Acabei dando risada da expressão de susto que ele fez com meu grito). - Desculpa. Achei que seria legal fazer algo que aprendi sobre amigos e e irmãos nas minhas pesquisas. - Tudo bem. - Você achou engraçado. Está rindo. - Estou rindo da sua cara de bobão! (Ele sorriu). - Que horas são? - Meia noite e dez! - Me dê os parabéns MXT. Hoje já é meu aniversário! (Ele me abraçou. Ainda é estranho porque ele parece humano). - Meus par
Continuei minha rotina durante a semana, vivendo minha vida como eu fazia antes. Ajudando minha mãe, freqüentando o curso avançado de robótica. Aprendendo e ensinando o Icky. Minha mãe já está até começando a se acostumar com ele. Danilo não sai da minha cabeça. E sempre que penso nele, sinto que o Igor e todas as vontades se afloram. Principalmente a vontade de vê-lo novamente. Esse formigamento e esse calor não passam. Outro flash. Estaciono o hidrocar rapidamente. Vejo em minha mente a imagem do Danilo. Ele está em sua casa, o vejo se levantar do sofá preto que vi na sala. Um tapete creme quadrado cobre o chão perto do sofá, deve ter uns três metros e meio de largura. O tapete e o sofá ficam um degrau mais baixo que o resto da sala, com piso em madeira clara. Ele para em frente a grande janela ao lado da porta de entrada. Ele olha para seu aerocar esportivo vermelho estacionado na garagem. Da grande janela ele tem a visão da rampa de ace
A noite passou rapidamente. Acordo leve como se andasse nas nuvens. Minha cabeça já não se atrapalha mais com as indas e vindas de Vítor e Igor. Sim eu era o Vítor realizado e também era o Igor realizado. Era como se os dois começassem a se fundir em um só. Mas minhas indagações começam a mudar. Como vai ser de agora em diante. E com minha família... Vou agir naturalmente? Quem sou? O que sou? Essas perguntas rondam minha mente e eu tenho plena consciência de que essas perguntas são do Vitor. Resolvo deixar acontecer. Porém quando resolvo deixar acontecer percebo que o Igor toma conta da situação. Mesmo achando que os dois começavam a se tornar um só, meus dois eu, se tornando apenas EU, se fundindo. Eu ainda sei quando é um e quando é o outro. Não procurei mais o Danilo naquela semana. Mas sabia que queria vê lo. Na semana seguinte sai novamente mais cedo do estudo avançado. E dessa vez sem avisar fui direto
Paro o hidrocar na frente da casa do Danilo. O portão já está aberto e ele está no alto da rampa de acesso a garagem. Apesar das minhas dúvidas e perguntas, sinto a força, a coragem e a astúcia do Igor dentro de mim. Ainda sinto que sou os dois. Imagino que ele deve ter chegado de algum lugar. Está com o mesmo sorriso lindo no rosto, um boné branco, camiseta cinza, calça jeans azul clara e um tênis quase na mesma cor da camiseta. Engraçado... Temos o mesmo estilo de se vestir. Ele percebe que parei o carro mas não entrei, o sorriso desaparece. Abro a porta. - Seu nível de temperatura está alto... - Eu sei Icky. Eu sei. Estou sentindo o calor pelo meu corpo. - Você tem certeza que não quer que eu fique? Em quanto conversavamos dentro do hidrocar vejo que Danilo desce pela rampa. - Não ir
- Através de um exame detalhado de DNA. E toda a cadeia de cromossomos. - Me explica melhor isso Danilo. (Ainda estou confuso). - Após a grande catástrofe, restabelecimento e reconstrução do que restou do planeta. Foi criada as forças especiais. Seus líderes juntamente com os governadores das 32 ilhas que se formaram entraram em um consenso onde ficou estabelecido que o planeta seria "limpo" de tudo o que era anormal. Todo tipo de pesquisa foi feita para erradicar todas as doenças. - Isso eu sei Danilo. - Sim. Eu sei que você sabe. Porque isso é o que todos nós aprendemos. O que você não sabe é que: a trinta e cinco anos atrás, quando eles conseguiram realizar o "grande feito" e inventaram a tal vacina da cura, ela na verdade, era apenas um pretexto para implantar duas células. Uma delas para fazer o mapeamento genético onde é identificado se a pessoa
- Estou aqui pronto para ouvir essa nova história.(Digo sorrindo). Ele me entrega um lanche e enquanto coloca suco em um copo começa a falar. - Sim eu sabia a sua localização. Mas não parei você na alameda aquele dia apenas por saber que você era um novo recém transformado. - Então você tem o costume de parar rapazes nas alamedas durante a noite? (Falo em tom de ironia e ele ri). - Não tolinho. Eu já sabia que seríamos um do outro. Que nos apaixonariamos e que tudo isso que está acontecendo iria acontecer. - Como você sabia. Seus poderes não são ver o futuro. (Rimos novamente). - Ou são? (Faço uma cara mais séria). - Não. (Ele ri novamente). - Não são mesmo. O