O BEIJO

   - Holomensagem para Danilo Albuquerque. (Nada aparecia. Apenas a pequena claridade que o minusculo ponto de luz da mini tela de pulso incide para cima, no formato de uma pequena piramide de ponta cabeça onde se forma o holograma da holomensagem. De repente o holograma do Danilo aparece. Aquele sorriso lindo e branco se abre. Tinha esperança de que ele não atendesse. Mais o Igor sabia que ele atenderia. Por muitas vezes eu queria realmente ser o Igor. Por sua astúcia, sua força e sua determinação. Mas seria isso o certo? Seria isso uma boa ideia? Já que eu sei quais são as intenções do Igor?

   - Igor!? 

   Ao falar o nome do meu outro eu, sinto o calor e o formigamento aumentar e a descarga de adrenalina percorrer meu corpo. 

   - Oi Danilo. Sou eu mesmo. (Não dava mais para voltar. Igor já estava de volta. Mais firme e confiante do que antes). 

   - Achei que nunca entraria em contato comigo. (Era quase o mesmo horário do dia em que nos vimos a primeira vez). - Você está bem? 

   - Estou sim. Só resolvi te contactar para falar um oi. Saber como você esta? 

   - Estou bem Igor. Onde você está? Podemos nos encontrar? 

   - Estou em casa e você? 

   - Também estou na minha casa. Você pode vir aqui? 

- Claro! Pode me m****r sua localização? (Quanto mais eu falo com ele mais a adrenalina percorre meu corpo. Mais eu me sinto bem, forte, poderoso e confiante. E não me importo mais em estar assim. Me sentindo outra pessoa).

   - Sim. Já liberei minha localização através do meu código bip para você. É só acessa ló. 

   - OK. Assim que eu estiver chegando te aviso. (Ambos com um sorriso de satisfação no rosto). 

   - Estou te esperando. 

   Desconectamos. Não me sinto como Vítor, mas... É estranho. Sei que sou o Vitor ainda, mas não me sinto como o Vítor. Me sinto forte e destemido como o Igor. Olhei para o andróide e por um segundo quase sinto o Igor ir embora. Respire, eu repito em minha mente. Não deixe que ele vá embora. É só isso o que penso.

   - Você! Vá para o quarto de hóspedes. E não diga nada a ninguém de onde estou indo. (Sinto a adrenalina ainda). 

   - Terminei a pesquisa. (Ele disse se levantando).

   - Amanhã você me diz os resultados. 

   Ele passou por mim e deu um aceno de cabeça. 

   Vou para a garagem e entro no hidrocar. 

   - Vamos ver do que essa belezinha é capaz. (Digo em voz alta). 

   Bom se ele é melhor que os aerocars comuns, creio que deve ter uma melhor conectividade com os meus aparelhos e mais rapidez de conectividade com a nova rede. Dou o comando de voz.

   - Acessar lista de códigos bip da mini tela de pulso! (Eu sabia que o Bernardo já deveria ter conectado tudo. Não precisei nem esperar e minha lista de contatos apareceu no canto direito do parabrisas oval). Localização de Danilo Albuquerque. (A lista desapareceu e no lugar dela surgiu um mapa). Então uma voz diz: 

   - "Alameda dezesseis, quadra 3, número 345. Tempo de chegada! 7 minutos". 

   - Ótimo é aqui perto. Espere! É você MXT? (A mesma voz do andróide foi reproduzida pelo sistema de inteligência artificial do hidrocar).

- Não Vitor. Apenas estou configurado com a mesma voz do MXT/1718. Posso fazer o d******d de vozes pela nova rede se você preferir.

   - Não. Tudo bem. Pode ficar assim por enquanto. 

   Bernardo não quer mesmo que eu me sinta sozinho. Mas eles não passam de máquinas. Preciso do Danilo não de máquinas.

   - Músicas! (Dou o comando de voz e uma música qualquer começa a tocar).

   Graças a tecnologia tudo sobre o antigo mundo ficou armazenado na antiga rede e não se perdeu. Gosto das músicas do antigo mundo. 

- D******d de músicas do antigo mundo. (Uma lista aparece no canto esquerdo do parabrisas). - Tocar aleatório! (Uma música chamada, " The Girl Is Mine - 99 Souls (featuring Destiny's Child & Brandy)", começa a tocar).

   Paro o hidrocar em frente o portão da casa dele. Encrustada na montanha como a maioria das casa da primeira cúpula. O portão é branco e começa a se abrir. Subo com o hidrocar a rampa de acesso até a casa. Uma bela casa de dois andares toda branca. Como a maioria das casas do novo mundo, parece feita de grandes blocos de encaixar com grandes paredes de vidro. Ele já me esperava. Paro o hidrocar ao lado do seu aerocar vermelho. Ele esta em pé na porta de entrada. Está sem camisa. Peito malhado, barriga trincada. Vestido apenas com uma bermuda e chinelos. E um sorriso perfeito e contagiante. Desço do hidrocar tomado pelo feitiço desse sorriso. Entramos na grande sala, toda branca, poucos moveis. Tudo muito clean. Um grande sofá preto repousa em frente à uma lareira holografica. Nos olhamos fixamente. O eu, Igor, toma a iniciativa. Dou um abraço forte nele e começo a beija ló. Um beijo sem pressa. Longo molhado e quente. Nos beijamos até perder o fôlego. Parados em frente um ao outro segurando as mãos nos olhamos. Eu, Vítor, volto bem na hora. 

   - Isso é loucura Danilo. 

   Danilo sorri e diz: 

   - Você nunca fez isso com outro cara antes? 

   - Não. Acho que estou pirando. (Faço uma careta).

   - Tenha calma. Não forçarei você a nada. (Ele sorri e diz num tom confortante).

   - Eu sei. Mais não sei onde estou com a cabeça. Isso não pode estar acontecendo.

   - Calma Igor. (Quando ele pronunciou o nome do meu alter ego... Lógico, ele voltou. E encerrou o assunto com outro beijo). 

   - Infelizmente preciso ir. 

   - Tudo bem Igor. Quando te verei novamente? 

   - Em breve. 

   - Eu sei que você virá. Mas não demora. Gostei da sua visita. 

   Saio da casa dele. Me sentido realizado. Eu sabia que existia algo dentro de mim que um dia sairia. Algo diferente, que nem eu mesmo conseguia explicar. Mais nunca imaginei que seria algo assim. Porém ainda sentia que o ciclo não tinha se completado. Algo muito maior estava por vir. 

   Ao entrar no hidrocar. Eu, Vítor tomei minha consciência por completo novamente. O arrependimento bateu. Onde eu estava com a cabeça de beijar outro homem? O que eu fiz está errado. Eu era o filho perfeito, o amigo perfeito o aluno perfeito. Meus Deus... Onde estou com a cabeça. Tudo bem sinto que falta algo em minha vida. Mas será que é porque não faço o que desejo fazer? Todos tentam me proteger. Isso é loucura. Nunca ouvi dizer... Ou ao menos imaginei que isso pudesse acontecer. Dois homens... Se beijando? Tantas perguntas internas. Tantas dúvidas me deram dor de cabeça. Ainda bem que moro a apenas duas alamedas de distância da casa do Danilo. O que devo fazer?

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo