KESIA MESSINA É difícil acreditar que no mundo existem pessoas como o Vinicius. Eu custei a crer que ele tinha sido capaz de fazer o que fez com o próprio filho. Mas é quase normal, o mundo está perdido. Aliás não é o mundo, são as próprias pessoas que não fazem questão de mudar. O desespero me engolia, paralisava toda vez que lembrava do pequeno dedo do meu filho naquela caixa... Depois da ligação não consegui mais dormir. Passei a noite toda me embriagando e o Fellipo me acompanhava. — Eu vou matar ele. — Fellipo disse deitando ao meu lado. Estávamos deitados, eu agarrada a garrafa de uísque quase no fim. Olhando para o teto branco que girava. —Você tem coragem de matar alguém? — Já matei mais do que posso lembrar. — Ele respondeu estando bastante falante por causa da bebida, mas creio que esteja menos bêbado que eu. Arregalei os olhos e acabei rindo. — Seu mentiroso! Eu duvido. Empresários não precisam matar a concorrência. — É claro que precisa. Bebi mais
KESIA MESSINA Meu coração se agitou no peito, parecia que ia pular fora a qualquer instante. — Ah que cena linda. — Vinicius disse de forma dramática. Meus olhos não desviavam do pequeno garotinho. As roupas não eram a mesma que ele vestia naquele dia, agora ele usava uma calça jeans preta e uma camisa também preta, e tênis branco. — Sem mais delongas, traga o pirralho aqui. — Vinicius sinalizou com a mão e o homem de preto se moveu trazendo meu filho consigo. Varri com os olhos furiosos todo seu corpo, felizmente, todos os dedinhos estavam ali. Aparentemente, se encontrava bem. Quando fomos soltos, ambos corremos para um abraço apertado e saudoso. As lágrimas foram inevitáveis. — Você está bem? — perguntei apertando-o entre meus braços, lugar esse que nunca devia sair. — Sim. — Confimou me abraçando de volta. — Aquele homem fez mal a você? — perguntei preocupada o analisando novamente de perto. — Ele é meu pai de verdade? — Angelo soltou. O que esse infeliz fa
KESIA MESSINA — Prefiro morrer de uma vez do que ficar olhando para essa sua cara que me enoja. — Cuspi. Vinicius apenas sorriu. — Não antes de te dizer umas coisas. — Não quero ouvir nada. — Você está muito atrevida. Lembra quando ficava no canto de uma cabana parecida com essa, nua, tremendo de medo igual um ratinho? Bons tempos. — Se inclinou como se fosse contar um segredo. Lembro de tudo seu diabo. Não lhe respondi. — É claro que lembra. Foram momentos inesquecíveis para você. Devia me agradecer por isso, pelo menos te dei um filho lindo. — Continuei calada, apenas o encarando nos olhos, demostrando toda a raiva que sentia. O silêncio pairou no local, não fazia questão de manter um diálogo com ele. Só ficaria quieta, esperando o momento em que Fellipo passaria pela aquela porta. Ou não. — Então agora é a senhora Messina... A Dama. Me pergunto como aceitou se casar tão rápido com meu irmão. Creio eu que não foi por conta própria. — Continuei sem dizer nad
KESIA MESSINA Recriminei a mim mesma por não sentir nada pela vida que acabou de ser tirada às minhas vistas. Vinicius sorriu e deu de ombros. — Ele estava atrapalhando meus planos. — Esclareceu, como se eu tivesse perguntado alguma coisa. Assoprou o cano da arma sem tirar o sorriso sádico dos lábios e caminhou para a mesa no fundo da cabana. Olhei para a porta, estava fechada, e pela janela, pude ver seguranças cercando toda a área do lugar. Sem chances de fuga no momento. Ele voltou com uma adaga em mãos. — Por que não deixou ele me matar? Não faz diferença nas mãos de quem irei morrer. — Perguntei para tentar prolongar enquanto não achava uma saída. Ele caminhou um pouco mais até estar próximo o bastante de mim. — Eu quero fazer isso. É meu direito. Não me segurei e ri. Esse cara é tão fútil e infantil. “Ah vou me vingar porquê o brinquedinho do meu irmão é mais legal que o meu”. O pensamento me fez rir mais. O homem se irritou e enfiou a faca na minha coxa,
FELLIPO MESSINA Meu pau endureceu na hora, ver atrás da sua mulher dois corpos, sangue em suas vestes, a força dela de ainda estar de pé mesmo com uma faca cravada na carne, e por fim, uma arma apontada para mim mesmo. Minha mente imagina várias formas de fodê-la aqui. — Eu sei que você matou o homem da balada. — Expôs como se estivesse no automático. Tirei os olhos do corpo dela e mirei nos seus. Levantei uma sobrancelha em dúvida. Homem da balada? — Ele mostrou o vídeo. — Fiquei em silêncio. — Você matou a Lolita e o filho dela. — Você não é muito diferente de mim agora. Matou dois homens. — Respondi e sorri rude dando de ombros. — Eu não matei dois homens! Só matei o merda do Vinicius. Não me compare a você. Um mafioso! Por isso tem tantas armas no porão da sua casa. Você é um monstro assassino. E agora eu também... Também sou... — se ajoelhou no chão e deixou o armamento cair. — Chefe. Sugiro que deixemos o local agora, alguns deles podem ter pedido reforços. — F
KESIA MESSINA Meu peito se agitou só com o som da sua voz grossa e potente. — Eu não quero participar disso. — Querendo ou não, fez um trato comigo e com a nossa famiglia. — Continuou com a voz branda. Assinei um contrato com o diabo. — Vai para o inferno você e sua m*****a família! — exclamei perdendo o controle. — Nossa família. Você faz parte dela também. — Corrigiu. Respirei fundo e passei a mão por cima da minha perna enfaixada. — Porque não me contou antes? — perguntei em um fio de voz. — Mentiu todos esse tempo. — Eu ia falar. Na nossa viagem de lua de mel. Tá de brincadeira. — Viagem de lua de mel? — fingi uma risada. — Devia ter me dito antes do casamento! — Eu sabia que ia surtar. Ia fazer de tudo para não casar. — E agora, qual a diferença? Eu surtei do mesmo jeito. — Sei que você me ama. Assim como eu te amo. Talvez não na mesma intensidade, mas existe algo de mim em você. — Ele disse seriamente. Paralisei. Ele ouviu. Fellipo levantou e caminhou até perto.
KESIA MESSINA Um mês se passou, desde o dia do resgate do Angelo. O corte estava melhorando e os hematomas tinham sumido. Fazia quase quatro meses que estavamos na Ítalia. Passava o máximo de tempo com o Angelo, compensando a falta que ele me fez. Meu casamento não poderia estar melhor. A gente brigava as vezes por ele ser um ogro sem paciência. Dormíamos juntos os três na cama, com Angelo no meio. Tenho percebido o quanto a presença de uma figura paterna faz bem ao meu menino. Nós ainda não tranzamos... Estávamos esperando minha perna ficar melhor para isso. Confesso não ver a hora. Domingo, Fellipo passava o dia em casa. Assistíamos na sala de tv, um filme dos Vingadores repetido. Pelo canto do olho notei que ele não dava atenção alguma as cenas, me observando o tempo todo. — Campeão. Está na hora de dormir. — Verdade. Vamos dormir. — O filme havia acabado, e o relógio marcava dez da noite. — Hora de criança dormir! — reforcei. Ele não aceitou fácil, fez birra cho
KESIA MESSINA — A mamãe te leva está bem? — sussurrei para anima-lo e lhe fiz cócegas. — Nós vamos viajar. Parei de comer voltando-me para ele com um enorme sinal de interrogação na testa. — Para onde? — foi Angelo quem perguntou. — Rio de Janeiro. — Tentei conter um sorriso largo, mas foi impossível. — Uma semana apenas. Não posso me afastar tanto tempo da máfia e nem da empresa. — Completou tomando goles pequenos do café sem açúcar. Lamentei com pesar sobre eu ser a Dama de uma máfia. Nunca vou me envolver nessa merda. — Angelo precisa estudar. — Lembrei. — Ah não mãe! Não quero estudar. Quero ficar em casa brincando. — Emburrado cruzou os braços. — Para comprar um carro bem bonito, lembra? — seu rostinho se iluminou. — Ele está matriculado na melhor escola da cidade. Não se preocupe. — Contou. Ao menos meu filho terá uma educação melhor que a minha. O resto do café da manhã foi animado, o Angelo dizendo o tempo que queria ver o avô, o tio e claro, o cachorr