KESIA MESSINA Meu peito se agitou só com o som da sua voz grossa e potente. — Eu não quero participar disso. — Querendo ou não, fez um trato comigo e com a nossa famiglia. — Continuou com a voz branda. Assinei um contrato com o diabo. — Vai para o inferno você e sua m*****a família! — exclamei perdendo o controle. — Nossa família. Você faz parte dela também. — Corrigiu. Respirei fundo e passei a mão por cima da minha perna enfaixada. — Porque não me contou antes? — perguntei em um fio de voz. — Mentiu todos esse tempo. — Eu ia falar. Na nossa viagem de lua de mel. Tá de brincadeira. — Viagem de lua de mel? — fingi uma risada. — Devia ter me dito antes do casamento! — Eu sabia que ia surtar. Ia fazer de tudo para não casar. — E agora, qual a diferença? Eu surtei do mesmo jeito. — Sei que você me ama. Assim como eu te amo. Talvez não na mesma intensidade, mas existe algo de mim em você. — Ele disse seriamente. Paralisei. Ele ouviu. Fellipo levantou e caminhou até perto.
KESIA MESSINA Um mês se passou, desde o dia do resgate do Angelo. O corte estava melhorando e os hematomas tinham sumido. Fazia quase quatro meses que estavamos na Ítalia. Passava o máximo de tempo com o Angelo, compensando a falta que ele me fez. Meu casamento não poderia estar melhor. A gente brigava as vezes por ele ser um ogro sem paciência. Dormíamos juntos os três na cama, com Angelo no meio. Tenho percebido o quanto a presença de uma figura paterna faz bem ao meu menino. Nós ainda não tranzamos... Estávamos esperando minha perna ficar melhor para isso. Confesso não ver a hora. Domingo, Fellipo passava o dia em casa. Assistíamos na sala de tv, um filme dos Vingadores repetido. Pelo canto do olho notei que ele não dava atenção alguma as cenas, me observando o tempo todo. — Campeão. Está na hora de dormir. — Verdade. Vamos dormir. — O filme havia acabado, e o relógio marcava dez da noite. — Hora de criança dormir! — reforcei. Ele não aceitou fácil, fez birra cho
KESIA MESSINA — A mamãe te leva está bem? — sussurrei para anima-lo e lhe fiz cócegas. — Nós vamos viajar. Parei de comer voltando-me para ele com um enorme sinal de interrogação na testa. — Para onde? — foi Angelo quem perguntou. — Rio de Janeiro. — Tentei conter um sorriso largo, mas foi impossível. — Uma semana apenas. Não posso me afastar tanto tempo da máfia e nem da empresa. — Completou tomando goles pequenos do café sem açúcar. Lamentei com pesar sobre eu ser a Dama de uma máfia. Nunca vou me envolver nessa merda. — Angelo precisa estudar. — Lembrei. — Ah não mãe! Não quero estudar. Quero ficar em casa brincando. — Emburrado cruzou os braços. — Para comprar um carro bem bonito, lembra? — seu rostinho se iluminou. — Ele está matriculado na melhor escola da cidade. Não se preocupe. — Contou. Ao menos meu filho terá uma educação melhor que a minha. O resto do café da manhã foi animado, o Angelo dizendo o tempo que queria ver o avô, o tio e claro, o cachorr
KESIA MESSINA — Tati? — chamei intrigada. Passei a vita pelo seu corpo sem me preocupar em disfarçar, logo notei sua barriga saliente marcada no vestido branco pouco apertado. Ela fitou nós três e sorriu abertamente. Por impulso, pulou em mim e abraçou. — Que saudade! — murmurou com a voz embargada. Olhei para seu rosto e ela estava prestes a chorar. Porém eu não disse nada, ainda estava confusa com a presença dela ali. Percebendo meu olhar, Tati se afastou. — Entrem. — Disse nervosa nos dando as costas e voltando a subir as escadas novamente. Que merda é essa? O que eu perdi? Segui ela, Angelo e o Fellipo vieram logo atrás. Conforme a porta se aproximava, mais o nervosismo me consumia, a agonia não me deixava respirar. No último degrau, podia ouvir as vozes vindas da casa. Meu pai e Hugo pareciam assistir a uma luta de boxe, pois gritavam coisas como: “da uma chave de braço nele, mete a porrada. Soco na orelha.” Sorri agitada. Senti falta disso. Tati entrou
KESIA MESSINA Ao longo do jantar, Hugo vez ou outra encarava Fellipo com um olhar mortal. Fora isso, tudo transcorreu muito bem, como eu lembrava que era. Soube notícias do Valentim, o filho pródigo, querendo voltar para casa. O jovem descobriu que o mundo não é como ele imaginava. — Ai meu Deus! — um grito fino ecoou pela cozinha nos fazendo calar e olhar na direção da porta. Fran estava com a boca aberta fitando o Fellipo e eu. Fez uma pequena corrida e me abraçou. — Não acredito que você agarrou o ricaço. — Cochichou no meu ouvido. — Que saudade menina! — me abraçou de novo e ao Angelo, puxou outra cadeira, sentou-se para comer conosco. Depois de muito comer, conversamos, e Fellipo permanecia calado com a cara enfiada no celular, respondendo algumas poucas perguntas. Me assustei quando senti uma mão quente apertar minha coxa por debaixo da mesa. Olhei para ele que encarava de volta. — Nós vamos embora. —Anunciou, sua voz grossa e penetrante se sobrepôs sobre as outras.
KESIA MESSINA — Fica aqui com eles. — Ele prontamente concordou com a cabeça. Os outros seguranças desceram dos carros. — Diz pra eles virem pra cá. — Meu pai chamou. Dei de ombros indicando que ele poderia fazer o que quisesse. Meu pai caminhou na direção deles e eu sai de perto para subir as escadas. Entrei em casa, e fui recebida pelo Huck, uma grande bola de pelo, ele ainda latiu balançando o rabo. — Huck fica quieto. — Fran gritou da cozinha. Caminhei até elas, ignorando o cachorro atrás de mim. Uma estava na pia cortando legumes e outra mexendo panelas no fogão. — Bom dia senhoras. As duas se viraram percebendo minha presença e sorriram. — Ah você voltou. Achei que tinha ido embora. — Tati disse vindo me abraçar, afastei ela com a mão. — Eu ainda não gosto de abraços. Ontem foi uma coisa a parte. — Esclareço e ela fez uma careta. Fran parou de mexer na panela e se aproximou. — Agora me conta como foi isso. — Ficou bem perto, olhando fixo para o meu rost
FELLIPO MESSINA ”Cuidado, o inimigo fingi ser seu amigo” palavras do meu pai com sentido real. Acordei com meu celular tocando no criado mudo. Estiquei-me um pouco, com cuidado para não acordar minha mulher. Eram sete da manhã. — Alô? — Senhor Messina? — Não, é o papa seu idiota. — Resmunguei. Segurei o celular com uma mão e a outra deixei passear pela costa nua da Kesia que dormia profundamente com a cabeça em meu peito, e as pernas enroscadas nas minhas. — Senhor, ontem a noite descobri algo importante sobre a sede no Brasil. — Era Igor, hacker que me ajudou a rastrear minha garota. Mesmo depois de matar o Carlos, o homem que foi apontado como o ladrão, os roubos ainda aconteciam. — Tem provas? — perguntei calmo. — Sim. Irei enviar tudo para seu e-mail. Desliguei o aparelho.Acho que matei a pessoa errada. Permaneci mais um tempo deitado, e resolvi levantar. Fiz isso com cuidado, mas ainda a acordou. — Onde você vai? — quis saber com a voz sonolenta. Peg
FELLIPO MESSINA — Está insinuando que foi suicídio? — perguntei entrando no jogo. — Estou afirmando. O cara estava insatisfeito com a própria vida. Então, — continuou traçando um cénario próprio, e eu deslizei o dinheiro pelo tampo da mesa. — Resolveu dar um fim. — Finalizei deixando o maço parado. Vislumbrou por um tempo o dinheiro, seus olhos brilharam. — Claro senhor. — Concordou pegando sem hesitar. Li seu nome na farda. — Foi um prazer esclarecer suas dúvidas, Cabo Freitas. Qualquer coisa, lhe faço uma visita. Ele engoliu em seco e sorriu amarelo. — Passar bem. — Levantou e saiu apressado. Olhei no relógio e se passava das sete da noite. Meu computador estava cheio de e-mails para responder. Responder todos, levou mais tempo do que esperava. Na empresa não havia muitas pessoas, até Hugo não estava mais ali. Apenas os seguranças do turno da noite. Peguei meu carro na garagem e dirigi para a mansão. Dentro, estava tudo escuro. Todos devem está dormindo.