KESIA MUNIZ Então lembrei de ter pego uma m*****a camisa, que na hora da fuga acabou caindo do cabide e a segurei para tentar evitar ser pega. — Claro que não. — Neguei séria. — As roupas que mandei comprar não foram suficientes? — ele voltou a cruzar os braços e me analisar. — Como sabia meu tamanho exato? — perguntei curiosa. Ele sorriu cínico. — Eu sei de tudo. — Sorri cínica também. — Sabe o nome do alvo? Seu sorriso se desfez e o meu aumentou. — Questão de tempo. — Desconversou. — Seria capaz de matar uma pessoa? — a pergunta escapou dos meus lábios. Ele ergueu uma sobrancelha e sorriu. Não um sorriso normal, um meio sombrio, esquisito. Seus olhos vagaram para um ponto fixo na parede como se tivesse lembranças. Será que ele já matou alguém? — Você saberá. — Dito isso, ele me deu as costas. — Pode ficar coma camisa se quiser. — E entrou no closet fechando a porta na minha cara. Filho da puta. Me xinguei mentalmente por ter ido logo no quarto dele. Podia simplesm
KESIA MUNIZ Com o susto de ouvir a voz dele tão perto, escorreguei o dedo no gatilho e errei o alvo. Virei furiosa para encara-lo. — Me fez errar! — resmunguei. Ele deu de ombros, notei que me encarava muito sério, parecia estar com raiva. — O que está fazendo aqui em baixo? — ele perguntou alto. — Que lugar é esse? O que esses caras estão fazendo aqui? E essas armas? — ignorei a pergunta dele e fiz as minhas próprias. — Isso não é da sua conta curiosa dos infernos. — Ele praticamente rosnou. — Aqui é a minha casa. — Mas eu posso contar para polícia tudo que tem aqui! Isso com certeza é ilegal. E... Ele me segurou pelo braço com força e antes que eu pudesse agir, puxou a arma da minha mão. Me debati, tentando sair do seu alcance. O que não foi possível devida a força que segurava com uma mão só. — O que estão olhando seus ratos? — ele gritou fazendo eco no galpão. — Vão embora. Acabou por hoje. Os homens que haviam parado para olhar o showzinho de graça, ficara
KESIA MUNIZ Os olhos escuros dela brilhavam com lágrimas. Não sou a pessoa mais indicada do mundo para dar conselhos ou consolo a alguém. Fiquei sem jeito, sentia que devia falar algo. Mas não consegui, fiquei muda. Ela fungou e baixou a cabeça envergonhada, delicadamente, limpou as lágrimas. — Desculpe, estou sendo uma boba. Mas é que olhando todo o amor que você tem pelo seu filho. Lembrei de como queria ter feito tudo por eles. — Doris continuou falando. — Eles? — perguntei sem entender nada do que ela falava. Ela levantou a cabeça e mirou nos meus olhos. Seu semblante era de uma mulher forte e machucada. Por trás do rosto marcado pelo tempo. Com certeza, havia muitas histórias, não daquelas bonitinhas que podemos contar aos filhos e netos. —Sim. Meus filhos. Fellipo e... — Esse nome é proibido nessa casa. — Fellipo apareceu repreendendo a mãe. Como assim? O Fellipo tem um irmão? Ele nunca mencionou isso, mas da forma que falou parece não gostar muito dele. — Vou
KESIA MUNIZ Eu não conseguia desviar meus olhos dela e da barriga. Não sou burra, sei muito bem que tem várias espertinhas que tentam o golpe da barriga. Ela pode não está grávida do Fellipo. Mas também pode estar. Na verdade, estando ou não, não é da minha conta. Estendi os braços para pegar meu filho de um Fellipo sério e aborrecido, olhando para a Tolita, apelidinho que dei pra ela, como se quisesse matá-la. — Me dar ele aqui. — Pedi com a voz baixa para não interromper o casal. Ele virou e com cuidado passou a criança para meus braços. Sai sem falar uma palavra, subi as escadas e pela minha visão periférica, vi Fellipo arrastar a Tolita para o corredor do escritório dele. — Aii amor... que bruto. — Reclamou com a voz manhosa.— Cala a boca sua vadia. — Foi a última coisa que ouvi antes de subir quase correndo. Por causa do menino no colo, tive dificuldade para conseguir abrir a porta. Onde está Doris quando preciso? Tirei a roupa do Angelo, vesti outra mais conf
KESIA MUNIZ — Eu nunca vou me apaixonar por você. Não se preocupe. — Respondi afiada. Ele rosnou e me puxou colando nossos corpos. Repetindo os mesmos movimentos de mais cedo no galpão. — Tenho certeza que sim. — Afirmou. — Fellipo Messina, sempre muito confiante. — Debochei. Me sentia mole e entregue. Não posso ser burra, ele talvez seja pai do bebê da prima. — Eu sei que você me quer. Assim como eu quero você... E esmagou meus lábios com os seus sem me dar tempo para recusar. Fui empurrada ficando presa entre ele e a parede. Lutei para afasta-lo, meu coração pedia por isso, distância. Mas ele não se movia e a proximidade impedia de chutar suas bolas. Fellipo chupava e lambia avidamente meus lábios, passeando com a língua entre os mesmos pedindo passagem. Parei de lutar, porém, não deixei que entrasse. Percebendo que não ia ceder, ele puxou meus cabelos com mais força, chegou a doer. Sabia o que ele queria que fizesse. Eis a dúvida: ceder ou fugir? Receosa, a
KESIA MUNIZ — Não pensei nada. Fica calma. — Ela riu, estreitei os olhos. — Se acontecer, faço gosto na união. — Cochichou divertida. Sorri sem graça e segui para o banheiro a deixando com Angelo. Tomei um banho demorado, lavei os cabelos. Quando sai, Doris ainda estava no quarto. Entrei no closet, vesti uma calça jeans branca e uma camiseta preta, calcei tênis, já com a intenção de ir para o galpão. — Vovó estou com fome. Doris sorriu encantada. — Vamos tomar nosso café da manhã então. — Pegou em sua mãozinha o conduzindo para fora. Os segui em silêncio. Na mesa, Fellipo estava levantando para sair. Mas parou ao nos ver. — Bom dia. — Ele murmurou para ninguém em especial, concentrado em alguma coisa no celular. — Bom dia filho. — Bom dia tio. — Angelo o respondeu entusiasmado. Fellipo desviou os olhos do aparelho e sorriu para ele. Um sorriso que aqueceu meu coração. — Bom dia campeão. — E o pegou no colo. — Me leva para passear tio. — Já passeou ontem
KESIA MUNIZ — Tchau. Até daqui a pouco. — Abracei mais uma vez meu pequeno e lhe dei vários beijinhos no rosto. Observei os dois irem em direção a um carro cinza, com dois outros de escolta. Passaram pelo portão de ferro e sumiram de vista. Parada na porta principal, notei o imenso jardim com árvores de copas altas, uma piscina grande, grama verdinha, muitas flores, fontes, bancos de concreto. Um parque particular, lugar muito lindo. Nesses três dias que passei aqui, ainda não tinha parado para ver o exterior da mansão. Alguns homens fortemente armados e de preto andavam de um lado para o outro perto do portão e dos muros, olhando tudo atentos. Mas em momento algum, vi nenhum deles me dirigir o olhar. Por isso o Fellipo nem se preocupa que eu possa fugir. Respirei fundo, pensando na minha família, louca de vontade de ligar para saber como eles estavam, se o maníaco tinha ido à minha casa fazer algo de ruim. Virei as costas e fechei a porta. Caminhei com cuidado pela ca
KESIA MUNIZ Acordei do meu transe e cessei os movimentos, olhei para baixo. O rosto dele, não estava tão horrível assim, os lábios sangravam, o supercilio, o nariz, o olho... e só. Minhas mãos estavam esfoladas pela falta da luva. Mas não era nada que eu nunca tivesse experimentado antes. — Merda. — Praguejei levantando de cima do garoto. — Nossa... — ouvi ele sussurrar com a mão no nariz tentando estancar o sangue ainda deitado no chão. Os caras me olhavam com espanto. — Essa será a melhor Dama de todas. — Um deles disse baixo. Olhei em volta tentando achar quem tinha falado aquilo. Mas não consegui. Eu uma Dama? Dama do que diabos? Cada dia que passava ali, minha mente criava uma dúvida, que só se acumulava a outras. Virei para Olavo que ainda estava no chão. Estendi minha mão menos fodida. — Amigos? — demandei assim que ele a segurou e levantou com ajuda. — Depois de me dar uma surrar dessa ainda tem coragem de dizer isso? — resmungou enquanto o auxiliava a