Prólogo
Abigail Wilson
Beaufort, Texas
Assim que coloco o pé esquerdo nos longos corredores do colégio a música alta e animada me recebe. É possível também escutar as pessoas cantando e vibrando no ritmo da música. Mal posso acreditar que estou aqui, na festa de formatura. Apesar de eu não fazer parte do grupo dos formandos a direção informou que todos os alunos da escola estavam convidados, se eu não estivesse atrasada nos estudos esse ano também estaria terminando o ensino médio, mas por causa das frequentes mudanças de residência eu acabei perdendo o ano.
Olho mais uma vês para o vestido que estou vestindo, e meus lábios se esticam em sorriso genuíno, foi com muito esforço e dedicação que juntei cada dólar para comprá-lo, tia Katy me ajudou com os sapatos e também fez minha maquiagem, todo os dias agradeço a Deus por ter ela na minha vida, apesar de ser uma pessoa muito rigorosa. Porque ela é a única que cuida de mim a mais ou menos dois anos, apesar de ser uma pessoa rigorosa às vezes ela é muito bondosa comigo. Se não fosse por ela com certeza eu estaria em algum orfanato ou nas ruas do estado do Texas, tudo isso porque minha mãe não me quis, eu nunca vou entender o porquê de ela ter me abandonado.
Afasto essa névoa de tristeza que se aproxima de mim e entro de uma vez no salão de festas da escola, na verdade é o campo de basquetebol que virou o salão. Se eu realmente não soubesse que esse lugar é um espaço esportivo do colégio nunca acreditaria se me dissessem que é.
O lugar está deslumbrante, as mesas e cadeiras estão assimetricamente distribuídas pelo ambiente e no centro se encontra uma mesa totalmente diferente das outras, ela é completamente de vidro e nela contém um grande bolo, no teto lindos candelabros artesanais nos proporcionam um verdadeiro show de luzes.
Balões das mais diversificadas cores estão espalhados em todos os cantos até mesmo pelo chão. Alguns casais rodopiam ao ritmo da linda música calma na pista de dança, professores, alunos, e vários outros funcionários da secretaria e do setor pedagógico também se divertem, conversando, bebendo e comendo seus aperitivos. Eu me encontro sentada numa das mesas isolada dos outros, não que eu goste de me isolar mas todos me evitam por saber quem eu sou a neta rejeitada dos Jackson.
Me distraí um pouco conversando com alguns professores e finalmente decidi que estava na hora de ir embora, daqui até nossa casa é uma boa distância, principalmente sendo que moramos distante da cidade.
Saio dos portões do colégio e caminho em direção a estrada principal, talvez lá eu encontre algum táxi.
Fiquei andando por mais de trinta minutos e não achei nenhum táxi, por Beaufort ser uma cidade pequena as coisas encerram cedo, tanto o comércio, super mercados e até os transportes. E pelos vistos eu não saí a tempo.
Decido caminhar até em casa mesmo, senão ficarei no meio da rua até o amanhecer, se tivesse levado minha bicicleta minha vida estaria facilitada nesse momento. Praguejo internamente por isso. Enquanto caminho á passos largos o vento fraco vindo do oeste balança meu cabelo e traz um frescor delicioso ao meu rosto, o som dos meus saltos médios são o único som que se ouve na ampla estrada abatida, misturado aos sons gritantes dos grilos torna essa situação ainda mais assustadora. A iluminação nessa área é praticamente inexistente, mas com as luz do luar é possível percorrer o caminho desejado sem sobressaltos.
De repente sinto um aperto no coração e essa sensação me faz aumentar ainda mais os passos, não só por causa do pressentimento ruim mas também porquê vou levar a maior bronca da tia Katy por ter demorado tanto. Depois de dez minutos de uma longa caminhada na estrada de terra que com certeza irá me deixar toda suja de poeira viro no cruzamento que separa os inúmeros ranchos e sítios que se encontram distribuídos na região. Aprecio o céu estrelado e nesse momento o desejo de estar no meio do campo deitada e apreciando as mesmas chega a ser desejável, saio de meus devaneios quando chega aos meus ouvidos o som tocante do motor de um carro. Tomara que não seja a polícia, eles com certeza não iam achar de bom feito uma adolescente de quase dezoito anos andando em plena meia noite sozinha.
A cada passo não cessado que dou o carro também vai se aproximando. Isso não parece o carro da polícia caso contrário estaria ouvindo o barulho ensurdecedor das sirenes me mandando parar. E nesse momento todo meu corpo muda a temperatura de quente moderado para gelado ao extremo, tão gelado que meus dentes batem, sendo que a temperatura marcada para hoje em graus Celsius é de 34 de máxima.
Meu subconsciente me alerta a começar a correr, mas meu bom senso me diz que é só alguém que frequenta o mesmo caminho que eu. Minhas suspeitas são sanadas quando uma pick-up cuja cor é impossível designar por causa da escuridão para ao meu lado. É impossível ver quem a dirige, pois seus vidros são escuros.
Sem saber o que fazer continuo andando e o carro também entra em movimento, estou praticamente correndo, quando olho para trás o carro sumiu me dando um certo alívio, mas isso durou apenas alguns segundos porque voltei a ouvir o roncar do motor bem atrás de mim, me ajuda meus Deus.
—Entra no carro — uma ordem dada por uma voz bem alta quase gritando e de timbre forte e agudo. Quem é esse homem?
— Não obrigada, eu continuo a pé estou quase chegando. — Minhas palavras saem bem mais medrosas do que eu esperava. O vidro do carro já foi arreado mais é impossível definir os traços do seu rosto, ele ainda é uma incógnita para mim.
— Entra na porra do carro! — grita batente no volante e isso me apavora tanto que em disparada saio correndo na direção ao caminho de casa. Nem se eu pudesse gritar pedindo socorro ninguém me ouviria, estou entregue a própria sorte.
Sinto como se meu peito fosse se rasgar devido ao esforço físico que estou fazendo misturado ao meu estado emocional do momento, não sei quanto tempo corri, mas meus sapatos ficaram para trás, para mim tudo o que importa nesse momento é escapar e chegar em casa sã e salva.
Meus olhos marejados não estão ajudando muito no processo por isso sem querer caio numa cratera cheia de lama e posso jurar que cheguei a ouvir meu tornozelo estalar, da minha boca saio um grito que expressa toda dor que estou sentindo no momento, eu mal consigo me levantar pois a dor latente que estou sentindo não permite.
De longe vejo aquele homem se aproximando em meio a escuridão seus passos fortes fazem com que uma névoa de poeira o acompanhe, ele parece uma sombra e de novo mal consigo ver seu rosto.
— Por..por favor não faz nada comigo. Prometo não constar para ninguém. — Meus protestos e súplicas são em vão pois seus enormes braços me seguram e elevam a força o meu corpo para um lugar desconhecido. Quando vi eu já estava deitada na cama velha dentro da cabana abandonada que fica na beira da estrada, e meu atual pesadelo se despia me olhando no meio das sombras, apenas tive o vislumbre de seus olhos verdes brilhantes e intensos.
E sem nenhum pudor o homem das sombras tirou minha inocência e quebrou qualquer tipo de ilusão que eu tive sobre uma vida melhor, afinal sempre foi assim, sempre fui escrava da vida.
Em meio a gritos que quase acabaram com minha voz ele quebrou a barreira que provavelmente poderia me tornar uma mulher feliz, ele tirou de mim a única coisa que eu podia usar para provar para as pessoas que eu não sou uma vadia como dizem que foi minha mãe, por mas que pareça algo utópico, mas sempre foi assim eu vivo nas sombras de uma mulher que desconheço.
— Tão gostosa e cheirosa como a vadia quebra corações da sua mãe. Aquela mulher é uma bruxa e ela acabou com a minha vida, isso é culpa dela — aí eu tive a certeza que nesse momento começava mais uma fase da minha vida, mas um martírio para eu levar pelo resto da minha vida, mas uma vez a vida me chicoteou sem piedade nenhuma.
Abigail Wilson Queen's, Nova IorqueQuatro anos DepoisMuita gente afirma que dormir é a melhor coisa a se fazer para renovar as forças do corpo e também se apagar um pouco da realidade, o que não corresponde a verdade pois faz muito tempo que não sei o que é dormir em paz ou com tranquilidade, cada noite é uma preocupação diferente, nunca tenho paz desde que me conheço como gente. Se não são os problemas da vida me impossibilitando de dormir, são os pesadelos que me fazem despertar sobressaltada e ofegante durante as madrugadas, sempre é aquela noite.Sei que o sol está quase nascendo mas a impotência que sinto é tão grande que as vezes sinto vontade de dormir por longos dias para não acordar e vivenciar minha tão dolorosa realidade. Se não fosse por causa do meu pequeno anjo que me faz ter forças cada dia para enfrentar a vida que me dá cada balde de água fria.De longe já é possível ouvir a movimentação da cidade, as buzinas de carros, os motores rocando todos indo na mesma direçã
Abigail WilsonDepois do que houve naquela sala eu fiquei meio fora da realidade caminhado pelas ruas da cidade só para esquecer o sucedido, fiquei tão submersa que acabei me atrasando, tive que fazer umas pequenas compras no comércio do bairro mesmo porquê já passavam das cinco da tarde e eu devia buscar o Brian na escolinha as quatro. Assim as irmãs vão achar que estou abusando da boa fé delas.Chego no portão da escolinha praticamente correndo, mas o mesmo já se encontra fechado o que me deixa concluir que realmente eu me atrasei, sem mais esperar abri o portão e já fui entrando, de longe vejo Brian sentado em um banco conversando com uma das freiras. Me aproximo deles, e de repente uma coisa pequena de cachos castanhos vem me receber com o maior abraço.— Mamãe! — grita gargalhando e pulando todo alegre.— Oi meu anjo — me agacho para ficar na sua altura — se comportou direitinho como a mamãe falou? — meu menino assente. Apesar de pequeno ele é bem obediente. A irmã que fazia comp
Abigail WilsonColoco mais um grande X numa das vagas de emprego que o jornal da edição de sexta-feira publicou. Olho para toda página do jornal e me admiro com a quantidade interminável de vagas que não se adequam a minha posição, na verdade é o contrário, pois sou eu que não detém dos requisitos necessários para ocupar vagas tão sofisticadas e que emanam poder e graciosidade. As vezes praguejo por o mundo trabalhista ser tão exigente no que respeita a seleção de pessoas para ocupar certos cargos, nunca almejei ser uma grande executiva, apenas quero abrir um cantinho para fazer meus docinhos. Eu bem podia fazer e vender no meio da rua, mas seria presa a política americana para vendedores ambulantes é muito rigorosa, eu gastaria uma fortuna só para começar a vender, com os processos e petições sem contar com as tarifas e impostos que teria que pagar. Por isso seria mais simples se tivesse uma confeitaria. Pode tardar mas um dia irei realizar esse sonho.Dobro o jornal e o guardo na mes
Tristan LancasterApós intermináveis horas de viagem o capitão finalmente anuncia que estamos pousando no hangar de Beaufort no estado do Texas. É uma pequena cidade que fica no sudoeste do Estado. Passam anos desde a última vez que vim para este lugar, a última vez que vim foi no enterro dos meus avós, pais da minha mãe Jaqueline Lancaster. Nunca pensei que voltaria para este lugar e o principal, para enterrar meu próprio irmão. Tínhamos cerca de cinco anos sem nos ver, desde que ele decidiu sair da cidade e vir se enclausurar nesse lugar tão recondido. Nós dois sempre fomos diferentes, enquanto ele apreciava a natureza eu sou vislumbrado pela agitação das grandes cidades, pelo concreto e claro pelo poder, esse é o mais importante.Pela janela do carro que me leva até o rancho observo o quanto as coisas aqui são paradas, não sei o que deu nele em decidir vir morar numa cidade que deve no máximo ter cerca de dois mil habitantes, aposto que a maioria da população é camponesa, arrisco a
Abigail Wilson pesar de trémula e receosa a passos lentos consigo alcançar as portas automáticas do imponente edifício. Apesar da hora o lugar está bem movimentado, tem pessoas entrando e saindo, algumas assinando documentos, entregadores indo e vindo e eu ainda sem saber qual direção devo seguir.Encaro o chão brilhante de tão limpo, é possível até ver meu reflexo nessa mármore branca, o chão é tão bem polido que a cada paço que dou sinto a sensação de estar flutuando, meus olhos contemplam a decoração suntuosa e sofisticada do grande saguão. Várias mulheres sentadas em um grande balcão não param de atender ligações e ao mesmo tempo responder as perguntas dos visitantes enquanto digitam nos teclados dos modernos computadores, e até agora não sei com quem devo falar, começo a suar frio pois meu consciente acabou de constatar que esse lugar é demais para uma pessoa como eu. Olho para cima e me admiro com o tamanho do lustre que pende no mesmo, ele é todo de cristais em diferentes for
Abigail WilsonO peso indescritível dele está sobre meu corpo enquanto de forma desesperada tento gritar por socorro. Minhas mãos se debatem enquanto tento esmurrar seu peito forte, os gemidos de prazer que saem por sua boca provocam uma náusea nunca sentida antes, seu membro machuca minha intimidade que já se encontra molhada por meu próprio sangue. Mesmo no breu da cabana abandonada é possível ver seus dentes brancos.— Por favor me solta — imploro por sua piedade enquanto as forças do meu corpo diminuem a cada esforço que faço para tirá-lo de cima de mim, meu corpo todo dói por causa do tombo que levei e o pé pelo qual tropecei está tão dormente que mal posso senti-lo. — Me solta, eu te imploro.— Tão gostosa igual a vadia da sua mãe.— Para! — um grito estridente sai da mim enquanto desperto num súbito, a respiração ofegante, o suor percorrendo minha coluna e minhas têmporas e as mãos tremendo. Se acordar assim não fosse um hábito eu podia achar que estou doente, o que não é o me
Abigail WilsonEu e Brian caminhamos de mãos dadas pelo Central Park, e um sorriso do tamanho do mundo não sai da cara do meu filho, tudo isso por causa do sorvete gigante que está na mão dele.Mesmo vivendo em Nova Iorque a praticamente quatro anos nós nunca tínhamos vindo para cá antes, primeiro por ficar no centro da cidade e por causa da agitação costumeira não queria trazê-lo e segundo porque sempre achei que se trouxesse meu filho aqui teria que ser enquanto nossa vida financeira estivesse estabilizada.— Olha mamãe um passalinho — Brien sai correndo em direção a um dos bancos onde um pássaro belisca algumas migalhas no chão. Para não perder meu filho de vista coro atrás dele até nos sentarmos no banco e ele começar a oferecer o sorvete de chocolate para o pássaro enquanto conversa com o animal.Sugo mais um pouco do meu milk shake de morango lembrando que daqui a algumas semanas a páscoa bate a nossa parte e agora que tenho um emprego bom vou poder fazer um verdadeiro banquete
Tristan LancasterPela janela traseira da SUV suburban aprecio a cidade de Nova Iorque mergulhada no clima melancólico no auge do anoitecer, o grande número de pessoas ainda circulando e o show de luzes e quantidade de outdoors que iluminam os estreitos edifícios não tira minha concentração em apreciar o que realmente me encanta nessa cidade, a sua arquitetura, sem dúvidas se eu não tivesse aceitado fazer administração e finanças para minha vida, teria engrenado para engenharia ou arquitetura, mas sou capitalista demais para isso, fazer negócios e assinar contratos é o que me faz feliz hoje em dia, e claro o que me dá poder e grande destaque.— Senhor Lancaster, chegamos. — Saio do meu devaneio quando meu motorista chama minha atenção, não espero que ele abra a porta traseira do carro, por conta própria seguro na maçaneta e abro a porta, sendo recebido pelo ar húmido que passa muitas vezes por Nova Iorque em noites de verão.Olho meu relógio e o mesma marca nove e meia da noite, bem