CAPÍTULO 01

Abigail Wilson

Queen's, Nova Iorque

Quatro anos Depois

Muita gente afirma que dormir é a melhor coisa a se fazer para renovar as forças do corpo e também se apagar um pouco da realidade, o que não corresponde a verdade pois faz muito tempo que não sei o que é dormir em paz ou com tranquilidade, cada noite é uma preocupação diferente, nunca tenho paz desde que me conheço como gente. Se não são os problemas da vida me impossibilitando de dormir, são os pesadelos que me fazem despertar sobressaltada e ofegante durante as madrugadas, sempre é aquela noite.

Sei que o sol está quase nascendo mas a impotência que sinto é tão grande que as vezes sinto vontade de dormir por longos dias para não acordar e vivenciar minha tão dolorosa realidade. Se não fosse por causa do meu pequeno anjo que me faz ter forças cada dia para enfrentar a vida que me dá cada balde de água fria.

De longe já é possível ouvir a movimentação da cidade, as buzinas de carros, os motores rocando todos indo na mesma direção, ao centro da maior cidade do país.

— Mamãe! — estou tão embolada entre o sono e a realidade que não respondo de imediato. — Mãe! — Realmente já amanheceu.

— Oi amor! — abro os olhos para encara-lo, ele me olha com um sorriso sapeca, se estou viva hoje é por causa desse sorriso que ilumina minha vida como o sol da manhã. — Dormiu bem?

Domi. — diz se deitando na minha barriga. Sorriu com seu jeito de falar. Brian tem apenas três anos de idade e já se mostrou ser um rapazinho muito inteligente, as freiras lá da escolinha sempre dizem isso quando vou buscá-lo. Por eu não ter condições de pagar uma escolinha privada optei por colocar ele numa escolinha comunitária da igreja, eu me sinto muito segura quando deixo ele lá brincando com outras crianças sob cuidados das irmãs. — Vamo mamãe, é hora de ir pa scolinha.

— Ainda é muito cedo amor. Que tal eu preparar o café da manhã enquanto você faz um desenho? — ele festeja pulando na cama. Saímos de nosso pequeno quarto e vamos em direção a sala. Moramos nesse pequeno apartamento desde que nos mudamos para cá, ele é muito simples, contém apenas um quarto que divido a cama com o Brian, um banheiro também simplório, e uma sala que na verdade é um conjugado com a cozinha, o que separa eles é apenas uma parede que serve também como a bancada.

Coloco ele sentado no único sofá de dois de lugares, procuro todos seu material de desenho, ele adora desenhar, pego o papel e lápis de cor.

— O que você vai pintar hoje Brian? — pergunto indo em direção a cozinha, a vantagem de ser um conjugado é que posso o controlar daqui mesmo.

— Você! — confessa todo risonho. Na verdade é só a mim que ele desenha. As vezes ele diz que vai desenhar eu e o pai, e toda vez que ouço isso meu coração fica em pedaços, pois isso traz lembranças ainda não esquecidas. Por enquanto por ele ser menor não insiste muito em saber do pai, mas as vezes eu imagino como vai ser daqui a alguns anos quando ele ficar consciente de algumas coisas da vida. Agora é possível driblar ele com algumas histórias, mas sei que isso não vai funcionar para sempre. Saio de meu desvaneio quando abro a porta da geladeira e como um soco logo de manhã sou recebida por um ar gélido demais, pois a geladeira está vazia, se a mantenho ligada é mesmo por causa do leite que comprei para o Brian e também algumas frutas para o lanche dele. Engulo em seco e tiro a embalagem de leite da geladeira, e quando o leite acabar?

Não posso pensar nisso agora senão nem forças para procurar um emprego terei, o último dinheiro que eu tinha paguei a água e a luz e também comprei algumas coisas básicas de comer para o Brian são coisas que por mais que eu passe fome não podem faltar para meu filho, leite, cereal e papinha instantânea, isso já passa uma semana. Tenho cem dólares guardados na poupança, mas esse dinheiro é para os casos extremos ou uma emergência.

Lágrimas em meus olhos são frequentes toda vez que penso na minha vida desde meu nascimento, mas eu farei de tudo para que meu filho não sinta a dura realidade de viver sem saber o que é ter um pai.

Aqueço o leite para o Brian e também o pão doce que fiz ontem a noite, para melhor reduzir os gastos resolvi passar a fazer essas coisas sozinha em casa, para além de eu gostar demais de estar na cozinha fazendo doces e salgados, é mais econômico para mim, meu maior sonho é ser uma grande confeiteira o que sinto que irá demorar bastante porque nem o ensino médio eu terminei, mas tenho fé que um dia irei concretizar esse sonho.

Corto o pão e faço umas torradas passando geleia de frutas vermelhas nelas, fica uma delícia e o Brian adora ver a cor da geleia na torrada. Coloco tudo na pequena mesa de quatro lugares chamo meu pequeno e nós dois comemos embolados em uma conversa muito animada sobre a escolinha, ele realmente gosta daquele lugar, e fico feliz por isso porque assim fico mais segura de saber que ele é tratado muito bem.

Após o desjejum dou um banho no Brian o visto com suas melhores roupas que ainda o servem, não porque estou desempregada e sem dinheiro que meu filho irá se vestir com roupas desgastadas, tudo bem que essas não tão novas mas é o melhor que tem. Também tomo um banho, procuro umas roupas em condições, hoje vou de novo atrás de um emprego pelas ruas de Nova Iorque, eu aceito qualquer coisa.

Visto uma calça jeans escura e por cima uma blusa formal de mangas compridas e botões a frente, ela é cor bege e combina com a sabrina que coloquei.

Arrumo todos os meus documentos na bolsa, a carta de recomendação que os antigos donos do restaurante onde eu trabalhava fizeram a gentileza de escrever, arrumo também a mochila do Brian com algumas mudas de roupa a lancheira com frutas que cortei em pedaços mais cedo quando preparava o café da manhã. Por entrar cedo na escolinha aconselharam a preparar um lanchinho para comer antes do almoço porque ela pode sentir fome, lá eles servem apenas o almoço e o lanche da tarde.

Me certifico de que está tudo certo, saímos do pequeno apartamento e tranco a porta. O caminho até a escolinha é bem curto porque fica muito a arredores do bairro onde morramos, não é o melhor bairro da cidade mas é onde minhas contas aguentaram arcar. Apesar de cansado o prédio de três andares é bem confortável.

Assim que atravessamos o portão da igreja a madre superiora vem nos receber.

— Bom dia Abigail!

— Bom dia madre — a comprimento e por alguns minutos conversamos sobre o Brian e como foi o final de semana dele. Me despeço do meu pequeno com um beijo e caminho em direção ao ponto de ônibus. Preciso começar a espalhar meu pobre currículo pela cidade.

Assim que chego ao ponto de ônibus já tinha um parado então resolvi aproveitar a oportunidade apesar e estar .rio cheio. No caminho até o centro da cidade minha mente só fica mergulhada em fazer contas enquanto outros estão conversando e alguns escutando música concentrados nos celulares e seus tablets.

Assim que desço vejo uma banca de jornais, resolvo comprar pelo menos um, o que sei que sempre tem anúncios de emprego, tiro uma nota de um dólar e entrego ao vendedor e ele me dá o jornal do dia o the Yorkers.

— Obrigada! E tenha um bom dia. — Guardo o jornal na bolsa para só o ver em casa e assim começa a minha busca pelo emprego.

Entreguei currículos em todas as lanchonetes, pastelarias, e passei até na agência de diaristas para renovar meu contrato. Porque quando cheguei em nova Iorque trabalhei como faxineira, para uma menina vinda do Texas sem muitos estudos sempre existe alguém para explorar no mercado do trabalho, mas com o tempo fui ficando esperta e assim conheci meus direitos trabalhistas.

Quando saio do edifício da agência ando só alguns metros pela calçada até que vejo um burburinho na porta de um dos restaurante mais requisitados do país senão do mundo, aqui é a sede, mas esse restaurante faz parte de uma grande rede espalhada pelo mundo, nele trabalham os maiores chefs de cozinha, na porta estão volta de cinco mulheres, todas bem aprumadas.

Resolvo me aproximar e ver se minha constatação realmente está certa.

— Oi! — saúdo uma delas — sabe me dizer se estão contratando?

— Sim estão.

Pergunto a ela quais são os requisitos para participar da entrevista e quais são as vagas. Estão procurando uma recepcionista adjunta, que seja fluente em inglês, francês, espanhol, e uma infinidade de línguas que não posso aferir, isso está longe de minhas possibilidades, a outra vaga é para garçonete, e o primeiro requisito é que tenha o ensino médio concluído ou equivalente e também ter algum conhecimento sobre a culinária moderna que no caso não tenho nenhum dos dois.

Apesar de tudo isso eu resolvi ficar, quem sabe eles me aceitem. Somos guiadas até uma  sala de espera da sala da presidência do restaurante, a própria presidente irá fazer as entrevistas, olho para o lugar deslumbrada, é muito lindo. Quanto mais o tempo vai passando mais pessoas correndo para as mesmas vagas chegam.

Depois das cinco moças que encontrei serem entrevistadas chegou a minha vez, entro na sala, e encontro uma mulher muito elegante, ela é loira seus lábios são bem chamativos principalmente com aquele batom vermelho, ela está sentada em sua cadeira de forma ereta e altiva, assim que meus olhos encontram os dela eu sinto uma sensação estranha como se de alguma forma nós duas já nos conhecêssemos, o que não constitui a verdade porque essa é a primeira vez que ponho os pés no Golden Gourmet. Engulo em seco e me sento na cadeira em que fui indicada. Ela me olha de cima para baixo e analisa com mais minuciosidade para meus sapatos, ela revira os olhos e começa a ler meu currículo.

— Para que vaga está concorrendo?

— Para as duas senhora. — Ela analisa meu currículo e depois de tirar as próprias conclusões ela me olha com atenção.

— Abigail, Certo? — confirmo. — seu currículo não corresponde ao requisitado em nenhuma das vagas, nem se fosse para trabalhar de faxineira você conseguiria. Pois nem os estudos concluiu, aposto que ao invés de estudar andou por aí desperdiçando a vida. Você achou mesmo que eu deixaria qualquer um contratar os funcionários do meu restaurante? Ainda bem que resolvi fazer isso por conta própria senão meu restaurante seria taxado como abrigo para mendigos. — As lágrimas que tanto tentei conter deslizam pelo rosto. As limpo imediatamente não quero que ela me veja chorando. — É uma menina muito linda, sem dúvidas conseguiria um trabalho fácil com as poucas habilitações académicas que tem. — Ela está insinuando que eu trabalhe como prostituta? Antes que eu complete esse pensamento ela fala: — feche a porta depois de sair.

E como se eu fosse invisível virou sua cadeira em direção às grandes janelas de sua sala. Me senti tão humilhada que no mesmo instante me levantei com as poucas forças que me restavam e caminhei em direção a saída daquele edifício me sentido ainda pior de quando entrei, até quando as pessoas ficarão me espisoteando?

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