Gregório Montreal — EU VOU TE MATAR, DESGRAÇADO! — Cristóvão grita, desesperado. Mirando-o com o dedo indicador, respondo tranquilamente: — É só vir... Daqui, te acerto fácil e te mando para o inferno com prazer, IRMÃOZINHO! — falo suavemente, enquanto ele rosna feito um cão raivoso. — Se acalmem! Baixe essa arma, Cristóvão. Sente-se! O que está havendo aqui? A única vez que te vi dessa maneira, Gregório, foi com sua noiva, Nancy, no dia daquela tragédia. E isso das ações do seu irmão? Por que fez isso? — meu padrinho pergunta. Permaneço calado, servindo-me de mais um pouco de vinho. Quero esquecer tudo, e nada melhor do que me embriagar até adormecer. Quem sabe assim minha vida se torna um pouco melhor e menos mórbida. Permaneço em silêncio, enquanto Cristóvão continua esbravejando. — Ele está caído por essa mulherzinha e não quer admitir. Por isso fica todo alterado quando falo a verdade que ele não quer enxergar. Essa mulher é o verdadeiro demônio, e meu irmãozinho continua
Mansão Montreal Dia seguinte Brenda Durmo como uma verdadeira deusa depois do carinho que meu neném faz nos meus cabelos. Seu toque é tão perfeito que me faz sonhar deliciosamente com ele. Acabo adormecendo de verdade e nem percebo quando ele sai do meu quarto. Por sorte, me livro do miserável Cristóvão e de suas insinuações sobre minha filha, Zoe, fingindo aquele desmaio. Esse desgraçado está tentando se aproveitar da situação, que ainda não entendo como chegou ao seu conhecimento. Mas, dessa vez, sou eu quem leva a melhor, tendo o privilégio de sentir o cuidado e a atenção do meu Gregório. Aos dezesseis anos, tenho uma filha com o maldito Alessandro. Esse é um segredo que guardo a sete chaves há nove anos, e ninguém será capaz de mudar isso. Zoe é uma menina linda: pele alva, cabelos negros cacheados, olhos azuis brilhantes e um sorriso capaz de contagiar qualquer pessoa. Qualquer um se encantaria com aquela anjinha em forma de menina. Qualquer um... menos eu. Para mim, essa
BRENDA Permaneço estática, olhando nos olhos âmbar daquele homem. Quando penso em seguir para o quarto, ouço novamente sua voz imponente, que me faz arrepiar por completo. Mas, dessa vez, não é um arrepio de prazer, e sim de medo. Não sei explicar o motivo, mas, no fundo, sei que esse homem, cedo ou tarde, me causará grandes problemas. Talvez eu não consiga escapar. — Perdoe-me! Não foi minha intenção machucá-la — diz ele com sua voz rouca, fazendo um calafrio percorrer minha espinha. — Tudo bem, senhor. Eu estava um pouco distraída, a culpa foi toda minha — respondo, afastando-me um pouco. Sinto seu olhar fixo em cada um dos meus movimentos. Será que ele realmente sabe de algo ou apenas blefou? A minha mente dá um nó, e meu peito congela. Um sinal de alerta acende em mim, dizendo que devo tomar cuidado com esse homem. Ele não está aqui atoa. Isso eu tenho certeza. — E, pelo visto, apressada, não é mesmo? — ele comenta, soltando a fumaça do charuto. — Tem razão! Apressadíssima
Brenda OrtizJá na cozinha, sento na banqueta e viro meu olhar para uma das empregadas, perguntando:— Sônia, onde está minha mãe?— No quarto, cuidando do seu pai — ela responde de costas, enquanto termina de preparar o almoço.— Então sirva meu café, estou com fome — falo, cruzando os braços.— Se quiser, pegue você mesma. Estou ocupada... E isso era o que você também deveria estar fazendo. Não acha? — ela diz, sarcástica, olhando de lado.— Você é abusada mesmo. Mas logo vou te mostrar seu devido lugar nesta casa, empregadinha — rosno.— Você fala como se também não fosse uma de nós. Se acha a dona da casa só porque se deita com o filho do patrão? — ela diz, sorrindo.— Ficou louca? De onde tirou isso? — me faço de desentendida, mas não adianta.— Acha que ninguém sabe? Você mesma faz questão de deixar a porta aberta enquanto se enrosca feito uma cadela no cio com o Jorge. Me poupe, Brenda. Aqui, a única que não sabe disso é a pobre da sua mãe. Mas logo ela vai enxergar que tipo de
Brenda Ortiz— Alma? O que faz aqui? — pergunto, assustada.— Vim buscar um copo de leite para o nosso pai tomar os remédios e ouvi um barulho na cozinha. Quando fui verificar, imaginando ser um ladrão ou um animal, me deparei com vozes... ou melhor, com urros que mais pareciam de uma fera selvagem — ela diz, me encarando com um certo nojo.— Eu posso explicar. As coisas não são como você pensa. Fui obrigada a fazer aquilo, Alma — falo, aflita, puxando-a para dentro do cômodo e encostando a porta.— Não seja ridícula. Pensa que me engana? Tanto Margarida quanto eu sabemos que tipo de pessoa você sempre foi. Nunca se contentou com a vida humilde, porém digna, que nossos pais nos ofereceram e preferiu se transformar em uma mulher qualquer — ela diz com desprezo.Minha mão se move antes que eu possa conter o impulso, e o tapa estala contra seu rosto. O copo de leite cai no chão e se estilhaça na mesma hora.— CALA ESSA BOCA! — minha voz sai mais alta do que eu desejo. — Você não é ningué
Gregório Montreal No escritório — Essa mulher é maravilhosa, afilhado. Ela é ideal para nossos planos contra o Garcia — diz Estevão, entusiasmado, sentado no sofá de dois lugares à frente da mesa onde analiso alguns documentos. — Não, padrinho! Encontraremos outra alternativa, mas a Brenda nunca participará de algo tão perigoso assim — respondo, nervoso, sem levantar muito os olhos. — Então, o que pretende fazer? Porque é isso ou corremos o risco de acabar atrás das grades — retruca Estevão, seco. Antes que eu possa responder, a porta se abre bruscamente. — Podem deixar que hoje mesmo eu cuido disso — diz Cristóvão, com um tom sarcástico na voz. — Onde você estava metido, Cristóvão? E, além disso, o que ainda faz nesta casa? — o analiso, desconfiado. — O que aconteceu com a sua boca? Isso é uma mordida? Cristóvão leva a mão à boca e responde com desdém: — Não foi nada demais. Só problemas domésticos. Eu e meu padrinho trocamos olhares de desconfiança. Cristóvão aprontou algu
Gregório Jorge disparou a arma por três vezes seguidas. Um dos tiros passou perto demais da minha cabeça, mas eu me esquivei no último segundo, e consegui escapar. Antes que eu pudesse reagir, vejo Jorge perdendo o equilíbrio e caindo. O corpo dele rolou escada abaixo, batendo violentamente nos degraus de mogno. Cada impacto fazia um som seco, até que ele atingiu o chão, inerte. — Jorgeeee... Por Deus! — O grito de Tereza ecoou pelo saguão quando o viu caído, ensanguentado. Ela tentou correr até ele, mas Alma, sua filha, segurou seu braço com firmeza. — Não, mamãe! Em acidentes assim, devemos chamar os paramédicos e a polícia imediatamente. Eu ainda estava agachado, tentando entender a gravidade do que havia acontecido. Estêvão se adiantou, pegou a arma da minha mão com um lenço e a guardou no bolso do sobretudo. Sua voz saiu fria: — Ligue para Cristóvão. Ele vai saber como evitar problemas maiores com a polícia. Praguejei baixinho. A última pessoa que eu queria ver era Cristó
Depois de longos anos, retorno ao lugar de onde fui expulso pelo meu próprio pai, unicamente por ter me envolvido com minha tia Inês quando tinha apenas dezenove anos e ela trinta e oito. Também volto à terra onde vivi as maiores experiências da minha vida. Enfim… Depois de muitas quedas e perdas, como a de Inês, consegui me estabilizar financeiramente e erguer meu império com meu próprio esforço. Não existe nada pior nesta vida do que depender de alguém e ser obrigado a ouvir calado acusações de que só sobrevivemos porque temos um apoio por trás. Chorei, sofri e definhei dia após dia depois que saí daquela casa. Passei por dificuldades de todos os tipos, mas hoje estou prestes a voltar ao Brasil para resgatar tudo o que me foi tirado — principalmente meu filho, Jorge. Sempre fui um homem tranquilo, romântico e amante de um bom vinho. Por essa razão, tornei-me o melhor sommelier de toda a Europa e trabalhei por anos numa renomada exportadora de vinhos, a Le'Blanc. Com muito es