HENRYÉ claro que eu a esperei acordado, quando mais teremos uma chance como essa, sozinhos em casa?O fato é que depois de tanto “exercício” caímos cansados muito tarde, ou muito cedo, depende do ponto de vista, por isso, acordamos assustados com nossos telefones e campainha tocando, vozes femininas nos chamando e fortes batidas na porta. Olhamos nos relógios e nem conseguimos acreditar! Já se passava de uma da tarde. Estão quase chamando a polícia pensando que irão encontrar nossos corpos. Enquanto ainda estou despertando sinto uma pancada na nuca. É minha calça.— Se veste! O que Judith vai pensar de mim? — olho para trás e vejo Deena saltando para subir uma calça jeans, seus cabelos estão revoltos, enquanto procura uma camiseta, desesperadamente. Coloco minha calça, a branca do terno, pois foi a última peça que vesti, bem como a regata sobrepele que vejo jogada no chão. Olho para o lado e ainda vejo Deena com a parte de cima do corpo exposta, com a cabeça enfiada no guarda-roupas
DEENAEnquanto a estrada corre através do vidro do carro a minha frente, Henry move-se agitado no banco do passageiro e Eve ressona no banco de trás. Ele insistiu para vir conosco, mas agora está bem desconfortável.— Não precisava ter vindo. O que você tem?— O que você vai dizer para a psicóloga? O que devemos dizer sobre nós? Você disse que ela quer conversar primeiro com a gente...Assinto. Isso tem me incomodado muito também, o fato de não sabermos o que somos um do outro, ou o que esperam que eu diga sobre isso. Me sinto muito culpada por tudo isso, porque, ao mesmo tempo que quero que Eve entenda as coisas e pare de chamar Henry de pai, estamos agindo como pessoas casadas na sua frente. Deixo minha testa cair sobre o volante rapidamente e quando a levanto, Henry aperta o meu ombro.— Eu sei. É demais para você! Podemos dizer que somos namorados.— Cala a boca! — disparo irritada. — Não preciso de mais essa confusão.— Que confusão? Nós não estamos fazendo tudo o que namorados fa
HENRYDepois de nossa conversa com a psicóloga, Deena se manteve quieta durante todo aquele dia, como se tivesse tomado um soco ou algo assim. Era obvio que éramos nós que precisávamos de terapia e não a pobre da menina.A primeira coisa que fiz naquela terça-feira, foi ligar para a srta. Madders solicitando uma outra pessoa para supervisionar meus trabalhos, preciso ao menos retirar esse peso dos ombros da minha garota.Hoje já é quinta e Deena ainda não voltou a falar comigo novamente. Estou lavando a louça do jantar enquanto ela etiqueta e guarda alguns potes de comida para a semana no freezer.— O ensopado estava maravilhoso! — quebrei o silêncio.— Hum, hum... — ela confirma distraidamente,— Vamos ter para amanhã? — pergunto, me aproximando dela, que logo dá um passo para o lado e cruza os braços.— Vamos. Sobrou bastante.— Deena... — digo em um suspiro. Ela também suspira sem olhar para mim.— Henry, o que você quer? — sua voz é fria e cortante. Fico confuso sobre o que ela qu
DEENAAssim que o vejo saindo com as malas, um buraco se abre dentro do meu peito e, por um momento, sinto que não consigo respirar. Antes de atravessar a porta ele olha pra mim com os olhos cheios de mágoa. Desvio o olhar para os meus pés, envergonhada.A porta se fecha com um baque surdo, então soluço, deixando que as lágrimas explodam pelos meus olhos. Me sinto fraca, me sento no chão abraçando as minhas pernas. Meu rosto é uma confusão de fluídos e meu peito está cada vez mais vazio. O conto de fadas acabou....Disse para Eve que Henry precisou viajar e nos últimos dias ela tem enchido a minha paciência perguntando, ao menos dez vezes por dia, quando Henry irá voltar e hoje, estou em frangalhos. Não é que eu me arrependa do que fiz, eu sei que foi o mais correto para aquele momento, porém, não há como escapar da dor que tudo isso tem me causado.Sinto que está faltando algo o tempo todo e o pior de tudo é saber que ele está tão perto. Coloquei na minha cabeça que ele realmente est
HENRYNunca pensei que diria isso, mas os dias sem Deena e Eve estão sendo insuportáveis, os piores da minha vida.Quando voltei para o meu apartamento, não me senti em casa. Senti falta das cores, dos brinquedos espalhados e do cheiro de pão e bolo assando, senti falta da mistura que o cheiro de xampu de flores com o doce dos cremes que ela usa causa em mim, senti falta da dormência no braço, após dormirmos abraçados a noite toda e até mesmo, das cócegas no nariz que me fazem espirrar por causa de seus cabelos quando estamos de conchinha.— O que deseja para o jantar, Sr. Dennis? — Margot, minha governanta dispara ao irromper em meu quarto. Ela é muito velha mentalmente, mas é uma mulher de trinta e seis anos muito bonita. Cabelos crespos, sempre presos em um coque muito comportado, terninhos sóbrios e sem graça e sempre sapatos de saltos baixos e quadrados. Cuida da minha vida como se fosse uma mãe e sempre achei isso muito bom por nunca ter que me preocupar com nada, mas hoje me si
DEENAApós alguns minutos me afasto dele. “Que droga! O que há comigo?”Limpo minhas lágrimas com as costas das minhas mãos.— Deena... — ele começa.— Tudo bem, “tá” tudo bem! Não temos tempo para isso. Vamos pegar Eve.Digo enquanto já caminho silenciosamente, ouço seus passos nas folhas úmidas pelo chão, entretanto, não olho para trás, não consigo olhar para ele. Neste momento eu me odeio tremendamente por ser sempre essa figura vulnerável quando estou perto dele e fico remoendo a situação e me repreendendo por tanto tempo que acabo me esquecendo do verdadeiro motivo de estarmos ali, com tanta pressa. O que deve ter acontecido com Welma? Será algo grave? A preocupação com a Sra. Paterson volta a me assolar, por isso, aperto o passo ainda mais.— Ah! Srta. Hoyth, o que aconteceu com a Sra. Paterson? Estamos todos aqui, muito preocupados e as informações chegam todas pela metade. — é a recepcionista da Convivência que me bombardeia de perguntas, assim que abro a porta.Henry se adian
Capítulo 46HENRYEla me leva até a porta e eu imploro para que me deixe ficar.— Henry, por favor, não torne as coisas mais difíceis.— Nós podemos pelo menos conversar? — insisto.— Henry... — sua voz sai em meio a um suspiro. Após alguns segundos de reflexão, ela aponta a cozinha.Como uma criança ansiosa, me sento em uma das cadeiras de madeira clara.Ela suspira novamente enquanto despeja café em duas canecas. Desliza uma delas sobre a mesa em minha direção e sorve um longo gole da outra encostada ao balcão da ilha.— Não vai se sentar? — pergunto, puxando a cadeira ao meu lado.— Não. — diz friamente.— Deena, eu quero ficar com você.— Já sabemos disso. Vamos parar de andar em círculos?Me surpreendo com essa resposta. Não deveria ter forçado a barra, ela deve estar muito cansada do hospital e de toda essa confusão.— Eu sei que eu não deveria ter me mudado para cá, que eu deveria tê-la conquistado com calma, mas calma é uma palavra que não existe no meu vocabulário, só que o q
HENRYO quê? Meus ouvidos não acreditam no que estão ouvindo. Não quero mais falar, não quero mais me exaltar.— Tudo bem! Você está certa! Talvez eu esteja mesmo, apenas, perdendo meu tempo e energia com você. Com licença, tenho mais o que fazer, Deena.Saio daquele escritório bagunçado sem nem olhar para trás.A culpa é minha que tenho rastejado por ela como um cãozinho fazendo-a pensar que pode me tratar como quiser. Eu entendo todas as suas questões, mas essa mania que ela tem de desqualificar meus sentimentos me irrita profundamente. Ando a passos largos em direção ao galinheiro, pois me deram a incumbência de forrar os poleiros a moda antiga, com feno.As galinhas cacarejam apavoradas correndo de mim, assim que abro a porta e entro com o feno, talvez estejam sentindo a minha irritação. Jogo, ajeito e afofo o feno com o forcado com movimentos exagerados e brutos. Estou descontando no feno.— O que está acontecendo aqui? — escuto a voz feminina as minhas costas.— Ah, você é a vet