Capítulo 04

Passado — Elizabeth. — papai grita do outro lado da porta do meu quarto. — Você precisa de ajuda? 

Eu luto contra o tecido brilhante do meu vestido de princesa, tentando encontrar a abertura da manga para empurrar meu braço completamente. — Não, papai. — eu respiro pesadamente ao torcer o meu braço, até finalmente encontrar a abertura. 

— Você está pronta? 

Vou até a minha caixa de brinquedos e pego os sapatos de salto alto de plástico rosa que combinam com meu vestido brilhante. Coloco-os e sigo adiante, até a minha porta e a abro. Olho para o meu pai, segurando um pequeno buquê de margaridas cor de rosa. 

— Eu nunca me canso de ver esse sorriso lindo. — ele fala antes de tomar minha mão e beijá-la. Então, me entrega as flores. — Para a minha princesa. 

— Obrigada, pa - quero dizer, Príncipe. 

— Posso entrar em seu castelo? — ele pergunta, e eu pego a sua mão, puxando-o para o meu quarto - nosso castelo de mentira esta tarde. 

— Você gostaria de um pouco de chá? — pergunto, à medida que caminhamos em direção à minha mesa, perto da janela, onde o meu jogo de chá está montado. 

— Eu adoraria. Minha viagem ao redor do reino foi bastante longa. — eu vejo-o sentar-se na cadeira pequena e rio de como os seus joelhos alcançam seu peito. 

Papai e eu fazemos isso muitas vezes, temos nossas festas de chá de contos de fadas. Eu não tenho uma mãe ou quaisquer irmãos e irmãs para brincar, mas tudo bem, porque eu o tenho só para mim. Ele tem os mais belos olhos azuis, mas sempre me fala que os meus são mais bonitos. 

Arrumo as flores, e pego a chaleira, finjo servir-lhe uma xícara enquanto ele olha os bolos de plástico, passando o dedo por cima deles algumas vezes até que decide qual ele quer. 

— Papai, basta escolher um. 

Suas sobrancelhas arqueiam em emoção quando sua mão pousa sobre o cupcake amarelo com granulado. — Ahh, este parece delicioso. — ele diz, antes de dar sua mordida faz-de-conta e depois lambe os dedos. 

Eu contorço meu rosto, gritando. — Eca! Príncipes não lambem os dedos. — Eles não lambem? 

— Não. Eles usam guardanapos. Ele olha em volta, e diz: — Bem, eu não tenho um guardanapo, e eu não quero perder a cereja do topo dos meus dedos. 

Exagero pensando, batendo o dedo no meu rosto e, em seguida concordo: 

— Você está certo. Ok, você pode lamber os dedos. Sentamo-nos à luz do sol do meu quarto, e tomamos o nosso chá de contos de fadas, falamos sobre os cavalos voadores que vamos montar para ir para a floresta mágica. 

— Eu contei sobre Carnegie, a lagarta que eu conheci? — ele pergunta. 

— Você encontrou uma lagarta? 

— A última vez que eu levei o meu cavalo para a floresta, eu encontrei uma. Ele tinha alguns frutos que compartilhou comigo e disse-me então um segredo. — ele fala calmamente, enquanto abaixa sua xícara de chá. 

— O quê?! — eu exclamo animada. — Você encontrou uma lagarta falante? 

— Sim. Você quer saber o que ele me disse? — Humm humm. — eu faço um zumbido, balançando a cabeça energicamente. 

— Bem, então, ele me disse que vivia na floresta mágica há anos, mas que ele já tinha sido um príncipe uma vez. 

— Sério? O que aconteceu? Ele cruza os braços por cima dos joelhos e inclina o peito contra eles, dizendo num sussurro secreto: — O feiticeiro do reino lançou um feitiço sobre ele, transformando-o em uma lagarta. 

— Ah, não. — eu suspiro. — Por quê? 

— Acontece que, o rei estava chateado porque ele disse a Carnegie para parar de fugir do seu quarto à noite para roubar caixas de suco na geladeira, então ele pediu que o feiticeiro usasse sua magia para transformá-lo em uma lagarta. 

— Papai! 

Ele tem um sorriso brincalhão no rosto. Eu sei que ele está me provocando já que está na minha cola sobre eu acordar e tomar caixas de sucos à noite. Ontem à noite ele me assustou ao acender a luz da cozinha e me pegar bebendo um suco de maçã. 

— Você não vai lançar um feitiço sobre mim, não é? Eu não quero ser uma lagarta. — Por que não? Eu poderia apresentá-la ao Carnegie. — Mas eu sentiria a sua falta. — eu faço beicinho. 

Ele estende os braços para mim. — Venha aqui, boneca. — ele diz e sai da pequena cadeira e estica as pernas. Pegando-me em seu colo, ele envolve seus grandes braços em volta de mim e me faz rir quando beija a ponta do meu nariz. — Eu nunca lançaria um feitiço em você, que te mandasse embora. Você é a minha menininha, você sabe disso? — Eu pensei que eu era uma menina grande agora que tenho cinco anos. 

— Não importa o quão grande você esteja, você sempre será minha menininha. Eu te amo mais do que qualquer coisa. — Qualquer coisa? Ainda mais do que chocolate? Eu o vejo rir, um grande sorriso, surgem linhas nos cantos dos seus olhos. — Ainda mais que chocolate. 

Eu coloco minha mão em seu rosto, espinhoso por causa da sua barba, e digo-lhe: — Eu te amo mais do que chocolate também. 

Ele bica seus lábios nos meus e então pergunta: — Você quer saber o que é mais doce do que o chocolate? 

— Uh huh. 

Antes que eu possa pular fora de seu colo, ele começa a brincadeira atacando meu pescoço, me fazendo cócegas enquanto sopra framboesas e depois nos estatela no chão e começo a rolar em torno, rindo e gritando. Ele não para até que a campainha toca. Enquanto tento recuperar o fôlego de tanto rir, ele senta-se sobre os joelhos e fala: — Suba. 

Eu saio do chão e pulo em suas costas, levada a um passeio nas costas por todo o caminho até a porta da frente. 

Você já ouviu o ditado: “Cuidado com o que está do outro lado.” certo? Nenhum de nós poderia ter imaginado como a nossa vida mudaria para sempre quando ele abrisse a porta. Eu costumava pensar que gostaria que alguém lançasse um feitiço em mim, transformar-me em uma lagarta para sempre. Então eu poderia ter tido uma boa vida, na floresta mítica com Carnegie. Passar nossos dias à procura de frutos e flutuar sem rumo nas almofadas de lírio na lagoa. Mas em vez disso, eu estava prestes a descobrir a dura verdade da vida aos cinco anos. Eles escondem a verdade de você quando é uma criança pequena, o que lhe permite acreditar que os contos de fadas são reais... mas eles não são. E nem é a magia. 

— Delegacia de Polícia do Condado de Cook. — é tudo que eu ouço os homens falando ao entrar em casa. 

Caos. Sonoro caos. 

— Papai! — eu grito, medo, pânico, agarro em volta do pescoço com os braços, como um vício, quando um homem me pega. — PAPAI! 

— Está tudo bem, baby. — eu ouço meu pai dizer enquanto o outro homem fala ao mesmo tempo. 

— Você está preso. 

Eu não sei o que essas palavras significam, e um sentimento de medo, um frio me atravessa, seguro a camisa do meu pai em minhas mãos, não querendo soltá-la. 

— Está tudo bem, baby. Vai ficar tudo bem. — ele continua repetindo, mas sua voz estava diferente, eu acho que ele está com medo também. 

— Você precisa vir comigo. — diz o homem que está me agarrando. 

— Não! Solte! Eu começo a chutar quando sou erguida do meu pai, que tira a camisa porque eu fico com as minhas mãos presas com tanta força ao tecido, mesmo sendo puxada. 

Eu vejo olhos - os olhos azuis - do meu pai, conforme ele se vira para olhar para mim. — Está tudo bem. — ele diz com calma, mas eu não acredito nele. — Não tenha medo. Está tudo bem. — Não, papai! — eu grito e as lágrimas caem. Eu me seguro em sua camisa até que sou puxada tão longe que ela cai das minhas mãos. 

No momento em que eu não estou mais tocando o homem que canta para mim durante a noite, que faz tranças em meu cabelo, que dança comigo enquanto fico em cima dos seus pés, sou arrastada. Eu vejo o meu príncipe de joelhos, caído, e observo sobre o ombro do homem que está me levando embora. 

— PAPAI! — eu grito, minha garganta queima, eles juntam as mãos do meu pai atrás das costas com alguma coisa. Seus olhos permanecem em mim, nunca fazendo uma pausa, enquanto ele diz, mais e mais: — Eu te amo, baby. Eu te amo tanto, menina. E, pela primeira vez, eu vejo meu pai chorar, antes da porta fechar, e ele se foi. 

— Deixe-me ir! PAPAI! NÃO! — chutando e balançando, eu não consigo escapar deste homem segurando-me. 

— Está tudo bem. Calma, garota. — ele diz, mas eu não fico. Eu quero o meu pai. 

O homem senta na cama do meu pai, comigo ainda em seus braços, lutando. Ele continua a tentar me convencer a acalmar, mas eu grito e me debato, não vacilo até eu cansar. Meu corpo fica mole e eu sou amassada contra seu peito. 

— Você pode me dizer o seu nome? — ele pergunta. 

Eu não falo. 

Um momento passa e então ele diz: — Eu sou Oficial Harp. Michael Harp. Eu sou um policial. Você sabe o que é isso, não é? Eu aceno com a cabeça contra seu peito. 

— Você pode me dizer seu nome? 

Ainda assustada, minha voz arranha quando digo: — Elizabeth. 

— Elizabeth. Esse é um bom nome. — ele fala. — Eu tenho uma filha cujo nome do meio é Elizabeth. Mas ela é muito mais velha do que você. Ele continua a falar, mas eu não presto atenção no que ele está dizendo. Estou com tanto medo e tudo que eu quero é o meu pai. Eu fecho meus olhos; posso vê-lo de joelhos chorando. Ele estava com medo, assim como eu. 

Depois de um tempo, a porta se abre e eu levanto a cabeça e vejo uma mulher gordinha andando. Eu acho que já a vi antes, mas eu não me lembro de onde. Ela se aproxima, e diz: — Seu cabelo vermelho é lindo. Alguém já lhe disse isso? — Onde está o meu pai? 

— Eu estou aqui para falar com você sobre isso. — ela me fala. — Você gostaria de se juntar a mim na cozinha? Podemos fazer um lanche ou algo para beber. — Umm... O-ok. — murmuro quando o policial me põe no chão. Enquanto eu sigo os dois para fora do quarto e para a cozinha, eu olho através da casa até a porta da frente, mas ninguém mais está lá. 

— Por que não sentamos? — a mulher diz, e eu ando até a mesa e me sento. — Você quer algo para beber? 

Eu aceno com a cabeça e ela fala: — Você pode me dizer o que você quer? 

— Suco de caixinha. 

Olho para o policial, ele abre a porta para a despensa, e eu digo: — Estão na geladeira. 

Ele caminha, mostra o canudo, e coloca-o na minha frente antes de sair da sala. 

— Dia confuso, não é? — ela fala enquanto dobra as mãos em cima da mesa. — Qual o seu nome? 

— Barbara. — ela responde, mas isso não me faz lembrar de onde a conheço. 

— Quando o meu pai vai voltar? 

Ela toma uma respiração profunda e, em seguida, me diz: — É sobre isso que eu gostaria de falar com você. Seu pai quebrou algumas regras muito grandes e, assim, quando você quebra uma regra, o que normalmente acontece? — Eu fico em apuros. 

Ela acena com a cabeça e continua: — Bem, seu pai está com problemas, e ele não vai conseguir voltar para casa agora. 

— O que ele fez? 

— Eu não tenho certeza ainda. Mas, por agora, você virá comigo. Eu trabalho para o Departamento de Crianças e Serviços Familiares, o que significa que eu vou encontrar uma casa com pessoas muito agradáveis com quem você vai ficar enquanto seu pai está em apuros e não pode estar aqui com você, ok? — M-Mas, eu não quero ir embora. 

— Infelizmente, eu não posso deixar você ficar aqui sozinha. Mas você pode trazer algumas das suas coisas com você. O que acha? — ela fala isso com um sorriso, mas não ajuda o frio do meu estômago. 

Silenciosamente, eu escorrego da cadeira e começo a caminhar para o meu quarto. Vou até o jogo de chá que está sobre a mesa e pego as margaridas. Minhas flores de princesa. Sento-me na cadeira que ele estava e olho por cima do ombro e vejo Barbara entrando na sala. 

— Você tem uma mala? 

Eu aponto para o armário e vejo como ela começa a mexer na minha cômoda, arrumando minhas roupas. Ela anda por lá, indo e voltando entre o meu quarto e o banheiro, enquanto agarro as flores e trago para o meu peito. 

— Você está pronta para ir? — ela pergunta quando volta para o quarto, mas eu não quero olhar para ela, porque eu não quero ir. 

Olhando para fora da janela e para o céu azul, eu pergunto: — Quando posso voltar? 

— Eu não tenho certeza. — ela responde. — Provavelmente não por um tempo. 

Com o canto do meu olho, eu vejo-a se movimentar através do quarto e ajoelhar ao meu lado. Quando me viro para olhar para ela, ela diz: — Não se preocupe. Tudo vai ficar bem. — ela olha para as margaridas. — Essas flores são bonitas. Você quer trazê-las com você? Saímos de casa, vamos para o carro e eu salto para dentro no banco de trás. Quando eu olho para fora da janela, vejo o policial fechando a porta da frente da minha casa e colocar uma espécie de caixa preta na maçaneta da porta. 

— O que é isso? — pergunto para Barbara, que está sentada na frente. 

— O que é o que, querida? 

— Essa coisa que ele coloca na porta. 

Ela olha para ver o que eu estou falando e responde: — É apenas um bloqueio, uma vez que não temos as chaves. — e, em seguida, começa a dirigir para longe, enquanto eu seguro firmemente minhas flores.

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