AIDENGirei na cadeira giratória enquanto repetia mentalmente a ligação que acabara de ter. Ela soava tímida, mas a empolgação e o alívio eram claros em sua voz. — Oi, oi. — Disse ela. Eu permaneci em silêncio, incapaz de confiar na minha própria voz. — Aiden, você está aí? Limpei a garganta. — Estou ouvindo. — Ok. Eu só liguei para te contar que o procedimento funcionou. Meu coração deu um salto antes que ela completasse: — Eu estou grávida.Fiquei em silêncio por um longo tempo, sem saber como reagir àquela notícia. Me surpreendi por ela não ter encerrado a ligação logo de cara. — Isso é uma boa notícia. — Consegui dizer por fim. — É. — Ela respondeu de forma arrastada. Houve um breve silêncio antes da chamada terminar com um clique seco.Depois daquela ligação, não consegui mais voltar ao trabalho. As palavras dela não paravam de ecoar na minha cabeça. Eu estava feliz, sem dúvida. Minha filha agora tinha uma chance maior de ser salva. Uma chance de me conhecer
ANASTASIAPela enésima vez, me inclinei rapidamente em direção à pia e engasguei várias vezes, mas nada saiu. Suspirei e voltei para onde estava sentada, no chão do banheiro. Mal consegui me arrastar para fora da cama essa manhã. Acordei me sentindo muito enjoada. Embora meu corpo doesse terrivelmente e minha cabeça estivesse latejando, a vontade de vomitar foi o que me deu forças para saltar da cama e correr para o banheiro. Para minha decepção, tudo o que consegui fazer foi engasgar na pia. Era frustrante. Eu queria deitar meu corpo e cabeça doloridos, mas não conseguia parar de ter ânsia. Sempre que reunia forças para voltar para o quarto, um cheiro horrível me atingia e eu corria de novo para a pia. Enquanto torcia para não ter acordado Dennis, já que ele não havia entrado no banheiro até então, me levantei de repente quando o gosto amargo subiu pela garganta. Dessa vez, consegui vomitar, mas me senti ainda mais fraca do que já estava. Parecia que tinha jogado minhas
DENNIS— E aí, cara, está ocupado? Balancei a cabeça antes de lembrar que ele não podia me ver. — Não. — Beleza, acabei de te encaminhar o contato do cara que vai falar com você sobre o investimento. — Ah. — Respondi, sem esconder o desinteresse. Eu até tinha esquecido disso. Ouvi a risada despreocupada dele ecoar pelos alto-falantes do celular. — Dá pra ver que você continua sem vontade nenhuma. — Eu já te falei, cara, não posso arriscar nada financeiramente agora. Tinha contas sérias para pagar. Afastei o celular da orelha e o deixei sobre a mesa. — Eu entendo, mas você precisa saber que a vida é sobre correr riscos, Dennis. Respondi com um murmúrio enquanto continuava folheando os relatórios de inventário, escalas de funcionários e demonstrativos financeiros que o gerente de um dos meus bares tinha acabado de me enviar. Fazia um bom tempo que eu não visitava essa filial.— Dennis? — Estou ouvindo. — Achei que tinha te perdido. — Murmurou. — Já falei com ele so
ANASTASIAMeus lábios se curvaram em um sorriso ao mesmo tempo que minhas sobrancelhas se uniram. — O Dennis está em casa? — Murmurei para mim mesma, com o olhar fixo no carro dele enquanto me afastava do táxi.Caminhando em direção à casa, me perguntei se o motivo de ele ter saído tão cedo era o mesmo para ter voltado mais cedo. As razões para o sumiço inesperado dele me incomodaram o dia todo.Foi bom finalmente chegar a uma justificativa aceitável, mas eu não queria uma justificativa "aceitável". Eu queria saber por que ele saiu com tanta pressa daquele jeito. Não era algo típico dele. Será que ele sequer tomou banho? Ou será que voltou para casa depois que saí e acabou nem indo a lugar nenhum?Ou talvez ele...Bem, chega! Me repreendi mentalmente. Esse assunto já ocupou espaço demais na minha cabeça, não me prenderia a isso agora.— Dennis? — Chamei suavemente ao empurrar a porta destrancada e entrar em casa.Sem resposta. Subi as escadas. Conforme me aproximava do nosso quarto
ANASTASIADessa vez, Dennis ficou completamente rígido. Um silêncio tenso pairou no ar antes que ele lentamente se afastasse de mim, suas mãos ainda pousadas levemente na minha cintura. Com a testa franzida, ele perguntou: — O que você quer dizer com “ele cuidou das contas”? Ele enfatizou as palavras “cuidou”.Franzi a testa, confusa. — Quero dizer que ele pagou as contas do hospital. — De quem? — Perguntou, enquanto deixava as mãos caírem para os lados. Uma risadinha nervosa escapou dos meus lábios. — Da Amie, claro. De quem mais seria? — Por quê? Havia um tom cortante em sua voz, que me alertou a agir com cautela.Comecei devagar: — Eu não sei, só que...— Você pediu para ele pagar as contas? — Eu...— Anastasia, eu sou o seu marido. Sou eu quem cuida de você e da Amie desde que nos casamos. Tenho pago todas as despesas. Por que pediria ajuda a ele? Eu te disse alguma vez que estava sobrecarregado?Me encolhi, surpresa com o tom dele. Apesar da voz baixa, era impossí
ANASTASIADesabei no chão da garagem enquanto via o carro dele sumir na escuridão da noite.Meu peito se apertou e levei a mão ao coração, tentando impedir que ele se despedaçasse. Minha cabeça latejava enquanto as lágrimas escorriam lentamente pelo meu rosto. Primeiro foram apenas alguns soluços abafados enquanto eu tentava me manter firme, mas logo se transformaram em choros altos e descontrolados.Agradeci pela escuridão da noite que me ocultava enquanto eu chorava pelo meu casamento que estava começando a ruir, mas, mais do que isso, eu lamentava pela amizade que estávamos perdendo. A linda e altruísta amizade que eu tinha com meu marido.Dennis, por mais irritado que estivesse, nunca tinha saído de casa me deixando para trás. Nunca levantou a voz para mim. Nunca suportou me ver chorar.Eu sabia que estava à beira de perder meu melhor amigo, mas não fazia ideia do que fazer. Só me restava liberar essa dor lancinante que apertava meu peito, através das lágrimas que pareciam não ter
SHARONMergulhar no trabalho não tinha sido uma distração suficiente. Apesar da minha carga excessiva de tarefas, eu ainda me pegava pensando em Aiden, Anastasia e no bebê deles. E tudo piorou depois que Aiden anunciou que o procedimento tinha sido bem-sucedido e que Ana estava grávida.Eu sabia que a segunda melhor maneira de afastar esses pensamentos e não deixar espaço para sentir nada era me afundar ainda mais no trabalho. Mais distração.E qual seria a melhor forma de me manter ocupado além de planejar um evento? Um evento beneficente para a minha empresa. Além de me manter ocupada, também nos daria a chance de nos aproximarmos do público e aumentar o reconhecimento da empresa entre aqueles que ainda não tinham ouvido falar de nós. Como tínhamos acabado de abrir aqui, poucas pessoas nos conheciam.Quando me aproximei, o burburinho das conversas enchia o ambiente. No instante em que entrei, o silêncio tomou conta do lugar.Assim que me sentei, fui direto ao ponto. Apoiei as mãos so
AIDENEu não sabia que a perspectiva de ser pai, ou melhor, de me tornar pai novamente, pudesse ser tão emocionante.Enquanto Ana e eu observávamos o ultrassom, meu olhar ficou preso na pequena vida que criamos, e meu coração se encheu de alegria. Como algo que eu nem podia tocar poderia me fazer tão feliz? Talvez fosse por causa da mulher com quem eu o havia gerado.Lancei um olhar para Ana. Seus lábios estavam cobertos pela palma da mão direita. Seus olhos pareciam marejados, mas a felicidade ainda brilhava neles.Por um instante, me perguntei se ela estava feliz por causa do bebê ou se apenas sentia alívio por Amie finalmente ter uma chance maior de viver.Falando em Amie... Ana e eu chegamos cedo ao hospital, então tínhamos algum tempo livre. Decidi passar no quarto dela para dizer um oi. Ela ainda me olhava como se eu fosse um estranho. Eu não gostava de ver o jeito como seu sorriso aberto e despreocupado se desfazia e dava lugar a uma expressão educada sempre que percebia minha p