Capítulo 2
Safira Lucchese Peguei algumas coisas de Ônix, coloquei na mala e pedi para que Emília, a babá dele, o acompanhasse, além dos homens para sua proteção. Não confio em colocar outra pessoa ao lado dele nesse momento. Em poucos minutos, o carro blindado saiu com ele e Emília, seguido pelos carros do nosso esquadrão tático. Juan, filho de Jack, que era o braço direito do nosso pai, era o general dos nossos homens. Ele estava bastante machucado. Eleanor, sua mãe e nossa governanta, estava cuidando dele na cozinha quando entrei. Nossos olhares se cruzaram, e tenho certeza de que fiquei vermelha. Odeio o poder que ele exala e que me deixa assim... — Minha menina, precisa de algo da cozinha? — perguntou Eleanor. — Não, Eleanor. Vim ver como vocês estão. E as outras meninas? — Por sorte, elas estavam de folga hoje, Safira. Eu estava na nossa casa, como fica do outro lado da propriedade, assim que escutei os tiros, me escondi com a Joana... — Ainda bem... Juan, alguma notícia sobre meus pais? — perguntei, tentando esconder toda a dor que me estilhaçava por dentro. Uma queda no mar... Por mais que eu queira pensar nas melhores possibilidades, elas são quase nulas. — Senhorita, mandamos fazer uma varredura com helicópteros, mergulhadores e barcos. Faremos o impossível para encontrá-los! — É o mínimo que espero de vocês! Onde já se viu deixarem a Lá Belle ser invadida assim?! Minha maior arma contra meus sentimentos é ser arrogante, e é algo que não consigo controlar quando estou perto do Juan, mesmo tentando — e muito. Dei uma última olhada para ele e saí, sentindo meu corpo queimar enquanto ele me comia com os olhos. Segui até a sala de pedra, de onde vinham gritos angustiantes. Chegando lá, Jade e Ruby rasgavam lentamente um brutamontes que parecia uma lebre nas mãos das duas. — Nem me chamaram para a diversão? — falei, rodopiando minha adaga nas mãos. — E o Ônix? — perguntou Jade. — Já foi. Está seguro. Emília foi com ele. — E esse bastardo? Não disse uma palavra? Nenhum sobrenome, nada que possa nos levar ao mandante? — insistiu Ruby. — Não, irmã. Ele preferiu deixar que a gente se divertisse com ele... — Então deixa eu colocar minha profissão em ação! Sim, todas fizemos faculdade nos EUA, onde ninguém nos conhecia. Eu sou cirurgiã-dentista, Ruby é médica cirurgiã e Jade fez Direito. Todas apenas pelo diploma e pelas coisas que podemos usar aqui no meio. Por exemplo, eu sempre deixo minha marca registrada nas torturas, arrancando os dentes. Ruby normalmente costura as bocas depois disso. Jade não gosta dessa parte da tortura, mas hoje o caso é diferente. Quem fez isso foi longe demais. Não é apenas um traficante ou um drogado. É alguém muito maior, e não podemos ter escrúpulos. — Minha maleta, Dimitri! — ordenei. Ele saiu, foi até a sala de tortura e voltou com minha maleta. Escolhi um alicate e me aproximei do escroto quase desmaiado de tanta dor. — Adrenalina nele, Ruby. Quero ele bem acordado! — Chega, suas vadias! Me matem de uma vez, eu não vou falar nada! — gritou o homem. — Mas nós nem estamos esperando informações mais. Pode ficar tranquilo. Só estamos te dando o tratamento que merece... Ruby injetou um pouco de adrenalina nele, e comecei a arrancar seus dentes sem anestesia, claro. O sangue escorria, os gritos eram agonizantes, até que ele disse algo que quase não entendi. — Bolso... no bolso... — Tem algo no bolso? — perguntei. Ele sacudiu a cabeça, confirmando com a boca jorrando sangue. Procurei nos bolsos da frente. Nada. No de trás. Nada. — Não tem nada. Não me faça perder tempo, seu idiota! Quando terminei de arrancar mais um, Ruby injetou mais adrenalina, e, cirurgicamente, foi deixando sua marca registrada... Cheia de ódio como nunca tinha visto antes, Jade pegou minha adaga e rasgou ele de cima abaixo, jogando a adaga negra e saindo dali sem falar nem mais uma palavra. Largamos o corpo ali, mandando que Dimitri e os outros cuidassem da desova, e seguimos Jade, que estava em frente à Lá Belle, olhando toda a destruição. — O que vamos fazer sem eles? — disse, com as lágrimas brotando em seus olhos. — Vamos seguir e usar a dor como arma! — respondeu Ruby, abraçando Jade. Apenas fiz o mesmo e a abracei. — Vamos reconstruir a Lá Belle e vamos achar quem fez isso! — Temos que convocar uma reunião da cúpula. — Calma, Safira. Isso pode esperar. Vamos respirar primeiro... Entramos as três para dentro da casa, para a ala menos destruída, e tiramos alguns dias esperando que as buscas nos trouxessem eles. Mas isso não aconteceu. Pelo tempo, foram oficialmente dados como mortos, mesmo sem os corpos terem sido encontrados. Agora, a busca é por encontrar o culpado de tudo isso e, seja quem for, eu juro pela alma dos meus pais que vou destruir com minhas próprias mãos... A casa segue sendo reconstruída. Falamos com Ônix todos os dias, mas não vamos trazê-lo para cá tão cedo. Todos os dias estamos com alguém diferente na sala de pedra, em busca de respostas. Ele não precisa ter esses gritos de horror na mente... pelo menos não ainda. A reunião da cúpula foi marcada para esta noite, onde será lido o testamento do meu pai e teremos que firmar os acordos que ele deixou. Como herdeiras, nos arrumamos em silêncio e seguimos para a reunião. Jack e Juan são nossos seguranças nesta noite, os principais. Os outros acompanham de longe. Assim que entramos na sala da alta cúpula, os burburinhos e sussurros tomam conta. Os sócios nos entregam suas condolências, tudo que era esperado... — Bom, Ruby, Safira e Jade, chegou a hora da leitura do testamento e dos ajustes dos acordos que seu pai deixou. — disse o advogado. Afirmamos com a cabeça em silêncio, deixando-o continuar. Após estabelecer sobre a fortuna, nossas empresas e a vontade de que nós três, com igual poder, continuemos seu legado para que Ônix possa assumir na maioridade, chega a hora dos contratos. Muitas alianças que já conhecíamos, outras que não... mas o pior foi o último contrato, algo que nenhuma de nós esperava. — Aqui está o último contrato: uma aliança com a máfia russa. Um contrato de casamento entre uma das joias de Giuseppe Lucchese e Nicolai Petrov...Capítulo 3Jade LuccheseSe eu disser que amo essa vida, não estaria sendo 100% sincera. Diferente das minhas irmãs, não sou apaixonada por essa adrenalina de tortura e violência. Mas, se mexerem com a nossa família, a única certeza é a morte. Cresci aprendendo isso e não tenho problema algum em me defender. Não sou uma menina mimada como as que conheci na faculdade, mesmo tendo sempre tudo que quis.Sou extremamente apegada à minha mãe e, nesses últimos dias, sinto que estou me destruindo. Confesso que minha vontade é sair matando qualquer inimigo, antigo ou novo, por pouca coisa ou algo grande. Só quero algo que arranque essa dor de ter perdido nossos pais. Isso tem me consumido, e eu me afundo cada vez mais nos meus antidepressivos.Ao chegar à reunião hoje, confesso que estava completamente aérea, dopada de remédios. Enfrentar a realidade de não ter mais nossos pais está acabando comigo. Após a leitura do testamento, nada fora do normal, mas, nos acordos, até minha mente, que esta
Capítulo 4 Ruby Lucchese Entrei em casa e subi direto para o quarto dos meus pais, onde estou ficando até o final da reforma. Poderíamos ir para outra casa, das inúmeras que temos, ou até para um hotel, mas mesmo depois da invasão, não há lugar mais seguro que a Lá Belle e a casa onde Ônix está. Ainda assim, não quero que ele veja o que estamos fazendo. Então, é melhor que ele fique lá e nós aqui. Peguei meu notebook e comecei a buscar qualquer informação que me levasse à família Petrov, mas, obviamente, não havia nada. Assim como não haveria se alguém buscasse por nós... Que infernoooo! Meu pai não podia ter feito isso! Andei de um lado para o outro pelo quarto, tentando assimilar essa obrigação. Claro, era minha obrigação. Jamais deixaria minhas irmãs passarem por isso. Tinha que ser eu. Fui até a adega e peguei uma garrafa de vinho. Não havia muito o que fazer além de esperar amanhecer e já informar ao Magno minha decisão. Nossos contratos são assinados com sangue, e não deix
Capítulo 5Ruby LuccheseAssim que acordei, passei a mão no celular para ligar para Magno. Eu não sou de deixar nada para depois, menos ainda algo tão sério assim.Estava digitando o número enquanto saía do quarto, caminhando pelo corredor norte, quando encontrei Safira.— Precisamos conversar, Ruby.Apaguei a tela sem ligar e a encarei.— O que precisa, Safira?— Eu não acho certo que você se case com um total estranho. Acho que devemos bater de frente com a alta cúpula. Não podemos aceitar isso tão facilmente.— Safira, você enlouqueceu de vez?— É isso! Chega de aceitar tudo, Ruby. Eles precisam saber quem somos! Você vai viver infeliz por causa das decisões dos nossos pais? Temos que revolucionar a família.— Nosso pai sabia exatamente o que estava fazendo. Se ele decidiu isso, é porque sabia o peso dessa decisão, Safira. Mas não se preocupe, eu vou me casar. Você pode seguir sua vida, casar por amor ou nunca casar. Faça como quiser.— E você vai se sacrificar por nós? Isso está e
Capítulo 6Ruby LuccheseOlho meio estática, talvez em choque ao ouvir esse nome depois de tantos anos, mas procuro me recompor. Quantos homens com o nome de Igor devem existir no mundo, não é mesmo?— Certo, pode deixar que averigue tudo. Claro, com todos os homens nos seus postos. Irei descer às 19:00 pontualmente.— Bom, vamos terminar os últimos detalhes e iremos descer já, mas preciso perguntar, Ruby, você tem realmente certeza disso?— Eu entendo sua preocupação, Safira, mas é necessário. Fomos criadas sabendo do nosso mundo e de tudo que gira nele, e eu sei me cuidar. Se ele não for um bom marido, o máximo que vai acontecer é eu me tornar viúva em algum tempo e ganharmos as terras da Rússia...Minhas irmãs riram alto, e Ônix nos olhou, tentando entender a graça, mas desistiu. Beijei todos eles, nos abraçamos, e cada um foi terminar o que precisava para o jantar de noivado... O meu jantar de noivado.Era quase 19:00 quando dei uma última olhada no espelho. Meus cabelos levemente
Capítulo 7Nicolai PetrovAcabamos de desembarcar na Itália para o meu noivado com uma total desconhecida. Tudo pelo que lutei por anos vai acontecer...Meu pai morreu há três anos, e eu nem sabia desse contrato. Sabia que ele queria dominar a Itália, mas um contrato de casamento?Não tenho ninguém. Há muito tempo eu não tenho ninguém. Mas já amei, sim, e a menção de casar por um contrato nunca me agradou. Eu quase fui deserdado há alguns anos, quando cogitei casar com alguém de fora do nosso meio, mas, quando voltei para contar quem eu realmente era, ela simplesmente tinha sumido. E, mesmo com todo o poder e dinheiro que eu tinha, não consegui encontrá-la. Ela simplesmente virou pó...Mas isso é passado, e realmente a Rússia precisa dessa aliança. Não posso pensar apenas no que eu quero agora. Precisamos desse casamento...Mas, para um pai dar sua filha em contrato, tenho até medo do que me espera. Sei que são três irmãs e que são chamadas de As Joias da Máfia, mas não tenho muito ma
Capítulo 8Ruby LuccheseQuando ele me deixou sozinha como se fosse nada, eu terminei de enlouquecer, joguei tudo que estava em cima da mesa do escritório, minha fúria tomou conta de mim!Eu me apaixonei por um idiota mentiroso, e ainda vou ter que me casar com ele!Mas isso, esse sentimento, ficou no passado, ele vai se arrepender desse acordo mortalmente...Tento me acalmar, ele nunca vai me ver abalada!Safira entra no escritório e olha tudo jogado e percebo em seu olhar que ela vai fazer uma loucura sem entender o que houve.— Safira, não, entre aqui e feche a porta!— Foi ele que fez isso? O que houve? Eu mato ele, se ele te tocar, ele é um troglodita?— Não, não foi ele, fui eu, prometo que te conto tudo, mas preciso voltar pra sala antes que questionem minha demora. Assim que o jantar acabar, eu te conto, não faça nada, está bem? E não conte a Jade, depois explicarei para vocês duas.Ela me olha esperando algum lampejo de mentira, mas ela me conhece tão bem que sabe que não est
Capítulo 9Ruby LuccheseAssim que expliquei a elas sobre minhas aventuras na faculdade e sobre ter me apaixonado, elas ficaram surtando. Mas quando contei que o dono do bar era, na verdade, Nicolai, começaram a rir. Riram por tanto tempo que faltou o ar. Eu só olhava para elas, sem entender a graça.— Qual a graça, afinal?— É muito engraçado! No fim, você teve sorte. Vai casar com alguém que ama... ou já amou.— Ele mentiu para mim. Fez isso para pegar mulheres sem compromisso...— E você, "Rachel", não mentiu também?Olhei para elas, incrédula. Como podiam falar assim comigo?— Vocês estão ao lado de quem, afinal?— Do seu, claro. Mas mentir por mentir, os dois mentiram, Ruby.Jade falou sem pensar muito.— Eu apenas não podia revelar minha identidade, mas ele, como homem da máfia, não tinha tantos problemas como eu e...— E mais nada! Você nem sabe. As máfias têm suas leis internas, diferentes. Acho que vocês deviam conversar antes de entrar em uma guerra interna, como aparentemen
Capítulo 10Safira LuccheseQuase morri quando Ruby falou que fiquei olhando o braço direito do seu futuro marido. Eu olhei, mas não achei que ficou tão na cara assim...Juan... Bom, ele me olha, parece querer algo, mas ele é filhinho do pai dele demais. Jamais fará algo que o Jack não aceite, e se envolver comigo com certeza é algo que Jack não aceitaria. Então, ficará só nos meus sonhos. E que sonhos...Chega a esquentar meu corpo só de lembrar dos sonhos que já tive com ele...Vou até o quarto do Ônix, que já dorme tranquilamente, e fico olhando para ele por um bom tempo. Acabo adormecendo ao seu lado. Acordo assustada, mas, ao olhar no relógio, vejo que passou pouco mais de uma hora.— Um chá... É isso que preciso.Desci até a cozinha, que estava toda escura. Acendi apenas uma luz fraca para achar o que precisava. Deixei a chaleira elétrica esquentando e fui buscar pelo chá. O que eu queria estava na prateleira mais alta. Peguei um banquinho e subi. Quando segurei a caixinha, a lu