– Ufa! O que foi aquilo?! – Perguntei a Baboo que sai de cima de mim desajeitadamente.
– Não eram... São mortons! Eles estão por perto. Seus sonhos invadidos têm muito a ver com a realidade... Acostume-se!
– O quê?! E todas aquelas pessoas mortas?! Quem as matou?! – questionei angustiado.
– Os mortons querem tomar seu planeta, destruir sua espécie. Você não entendeu? Não querem escravos nem sobreviventes. Eles são criaturas sem emoções, movidos pelas razões que os fazem continuar vivos. O planeta deles está em colapso, por isso buscam outro para habitar. Ou vocês acham que são a única espécie que extrai ao máximo os benefícios de seu planeta, se preocupando apenas com a tola ganância? Ou os únicos que precisarão de um novo lar?! Eles têm observado vocês humanos destruírem seu próprio planeta aos poucos. Matarão todos porque querem seu planeta.
– Os corpos aumentavam a cada metro que eu andava! – disse angustiado.
– Quanto mais demorarmos a agir, mais pessoas eles matarão. A diferença é que hoje eles matam às escuras. A raça humana lutará por oito anos, e se esconderá por mais quatro, até que sobre apenas uma nave tripulada por terráqueos, indo em direção a outro sistema solar. Por isso estamos ficando sem tempo! O tempo é relativo nos diferentes sistemas solares, então temos que ser rápidos e precisos. Se falharmos novamente toda a espécie humana poderá ser varrida do universo! – disse ela ao olhar para baixo do mezanino pela janela de vidro.
Baboo estava impaciente e apressada para chegarmos a um lugar mais seguro do que aquele barracão.
Que responsabilidade... Será que estou preparado? Pensei comigo. Ela disse tudo... Se "falharmos novamente". Já havíamos falhado anteriormente, e isso me preocupou.
– Não estou preparado para essa jornada, Baboo! Mal sei segurar em uma faca! Nunca lutei na minha vida! – afirmei completamente inseguro.
– Não está ainda, mas estará se me seguir... – disse Baboo extremamente ansiosa.
– Tudo bem – respondi sem graça.
– Não sou humana, esqueceu? Sou belaciana, do planeta Belácia – disse Baboo – temos algumas diferenças físicas que em Belácia você verá.
– Aqui – disse ela enquanto sacava a adaga de sua bainha.
– O que é? – perguntei.
– É uma adaga. Pode ser bem útil se algum morton chegar perto demais – disse ela mostrando alguns movimentos com a adaga, entregando-a a mim.
– Fique com ela – disse Baboo.
O cabo da adaga era eximiamente talhado, uma obra de arte nas cores vermelho sangue, roxo e azul marinho, com finas linhas mescladas, tornando-a ainda mais magnífica. O desenho do entalhe era algo que nunca tinha visto, e muito menos sabia o que representava, mas parecia um animal que nunca tinha visto. Corpo como de tigre e cauda mais comprida que o normal, e foi praticamente o que reconheci no desenho. Sua lâmina fazia uma leve curvatura.
– Agora vamos! Como lhe disse, eles estão por perto! – Disse Baboo apressada saindo pela porta.
Peguei minhas coisas e corri atrás dela rapidamente. Saímos por um portão levadiço que abrimos com mais facilidade, que ficava na lateral da fábrica. Corremos para o leste, em direção a rodovia que avistamos ao longe.
O sol já estava surgindo, então nos apressamos para evitar seus tórridos raios novamente.
De repente me vi saindo de uma vida monótona e cansativa para iniciar uma jornada cheia de aventuras, perigos e responsabilidades e, contudo, confesso que estava empolgado, apesar de não estar entendendo muita coisa. Baboo tinha dito para deixar para trás meus pertences, pois não iria mais precisar deles, mas hesitei em deixar meu celular, e logo que saímos do galpão Danton me ligou. Disse que estava preocupado, pois não sabia de mim. Não podia contar-lhe o que estava acontecendo, não agora. Disse apenas que estava tudo bem, e que iria fazer uma viagem longa, mas não falei para onde. Então comentou que tinha ganhado alguns suplementos alimentares para emagrecer, e me preocupei, porque me fez lembrar o sonho em que ele estava com aparência horrível. Alertei-o de que não fizesse uso daquilo e logo desliguei. Baboo ficou brava com aquela ligação e tomou de mim o celular.
– Sem comunicações Rick! – me repreendeu Baboo – eles podem descobrir nossa localização! Vamos logo!
Ela simplesmente quebrou o aparelho para que eu não o utilizasse novamente.
Andamos em direção à rodovia e quando a alcançamos andamos por ela. Baboo disse que nosso transporte estava próximo dali, mas não estávamos os encontrando, pois eu via apenas pedras e terra ao redor. Então ela apontou para duas rochas grandes mais afastadas...
– Esqueci que eu os coloquei mais à frente... Lá estão!
Ri descontraidamente.
– Então nossos transportes são rochas? – disse com tom de ironia.
– Observe engraçadinho... – respondeu ela com um sorriso forçado.
Baboo puxou o que pareciam ser capas com a aparência de rochas e embaixo estavam nossos transportes.
– Esses são os Rollets – disse Baboo – rápidos, pequenos e fáceis de esconder.
– Venha cá – me chamou para perto do segundo Rollet – coloque sua mão nesse painel e ele irá memorizar sua digital e só abrirá para você, ou para quem estiver com sua mão – disse ela fazendo uma piada sem graça.
– Ninguém vai carregar minha mão tão cedo – falei convencido.
– Como se pilota isso? – perguntei curioso ao entrar e não ver nenhum volante no interior dele.
– Já designei o curso do nosso trajeto. Iremos através de piloto automático, mas caso aconteça algum imprevisto, você puxa a alavanca amarela embaixo desse painel à sua frente e transfere para o modo manual – explicou ela.
– Vê esse botão preto redondo?
– Sim – respondi rapidamente.
– Aperte-o – instruiu Baboo.
Apertei aquele botão preto e a minha frente saíram dois tubos finos bem articulados, de suas pontas surgiram outros cinco pequenos tubos com esferas negras na extremidade, de um centímetro cada, aproximadamente.
– Agora toque com a ponta de seus dedos as esferas negras – continuou Baboo.
Toquei as esferas e intrigantemente elas fixaram-se perfeitamente em meus dedos e o Rollet iniciou o motor.
– Pronto, é isso! – disse Baboo animada – você o orienta com suas mãos. Simples assim!
– Certo. Entendi! Vamos então?! – respondi, acelerando nossa partida.
Cada um tinha seu Rollet, e cada Rollet tinha espaço para duas pessoas de forma compacta. Aquela tecnologia era terrestre, mas havia sido inventada há alguns anos no futuro. Baboo teve o cuidado de guarda-los ali para nos ajudar no transporte, mas como eles haviam chegado ali do futuro eu não fazia a mínima ideia.
Partimos...
Eles eram de fato muito rápidos para seu tamanho. Parecendo bolas enormes girando a uma velocidade de cento e oitenta quilômetros por hora, estávamos finalmente indo em direção ao Complexo da Capital. Quatrocentos e vinte e dois quilômetros para chegar à Capital, o que demoraríamos três horas e meia pelos meus cálculos.
Observando a paisagem vi um relâmpago tomar espaço gigantesco no céu. Olhei para trás e avistei uma tempestade fantástica, nimbos tomaram o céu atrás de nós. As nuvens estavam tão baixas que vinham formando uma onda, mesclando o branco com o escuro tenebroso, enquanto os relâmpagos e os raios caíam no meio da poeira deixada pelos Rollets naquele chão de terra vermelha seca, à frente um céu límpido. Ouvi como se fosse à minha mente uma voz dizer:
– Os mortons estão fazendo isso, mas vamos chegar a tempo no abrigo. Temos que ser rápidos ao entrar. Ok? – informou a voz.
Olhei para o lado e Baboo olhando para mim, acenou. Sinalizei com a cabeça que havia entendido.
– É o sistema de som dos Rollets. Eles são interligados. Tudo o que eu disser aqui você vai ouvir, e vice versa. – explicou Baboo.
– Ok! – Concordei com um suspiro – pensei estar ouvindo vozes! – falei tranquilizado.
Continuei observando aquela magnifica tempestade que nos perseguia, embora criada pelos mortons, era fantástica aos meus olhos.
Fechei os olhos pensando em tudo que estava ocorrendo e acabei adormecendo.
No dia seguinte, bem cedo, levantamo-nos para deixar aquele Café e, ainda acreditando que iria para o trabalho dar satisfações pelo atraso, pela falta ou algo do tipo, disse:– Baboo, devo que ir até a empresa conversar com meu chefe e avisar meus familiares de tudo isso. Depois podemos seguir nossa viagem, ok?– Não se preocupe – disse ela.– Vocês não se verão tão cedo. Na verdade, é provável que nunca mais veja alguns de seus parentes. A pessoa que sei com certeza que te seguirá nessa jornada será Isabela, que também será preparada. De fato, neste exato momento ela também está seguindo para o "Complexo da Capital" com Joel.– Ela o quê?! Onde está ela?! Quem está com ela?! Se algo acontecer à minha filha vai se arrepender amargamente!
Com quatorze anos, apenas um menino como a maioria dos outros, tinha medo do escuro. Acordei após ter um pesadelo, mas não de uma forma qualquer... Muito desperto e com olhos estalados. Não tinha a mínima ideia de qual teria sido o sonho, pois o sonho em si não foi relevante, e sim o acontecimento que veio depois dele. Como de costume meu pai deixava a luz do corredor acesa para meus irmãos menores, caso quisessem usar o banheiro no meio da noite, e naquela madrugada ela também estava acesa. Deitado na cama, só conseguia ver aquele facho de luz no chão próximo à porta, ao qual fitei por algum tempo até que pudesse cair no sono novamente. O que vi? Nada! Mas senti que não estava só. Já sentiu isso? Não podia fechar os olhos por perceber que algo estava ali, próximo a mim. Era sempre vencido pelo cansaço. Foram cinco noites consecutivas ass
Acordei com uma sensação estranha no estômago.Ao olhar à frente noto que estamos descendo uma queda d'água! Fiquei desesperado por ver a altura que estávamos caindo, mas logo o Rollet ativou jatos de água que puxava da própria cachoeira, os quais diminuíam a velocidade da queda até o impacto na água ser grandemente reduzido. Seguimos saindo do rio por uma trilha estreita com galhos e pedras que tornavam a experiência um pouco desconfortável.– Que rota interessante você escolheu para nós Baboo? – disse ironicamente.– É um atalho. Relaxa! Logo ficará melhor – disse Baboo relevando minha provocação.Finalmente saímos da
Levantamos nós três mais cedo que Joel e Baboo para treinar, e quando eles chegaram à sala de treinamento duas horas depois, estávamos intercalando os exercícios, fazendo-o da seguinte forma: Enquanto dois atacavam um defendia.– Muito bem! – participou Joel.– Notamos que estão realmente envolvidos e com vontade de aprender. Excelente desempenho na defesa corpo a corpo Isabela! – prosseguiu ele.Agora podemos ensiná-los a manusear facas e espadas – comentou Baboo.Enquanto ele ensinava as meninas a manusear a espada, Baboo me ensinava a usar a faca, ou melhor, a adaga que havia ganhado dela. Ela era de fato muito habilidosa. Extraía de mim todo o potencial que nem eu julgava ser capaz de ter, d
Lembro-me de que havia uma parede de tijolos à vista, uma árvore grande e velha e um pouco de grama meio seca debaixo do sol quente. Meu pai e eu conversávamos sobre as dificuldades da vida e de como alguns momentos bons haviam nos marcado. Ele era um homem demasiadamente ocupado para termos conversas como aquelas. Um empresário bem sucedido, de uma fama e caráter desigual, claro, para os outros era grandioso e, para nós, bem, tínhamos um empresário que em alguns momentos se fazia pai. Ele fazia seu melhor.Especialmente naquele momento, divaguei em meus pensamentos numa recordação valiosa. Com um olhar compenetrado e sério me disse:— "Filho, não importa o que você deseje. Um homem não pode fugir do seu destino. Encontre o seu".Nossos olhos contemplaram o que havia à frente. Uma esfera gigante que representava Belácia.<
"Intensa" era a melhor palavra para descrever aquela noite.Acordei algumas horas depois de termos nos deitado, não sabia dizer que horas eram, apenas que era de madrugada. Não vi Isabela. Acordei Léa, e sem muito alarde saímos em busca de Isabela, andando nas proximidades do lugar onde estávamos alojados e... — Olhe, Rick! Um respirador! Deve ser da Isabela! Onde será que ela foi parar? Eles a levaram? Nós não conhecemos essa gente, Rick! Ela é apenas uma menina! — disse Léa completamente preocupada. Eu também estava, mas sabia que não tinha nada a ver com os belacianos.— Léa, vamos continuar procurando — disse sério e muito apreensivo.Encontramos seu respirador em cima de uma mureta próxima a escadaria que saía do terreno do palácio do Governador, mas nada dela. Mais preocupados do que antes voltamos para o aloj
A selva tinha um cheiro estranho.Aquelas árvores, além de vermelhas, eram duas vezes maiores que as árvores históricas da Terra, mosquitos pretos grandes que não picavam, mas tínhamos que os tocar de nossa visão constantemente. O chão úmido era repleto de plantas carnívoras amarelo-mostarda, pequenas, bastava cair em cima delas para que elas devorassem algum de nós.Não sabíamos para qual direção seguir, com aquela escuridão não seria tão fácil encontrar o que procurávamos, então, fomos ao centro da selva. O Ovo de Ezcrat estava lá em algum lugar, mas não fazíamos ideia de onde, portanto, nos separamos em dois grupos para cobrir maior território de procura, mas estávamos sempre na visão uns dos outros.A selva tinha uma pequena inclinação que nos fazia descer indo em
No jardim andamos calmamente e paramos junto a um banco de madeira vermelha, muito bonito, com forma de animais esculpidos nele, como tessínios, túllos e madrícos, iguais aos outros bancos.Os túllos lembravam cachorros pelo seu comportamento, mas na aparência eram animais pequenos de aproximadamente quinze centímetros, com apenas duas pernas, cauda curta, pele castanha clara com manchas beges pelo corpo, sem pelos, com duas asas bem pequenas no lugar dos braços; cobertas por penas e a cabeça era muito parecida com a de um Bicho-preguiça. Já os madrícos eram animais de carga com quatro patas iguais às de urso e unhas grossas, corpo forte, dois metros de altura, andavam com as quatro patas a maior parte do tempo, como ursos, peludos da cor cinza claro, uma casca marrom grossa nas costas para suportar o peso e uma feição dócil, era