Aquele momento de pesadelo, aquela noite que ela tentava esquecer, voltou como uma enxurrada, inundando sua mente com uma dor sufocante que parecia arrancar-lhe o ar.— Você é uma Bastos, uma herdeira de uma das famílias mais respeitadas de Matear. Todo mundo sabe da conexão entre a família Bastos e a família Moura, décadas de amizade. Gael te forçar? Acho que ele nem teria coragem! — Joaquim disse, transformando o quarto do hospital em um tribunal improvisado, completamente alheio à sua própria situação miserável. — Vocês dois, sozinhos em um quarto durante o baile, e depois aquela história toda se espalhou. O que a sua família fez? Jogou a culpa inteira na família Moura para salvar sua própria pele. Você sabia que sua reputação estava arruinada, que não teria mais chances no círculo da alta sociedade. Então, decidiu se rebaixar, usou o Breno como um idiota, como um joguete. Você é esperta, Hebe. Suas artimanhas não ficam devendo em nada às da sua irmã, Olívia.— Seu desgraçado! — Bre
Breno e Hebe ficaram boquiabertos, encarando o rosto austero e justo de Gustavo. No fundo, estavam profundamente comovidos. Justamente quando se sentiam encurralados, esmagados pelo peso das dificuldades, alguém da família Vieira finalmente estendia uma mão para ajudá-los. Esse gesto, vindo de Gustavo, era como um sopro de esperança no meio de uma tempestade, e o valor disso era incalculável.— Gustavo! Como você ousa falar assim com sua mãe? — Murilo finalmente perdeu a paciência. Levantou-se de repente, apontando para o filho mais velho com o dedo trêmulo, enquanto o rosto assumia um tom de raiva contida. — Sua mãe dedicou a vida inteira a essa família, criou você e seus irmãos com tanto esforço. E agora, o que ela recebe? Uma frase de decepção? Você e Breno querem nos matar de desgosto?Joaquim, aproveitando a oportunidade, apressou-se em se fazer de vítima e tentar limpar sua barra. Sua voz saiu esganiçada, gaguejante, enquanto ele se fazia de mártir:— Pai! Mãe! Vocês estão vendo
Não bastasse o choque inicial, o celular de Joaquim voltou a vibrar, trazendo uma mensagem que parecia destinada a humilhá-lo ainda mais:[Joaquim, estou me demitindo. Considere esta mensagem como minha carta de demissão. Você chegou a este ponto por sua própria arrogância e presunção. Cansei de ser escravizado por você! Se não vivêssemos em um estado de direito, eu mesmo já teria acabado com a sua vida. Adeus, e parabéns pelo fechamento do seu escritório!]Joaquim respirava pesado, o peito subindo e descendo como se tivesse corrido uma maratona. Seus dedos tremiam descontroladamente enquanto segurava o celular, e a raiva fazia seu rosto contorcer-se em uma máscara de ódio.— Você colheu o que plantou, Joaquim. Tudo o que está acontecendo agora é culpa sua. — Gustavo balançou a cabeça, a voz carregada de decepção. — E o pior de tudo é que você não sente o menor arrependimento. Ao invés disso, continua tentando prejudicar o Breno, usando nossos pais como instrumentos para a sua vingança
— Pai! Mãe! Não acreditem nele... Não é nada disso que ele está dizendo! — Joaquim tentou se defender desesperadamente, sua voz alterada e tomada pela raiva. — No tribunal, o Gustavo e o Breno já estavam conspirando contra mim, armando para me prejudicar. Agora ele aparece de novo, defendendo o Breno e manchando o meu nome! Eu aposto que os dois foram comprados pela Olívia e pelo Charles! Eles não passam de cães de guarda da família Bastos... São todos farinha do mesmo saco!Antes que pudesse terminar a frase, Gustavo, que até então se mantinha sempre calmo e controlado, perdeu o limite. Em um instante, ele avançou e deu um soco direto no nariz de Joaquim, muito mais forte do que qualquer golpe que Breno já havia dado. Joaquim cambaleou para trás, e o sangue jorrou de seu nariz no mesmo instante.— Você é um caso perdido, Joaquim. Não tem jeito! — Gustavo balançou a mão, flexionando os dedos doloridos pelo impacto, enquanto a indignação brilhava em seus olhos. — Quer dizer que eu e o B
— Mãe, minha decisão está tomada. Não adianta dizer mais nada.Em seguida, Gustavo voltou seu olhar pesado para o rosto de Murilo, marcado pelo cansaço e pelas rugas da idade. Por um momento, ele sentiu uma distância enorme entre eles, como se aquele homem que lhe dera a vida fosse um estranho.— Pai, em todos esses anos, eu nunca pedi nada ao senhor. Nunca exigi um centavo, nem fiz qualquer pedido. Mas hoje, pela primeira vez, eu peço. Pelo amor de Deus, por tudo que vivemos nesses trinta anos como pai e filho, eu imploro que o senhor me escute, só desta vez. Não dificulte mais a vida da Hebe. Não tente mais separar o Breno dela. Eles se amam de verdade. Sei que, se o Breno perder a Hebe, ele nunca mais encontrará alguém como ela. Tenho certeza disso.Breno e Hebe estavam de mãos dadas, firmes, como se fossem um só. Eles se entreolharam com uma profundidade que parecia atravessar o tempo, como se naquele instante nada mais existisse além deles.Gilda, por outro lado, estava em complet
Hebe queria consolá-lo, mas, ao lembrar que tudo aquilo havia começado por causa dela, sentiu que não tinha o direito de dizer nada. Apenas abaixou a cabeça, cheia de culpa.— Hebe, não se culpe. Nada disso é sua responsabilidade. — Breno disse com a voz rouca, mas carregada de uma ternura infinita.Os olhos de Hebe se encheram de lágrimas, e seus lábios tremeram antes de murmurar:— Mas...— Você é o meu amor, meu futuro, minha escolha. Vou seguir com você, custe o que custar. Ninguém vai me impedir.Antes que suas palavras se dissipassem no ar, uma voz familiar ecoou atrás deles:— Breno!Os dois pararam e se viraram, vendo Gustavo correr em sua direção.— Irmão, obrigado por hoje. Obrigado por defender a Hebe, por ficar do nosso lado. Sua ajuda, seu apoio... Nunca vamos esquecer. Esse favor, eu vou retribuir. Não importa o que aconteça, eu estarei lá por você.Gustavo lançou um olhar sério, mas carregado de mágoa:— Breno, você é meu irmão. Meu único irmão. Quando você fala assim, p
Hebe vestiu a camisa branca de Breno com alegria. Era tão larga que parecia um vestido oversized. Ela deu uma volta leve em frente ao espelho, girando com os braços abertos, tão radiante que parecia mais feliz do que em qualquer vestido luxuoso que já tivesse usado.De repente, o som do celular tocando a fez dar um pequeno salto de susto.Hebe caminhou devagar até a cama, tentando não fazer barulho. Quando pegou o celular e viu o nome da mãe na tela, seu coração disparou. Ela hesitou, nervosa, mas sabia que não podia ignorar. No fim, decidiu atender para não preocupá-la.— Hebe, por que você ainda não voltou para casa? Onde você está? — A voz de Glória soava claramente preocupada.— Eu... Eu estou bem, mãe, de verdade.— Onde você está agora?— Estou em Yexnard... Estou com o Breno. — Hebe respirou fundo, reunindo coragem antes de continuar. — Mãe, hoje à noite eu não vou voltar. O Breno não está bem, eu quero ficar com ele.Do outro lado da linha, o silêncio veio como uma onda pesada,
— Não! Nunca pense assim! Estar ao seu lado me faz feliz todos os dias. Nunca me senti injustiçada! — Hebe segurou o rosto molhado de Breno entre as mãos, seus olhos começando a brilhar com lágrimas inquietas. Ela sentia como se cada gota que ele derramava caísse diretamente em seu coração, deixando marcas profundas.Ninguém conhecia a força de Breno melhor do que ela. Ele havia enfrentado desafios ao lado de Gilbert e Olívia por tanto tempo, abrindo caminho para eles como uma lâmina poderosa em meio às adversidades. Mas agora, por causa dela, por causa do que aconteceu naquele dia, aquele homem tão imponente, que sempre mantinha a cabeça erguida, havia se refugiado na cozinha para chorar em silêncio. Quão devastado ele precisava estar para que sua armadura se quebrasse, revelando tamanha vulnerabilidade?Breno abaixou os cílios úmidos, sua voz rouca e carregada de dor:— Hebe, você é a filha querida da família Bastos, o tesouro do Sr. Érico e da Sra. Glória, a irmãzinha amada de todos