Capítulo 15 Ezequiel Costa Júnior Levei algum tempo apenas observando Mariana. Cada pequeno gesto dela parecia dizer mais do que as palavras. A forma como me olhava, o esforço que fazia para não se afastar... ela estava tentando. E isso me atingia num lugar que eu nem sabia que ainda estava vivo. Queria poder fazer mais por ela. Puxei o celular e fiz uma ligação. — Yulssef, preciso que traga algumas roupas novas para a Mariana. Algo leve, confortável. Ela vai sair comigo hoje. — Claro, Don. Passo na boutique e levo até aí em menos de uma hora. Mais alguma coisa? — Só isso mesmo. Obrigado. Desliguei e um tempo depois fui até a sala, onde Mariana agora mexia em uma flor do vaso sobre a mesa. Era uma imagem quase surreal, como se ela não pertencesse àquele mundo — meu mundo. Mas ao mesmo tempo, algo em mim dizia que ela já era parte disso tudo. — Gosta das plantas? — seus dedos encostavam suavemente no verde. — Eu quase não vi raridades como essa durante minha vida. — Ela virou
Capítulo 1 Mariana Bazzi — Nem acredito que é real... ainda hoje estarei livre desse lugar — sussurrei para mim mesma, com os olhos marejados ao encarar os papéis impressos e assinados sobre a mesa do escritório. Agarrei os documentos contra o peito como se minha vida dependesse disso — e, de certa forma, dependia. Saí quase saltitando entre as mulheres do cassino, com um sorriso no rosto, levando a pequena sacola com minhas poucas coisas. Guardei os papéis lá dentro com o cuidado de quem carrega um tesouro. Lágrimas escorriam, mas dessa vez eram de alívio. O presente de aniversário de vinte anos mais precioso que eu poderia receber: a minha liberdade. Hoje faz exatamente dez anos que fui vendida para esse cassino. Um acordo nojento de covardia, por quem deveria me proteger: meu pai. Mas não... hoje eu não queria pensar nisso. Hoje, eu voltaria pra casa. Veria o rosto da minha mãezinha de novo. Sentiria o abraço das minhas irmãs mais velhas. Subi as escadas desse infer
Capítulo 2 Mariana Bazzi Não tive tempo para pensar, um dos guardas apontou para o carro e desci uma pequena escada de cabeça erguida. Meu pai estava caído, gemendo de dor, incapacitado. Ele sentiu na pele um pouco da violência que sempre infligiu a mim e à minha mãe. Mas meu coração batia contra o peito. Entrei num dos veículos de luxo. Uma limusine. Meus olhos ainda estavam embaçados pelas lágrimas. Observei o outro lado da porta aberta enquanto os homens conversavam do lado de fora. Se eu descesse por ali e corresse na direção da escada me daria segundos extras. Abri com cuidado e discretamente movi meu corpo. Escorreguei pelo acento de couro, mas fui surpreendida pelo homem que me comprou. Imediatamente dei um salto pra trás, batendo as costas na porta contrária. O mesmo homem de óculos escuros entrou e sentou-se ao meu lado, cruzando as pernas com elegância. Me afastei como um animalzinho enjaulado. O olhar desse homem era diferente, talvez terno... Ou eu esta
Capítulo 3 Mariana Sentei na beirada da cama e demorei para conseguir levantar. Havia um banheiro, vi que dava para trancar, então entrei, fechei e fiquei ali por bastante tempo, olhando para tantas marcas roxas no meu corpo que eu tanto gostaria de apagar. Não havia janela ali, nada útil nas gavetas que eu pudesse usar para soltar a janela do quarto. Liguei o chuveiro, tomei um banho. Quando saí segurei a roupa que estava separada. Era um vestido bonito, diferente do que meu pai me fazia usar. Discreto, elegante e sem vulgaridade. Ele lembra um que ganhei do único homem que já confiei, junto com uma agenda. Tudo porque era o papai Noel de uma noite de natal há quase dois anos. Mas estava naquela sacolinha que perdi no caminho até aqui. — Com licença... — Alguém abriu a porta do quarto pelo lado de fora — Sou Luciana. Vim avisar que o senhor Ezequiel está esperando. — Me encolhi na toalha. — Ele só quer conversar e explicar o que está acontecendo. Depo
Capítulo 4 Mariana Bazzi — Por um momento pensei que pudesse estar dizendo a verdade, que fosse diferente. Que realmente pudesse ter algo bom, libertar mulheres — me afastei — Mas é igual todos os homens. Odeio você e toda a sua raça! Odeio todos! Me deixe em paz, e me deixe ir embora! — Me soltou imediatamente, como se nada tivesse acontecido. — Você não jantou. Sente-se e faça o que veio fazer. Está pedindo coisas, mas não cede em nada? — apontou para a mesa e puxou uma cadeira. — Se não está mentindo e sou realmente livre, me deixe sair pela porta da frente sem que ninguém venha atrás de mim. — O encarei e disse com uma coragem que não pensei que eu tinha. — Está ciente dos riscos? Porque vão te encontrar e não vou te salvar novamente se for vendida. — Eu... quero sair daqui. — Não, você não vai — entrou na minha frente com o semblante enfurecido. Seu porte grande se sobrepôs perante mim. Seu olhar estava severo. A raiva e o medo ferveram no meu peito. El
Capítulo 5 Ezequiel Costa Júnior Sou o Don da máfia Zion Triad, porém a minha identidade é secreta. Todos sabem do “Don”, poucos sabem que sou eu. Faço tudo por trás dos panos, e quem aparece são meus dois soldados de confiança, que atuam como agentes, para não serem expostos em Israel ou países onde preciso de cobertura. Mas hoje foi diferente. Fui pessoalmente atrás dela, a Maryam, porém não saiu do jeito que programei, apesar de todo esforço, ela me rejeitou, me fez sentir um idiota na frente dos meus subordinados. Outra vez fui rejeitado, me odeio por isso. Da outra vez até deixei passar, porque a mulher que escolhi amava outro, mas dessa vez as coisas serão diferentes. Despejei toda minha ira no móvel da copa. Em seguida, Sara, uma dos meus soldados se ofereceu para limpar o sangue da minha mão.... Encostado em uma cadeira giratória, ela observa o que destruí do móvel sob medida e respiro pesadamente ao vê-la me olhando. — Don... Isso não está cer
Capítulo 6 Mariana Bazzi A madrugada estava escura como breu. Nenhum poste aceso. Nenhum som além do da minha própria respiração e do coração batendo tão forte que eu mal conseguia escutar os pensamentos. Só precisava chegar até o centro. Talvez encontrasse um bar, um ônibus, qualquer coisa. Meus olhos marejaram, mas segurei. Não agora, já chega de sofrimento. Até que ouvi o som de um motor. Pneus no cascalho, precisei apressar o passo. Um carro se aproximava devagar demais. O farol iluminou minha silhueta, e antes que eu pudesse correr, a porta abriu com violência. — Olha só... A fugitiva — reconheci aquela voz na hora, era do cassino. Ele parecia que estava parando... Droga! — Você?! — minha voz saiu trêmula, mas cheia de ódio. Ele sorriu de um jeito que me embrulhou o estômago. Já havia tentado me comprar do meu progenitor uma vez, como se eu fosse uma mercadoria, mas fugi. E agora, ali, no meio do nada... era como se estivesse realizando um plano antigo de
Capítulo 7 Ezequiel Costa Júnior Tranquei a porta atrás de mim, ouvindo o som metálico da chave girando na fechadura. Sem olhar de volta, caminhei pelo corredor da casa com o coração pulsando feito um tambor de guerra. Cada passo transbordava minha raiva contida. Meus olhos encontraram os rostos curiosos dos funcionários, todos parados no meio de suas tarefas, fingindo que não viam, mas desejando saber a fofoca. — Ninguém abre aquela porta — minha voz foi firme. Luciana, a governanta, hesitou por um instante antes de se aproximar. — Nem mesmo para levar comida, senhor? A moça parece fraca… Cerrei os dentes. — Nada de regalias. Apenas uma sopa. Vi a dúvida no olhar dela, mas esperava o quê? “Preparei um jantar inteiro e ela não valorizou, quem sabe a sopa não come.” — pensei, passando direto por Luciana sem dar chance de réplica. Fui até a sala dos fundos e abri a porta com força. — Chame o Yulssef. Agora. O funcionário que estava por ali se apressou. E