Capítulo 12 Mariana Bazzi (Contém gatilhos) Ao descer do carro, andei pela estradinha até a porta da casa como se minha alma não estivesse no corpo, e realmente acho que não estava. Vi pessoas passarem por mim, mas nada importava. Eu só olhei e segui o caminho que já havia memorizado para voltar pro quarto. — Mariana? — ouvi Ezequiel falando atrás de mim e parei antes de subir uma pequena escada — Você está bem? Não me disse nada até agora. Respirei fundo. Meu corpo todo tremia, eu mal conseguia falar, mas tirei tudo de mim para me virar pra ele. — Venha até meu quarto — virei novamente e bati parte do corpo na mulher que Ezequiel pediu para que se retirasse durante o almoço. — Como assim, quarto? Quem você pensa que é para dar ordens pro Don? — ergui o braço e coloquei a mão no seu peito. — Com licença. Não me lembro de te dever explicação — passei por ela e continuei subindo. Ainda ouvi quando Ezequiel disse: — Tire uma folga com Raquel.
Capítulo 13 Ezequiel Costa Júnior A porta fechou atrás de mim, mas a raiva... essa ainda estava escancarada no meu peito. Caminhei pelo corredor com o punho fechado, sentindo a pressão subir até meu maxilar. As palavras dela ecoavam na minha mente: "Eu mesma tirei a roupa... tentei negociar com o Don..." Eu nunca tinha sentido esse tipo de fúria. Não era só ódio, era um veneno queimando por dentro. Cada roxo no corpo da Mariana era uma lembrança maldita de que eu falhei em protegê-la, demorei para encontrá-la e passou por tudo isso. Quando a vi daquele jeito, naquele quarto, trêmula, tentando me oferecer o próprio corpo em troca de salvação... meu mundo ruiu. Não era só sobre Mariana. Era sobre todas as vezes que homens como aqueles acharam que podiam comprar, tocar, destruir. Mal consegui olhar pra ela quando entrei. Seu rosto angelical e ao mesmo tempo triste, amedrontado, me deixavam enlouquecido. Eu só queria ter certeza que foi naquela porra de cassino do v
Capítulo 14 Ezequiel Costa Júnior Amanheci no bar de casa, bebendo e pensando na vida. Tomei um banho e depois fui ver a Mariana. A minha cabeça não está nos melhores dias. Bati na porta do quarto, quem abriu foi a médica. Contratei para que fique na minha casa e cuide exclusivamente dela, já que parece ter confiado na doutora.. — Como está? — Melhor. — Porque fez aquilo? Eu não pedi nada — questionei a doutora Samira. — Uma mulher com androfobia, pensa que seu corpo é a única coisa que homens querem. Ela não consegue entender de outra forma sem acompanhamento. Elas tem medo absurdo de homem. Existe um transtorno chamado misandria que a mulher tem ódio de homem, são duas coisas diferentes. No transtorno androfobia, ver o homem, ouvir falar nele, pensar até mesmo fotos lhe causam um medo absurdo, irracional mesmo, alguns sintomas como náuseas, tontura, gagueira, tremores, o nível de ansiedade pode até lhe causar perda dos sentidos, dependendo do g
Capítulo 15 Ezequiel Costa Júnior Levei algum tempo apenas observando Mariana. Cada pequeno gesto dela parecia dizer mais do que as palavras. A forma como me olhava, o esforço que fazia para não se afastar... ela estava tentando. E isso me atingia num lugar que eu nem sabia que ainda estava vivo. Queria poder fazer mais por ela. Puxei o celular e fiz uma ligação. — Yulssef, preciso que traga algumas roupas novas para a Mariana. Algo leve, confortável. Ela vai sair comigo hoje. — Claro, Don. Passo na boutique e levo até aí em menos de uma hora. Mais alguma coisa? — Só isso mesmo. Obrigado. Desliguei e um tempo depois fui até a sala, onde Mariana agora mexia em uma flor do vaso sobre a mesa. Era uma imagem quase surreal, como se ela não pertencesse àquele mundo — meu mundo. Mas ao mesmo tempo, algo em mim dizia que ela já era parte disso tudo. — Gosta das plantas? — seus dedos encostavam suavemente no verde. — Eu quase não vi raridades como essa durante minha vida. — Ela virou
Capítulo 1 Mariana Bazzi — Nem acredito que é real... ainda hoje estarei livre desse lugar — sussurrei para mim mesma, com os olhos marejados ao encarar os papéis impressos e assinados sobre a mesa do escritório. Agarrei os documentos contra o peito como se minha vida dependesse disso — e, de certa forma, dependia. Saí quase saltitando entre as mulheres do cassino, com um sorriso no rosto, levando a pequena sacola com minhas poucas coisas. Guardei os papéis lá dentro com o cuidado de quem carrega um tesouro. Lágrimas escorriam, mas dessa vez eram de alívio. O presente de aniversário de vinte anos mais precioso que eu poderia receber: a minha liberdade. Hoje faz exatamente dez anos que fui vendida para esse cassino. Um acordo nojento de covardia, por quem deveria me proteger: meu pai. Mas não... hoje eu não queria pensar nisso. Hoje, eu voltaria pra casa. Veria o rosto da minha mãezinha de novo. Sentiria o abraço das minhas irmãs mais velhas. Subi as escadas desse infer
Capítulo 2 Mariana Bazzi Não tive tempo para pensar, um dos guardas apontou para o carro e desci uma pequena escada de cabeça erguida. Meu pai estava caído, gemendo de dor, incapacitado. Ele sentiu na pele um pouco da violência que sempre infligiu a mim e à minha mãe. Mas meu coração batia contra o peito. Entrei num dos veículos de luxo. Uma limusine. Meus olhos ainda estavam embaçados pelas lágrimas. Observei o outro lado da porta aberta enquanto os homens conversavam do lado de fora. Se eu descesse por ali e corresse na direção da escada me daria segundos extras. Abri com cuidado e discretamente movi meu corpo. Escorreguei pelo acento de couro, mas fui surpreendida pelo homem que me comprou. Imediatamente dei um salto pra trás, batendo as costas na porta contrária. O mesmo homem de óculos escuros entrou e sentou-se ao meu lado, cruzando as pernas com elegância. Me afastei como um animalzinho enjaulado. O olhar desse homem era diferente, talvez terno... Ou eu esta
Capítulo 3 Mariana Sentei na beirada da cama e demorei para conseguir levantar. Havia um banheiro, vi que dava para trancar, então entrei, fechei e fiquei ali por bastante tempo, olhando para tantas marcas roxas no meu corpo que eu tanto gostaria de apagar. Não havia janela ali, nada útil nas gavetas que eu pudesse usar para soltar a janela do quarto. Liguei o chuveiro, tomei um banho. Quando saí segurei a roupa que estava separada. Era um vestido bonito, diferente do que meu pai me fazia usar. Discreto, elegante e sem vulgaridade. Ele lembra um que ganhei do único homem que já confiei, junto com uma agenda. Tudo porque era o papai Noel de uma noite de natal há quase dois anos. Mas estava naquela sacolinha que perdi no caminho até aqui. — Com licença... — Alguém abriu a porta do quarto pelo lado de fora — Sou Luciana. Vim avisar que o senhor Ezequiel está esperando. — Me encolhi na toalha. — Ele só quer conversar e explicar o que está acontecendo. Depo
Capítulo 4 Mariana Bazzi — Por um momento pensei que pudesse estar dizendo a verdade, que fosse diferente. Que realmente pudesse ter algo bom, libertar mulheres — me afastei — Mas é igual todos os homens. Odeio você e toda a sua raça! Odeio todos! Me deixe em paz, e me deixe ir embora! — Me soltou imediatamente, como se nada tivesse acontecido. — Você não jantou. Sente-se e faça o que veio fazer. Está pedindo coisas, mas não cede em nada? — apontou para a mesa e puxou uma cadeira. — Se não está mentindo e sou realmente livre, me deixe sair pela porta da frente sem que ninguém venha atrás de mim. — O encarei e disse com uma coragem que não pensei que eu tinha. — Está ciente dos riscos? Porque vão te encontrar e não vou te salvar novamente se for vendida. — Eu... quero sair daqui. — Não, você não vai — entrou na minha frente com o semblante enfurecido. Seu porte grande se sobrepôs perante mim. Seu olhar estava severo. A raiva e o medo ferveram no meu peito. El