Helen sentiu o peito se contrair no instante em que seus olhos pousaram sobre a fotografia. O mundo ao seu redor silenciou, como se o próprio tempo a suspendesse naquele exato momento de agonia. O sorriso de Ethan na imagem, sua expressão relaxada ao lado de Miranda, a maneira como seus corpos pareciam confortáveis um com o outro… cada detalhe perfurava sua alma como estilhaços de vidro.
Seu coração martelava dentro do peito, não de surpresa, mas de uma dor sufocante, excruciante. Porque, no fundo, ela sempre soube. Sempre soube que Ethan nunca a quis. Sempre soube que, se pudesse escolher, ele estaria ao lado de Miranda, vivendo o sonho dourado que nunca pôde ter. E agora, ele estava ali, mostrando ao mundo, sem qualquer pudor, que ainda a desejava.
O contrato entre eles nunca envolveu amor, mas Helen o amava. Amava Ethan de uma forma que a destruía pouco a pouco, que sugava sua alma a cada dia. Nunca quis esse casamento, mas quando foi obrigada a aceitar, agarrou-se à esperança de que, ao menos, poderiam construir algo juntos. Que talvez, só talvez, com o tempo, ele pudesse vê-la. Mas não. Ele nunca a viu.
Helen estava no escritório de Ethan, seus passos rápidos e furiosos ecoavam pelo chão de mármore, como se a dor que carregava precisasse se materializar de alguma forma.
O celular de Ethan repousava sobre a mesa, inofensivo e traiçoeiro, ainda carregando o veneno da humilhação que Miranda despejara nela. Como ele podia ser tão cruel? Como pôde expô-la daquela maneira, sem remorso, sem hesitar?
O som da porta se abrindo cortou seus pensamentos. Helen endureceu o corpo, preparando-se para a batalha que sabia que estava por vir. Ethan entrou no escritório com o olhar fixo no celular sobre a mesa, ignorando sua presença como se ela fosse um detalhe insignificante.
— Onde você encontrou isso? — A voz dele saiu cortante, vazia de qualquer traço de arrependimento.
Helen quase riu. Quase. Mas o que emergiu foi uma risada amarga e desesperada.
— Miranda me entregou. — Suas palavras saíram afiadamente geladas. — No meio de um restaurante lotado. Ela fez questão de me informar que você o esqueceu na casa dela.
Ethan ergueu os olhos finalmente, o rosto tão impassível quanto sempre.
— Você não deveria ter aceitado.
— Eu não deveria ter aceitado? — Helen explodiu, a voz carregada de revolta. — Você não deveria ter deixado seu celular na casa dela! Não deveria sequer estar na casa dela!
— Isso não é da sua conta. — Ele rebateu com a indiferença de quem não se importa com as feridas que causa.
— Não é da minha conta? — Helen deixou escapar uma risada amarga, os olhos ardendo com o peso de tudo o que manteve enterrado. — Somos casados, Ethan. Sob o mesmo teto, dividindo uma vida que você faz questão de destruir, um dia após o outro. E agora você me humilha publicamente com essa porcaria! — Apontou para o celular, as mãos trêmulas. — Como você pode dizer que isso não é da minha conta?
Ethan olhou para o aparelho como se fosse um problema insignificante.
— Vou pedir para a equipe de comunicação lidar com isso. É irrelevante.
— Irrelevante? — Helen repetiu, a voz falhando sob o peso da dor. — Você destruiu o que restava de mim hoje, Ethan. Me fez parecer uma piada para o mundo inteiro. E você ainda tem coragem de chamar isso de irrelevante?
— Helen… — Ele começou a falar, mas ela o interrompeu com um olhar que o silenciou instantaneamente.
— Não. — Sua voz era firme, carregada por uma força que ela não sabia que possuía até aquele momento. — Você vai ouvir agora. Porque eu estou cansada, Ethan. Cansada de ser ignorada. De ser tratada como uma obrigação sem valor. De tentar dar sentido a algo que você nunca quis que existisse.
Ethan finalmente a encarou, seus olhos mostrando pela primeira vez um traço de desconforto.
— Você sabia desde o começo que eu não te amava. Você aceitou esse casamento sabendo disso.
— Eu aceitei o contrato, sim. Mas eu achei que, com o tempo, você ao menos me respeitaria. Que você pudesse ver além do acordo, além do que você se forçou a acreditar. — A dor em suas palavras era quase palpável. — Mas você nunca tentou. Você nunca quis tentar.
Ethan permanecia calado ouvindo Helen dizer tudo.
— Você sempre a amou, não é? Sempre quis casar com ela. E eu… eu fui apenas um obstáculo no seu caminho. — Sua voz vacilou, mas ela não recuou. — Assim como você tinha sonhos, Ethan, eu também tinha os meus. Eu também queria um casamento de verdade. Também queria alguém que me amasse, alguém que olhasse para mim como se eu fosse o centro do seu mundo. Mas ao invés disso, me deram você. E você me odeia por isso.
— E o que você quer que eu faça agora? Fingir que sinto algo por você que nunca existiu? — Ele rebateu, a voz carregada de irritação.
— Não. Eu não quero que você finja nada. — Helen respondeu, sua voz oscilando entre fúria e tristeza. — Eu só quero que você pare de me tratar como se eu fosse lixo. Que pare de me humilhar e fingir que sua crueldade é justificada porque você nunca quis esse casamento.
Aquelas palavras o atingiram como um soco. Pela primeira vez, a armadura de Ethan mostrava rachaduras visíveis. Mas Helen não parou. Não agora.
— Você acha que é o único que sofre neste casamento? — Ela desafiou, os olhos cravados nos dele, como se quisesse atravessar sua alma. — Eu também perdi tudo, Ethan. Meus sonhos, meu futuro, um amor que eu nunca terei de volta. E o pior? Eu perdi a mim mesma tentando ser alguém que você pudesse respeitar.
O silêncio caiu entre eles, denso e sufocante. Ethan olhava para ela como se finalmente visse a mulher que sempre ignorou.
— Eu poderia te odiar. — Continuou Helen, com sua voz tão firme quanto um punhal cravado no peito dele. — Mas, ao contrário de você, eu nunca expus minha infelicidade para o mundo ver. Eu sempre respeitei essa união, mesmo que fosse só um contrato. E sabe o que é mais cruel? Eu aceitei. Aceitei viver essa mentira porque, no fundo, eu tinha esperança de que um dia você poderia olhar para mim de outra forma. Mas não. Você nunca me viu.
As palavras pesavam como pedras sobre Ethan, arrancando dele qualquer resquício de orgulho ou justificativa que ainda tentava se agarrar.
— Eu tentei, Ethan. Deus sabe o quanto eu tentei! Fiz de tudo para, ao menos, termos uma relação de amizade. Para que, mesmo nesse inferno, eu tivesse alguma coisa sua. Mas você nunca permitiu. Sempre me afastou. Sempre me culpou por ter arruinado o seu sonho adolescente.
— Mas sabe de uma coisa? — Sua voz baixou, mas ficou ainda mais cortante. — Eu poderia aceitar se isso fosse apenas desejo, uma fraqueza momentânea. Mas não, Ethan. Isso foi escolha. Você escolheu me humilhar. Escolheu me esmagar um pouco mais.
Ethan sentiu a dor daquelas palavras o atingir de cheio.
— Mas não tenha pena de mim, Ethan. — Sua voz saiu firme, mesmo que sua alma estivesse em frangalhos. — Eu já estou quebrada demais para ser consertada.
Helen respirou fundo, encarando-o uma última vez, com os olhos carregados de uma tristeza devastadora.
— Mas se temos que continuar casados… exijo que, pelo menos, você me respeite. Porque, mesmo que meu coração ainda anseie por algo eu não vou mais abrir mão de mim mesma.
O telefone de Helen tocou logo pela manhã, interrompendo o silêncio tranquilo de seu apartamento. Sua voz suave atendeu o chamado, mas o tom firme e urgente de seu pai do outro lado da linha a deixou em alerta.— Helen, preciso que venha à empresa agora. É urgente.Ela conhecia bem aquela voz fria e autoritária, mas o que a diferenciava de todos os outros era sua capacidade de enfrentar o pai sem abaixar a cabeça. Sempre o fez com elegância e gentileza, porque essa era a sua essência: uma mulher doce, generosa, mas forte.Vestiu-se com um conjunto elegante, mas simples, composto por uma blusa creme delicada e uma saia lápis que moldava seu corpo de maneira sutil. Os cabelos dourados e ondulados caíam livremente sobre os ombros, e os olhos azuis brilhavam com uma mistura de apreensão e determinação. Helen era a mulher que sempre sorria para os outros, sempre buscava o melhor nas pessoas, mesmo quando o mundo parecia desmoronar ao seu redor.Enquanto caminhava para o prédio de vidro imp
O elevador desceu lentamente, cada segundo fazendo o peito de Helen apertar mais. Mas ela se recusava a demonstrar fragilidade. Sempre foi uma mulher determinada, forte, disposta a enfrentar qualquer coisa para alcançar seus objetivos. E agora, não seria diferente.Helen repetia para si mesma: É só um contrato, só negócios. Mas, no fundo, aquilo era muito mais. Era sua chance de provar que Ethan estava errado. Que ela não era apenas uma mulher frágil apaixonada por ele. Que ela era muito mais do que a garota previsível que ele sempre viu.O amor que sentia por Ethan era algo que ela havia aceitado muito tempo atrás. Uma chama persistente que não se apagava, mesmo diante da frieza dele. Mas Helen jamais imploraria por afeto. Ela não se humilharia por um homem, por mais que o amasse.Quando as portas do elevador se abriram, ela inspirou fundo e caminhou com passos firmes até a sala de reuniões. Ethan já estava lá, sentado, com a expressão carrancuda, o olhar glacial e os ombros rígidos
A igreja estava impecável, um verdadeiro cenário de sonho. Lustres imponentes lançavam sua luz dourada sobre o altar, onde flores brancas decoravam cada canto, simbolizando pureza e renascimento. O som delicado dos violinos preenchia o ambiente, criando a atmosfera perfeita para um casamento digno de contos de fadas.Mas para Helen, aquilo era um teste. Um desafio que ela estava disposta a enfrentar. Não fugiria, não se lamentaria. Iria provar para Ethan que ele estava errado.Cada passo pelo tapete vermelho era dado com firmeza. Não era medo que a movia, era convicção. Convicção de que estava ali por escolha própria, de que amava Ethan e não se deixaria intimidar pela frieza dele.O braço firme do pai a conduzia em direção ao altar. Ela o segurava com força, não para se apoiar, mas para manter o controle absoluto sobre si mesma.E então, lá estava ele: Ethan Carter.Impecável. Inalcançável. Indiferente.O terno preto de corte perfeito moldava seu corpo com uma elegância quase cruel.
A ilha privada onde ficariam hospedados era um verdadeiro paraíso. A areia branca contrastava com o azul cristalino do mar e o sol brilhava intensamente sobre eles, como se o mundo conspirasse para que aquela lua de mel fosse perfeita.Mas o clima entre eles era frio como gelo.Quando chegaram à casa luxuosa reservada para a estadia, Helen observou o ambiente com interesse genuíno. Cada detalhe parecia cuidadosamente planejado para proporcionar conforto e elegância.— Escolha o quarto que preferir. — Ethan disse de forma indiferente, caminhando diretamente para o escritório.Helen sentiu o peito apertar. Se ele pensava que ela se afastaria, estava muito enganado.— Nós somos casados, Ethan. Acho que não precisamos de quartos separados.Ele parou, com os ombros tensos. Depois, virou-se para encará-la, com os olhos faiscando com irritação.— Não me provoque, Helen. Você pode ter o meu nome, mas nada além disso.— Eu não estou pedindo nada. Apenas que você pare de agir como se eu fosse s
O voo de volta para casa foi silencioso. Helen olhava pela janela do avião, observando as nuvens passarem lentamente, mas sua mente estava em outro lugar. Cada lembrança dos últimos dias a golpeava com força, mas ao invés de deixá-la desmoronar, fazia com que algo dentro dela se erguesse em desafio.O casamento, a lua de mel solitária, as noites passadas em um quarto vazio enquanto Ethan fingia que ela não existia… Eram feridas abertas, mas Helen não se permitia ser derrotada por elas. Não mais.Quando aterrissaram, Ethan se despediu com um simples “tenho uma reunião na empresa” antes de entrar em um carro e desaparecer na estrada sem sequer olhar para trás. Helen assistiu o carro partir e respirou fundo, a dor se misturando com uma determinação amarga. Se ele a ignorava, então que fosse. Mas ela não seria destruída por isso.O apartamento que a aguardava era sofisticado e elegante. Os tons neutros, os móveis de madeira escura e os detalhes em mármore transmitiam sofisticação, mas Hel
Os dias passaram lentamente, e a rotina de Helen se tornou um exercício constante de autossuperação. Ela não deixava que a indiferença de Ethan a quebrasse, pelo menos não publicamente. Seus sorrisos na empresa eram impecáveis, sua postura firme, seus olhos atentos a cada detalhe do trabalho que ela executava com perfeição.Tânia continuava sendo seu porto seguro. E foi em uma noite, enquanto trabalhavam até mais tarde que Helen, exausta, decidiu desabafar mais uma vez.— Eu estou cansada, Tânia. — Ela disse, largando a caneta sobre a mesa e apertando as têmporas. — Cansada de lutar contra algo que talvez nem exista.Tânia a observou com preocupação.— O que quer dizer com isso?— Eu me esforço tanto para ser notada por ele… para que ele veja quem eu sou, o quanto eu o amo. Mas parece que quanto mais eu tento, mais ele se afasta. É como tentar segurar água com as mãos.— Talvez seja porque você está tentando da maneira errada. — Tânia sugeriu, os olhos cheios de empatia. — Talvez você
Era para ser um almoço tranquilo. Helen e Tânia haviam decidido fazer uma pequena pausa para almoçar em um restaurante elegante próximo à empresa. Helen tentava se concentrar em si mesma, no prazer de um bom prato, na conversa divertida com a amiga. Era um esforço consciente para continuar seu plano de se reconstruir e fortalecer.— Então, você conseguiu lidar com aquele contrato que parecia impossível? — Tânia perguntou, empolgada.— Sim! E com folga. — Helen sorriu, com um sorriso genuíno e raro. — Eu sinto que estou me reencontrando, Tânia. De verdade.— É disso que eu gosto de ouvir! — Tânia disse, erguendo a taça de suco em comemoração. — Ao renascimento de Helen Carter!Elas brindaram e riram. Por um momento, Helen se permitiu acreditar que as coisas poderiam melhorar. Que talvez ela pudesse encontrar felicidade na vida que havia escolhido. Mas o destino não costumava ser tão gentil.— Ora, ora… O que temos aqui? — A voz veio como um chicote, carregada de arrogância e crueldade.
Humilhar: Implica sujeitar uma pessoa a algum tipo de humilhação e também acontece quando alguém se refere a outra com desdém ou a trata com desprezo.O trajeto até o prédio parecia um borrão. Helen mantinha o celular de Ethan seguro em sua bolsa, como se aquilo fosse uma bomba prestes a explodir. E, de certa forma, era. Cada passo que dava parecia mais pesado, como se a dor tivesse se tornado um peso físico que dificultava seus movimentos.Quando entrou no prédio, abaixou a cabeça e apressou o passo pelo corredor. Mas não foi rápido o suficiente para ignorar os burburinhos que surgiam à sua volta. Vozes sussurradas, olhares furtivos que ela sabia serem direcionados a ela.— Coitada… — Uma mulher murmurou em voz baixa para a outra. — Não merecia isso.Helen apertou o passo, o coração batendo tão forte que parecia ecoar em seus ouvidos. Passou pelo hall de entrada, onde o vigilante a cumprimentou com um sorriso terno, porém carregado de algo que ela reconheceu como pena. Isso fez com q