A ilha privada onde ficariam hospedados era um verdadeiro paraíso. A areia branca contrastava com o azul cristalino do mar e o sol brilhava intensamente sobre eles, como se o mundo conspirasse para que aquela lua de mel fosse perfeita.
Mas o clima entre eles era frio como gelo.
Quando chegaram à casa luxuosa reservada para a estadia, Helen observou o ambiente com interesse genuíno. Cada detalhe parecia cuidadosamente planejado para proporcionar conforto e elegância.
— Escolha o quarto que preferir. — Ethan disse de forma indiferente, caminhando diretamente para o escritório.
Helen sentiu o peito apertar. Se ele pensava que ela se afastaria, estava muito enganado.
— Nós somos casados, Ethan. Acho que não precisamos de quartos separados.
Ele parou, com os ombros tensos. Depois, virou-se para encará-la, com os olhos faiscando com irritação.
— Não me provoque, Helen. Você pode ter o meu nome, mas nada além disso.
— Eu não estou pedindo nada. Apenas que você pare de agir como se eu fosse sua inimiga. — Helen respondeu, mantendo o tom suave. — Não sei o que você ouviu sobre mim, mas eu não estou aqui para destruir sua vida.
— Claro, você está apenas aqui para garantir que eu não perca minha posição como CEO. Que alma generosa você tem. — Ele rebateu, com a voz carregada de sarcasmo.
— Acredite no que quiser, Ethan. — Helen deu de ombros, mas seus olhos não desviaram dos dele. — Eu sei a verdade e é o suficiente para mim.
Ethan a encarou por um longo momento, como se tentasse decifrá-la. Mas, no final, ele apenas balançou a cabeça e entrou no escritório, fechando a porta atrás de si com força.
Helen permaneceu onde estava, sentindo seu coração bater forte.
Se Ethan queria guerra, ela lhe daria. Mas seria uma guerra de gentileza, paciência e compreensão. Porque, por mais difícil que fosse, Helen estava determinada a provar que ele estava errado sobre ela.
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Nos dias seguintes, Helen fez de tudo para criar um clima pacífico. Estava sempre gentil, prestativa e disposta a tentar alguma aproximação. Preparou o café da manhã algumas vezes, se ofereceu para acompanhá-lo em passeios pela praia, até sugeriu atividades mais divertidas.
Ethan recusou todas as tentativas. Preferia passar os dias trancado no escritório, mergulhado em negócios e ignorando deliberadamente a presença dela.
Mas Helen não se deixava abalar. Ela sabia que ele estava testando sua paciência, tentando quebrá-la para que desistisse de tudo. Mas ela não desistiria, não tão facilmente.
Naquela noite, decidiu preparar um jantar especial. Cozinhou sozinha, se dedicando a cada detalhe, desde a decoração da mesa até o prato principal. Quando finalmente estava tudo pronto, foi até o escritório e bateu na porta.
— O que foi agora? — A voz de Ethan soou ríspida do outro lado.
— Apenas venha jantar comigo. É só isso que eu peço. — Helen respondeu, mantendo a voz suave.
Houve um longo silêncio antes de a porta finalmente se abrir.
Ethan apareceu na soleira, olhando-a com cautela.
— Você não desiste, não é?
Helen sorriu com suavidade.
— Não. Porque eu acredito que você é muito mais do que esse homem frio e distante que quer me afastar.
Ele a encarou com intensidade, como se tentasse descobrir as intenções ocultas por trás das palavras dela. Mas Helen não desviou o olhar.
— Tudo bem. — Ele finalmente cedeu. — Vamos jantar.
Helen abriu um sorriso genuíno. Aquilo era um pequeno avanço, mas ainda assim, era uma vitória.
A mesa estava impecável. A luz suave das velas criava uma atmosfera acolhedora e íntima, refletindo delicadamente sobre os pratos de porcelana branca e os talheres de prata. Helen havia preparado tudo com cuidado e carinho, como se o jantar fosse uma oportunidade real de mostrar a Ethan que ela não era a vilã que ele pensava.
Quando ele finalmente apareceu, vestindo uma camisa social preta que destacava seus ombros largos, Helen sentiu o coração disparar.
— Você fez tudo isso sozinha? — Ele perguntou, com o tom sem emoção, mas os olhos analisando cada detalhe com cautela.
— Fiz sim. Achei que seria bom jantarmos juntos, como um casal normal. — Helen respondeu, tentando sorrir.
Ethan soltou um riso curto, amargo.
— Normal? Não há nada de normal nisso, Helen. Nós dois sabemos o que realmente somos.
— E o que somos, Ethan? — Ela questionou, mantendo a voz firme.
— Estranhos. — Ele disparou, com os olhos frios como gelo. — Estranhos presos em um contrato ridículo que você orquestrou para me afastar da única mulher que eu realmente amo.
Helen piscou, atordoada. A acusação a atingiu como um soco.
— O que você está dizendo?
Ethan se recostou na cadeira, com os olhos queimando de desprezo.
— Miranda me alertou sobre você. Me disse que você era manipuladora, invejosa, que sempre quis ter tudo o que era dela. E quer saber? Ela estava absolutamente certa.
Helen sentiu o sangue gelar nas veias.
— Ethan, eu nunca quis roubar nada de Miranda.
— Não minta para mim, Helen! — Ele rosnou, batendo a mão sobre a mesa, fazendo os pratos tremerem. — Você sempre a odiou. Sempre quis ser como ela, ter o que ela tinha. E agora conseguiu, não é? Conseguiu destruir a única coisa boa que eu tinha na minha vida.
— Ethan, você está sendo injusto… — Helen tentou argumentar, mas sua voz soava fraca.
— Injusto? — Ele riu, uma risada fria e cruel. — Você roubou de mim a felicidade que eu poderia ter ao lado da mulher que eu realmente amo. Me forçou a viver essa mentira com você. E por quê? Por causa do seu maldito egoísmo! Porque você não consegue aceitar que ninguém nunca vai te amar!
Aquelas palavras eram como facas cravadas em seu peito. Mas Helen se recusou a desmoronar ali, diante dele.
— Eu nunca quis te machucar. — Sua voz saiu baixa, mas determinada. — Eu só quis te proteger, Ethan.
— Proteger? — Ele cuspiu as palavras com nojo. — Deixe de ser hipócrita, Helen. Você fez isso para me prender. Para finalmente conseguir aquilo que você sempre quis, mesmo sabendo que eu nunca poderia te dar.
— E o que é que você acha que eu sempre quis? — Helen o desafiou, com os olhos ardendo de mágoa.
— Eu. — Ethan respondeu, com a voz dura e impiedosa. — Você sempre quis me ter, mesmo sabendo que eu nunca seria seu. Você é patética, Helen. Desesperada e patética. E quer saber o que é mais engraçado? Mesmo que eu esteja preso a você por esse contrato maldito, nunca vou te amar.
Ela piscou, tentando manter a postura firme.
— Ethan, eu nunca quis te prender. Eu só…
— Não me venha com essa! — Ele interrompeu, levantando-se bruscamente da cadeira. — Miranda me disse o que você era capaz de fazer para conseguir o que quer. Disse que você sempre invejou tudo o que era dela. Que você sempre quis ser ela. E agora você conseguiu, não é? Se tornou uma sombra patética da mulher que eu realmente amo.
A dor era insuportável. Cada palavra dele parecia arrancar pedaços de sua alma. Mas Helen se recusava a ceder.
— Você está enganado. — Disse, com a voz vacilando. — Eu nunca quis ser Miranda. Eu nunca quis roubar nada dela. Eu só queria… eu só queria que você me visse. Que você me enxergasse.
Ethan soltou uma risada cruel.
— Enxergar você? Para quê? Para perceber o quão desprezível você é? Eu nunca vou te amar, Helen. Nunca. E quanto mais você tenta, mais patética você se torna.
Helen cerrou os punhos, lutando contra as lágrimas que ardiam em seus olhos.
— Eu vou te provar que você está errado. — Disse com firmeza, sem desviar o olhar. — Vou te mostrar que eu não sou a pessoa horrível que você acredita.
— Não me faça rir. — Ele retrucou com desdém. — Nada que você faça vai mudar o que eu sinto por Miranda. Nada!
Ethan saiu da sala, deixando Helen sozinha em meio ao jantar que ela havia preparado com tanto carinho.
Ela se manteve de pé, imóvel, com os punhos cerrados sobre a mesa. A dor era real, intensa, mas algo dentro dela se recusava a desistir.
Já no quarto, Helen finalmente deixou as lágrimas caírem. Chorou em silêncio, os ombros tremiam enquanto enterrava o rosto no travesseiro.
As palavras cruéis de Ethan ecoavam em sua mente como um eco interminável. Mas, por mais que doesse ouvir aquilo, ela se recusava a desistir.
Sim, Ethan a odiava agora. Ele acreditava que ela era manipuladora, invejosa e desesperada. Mas Helen estava determinada a provar que ele estava errado.
Ela não desistiria. Não enquanto existisse uma chance de fazê-lo enxergar a verdade.
Se Ethan pensava que ela era fraca, estava muito enganado.
Helen Bennett não era alguém que desistia facilmente.
E, por mais que as palavras dele a tivessem ferido profundamente, ela se ergueria. Lutaria para mostrar a ele que o que ela sentia era verdadeiro.
O voo de volta para casa foi silencioso. Helen olhava pela janela do avião, observando as nuvens passarem lentamente, mas sua mente estava em outro lugar. Cada lembrança dos últimos dias a golpeava com força, mas ao invés de deixá-la desmoronar, fazia com que algo dentro dela se erguesse em desafio.O casamento, a lua de mel solitária, as noites passadas em um quarto vazio enquanto Ethan fingia que ela não existia… Eram feridas abertas, mas Helen não se permitia ser derrotada por elas. Não mais.Quando aterrissaram, Ethan se despediu com um simples “tenho uma reunião na empresa” antes de entrar em um carro e desaparecer na estrada sem sequer olhar para trás. Helen assistiu o carro partir e respirou fundo, a dor se misturando com uma determinação amarga. Se ele a ignorava, então que fosse. Mas ela não seria destruída por isso.O apartamento que a aguardava era sofisticado e elegante. Os tons neutros, os móveis de madeira escura e os detalhes em mármore transmitiam sofisticação, mas Hel
Os dias passaram lentamente, e a rotina de Helen se tornou um exercício constante de autossuperação. Ela não deixava que a indiferença de Ethan a quebrasse, pelo menos não publicamente. Seus sorrisos na empresa eram impecáveis, sua postura firme, seus olhos atentos a cada detalhe do trabalho que ela executava com perfeição.Tânia continuava sendo seu porto seguro. E foi em uma noite, enquanto trabalhavam até mais tarde que Helen, exausta, decidiu desabafar mais uma vez.— Eu estou cansada, Tânia. — Ela disse, largando a caneta sobre a mesa e apertando as têmporas. — Cansada de lutar contra algo que talvez nem exista.Tânia a observou com preocupação.— O que quer dizer com isso?— Eu me esforço tanto para ser notada por ele… para que ele veja quem eu sou, o quanto eu o amo. Mas parece que quanto mais eu tento, mais ele se afasta. É como tentar segurar água com as mãos.— Talvez seja porque você está tentando da maneira errada. — Tânia sugeriu, os olhos cheios de empatia. — Talvez você
Era para ser um almoço tranquilo. Helen e Tânia haviam decidido fazer uma pequena pausa para almoçar em um restaurante elegante próximo à empresa. Helen tentava se concentrar em si mesma, no prazer de um bom prato, na conversa divertida com a amiga. Era um esforço consciente para continuar seu plano de se reconstruir e fortalecer.— Então, você conseguiu lidar com aquele contrato que parecia impossível? — Tânia perguntou, empolgada.— Sim! E com folga. — Helen sorriu, com um sorriso genuíno e raro. — Eu sinto que estou me reencontrando, Tânia. De verdade.— É disso que eu gosto de ouvir! — Tânia disse, erguendo a taça de suco em comemoração. — Ao renascimento de Helen Carter!Elas brindaram e riram. Por um momento, Helen se permitiu acreditar que as coisas poderiam melhorar. Que talvez ela pudesse encontrar felicidade na vida que havia escolhido. Mas o destino não costumava ser tão gentil.— Ora, ora… O que temos aqui? — A voz veio como um chicote, carregada de arrogância e crueldade.
Humilhar: Implica sujeitar uma pessoa a algum tipo de humilhação e também acontece quando alguém se refere a outra com desdém ou a trata com desprezo.O trajeto até o prédio parecia um borrão. Helen mantinha o celular de Ethan seguro em sua bolsa, como se aquilo fosse uma bomba prestes a explodir. E, de certa forma, era. Cada passo que dava parecia mais pesado, como se a dor tivesse se tornado um peso físico que dificultava seus movimentos.Quando entrou no prédio, abaixou a cabeça e apressou o passo pelo corredor. Mas não foi rápido o suficiente para ignorar os burburinhos que surgiam à sua volta. Vozes sussurradas, olhares furtivos que ela sabia serem direcionados a ela.— Coitada… — Uma mulher murmurou em voz baixa para a outra. — Não merecia isso.Helen apertou o passo, o coração batendo tão forte que parecia ecoar em seus ouvidos. Passou pelo hall de entrada, onde o vigilante a cumprimentou com um sorriso terno, porém carregado de algo que ela reconheceu como pena. Isso fez com q
Culpa: É a responsabilidade por uma ação que ocasiona dano ou prejuízo a outra pessoa. Helen permanecia no escritório de Ethan, o ambiente sombrio refletindo a escuridão que havia se instalado em sua alma. Sua mente era um turbilhão de dor, raiva e um orgulho ferido que ela se recusava a ignorar. Enquanto caminhava de um lado para o outro, tentando conter a tempestade que se agitava dentro de si, o som da porta se abrindo a fez parar.Ethan entrou no escritório com a expressão dura e indiferente, seus olhos fixos no celular sobre a mesa. Sem nem olhar para Helen, pegou o aparelho e o segurou com firmeza.— Onde você encontrou isso? — Sua voz era fria, desinteressada, como se o próprio ar fosse feito de gelo.Helen soltou uma risada amarga.— Miranda me entregou. Ela fez questão de me devolver isso em um restaurante lotado, afirmando que você o esqueceu na casa dela. — As palavras eram pedras afiadas arremessadas sem piedade.Ethan finalmente levantou o olhar, com a expressão endureci
Mágoa: uma palavra pequena, mas com um enorme significado, que pode deixar uma marca profunda no seu coração!Ethan permaneceu ali sentado por meia hora, sem saber o que fazer, absorvendo as palavras ditas por sua esposa. O que podia fazer? Ele amava Miranda, iria deixar de se encontrar com ela onde quer que fosse só para manter as aparências? Fechou os olhos e respirou fundo, amaldiçoando os pais pelo o que eles fizeram consigo. Sempre amou os pais, mas nunca os perdoaria por isso. Levantou, passando pela sala, subindo as escadas e indo em direção ao quarto, mas quando passou pelo quarto de Helen, ouviu soluços abafados pelo travesseiro e pela porta fechada e sentiu o coração doer ao vê-la tão vulnerável. Por mais que nunca tivessem conversado muito, Ethan não podia deixar de reparar nela. Como era delicada e amorosa com todos ao seu redor, como sorria para todos, como era gentil, mesmo ele sendo estupido com ela. Encostou a cabeça contra a porta e por um momento pensou em bate
Ethan contou tudo: sobre a matéria na revista, o celular, as coisas que Helen havia falado, que ouviu ela chorar por quase a noite inteira e sobre a culpa silenciosa que pesava em seus ombros. Ao terminar, Liam comentou:— Cara, a sua situação é complicada. Você sempre amou a Miranda, mas está fazendo a sua esposa sofrer. Minha irmã é amiga dela e me contou que Helen é uma pessoa incrível que não merece isso.— Eu sei, Liam, mas… droga… Justo agora que a Miranda finalmente me deu uma chance… Helen não me ama, e eu também não a amo, como algo assim pode dar certo?Ethan passava a mão pelos cabelos, enquanto andava de um lado para outro no quarto, como se buscasse uma saída impossível. Liam suspirou fundo e lançou uma pergunta que faria Ethan estremecer:— Você tem certeza?— De quê?— De que a Miranda realmente ama você?— Que tipo de pergunta é essa, Liam? Tá de brincadeira comigo?— Só acho curioso que, assim que você anunciou o casamento, ela resolveu “dar uma chance” para vocês.—
“Reconhecer erros é o primeiro passo para a mudança.”O despertador tocou e sem demora, Ethan abriu os olhos e percebeu que havia adormecido na cama ainda de toalha. Sentiu o corpo todo dolorido, tinha dormido de mal jeito, nem lembrava em que momento da madrugada havia fechado os olhos. Se levantou e caminhou até o banheiro, tomou um banho gelado e retornou para o quarto indo em direção ao closet onde escolheu um terno e se trocou. Olhou para o relógio de pulso e viu que ainda eram seis e trinta da manhã, sabia que Helen costumava acordar mais tarde do que ele, pois ela apenas pegava na empresa às dez horas. Terminou de se arrumar e caminhou em direção a cozinha. Os dois haviam acordado que não teriam governanta, Helen havia pedido para deixar ela tomar conta da casa e Ethan não fez objeção.Foi até a geladeira a abrindo e pegou algumas coisas para preparar um café da manhã. Não tinha o hábito de comer pela manhã, tomava apenas um café forte e sem açúcar, mas ele sabia que Helen ap