O voo de volta para casa foi silencioso. Helen olhava pela janela do avião, observando as nuvens passarem lentamente, mas sua mente estava em outro lugar. Cada lembrança dos últimos dias a golpeava com força, mas ao invés de deixá-la desmoronar, fazia com que algo dentro dela se erguesse em desafio.
O casamento, a lua de mel solitária, as noites passadas em um quarto vazio enquanto Ethan fingia que ela não existia… Eram feridas abertas, mas Helen não se permitia ser derrotada por elas. Não mais.
Quando aterrissaram, Ethan se despediu com um simples “tenho uma reunião na empresa” antes de entrar em um carro e desaparecer na estrada sem sequer olhar para trás. Helen assistiu o carro partir e respirou fundo, a dor se misturando com uma determinação amarga. Se ele a ignorava, então que fosse. Mas ela não seria destruída por isso.
O apartamento que a aguardava era sofisticado e elegante. Os tons neutros, os móveis de madeira escura e os detalhes em mármore transmitiam sofisticação, mas Helen viu naquilo um esforço para impressionar, talvez para compensar o vazio que ela sentia ao seu redor. Amélia e Zoe eram as únicas pessoas que a tratavam com verdadeira gentileza. Mas era Ethan quem ela queria alcançar.
Helen se lembrou das palavras de Zoe:
— Quando meu irmão realmente conhecer você, ele vai se apaixonar.
Era isso que ela queria? Ser conhecida por ele? Amada por ele?
Os dias que se seguiram foram solitários e pesados. Ethan evitava sua presença como se ela fosse um peso que ele se recusava a carregar. Cada refeição preparada por ela e ignorada por ele era uma pequena derrota, mas Helen se recusava a desistir.
Até que uma noite, o golpe veio. Helen estava indo até a cozinha buscar um copo de água quando ouviu a voz de Ethan ao telefone.
— Você sabe que eu nunca vou amar outra mulher, Samantha. — A voz dele estava repleta de emoção. — Eu faria qualquer coisa para estar com você agora.
Helen congelou. A dor foi brutal, cortante, mas o que mais a atingiu foi o vazio que se seguiu. A certeza cruel de que talvez todo o seu esforço fosse em vão.
Trancada no quarto, ela chorou até não ter mais forças. Mas dessa vez, não foi um choro de desespero, e sim de uma dor que precisava ser purgada. E quando finalmente parou, sentiu a determinação queimando em seu peito como fogo.
✲ ✲ ✲
No dia seguinte, Helen desceu do carro com o coração pesado, mas o olhar decidido. Ela entrava na empresa com a postura impecável de sempre, mas agora algo havia mudado. Algo dentro dela estava mais forte.
Tânia, sua melhor amiga e secretária, segurava um maço de balões coloridos e sorria animada.
— Seja bem-vinda, senhora Carter!
O sorriso de Helen foi forçado e durou apenas um instante antes de se desmanchar.
— Helen? — Tânia perguntou, preocupada. — O que aconteceu?
Helen tentou responder, mas as palavras vieram junto com um soluço preso. As lágrimas que ela pensou ter esgotado na noite anterior voltaram com força total. Tânia não hesitou, puxou Helen para um abraço apertado e protetor.
— Conta pra mim, Helen. — Tânia disse com voz suave, mas firme. — Coloca tudo pra fora.
— Ele nunca vai me amar, Tânia. — Helen desabou. — Eu sei que esse casamento é uma mentira, eu aceitei isso. Mas eu ainda sonhei, ainda acreditei que… Que talvez ele pudesse me notar. Que talvez ele pudesse me ver.
Tânia apertou o abraço, como se quisesse protegê-la de toda aquela dor.
— Helen, você é maravilhosa. Qualquer homem que não enxergue isso é um completo idiota.
— Mas ele não me vê. — Helen sussurrou. — Eu faço de tudo, Tânia. Eu tento ser gentil, tento estar presente. Mas ele só pensa nela. Só fala com ela. É como se eu fosse um fantasma que ele mal tolera.
Tânia se afastou o suficiente para olhar nos olhos da amiga.
— Você já pensou que talvez ele seja o problema, e não você? Que ele está tão cego pela própria dor e egoísmo que não consegue perceber o que tem bem diante dele?
— E se ele nunca perceber? — Helen perguntou, a voz carregada de tristeza e dúvida. — E se eu passar três anos ao lado de um homem que nunca vai me querer?
— Então você vai sobreviver. — Tânia respondeu, sua voz carregada de convicção. — Porque você é forte, Helen. E mesmo que o coração dele nunca mude, isso não apaga quem você é. Você merece ser amada por inteiro, não apenas pela metade de alguém que não enxerga seu valor.
As palavras de Tânia ecoaram na mente de Helen enquanto ela enxugava as lágrimas. Pela primeira vez, a dúvida real surgiu em seu coração. Será que algum dia conseguiria alcançar o coração de Ethan? Será que todo o seu esforço teria algum resultado ou era apenas uma caminhada interminável rumo ao nada?
Mas, acima de tudo, Helen sabia que precisava continuar tentando. Não por ele, mas por si mesma. Para provar que não desistiria facilmente, que enfrentaria cada dia com a coragem que precisava ter.
E se, no final, tudo desmoronasse, ela sairia disso inteira. Porque, por mais que a dor fosse imensa, sua força era maior.
Os dias passaram lentamente, e a rotina de Helen se tornou um exercício constante de autossuperação. Ela não deixava que a indiferença de Ethan a quebrasse, pelo menos não publicamente. Seus sorrisos na empresa eram impecáveis, sua postura firme, seus olhos atentos a cada detalhe do trabalho que ela executava com perfeição.Tânia continuava sendo seu porto seguro. E foi em uma noite, enquanto trabalhavam até mais tarde que Helen, exausta, decidiu desabafar mais uma vez.— Eu estou cansada, Tânia. — Ela disse, largando a caneta sobre a mesa e apertando as têmporas. — Cansada de lutar contra algo que talvez nem exista.Tânia a observou com preocupação.— O que quer dizer com isso?— Eu me esforço tanto para ser notada por ele… para que ele veja quem eu sou, o quanto eu o amo. Mas parece que quanto mais eu tento, mais ele se afasta. É como tentar segurar água com as mãos.— Talvez seja porque você está tentando da maneira errada. — Tânia sugeriu, os olhos cheios de empatia. — Talvez você
Era para ser um almoço tranquilo. Helen e Tânia haviam decidido fazer uma pequena pausa para almoçar em um restaurante elegante próximo à empresa. Helen tentava se concentrar em si mesma, no prazer de um bom prato, na conversa divertida com a amiga. Era um esforço consciente para continuar seu plano de se reconstruir e fortalecer.— Então, você conseguiu lidar com aquele contrato que parecia impossível? — Tânia perguntou, empolgada.— Sim! E com folga. — Helen sorriu, com um sorriso genuíno e raro. — Eu sinto que estou me reencontrando, Tânia. De verdade.— É disso que eu gosto de ouvir! — Tânia disse, erguendo a taça de suco em comemoração. — Ao renascimento de Helen Carter!Elas brindaram e riram. Por um momento, Helen se permitiu acreditar que as coisas poderiam melhorar. Que talvez ela pudesse encontrar felicidade na vida que havia escolhido. Mas o destino não costumava ser tão gentil.— Ora, ora… O que temos aqui? — A voz veio como um chicote, carregada de arrogância e crueldade.
Humilhar: Implica sujeitar uma pessoa a algum tipo de humilhação e também acontece quando alguém se refere a outra com desdém ou a trata com desprezo.O trajeto até o prédio parecia um borrão. Helen mantinha o celular de Ethan seguro em sua bolsa, como se aquilo fosse uma bomba prestes a explodir. E, de certa forma, era. Cada passo que dava parecia mais pesado, como se a dor tivesse se tornado um peso físico que dificultava seus movimentos.Quando entrou no prédio, abaixou a cabeça e apressou o passo pelo corredor. Mas não foi rápido o suficiente para ignorar os burburinhos que surgiam à sua volta. Vozes sussurradas, olhares furtivos que ela sabia serem direcionados a ela.— Coitada… — Uma mulher murmurou em voz baixa para a outra. — Não merecia isso.Helen apertou o passo, o coração batendo tão forte que parecia ecoar em seus ouvidos. Passou pelo hall de entrada, onde o vigilante a cumprimentou com um sorriso terno, porém carregado de algo que ela reconheceu como pena. Isso fez com q
Culpa: É a responsabilidade por uma ação que ocasiona dano ou prejuízo a outra pessoa. Helen permanecia no escritório de Ethan, o ambiente sombrio refletindo a escuridão que havia se instalado em sua alma. Sua mente era um turbilhão de dor, raiva e um orgulho ferido que ela se recusava a ignorar. Enquanto caminhava de um lado para o outro, tentando conter a tempestade que se agitava dentro de si, o som da porta se abrindo a fez parar.Ethan entrou no escritório com a expressão dura e indiferente, seus olhos fixos no celular sobre a mesa. Sem nem olhar para Helen, pegou o aparelho e o segurou com firmeza.— Onde você encontrou isso? — Sua voz era fria, desinteressada, como se o próprio ar fosse feito de gelo.Helen soltou uma risada amarga.— Miranda me entregou. Ela fez questão de me devolver isso em um restaurante lotado, afirmando que você o esqueceu na casa dela. — As palavras eram pedras afiadas arremessadas sem piedade.Ethan finalmente levantou o olhar, com a expressão endureci
Mágoa: uma palavra pequena, mas com um enorme significado, que pode deixar uma marca profunda no seu coração!Ethan permaneceu ali sentado por meia hora, sem saber o que fazer, absorvendo as palavras ditas por sua esposa. O que podia fazer? Ele amava Miranda, iria deixar de se encontrar com ela onde quer que fosse só para manter as aparências? Fechou os olhos e respirou fundo, amaldiçoando os pais pelo o que eles fizeram consigo. Sempre amou os pais, mas nunca os perdoaria por isso. Levantou, passando pela sala, subindo as escadas e indo em direção ao quarto, mas quando passou pelo quarto de Helen, ouviu soluços abafados pelo travesseiro e pela porta fechada e sentiu o coração doer ao vê-la tão vulnerável. Por mais que nunca tivessem conversado muito, Ethan não podia deixar de reparar nela. Como era delicada e amorosa com todos ao seu redor, como sorria para todos, como era gentil, mesmo ele sendo estupido com ela. Encostou a cabeça contra a porta e por um momento pensou em bate
Ethan contou tudo: sobre a matéria na revista, o celular, as coisas que Helen havia falado, que ouviu ela chorar por quase a noite inteira e sobre a culpa silenciosa que pesava em seus ombros. Ao terminar, Liam comentou:— Cara, a sua situação é complicada. Você sempre amou a Miranda, mas está fazendo a sua esposa sofrer. Minha irmã é amiga dela e me contou que Helen é uma pessoa incrível que não merece isso.— Eu sei, Liam, mas… droga… Justo agora que a Miranda finalmente me deu uma chance… Helen não me ama, e eu também não a amo, como algo assim pode dar certo?Ethan passava a mão pelos cabelos, enquanto andava de um lado para outro no quarto, como se buscasse uma saída impossível. Liam suspirou fundo e lançou uma pergunta que faria Ethan estremecer:— Você tem certeza?— De quê?— De que a Miranda realmente ama você?— Que tipo de pergunta é essa, Liam? Tá de brincadeira comigo?— Só acho curioso que, assim que você anunciou o casamento, ela resolveu “dar uma chance” para vocês.—
“Reconhecer erros é o primeiro passo para a mudança.”O despertador tocou e sem demora, Ethan abriu os olhos e percebeu que havia adormecido na cama ainda de toalha. Sentiu o corpo todo dolorido, tinha dormido de mal jeito, nem lembrava em que momento da madrugada havia fechado os olhos. Se levantou e caminhou até o banheiro, tomou um banho gelado e retornou para o quarto indo em direção ao closet onde escolheu um terno e se trocou. Olhou para o relógio de pulso e viu que ainda eram seis e trinta da manhã, sabia que Helen costumava acordar mais tarde do que ele, pois ela apenas pegava na empresa às dez horas. Terminou de se arrumar e caminhou em direção a cozinha. Os dois haviam acordado que não teriam governanta, Helen havia pedido para deixar ela tomar conta da casa e Ethan não fez objeção.Foi até a geladeira a abrindo e pegou algumas coisas para preparar um café da manhã. Não tinha o hábito de comer pela manhã, tomava apenas um café forte e sem açúcar, mas ele sabia que Helen ap
Sonhar: Render-se à ilusão, à imaginação. Querer muito alguma coisaHelen desceu do carro ainda tentando processar o que ele havia dito. Como assim, esperar? Eles iriam entrar na empresa juntos? Isso nunca acontecia. Normalmente, Ethan estava sempre correndo para reuniões ou trancado em ligações importantes, e agora ele estava agindo como se nada mais importasse.Ela caminhou em direção ao hall de entrada, o salto ecoando pelo mármore brilhante enquanto os seguranças a cumprimentavam com familiaridade. Helen não precisava se identificar; todos ali já sabiam quem ela era, a talentosa designer que se casou com o poderoso Ethan Carter há seis meses. Uma condição que ela impôs no casamento foi continuar trabalhando no departamento de design, fazendo o que amava, e Ethan concordou sem pestanejar. Ao menos nisso, ele sempre a apoiou.Mas, naquele dia, o ambiente parecia carregado. Os olhares furtivos, os cochichos abafados que pareciam se multiplicar à medida que ela avançava pelo hall. Foi