O elevador desceu lentamente, cada segundo fazendo o peito de Helen apertar mais. Mas ela se recusava a demonstrar fragilidade. Sempre foi uma mulher determinada, forte, disposta a enfrentar qualquer coisa para alcançar seus objetivos. E agora, não seria diferente.
Helen repetia para si mesma: É só um contrato, só negócios. Mas, no fundo, aquilo era muito mais. Era sua chance de provar que Ethan estava errado. Que ela não era apenas uma mulher frágil apaixonada por ele. Que ela era muito mais do que a garota previsível que ele sempre viu.
O amor que sentia por Ethan era algo que ela havia aceitado muito tempo atrás. Uma chama persistente que não se apagava, mesmo diante da frieza dele. Mas Helen jamais imploraria por afeto. Ela não se humilharia por um homem, por mais que o amasse.
Quando as portas do elevador se abriram, ela inspirou fundo e caminhou com passos firmes até a sala de reuniões. Ethan já estava lá, sentado, com a expressão carrancuda, o olhar glacial e os ombros rígidos de tensão.
Seu pai e o pai de Ethan estavam presentes também, discutindo detalhes do acordo como se fossem meros números, ignorando completamente o impacto que aquilo teria em suas vidas.
— Não acredito que estão falando sério. — A voz de Ethan soou afiada como uma lâmina, seus olhos fixos em Helen com uma frieza que a fez estremecer.
Ela sustentou o olhar dele. Não ia se dobrar, não ia demonstrar fraqueza.
— É a única forma de garantir sua posição como CEO. — Richard Carter continuou.
Ethan soltou uma risada amarga.
— Casamento? É isso que vocês acham que vai salvar a empresa? Que tipo de ideia patética é essa?
— Uma ideia que funciona. — Donald Bennet disse com firmeza. — A família Langley está prestes a assumir um controle considerável da Carter Enterprises, a menos que possamos consolidar nossas ações. O casamento é a única maneira de garantir que o controle permaneça em nossas mãos.
Ethan apertou os punhos, os olhos faiscando de raiva.
— E eu devo aceitar isso? Um contrato ridículo que me amarra a… — ele lançou um olhar duro para Helen — … a ela?
Helen sentiu o impacto das palavras, mas não desviou o olhar. Não deixaria Ethan destruí-la tão facilmente.
— Eu sei que você me odeia, Ethan. — Sua voz era firme, sem o menor tremor. — E sei que pensa que estou fazendo isso por motivos egoístas. Mas você está errado.
— Ah, é mesmo? — Ele zombou, com aquele sorriso cruel que a fazia querer gritar. — Então me diga, Helen, por que aceitou isso? Por que se sujeitou a um casamento que nunca deveria acontecer?
Helen respirou fundo, mantendo a calma.
— Porque eu acredito que você merece ser o CEO da Carter Enterprises. Porque você trabalhou para isso, lutou por isso. E se essa é a única maneira de garantir que você consiga o que sempre quis, então estou disposta a aceitar.
Ethan pareceu surpreso, mas apenas por um segundo. Logo o olhar frio retornou.
— Você diz isso como se fosse algum tipo de mártir. Mas eu sei a verdade, Helen. Você quer isso. Quer ser minha esposa, quer fazer parte do meu mundo. Sempre quis, não é?
— E se eu quiser? — Helen desafiou, com o queixo erguido em orgulho. — Se isso for verdade, qual é o problema? O que te assusta tanto, Ethan? Ter alguém ao seu lado que realmente se importa com você?
O silêncio que se seguiu foi denso. Ethan parecia prestes a explodir. Mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ele apenas balançou a cabeça, como se estivesse cansado daquela discussão.
— Que seja. — Ele disse com a voz fria e indiferente. — Se isso é o que você quer, Helen, então terá. Mas saiba de uma coisa: não espero nada de você. E você não vai ter nada de mim além do meu nome.
Helen viu a raiva mascarar o medo nos olhos dele. O medo de confiar, de se deixar envolver por alguém que talvez pudesse destruí-lo. Mas ela não se deixaria intimidar. Se precisava provar para ele que estava errada, faria isso.
— Veremos. — Ela respondeu, sua voz era baixa, mas carregada de determinação.
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Mais tarde naquela noite, Helen estava sentada na beira da cama do seu quarto, os dedos apertando o celular com força. Havia ligado para ele inúmeras vezes, mas cada chamada caía na caixa postal. Ethan estava evitando falar com ela, e Helen sabia que ele a culpava por aquela situação.
Mas ela precisava explicar o motivo real por trás daquela escolha. Precisava que ele entendesse que, por mais que o amasse, aquilo não era sobre prendê-lo a si mesma. Era sobre ajudá-lo a realizar o seu sonho, mesmo que ela nunca fosse parte dele.
Determinada, Helen pegou suas chaves e saiu de casa, dirigindo até o bar que sabia que ele frequentava com Liam. Quando chegou lá, seu coração acelerou ao vê-lo sentado no balcão, a gravata frouxa, o cabelo loiro bagunçado e o olhar perdido em um copo de uísque.
Ela se aproximou, sentindo cada célula do seu corpo vibrar com a intensidade daquele momento.
— Ethan… — Sua voz saiu suave, mas cheia de urgência.
Ele levantou o olhar, o desprezo estampado em seu rosto.
— Ah, claro… Helen Bennet. A menina perfeita que conseguiu o que queria.
— Eu preciso que você me escute. — Ela implorou, mantendo a voz firme.
— Escutar o quê? Suas mentiras? Suas desculpas patéticas? — Ele cuspiu as palavras com raiva. — Você me prendeu, Helen. Me jogou em uma armadilha como se eu fosse um animal estúpido.
— Você realmente pensa tão mal de mim assim? — Ela perguntou, tentando segurar o choro.
— Eu penso que você é exatamente o que sempre imaginei. Patética e desesperada. — Ele se inclinou, seus olhos como lâminas. — Você quer um casamento? Muito bem, você terá. Mas será só o meu nome que você terá, entendeu? Nada além disso.
As palavras dele eram cruéis, mas Helen não se deixaria abater.
— Eu não preciso de mais nada, Ethan. Só preciso de uma chance para te provar que você está errado sobre mim. E você vai perceber isso, cedo ou tarde.
Sem esperar resposta, Helen saiu do bar com o coração despedaçado, mas com a determinação intacta. Ela não permitiria que ele a destruísse. Não permitiria que aquele contrato fosse só uma punição cruel.
Era mais do que isso. E ela iria provar isso a ele, mesmo que custasse tudo o que tinha.
A igreja estava impecável, um verdadeiro cenário de sonho. Lustres imponentes lançavam sua luz dourada sobre o altar, onde flores brancas decoravam cada canto, simbolizando pureza e renascimento. O som delicado dos violinos preenchia o ambiente, criando a atmosfera perfeita para um casamento digno de contos de fadas.Mas para Helen, aquilo era um teste. Um desafio que ela estava disposta a enfrentar. Não fugiria, não se lamentaria. Iria provar para Ethan que ele estava errado.Cada passo pelo tapete vermelho era dado com firmeza. Não era medo que a movia, era convicção. Convicção de que estava ali por escolha própria, de que amava Ethan e não se deixaria intimidar pela frieza dele.O braço firme do pai a conduzia em direção ao altar. Ela o segurava com força, não para se apoiar, mas para manter o controle absoluto sobre si mesma.E então, lá estava ele: Ethan Carter.Impecável. Inalcançável. Indiferente.O terno preto de corte perfeito moldava seu corpo com uma elegância quase cruel.
A ilha privada onde ficariam hospedados era um verdadeiro paraíso. A areia branca contrastava com o azul cristalino do mar e o sol brilhava intensamente sobre eles, como se o mundo conspirasse para que aquela lua de mel fosse perfeita.Mas o clima entre eles era frio como gelo.Quando chegaram à casa luxuosa reservada para a estadia, Helen observou o ambiente com interesse genuíno. Cada detalhe parecia cuidadosamente planejado para proporcionar conforto e elegância.— Escolha o quarto que preferir. — Ethan disse de forma indiferente, caminhando diretamente para o escritório.Helen sentiu o peito apertar. Se ele pensava que ela se afastaria, estava muito enganado.— Nós somos casados, Ethan. Acho que não precisamos de quartos separados.Ele parou, com os ombros tensos. Depois, virou-se para encará-la, com os olhos faiscando com irritação.— Não me provoque, Helen. Você pode ter o meu nome, mas nada além disso.— Eu não estou pedindo nada. Apenas que você pare de agir como se eu fosse s
O voo de volta para casa foi silencioso. Helen olhava pela janela do avião, observando as nuvens passarem lentamente, mas sua mente estava em outro lugar. Cada lembrança dos últimos dias a golpeava com força, mas ao invés de deixá-la desmoronar, fazia com que algo dentro dela se erguesse em desafio.O casamento, a lua de mel solitária, as noites passadas em um quarto vazio enquanto Ethan fingia que ela não existia… Eram feridas abertas, mas Helen não se permitia ser derrotada por elas. Não mais.Quando aterrissaram, Ethan se despediu com um simples “tenho uma reunião na empresa” antes de entrar em um carro e desaparecer na estrada sem sequer olhar para trás. Helen assistiu o carro partir e respirou fundo, a dor se misturando com uma determinação amarga. Se ele a ignorava, então que fosse. Mas ela não seria destruída por isso.O apartamento que a aguardava era sofisticado e elegante. Os tons neutros, os móveis de madeira escura e os detalhes em mármore transmitiam sofisticação, mas Hel
Os dias passaram lentamente, e a rotina de Helen se tornou um exercício constante de autossuperação. Ela não deixava que a indiferença de Ethan a quebrasse, pelo menos não publicamente. Seus sorrisos na empresa eram impecáveis, sua postura firme, seus olhos atentos a cada detalhe do trabalho que ela executava com perfeição.Tânia continuava sendo seu porto seguro. E foi em uma noite, enquanto trabalhavam até mais tarde que Helen, exausta, decidiu desabafar mais uma vez.— Eu estou cansada, Tânia. — Ela disse, largando a caneta sobre a mesa e apertando as têmporas. — Cansada de lutar contra algo que talvez nem exista.Tânia a observou com preocupação.— O que quer dizer com isso?— Eu me esforço tanto para ser notada por ele… para que ele veja quem eu sou, o quanto eu o amo. Mas parece que quanto mais eu tento, mais ele se afasta. É como tentar segurar água com as mãos.— Talvez seja porque você está tentando da maneira errada. — Tânia sugeriu, os olhos cheios de empatia. — Talvez você
Era para ser um almoço tranquilo. Helen e Tânia haviam decidido fazer uma pequena pausa para almoçar em um restaurante elegante próximo à empresa. Helen tentava se concentrar em si mesma, no prazer de um bom prato, na conversa divertida com a amiga. Era um esforço consciente para continuar seu plano de se reconstruir e fortalecer.— Então, você conseguiu lidar com aquele contrato que parecia impossível? — Tânia perguntou, empolgada.— Sim! E com folga. — Helen sorriu, com um sorriso genuíno e raro. — Eu sinto que estou me reencontrando, Tânia. De verdade.— É disso que eu gosto de ouvir! — Tânia disse, erguendo a taça de suco em comemoração. — Ao renascimento de Helen Carter!Elas brindaram e riram. Por um momento, Helen se permitiu acreditar que as coisas poderiam melhorar. Que talvez ela pudesse encontrar felicidade na vida que havia escolhido. Mas o destino não costumava ser tão gentil.— Ora, ora… O que temos aqui? — A voz veio como um chicote, carregada de arrogância e crueldade.
Humilhar: Implica sujeitar uma pessoa a algum tipo de humilhação e também acontece quando alguém se refere a outra com desdém ou a trata com desprezo.O trajeto até o prédio parecia um borrão. Helen mantinha o celular de Ethan seguro em sua bolsa, como se aquilo fosse uma bomba prestes a explodir. E, de certa forma, era. Cada passo que dava parecia mais pesado, como se a dor tivesse se tornado um peso físico que dificultava seus movimentos.Quando entrou no prédio, abaixou a cabeça e apressou o passo pelo corredor. Mas não foi rápido o suficiente para ignorar os burburinhos que surgiam à sua volta. Vozes sussurradas, olhares furtivos que ela sabia serem direcionados a ela.— Coitada… — Uma mulher murmurou em voz baixa para a outra. — Não merecia isso.Helen apertou o passo, o coração batendo tão forte que parecia ecoar em seus ouvidos. Passou pelo hall de entrada, onde o vigilante a cumprimentou com um sorriso terno, porém carregado de algo que ela reconheceu como pena. Isso fez com q
Culpa: É a responsabilidade por uma ação que ocasiona dano ou prejuízo a outra pessoa. Helen permanecia no escritório de Ethan, o ambiente sombrio refletindo a escuridão que havia se instalado em sua alma. Sua mente era um turbilhão de dor, raiva e um orgulho ferido que ela se recusava a ignorar. Enquanto caminhava de um lado para o outro, tentando conter a tempestade que se agitava dentro de si, o som da porta se abrindo a fez parar.Ethan entrou no escritório com a expressão dura e indiferente, seus olhos fixos no celular sobre a mesa. Sem nem olhar para Helen, pegou o aparelho e o segurou com firmeza.— Onde você encontrou isso? — Sua voz era fria, desinteressada, como se o próprio ar fosse feito de gelo.Helen soltou uma risada amarga.— Miranda me entregou. Ela fez questão de me devolver isso em um restaurante lotado, afirmando que você o esqueceu na casa dela. — As palavras eram pedras afiadas arremessadas sem piedade.Ethan finalmente levantou o olhar, com a expressão endureci
Mágoa: uma palavra pequena, mas com um enorme significado, que pode deixar uma marca profunda no seu coração!Ethan permaneceu ali sentado por meia hora, sem saber o que fazer, absorvendo as palavras ditas por sua esposa. O que podia fazer? Ele amava Miranda, iria deixar de se encontrar com ela onde quer que fosse só para manter as aparências? Fechou os olhos e respirou fundo, amaldiçoando os pais pelo o que eles fizeram consigo. Sempre amou os pais, mas nunca os perdoaria por isso. Levantou, passando pela sala, subindo as escadas e indo em direção ao quarto, mas quando passou pelo quarto de Helen, ouviu soluços abafados pelo travesseiro e pela porta fechada e sentiu o coração doer ao vê-la tão vulnerável. Por mais que nunca tivessem conversado muito, Ethan não podia deixar de reparar nela. Como era delicada e amorosa com todos ao seu redor, como sorria para todos, como era gentil, mesmo ele sendo estupido com ela. Encostou a cabeça contra a porta e por um momento pensou em bate