O telefone de Helen tocou logo pela manhã, interrompendo o silêncio tranquilo de seu apartamento. Sua voz suave atendeu o chamado, mas o tom firme e urgente de seu pai do outro lado da linha a deixou em alerta.
— Helen, preciso que venha à empresa agora. É urgente.
Ela conhecia bem aquela voz fria e autoritária, mas o que a diferenciava de todos os outros era sua capacidade de enfrentar o pai sem abaixar a cabeça. Sempre o fez com elegância e gentileza, porque essa era a sua essência: uma mulher doce, generosa, mas forte.
Vestiu-se com um conjunto elegante, mas simples, composto por uma blusa creme delicada e uma saia lápis que moldava seu corpo de maneira sutil. Os cabelos dourados e ondulados caíam livremente sobre os ombros, e os olhos azuis brilhavam com uma mistura de apreensão e determinação. Helen era a mulher que sempre sorria para os outros, sempre buscava o melhor nas pessoas, mesmo quando o mundo parecia desmoronar ao seu redor.
Enquanto caminhava para o prédio de vidro imponente onde seu pai trabalhava, sentiu o coração acelerar ao avistar um homem familiar de longe.
Ethan Carter.
Ele estava ali, próximo à entrada, conversando com Liam, o melhor amigo e cunhado dele. Ambos riam sobre algo, mas era o sorriso de Ethan que roubou toda a sua atenção.
O terno escuro perfeitamente ajustado ao corpo forte, a gravata bordô contrastando com a camisa branca imaculada. Seu cabelo loiro estava penteado de forma meticulosa, mas alguns fios caíam levemente sobre a testa, o que lhe conferia um ar charmoso e um pouco indomado.
Ethan sempre foi assim. Um homem capaz de controlar qualquer situação com sua presença avassaladora. As pessoas gravitavam ao seu redor naturalmente, fascinadas por aquele poder silencioso e cativante. Mas por mais que todos o admirassem, Helen via além disso. Ela conhecia o homem gentil que ele era, ou pelo menos, quem ela acreditava que ele poderia ser.
Seu coração se apertou ao vê-lo sorrir. Era um sorriso raro, verdadeiro, que ela sempre desejou provocar. Ethan era o homem que Helen sempre amou, mesmo sabendo que para ele, ela nunca passou de uma sombra invisível.
Perdida em seus pensamentos, Helen parou por um instante, permitindo-se apenas observá-lo. Ele era lindo, claro, mas não era só isso. Havia algo mais. Uma intensidade oculta, uma ferida profunda que ele escondia sob aquela fachada fria e inatingível.
Ela o amava, mesmo sem nunca ter sido correspondida. Mesmo sem esperança. Porque Helen Bennet era assim, uma mulher capaz de amar sem esperar nada em troca. Uma mulher capaz de perdoar, de oferecer ternura em um mundo cruel.
De repente, o olhar de Liam se encontrou com o dela. Seus olhos a analisaram por um breve momento antes de acenar com um sorriso amigável. O desespero a atingiu em cheio e, como um reflexo rápido, desviou o olhar e apressou o passo, entrando apressadamente no prédio.
Dentro do elevador, encostou-se contra a parede, tentando controlar a respiração acelerada.
— Meu Deus… ele não me viu. — Murmurou para si mesma, aliviada e decepcionada ao mesmo tempo.
Helen odiava o quanto ficava vulnerável perto dele. Odiava o fato de que, mesmo depois de tantos anos, ele ainda fazia seu coração bater descompassado. Mas acima de tudo, odiava saber que esse sentimento nunca foi, e provavelmente nunca seria, recíproco.
O elevador chegou ao andar desejado e ela respirou fundo, ajustando a postura e acalmando os próprios pensamentos. Quando caminhou até a sala de seu pai, foi recebida por Cristina, a secretária, que a cumprimentou com um sorriso gentil.
— Senhorita Bennet, como vai?
— Estou bem, Cristina. Muito obrigada. Meu pai está sozinho?
— Não mais. Ele já está lhe aguardando. Pode entrar.
Helen agradeceu e respirou fundo antes de girar a maçaneta da porta. Ao entrar, seu sorriso suave desmoronou ao ver quem estava sentado ao lado de seu pai.
— Bom dia, papai. Bom dia, senhor Carter.
Richard Carter, pai de Ethan, a encarava com o mesmo olhar duro e calculista de sempre.
— Bom dia, minha filha. — Seu pai sorriu. — Sente-se, querida. Temos algo importante para discutir.
Helen obedeceu, mas seu corpo inteiro estava tenso.
— Helen — seu pai começou, com uma voz cuidadosa, como se preparasse um discurso ensaiado. — Você sabe que as empresas Carter e Bennet possuem uma aliança comercial de longa data. Mas, neste momento, estamos em um ponto crucial para o futuro dessa parceria.
Ela franziu a testa.
— O que quer dizer com isso?
Richard Carter se inclinou levemente para frente.
— Ethan precisa se tornar o presidente da Carter Enterprises. Para que isso aconteça, a família precisa do controle absoluto das ações, garantindo a estabilidade da empresa.
Helen sentiu o estômago revirar.
— E o que isso tem a ver comigo?
— Precisamos consolidar essa aliança de uma maneira mais eficaz. — Seu pai disse com um tom pesaroso. — A única maneira de garantir essa estabilidade é através de um casamento.
O ar pareceu sumir dos seus pulmões.
— Um casamento? — Ela mal conseguia acreditar no que estava ouvindo.
— Sim. — Richard confirmou com frieza. — Um contrato matrimonial de três anos. Isso garantirá a segurança da empresa e dará a Ethan o poder necessário para se tornar o CEO.
Helen sentiu o coração se apertar. Ethan jamais a perdoaria por isso. Ele odiaria essa imposição. Mas por outro lado… ela poderia finalmente estar ao lado dele.
— E Ethan… ele concordou? — Sua voz era quase um sussurro.
Richard Carter esboçou um sorriso cruel.
— Ele não terá escolha.
Helen baixou os olhos. Sua mente lutava entre a razão e o desejo desesperado que sentia por aquele homem. Ethan poderia odiá-la, mas ela estava disposta a arriscar.
— Eu aceito. — Disse finalmente. — Se isso vai ajudá-lo a conseguir o que sempre sonhou, eu aceito.
Mas, no fundo, Helen sabia que sua decisão não tinha nada a ver com contratos. Era sobre o homem que ela amava. E a esperança tola de que ele, um dia, pudesse amá-la também.
O elevador desceu lentamente, cada segundo fazendo o peito de Helen apertar mais. Mas ela se recusava a demonstrar fragilidade. Sempre foi uma mulher determinada, forte, disposta a enfrentar qualquer coisa para alcançar seus objetivos. E agora, não seria diferente.Helen repetia para si mesma: É só um contrato, só negócios. Mas, no fundo, aquilo era muito mais. Era sua chance de provar que Ethan estava errado. Que ela não era apenas uma mulher frágil apaixonada por ele. Que ela era muito mais do que a garota previsível que ele sempre viu.O amor que sentia por Ethan era algo que ela havia aceitado muito tempo atrás. Uma chama persistente que não se apagava, mesmo diante da frieza dele. Mas Helen jamais imploraria por afeto. Ela não se humilharia por um homem, por mais que o amasse.Quando as portas do elevador se abriram, ela inspirou fundo e caminhou com passos firmes até a sala de reuniões. Ethan já estava lá, sentado, com a expressão carrancuda, o olhar glacial e os ombros rígidos
A igreja estava impecável, um verdadeiro cenário de sonho. Lustres imponentes lançavam sua luz dourada sobre o altar, onde flores brancas decoravam cada canto, simbolizando pureza e renascimento. O som delicado dos violinos preenchia o ambiente, criando a atmosfera perfeita para um casamento digno de contos de fadas.Mas para Helen, aquilo era um teste. Um desafio que ela estava disposta a enfrentar. Não fugiria, não se lamentaria. Iria provar para Ethan que ele estava errado.Cada passo pelo tapete vermelho era dado com firmeza. Não era medo que a movia, era convicção. Convicção de que estava ali por escolha própria, de que amava Ethan e não se deixaria intimidar pela frieza dele.O braço firme do pai a conduzia em direção ao altar. Ela o segurava com força, não para se apoiar, mas para manter o controle absoluto sobre si mesma.E então, lá estava ele: Ethan Carter.Impecável. Inalcançável. Indiferente.O terno preto de corte perfeito moldava seu corpo com uma elegância quase cruel.
A ilha privada onde ficariam hospedados era um verdadeiro paraíso. A areia branca contrastava com o azul cristalino do mar e o sol brilhava intensamente sobre eles, como se o mundo conspirasse para que aquela lua de mel fosse perfeita.Mas o clima entre eles era frio como gelo.Quando chegaram à casa luxuosa reservada para a estadia, Helen observou o ambiente com interesse genuíno. Cada detalhe parecia cuidadosamente planejado para proporcionar conforto e elegância.— Escolha o quarto que preferir. — Ethan disse de forma indiferente, caminhando diretamente para o escritório.Helen sentiu o peito apertar. Se ele pensava que ela se afastaria, estava muito enganado.— Nós somos casados, Ethan. Acho que não precisamos de quartos separados.Ele parou, com os ombros tensos. Depois, virou-se para encará-la, com os olhos faiscando com irritação.— Não me provoque, Helen. Você pode ter o meu nome, mas nada além disso.— Eu não estou pedindo nada. Apenas que você pare de agir como se eu fosse s
O voo de volta para casa foi silencioso. Helen olhava pela janela do avião, observando as nuvens passarem lentamente, mas sua mente estava em outro lugar. Cada lembrança dos últimos dias a golpeava com força, mas ao invés de deixá-la desmoronar, fazia com que algo dentro dela se erguesse em desafio.O casamento, a lua de mel solitária, as noites passadas em um quarto vazio enquanto Ethan fingia que ela não existia… Eram feridas abertas, mas Helen não se permitia ser derrotada por elas. Não mais.Quando aterrissaram, Ethan se despediu com um simples “tenho uma reunião na empresa” antes de entrar em um carro e desaparecer na estrada sem sequer olhar para trás. Helen assistiu o carro partir e respirou fundo, a dor se misturando com uma determinação amarga. Se ele a ignorava, então que fosse. Mas ela não seria destruída por isso.O apartamento que a aguardava era sofisticado e elegante. Os tons neutros, os móveis de madeira escura e os detalhes em mármore transmitiam sofisticação, mas Hel
Os dias passaram lentamente, e a rotina de Helen se tornou um exercício constante de autossuperação. Ela não deixava que a indiferença de Ethan a quebrasse, pelo menos não publicamente. Seus sorrisos na empresa eram impecáveis, sua postura firme, seus olhos atentos a cada detalhe do trabalho que ela executava com perfeição.Tânia continuava sendo seu porto seguro. E foi em uma noite, enquanto trabalhavam até mais tarde que Helen, exausta, decidiu desabafar mais uma vez.— Eu estou cansada, Tânia. — Ela disse, largando a caneta sobre a mesa e apertando as têmporas. — Cansada de lutar contra algo que talvez nem exista.Tânia a observou com preocupação.— O que quer dizer com isso?— Eu me esforço tanto para ser notada por ele… para que ele veja quem eu sou, o quanto eu o amo. Mas parece que quanto mais eu tento, mais ele se afasta. É como tentar segurar água com as mãos.— Talvez seja porque você está tentando da maneira errada. — Tânia sugeriu, os olhos cheios de empatia. — Talvez você
Era para ser um almoço tranquilo. Helen e Tânia haviam decidido fazer uma pequena pausa para almoçar em um restaurante elegante próximo à empresa. Helen tentava se concentrar em si mesma, no prazer de um bom prato, na conversa divertida com a amiga. Era um esforço consciente para continuar seu plano de se reconstruir e fortalecer.— Então, você conseguiu lidar com aquele contrato que parecia impossível? — Tânia perguntou, empolgada.— Sim! E com folga. — Helen sorriu, com um sorriso genuíno e raro. — Eu sinto que estou me reencontrando, Tânia. De verdade.— É disso que eu gosto de ouvir! — Tânia disse, erguendo a taça de suco em comemoração. — Ao renascimento de Helen Carter!Elas brindaram e riram. Por um momento, Helen se permitiu acreditar que as coisas poderiam melhorar. Que talvez ela pudesse encontrar felicidade na vida que havia escolhido. Mas o destino não costumava ser tão gentil.— Ora, ora… O que temos aqui? — A voz veio como um chicote, carregada de arrogância e crueldade.
Humilhar: Implica sujeitar uma pessoa a algum tipo de humilhação e também acontece quando alguém se refere a outra com desdém ou a trata com desprezo.O trajeto até o prédio parecia um borrão. Helen mantinha o celular de Ethan seguro em sua bolsa, como se aquilo fosse uma bomba prestes a explodir. E, de certa forma, era. Cada passo que dava parecia mais pesado, como se a dor tivesse se tornado um peso físico que dificultava seus movimentos.Quando entrou no prédio, abaixou a cabeça e apressou o passo pelo corredor. Mas não foi rápido o suficiente para ignorar os burburinhos que surgiam à sua volta. Vozes sussurradas, olhares furtivos que ela sabia serem direcionados a ela.— Coitada… — Uma mulher murmurou em voz baixa para a outra. — Não merecia isso.Helen apertou o passo, o coração batendo tão forte que parecia ecoar em seus ouvidos. Passou pelo hall de entrada, onde o vigilante a cumprimentou com um sorriso terno, porém carregado de algo que ela reconheceu como pena. Isso fez com q
Culpa: É a responsabilidade por uma ação que ocasiona dano ou prejuízo a outra pessoa. Helen permanecia no escritório de Ethan, o ambiente sombrio refletindo a escuridão que havia se instalado em sua alma. Sua mente era um turbilhão de dor, raiva e um orgulho ferido que ela se recusava a ignorar. Enquanto caminhava de um lado para o outro, tentando conter a tempestade que se agitava dentro de si, o som da porta se abrindo a fez parar.Ethan entrou no escritório com a expressão dura e indiferente, seus olhos fixos no celular sobre a mesa. Sem nem olhar para Helen, pegou o aparelho e o segurou com firmeza.— Onde você encontrou isso? — Sua voz era fria, desinteressada, como se o próprio ar fosse feito de gelo.Helen soltou uma risada amarga.— Miranda me entregou. Ela fez questão de me devolver isso em um restaurante lotado, afirmando que você o esqueceu na casa dela. — As palavras eram pedras afiadas arremessadas sem piedade.Ethan finalmente levantou o olhar, com a expressão endureci