— Ontem ele foi parar na sala de emergência, e você tem a coragem de me dizer que o estado dele está controlado? — Lúcia retrucou com um sorriso frio nos lábios, encostando-se na cadeira enquanto estreitava os olhos para o Dr. Bruno.O Dr. Bruno ficou sem palavras, claramente desconcertado com a resposta dela.Lúcia deslizou os dedos pelo queixo, pensativa, antes de continuar com a voz afiada:— Dr. Bruno, mesmo que você não queira me dizer a verdade sobre o estado dele, eu consigo descobrir sozinha, se for o caso. Essa sua clínica pertence ao Grupo Baptista, e quem está no comando do Grupo Baptista agora sou eu, não o Sílvio. Então, pense bem: a quem você deveria ser leal?As palavras dela cortaram o ar, deixando o Dr. Bruno mudo. Ele sabia que Lúcia tinha razão. Sílvio não estava mais no poder, e ele dependia de Lúcia para manter sua posição.— Não me faça repetir. Quero o prontuário dele agora. — A voz de Lúcia endureceu, transformando-se em uma ordem.Dr. Bruno hesitou por um insta
— Você chorava, gritava, recusava-se a fazer o tratamento e só pensava em morrer. O Sr. Sílvio realmente não sabia mais o que fazer com você. Ele não queria que você morresse, então aceitou minha sugestão e aplicou em você a injeção de amnésia. Se ele tivesse outra maneira de fazer você esquecer a dor e aceitar o tratamento, jamais teria tomado essa decisão. Mas a verdade, Srta. Lúcia, é que o estado de saúde do Sr. Sílvio chegou a esse ponto, em parte, por sua causa. A senhora precisava de um fígado, e o único compatível era o dele. Sílvio, depois de anos trabalhando incansavelmente pelo Grupo Baptista, já estava com a saúde completamente debilitada. Doar uma parte do fígado para você era praticamente suicídio para alguém com o histórico dele.Dr. Bruno fez uma pausa rápida e continuou:— Aquela cirurgia... Eu nunca vou esquecer. Sílvio quase não saiu vivo da mesa de operação. Mesmo assim, ele assumiu o risco para salvar você. Ele sobreviveu, mas passou semanas na UTI. Durante esse te
— Srta. Lúcia, o resultado do teste de compatibilidade saiu. Assim como a senhora imaginava, foi um sucesso. — Disse Dr. Bruno.Lúcia segurou o celular com firmeza, enquanto a voz do outro lado da linha parecia aliviar, pouco a pouco, a tensão que ela carregava. Não era apego ao passado, ela pensava, mas sim a vontade de não carregar a culpa de uma dívida de vida. Ele havia doado parte do fígado para ela, e agora ela retribuiria doando a medula. Depois disso, estariam quites, sem nada que os ligasse.Na manhã seguinte, Lúcia adiou uma reunião importante e foi ao hospital para realizar a doação de medula. Antes de sair, deu instruções claras ao Dr. Bruno:— Faça o máximo para salvar o Sílvio. Os custos Dr. Brunos podem ser debitados na conta do Grupo Baptista.Dr. Bruno assentiu:— E se ele perguntar quem é o doador?— Diga que a pessoa pediu anonimato.Lúcia não queria mais nenhum tipo de vínculo com Sílvio. Já estava cansada daquela relação desgastante e dos vai-e-voltas intermináveis
Sílvio já não tinha mais coragem de continuar vivendo. Dever tanto a Lúcia, ser o responsável indireto pela morte da família dela... Por causa dele, ela se tornou órfã. A família Baptista foi destruída por sua causa.Agora que Lúcia havia recuperado a memória, o ódio que ela sentia por ele era profundo, quase palpável. Mesmo que ele sobrevivesse, o que isso mudaria? Lúcia já estava perdida para ele, para sempre.O destino tem um jeito cruel de brincar com as pessoas. A medula compatível, que nunca havia aparecido antes, surgiu justamente agora, quando ele já havia resolvido tudo, afastado Lúcia de vez e desistido de tudo. Sem Lúcia, a vida não fazia mais sentido.Mesmo que a cirurgia fosse um sucesso, mesmo que ele sobrevivesse, ele seria obrigado a assistir Lúcia e Basílio juntos? Vê-la casar, ter filhos, construir uma vida com outro homem? Sílvio não era tão magnânimo. Não conseguiria suportar isso. Se ele estivesse vivo, inevitavelmente tentaria reconquistá-la.Depois de muito ref
Bruno começou a entender por que Sílvio não queria fazer a cirurgia. Ele olhou para o homem na cadeira de rodas com certa cautela:— Sr. Sílvio, o senhor não tem curiosidade em saber quem é a pessoa que vai doar a medula para você?— Não quero saber. — Sílvio respondeu com frieza, sem levantar os olhos.Bruno havia prometido a Lúcia que manteria segredo. Mas, diante da situação, percebeu que não tinha escolha. Precisava contar a verdade:— É a senhora sua esposa.Assim que ouviu aquelas palavras, tanto Sílvio quanto Leopoldo ergueram os rostos, surpresos, encarando Bruno.— Ontem à noite, depois de visitar o senhor, a Sra. Lúcia veio até meu consultório para verificar seu prontuário médico. — Bruno explicou, com um suspiro. — Ela fez o teste de compatibilidade e me pediu que mantivesse tudo em segredo. Por isso não contei antes.Os olhos de Leopoldo brilharam, cheios de esperança. Ele virou-se novamente para Sílvio:— Sr. Sílvio, ouviu isso? Foi a senhora quem decidiu doar a medula par
Percebendo que Sílvio observava a barraca com atenção, a dona, rápida, virou-se para ele e começou a oferecer seus produtos:— Senhor, que tal levar um dos meus crucifixos da sorte? São todos feitos à mão!— Eles realmente trazem sorte? — Sílvio perguntou, olhando para os crucifixos pendurados. Um a um, eles balançavam suavemente ao vento, com pequenos crucifixos pendendo de suas extremidades.Leopoldo, ao lado, respondeu:— Nosso senhor vai passar por uma cirurgia hoje à noite.— Então é ainda mais importante levar um crucifixo da sorte! — Disse a mulher, com um sorriso confiante. — Ele traz proteção e realiza o que o coração deseja. "É só acreditar."Sílvio lançou um olhar para Leopoldo, que rapidamente entendeu o recado e pagou por um crucifixo. Não importava se funcionava ou não, era um gesto simbólico. Um bom presságio.Enquanto isso, a menina que fazia sua lição de casa ao lado da dona da barraca aproximou-se timidamente de Sílvio. Inclinando a cabeça, perguntou com cuidado:— Ti
Na rua, as luzes de néon piscavam incessantemente, refletindo nos vidros das janelas e criando um brilho vibrante na noite.Lúcia e Basílio saíram do restaurante após o jantar. Sempre cavalheiro, Basílio segurou a porta de vidro para ela passar.Ela sorriu delicadamente, agradeceu e, com um leve toque de salto alto, desceu os degraus.— Vou te acompanhar até em casa. Vamos andando, é bom para espairecer. — Basílio carregava o paletó dobrado no braço, com o olhar firme e postura impecável. Um verdadeiro exemplo de elegância e profissionalismo.Enquanto falava, seus olhos ligeiramente estreitos e expressivos arquearam-se em um sorriso discreto.Lúcia estava prestes a recusar, mas Basílio, com um sorriso ainda mais marcado, continuou:— Além disso, quero aproveitar para conversar sobre os novos projetos do Grupo Baptista com a senhorita. Ou vai continuar me recusando?A brisa noturna soprou suavemente, tocando o rosto de Lúcia e levantando sutilmente a barra de sua saia.Basílio caminhava
Basílio curvou levemente os lábios, deixando escapar um sorriso involuntário. "Então quer dizer que talvez eu tenha uma chance?"— A senhorita é do tipo que gosta de nostalgia? Prefere comer as mesmas comidas, usar as mesmas coisas, sem vontade de experimentar o novo? — Perguntou Basílio.— Sim. — Lúcia assentiu com um movimento simples.— Então, meu conselho é: experimente coisas novas. Seja comida, seja... sentimentos. Quanto mais você vê, quanto mais experimenta, mais entende o que realmente importa. Só assim você descobre o que verdadeiramente precisa. É como gostar de bolo. Você pode jurar que ama bolo, até que um dia, sem querer, prova um pudim… e talvez se surpreenda.Lúcia não respondeu. Era impossível não entender as intenções nas entrelinhas das palavras dele.— Na minha opinião, Srta. Lúcia, o que você sente pelo Sílvio talvez seja apenas... hábito.— Hábito? — Lúcia virou o rosto em sua direção, com os olhos levemente curiosos.Basílio sorriu de novo, com aquele ar despreoc