Lúcia estava escorada na beira do sofá, segurando uma garrafa de vinho vazia. Sem um pingo de compostura, soltou um arroto alcoólico. Os olhos se abriam e fechavam pesadamente, a mente enevoada, a cabeça baixa. Na verdade, não prestava atenção em nada do que ouvia, mas mesmo assim fazia questão de responder com entusiasmo fingido:— E depois?Na cabeça de Lúcia, só havia memórias de Sílvio. Boas, ruins, momentos felizes e, claro, outros de tristeza.Sentada ali, a mente já tinha viajado para um passado distante.Basílio, ao ouvir a pergunta dela, não conseguiu evitar a ponta de alegria que brotou em seu peito. Achou que ela estava mesmo interessada na sua história. Seus lábios se curvaram em um leve sorriso, e ele continuou contando, com aquela calma quase hipnotizante. Revelou como, por ser um filho bastardo, jamais teve coragem de se aproximar dela. Mas, para ficar perto de Lúcia, ele foi atrás dela, seguindo seus passos por onde pudesse.Escola. Faculdade.Basílio viu com seus própr
— Depois, nós nos reencontramos. Você estava encurralada por um bando de repórteres na neve, e eu fui o responsável por afastá-los. Mais tarde, você foi ao Bairro das Árvores e acabou sendo atropelada pela Olga. Eu investiguei esse caso. Foi aí que eu descobri que você não estava feliz. Por isso, voltei para a família Araújo. Voltei para assumir a presidência do Grupo Araújo, não porque eu quisesse dinheiro ou poder. Na verdade, eu desprezo essa família e essa vida. Mas eu queria ser o seu apoio. Eu sabia que o Sílvio era poderoso, e, se eu fosse apenas um policial qualquer, não teria como proteger você. Então, sem dizer nada, pedi demissão. De repente, me tornei o novo presidente do Grupo Araújo, o futuro líder da família Araújo.Basílio falou com um misto de emoções em sua voz. Fez uma pausa, respirou fundo e continuou:— Eu não podia me declarar antes porque sabia que o seu coração estava com outra pessoa. Eu temia que isso a colocasse em uma posição difícil. Mas agora o Sílvio já s
Uma corrente elétrica, como se atravessasse seu pulso, percorreu o corpo inteiro de Basílio. Era uma sensação de formigamento. Seu corpo, normalmente ereto e firme, ficou imediatamente rígido. Ele achou que tinha visto errado e abaixou as pálpebras, mas os dedos finos e delicados, de pele clara, apertavam com força seu pulso.— Não vá... não vá...A voz baixa e entrecortada de Lúcia soou atrás dele, acompanhada de soluços.Basílio mal podia acreditar. Lúcia, de repente, segurava seu pulso e pedia para ele não ir embora. Ele virou o rosto, e quem mais poderia ser senão ela? Era Lúcia. Ainda com os olhos fechados, murmurando palavras desconexas. Seu rosto estava pálido, quase translúcido, e os cabelos negros espalhados como um véu sobre o travesseiro.O coração de Basílio apertou de repente. Será que ela tinha ouvido sua confissão? Talvez estivesse considerando tudo o que ele acabara de dizer. Afinal, ele havia falado por tanto tempo... como ela não teria escutado?Ele pensou que, por fi
Sílvio estava sentado no banco traseiro do carro. Vestia o mesmo terno preto de sempre, recostado no assento com uma postura relaxada, mas seu olhar estava fixo na lua fria e solitária que brilhava no céu. A janela estava parcialmente aberta, e o vento gelado entrava suavemente.A neve havia finalmente parado. Era raro ver a lua depois de uma tempestade assim. A luz prateada caía sobre o chão coberto pela neve que ainda não havia derretido, iluminando tudo com um brilho suave e quase etéreo.— O que você acha que a Lúcia está fazendo agora? — Perguntou Sílvio de repente, ainda olhando para a lua. A pergunta, no entanto, era dirigida a Leopoldo.Leopoldo, que segurava o volante com força, sentiu o corpo enrijecer. Como ele poderia saber o que Lúcia estava fazendo naquele momento? Mesmo assim, preferiu não contrariar o chefe e respondeu com cautela:— Acredito que a Sra. Lúcia esteja pensando no Sr. Sílvio.— Hoje eu disse coisas muito duras para ela. Você acha que ela ainda pensa em mim
Giovana pensava em como ficaria vestida de noiva, imaginando o momento em que Sílvio finalmente a pediria em casamento. Seus lábios curvaram-se em um sorriso involuntário. Antes, seu único objetivo era colocar as mãos na fortuna de Sílvio, mas agora ela estava completamente apaixonada por ele.Ela enxugou as lágrimas que escorriam pelo rosto e foi até o closet, onde escolheu uma saia de couro preta. Após terminar uma maquiagem impecável, calçou sapatos de salto alto na mesma tonalidade. Antes de sair, pegou uma adaga novinha e a guardou cuidadosamente dentro de sua bolsa preta. Deixando o hotel, chamou um táxi e deu o endereço de uma fábrica abandonada.Dentro de um carro estacionado não muito longe dali, Sílvio perguntou a Leopoldo:— Está tudo pronto?— Como você ordenou. Nossos homens já estão posicionados na fábrica abandonada. Assim que Giovana terminar o serviço, eles a capturam no ato. Instalamos câmeras no local com antecedência. Desta vez, ela não terá como escapar nem inventa
Ao olhar para a expressão arrogante e mandona de Arthur, Giovana sentiu o estômago revirar. Era repulsivo, nojento. Apertou com força a alça da bolsa que segurava e permaneceu imóvel, encarando-o com um olhar de desprezo.— Tá esperando o quê, sua idiota? Vem logo me soltar! Ou quer que eu acabe com você? — Arthur, vendo que ela não se movia, explodiu de raiva.Giovana caminhou até ele sem demonstrar qualquer emoção. Quando chegou perto, desferiu um tapa estrondoso em seu rosto:— Vai acabar com quem, hein? Arthur, é melhor você entender a situação. Agora, quem está no controle sou eu, e não você.— Você tá maluca? Como é que você tem coragem de me bater? — Arthur gritou, com o rosto já inchado como o de um porco abatido. O tapa abriu ainda mais as feridas, e sangue começou a escorrer de uma delas.Giovana inclinou-se para mais perto, os lábios curvados em um sorriso divertido, quase cruel, enquanto observava o estado deplorável dele.— Por que você não tenta me pedir desculpas? Quem s
O sangue escorria em gotas pesadas pelo cabo da adaga, caindo no chão com um som abafado. Arthur sentiu uma dor aguda e ofegou. Ele olhou para Giovana, aquela tola apaixonada, lutando para conter a raiva e a dor que borbulhavam em seu interior. Com o rosto pálido, esforçou-se para falar num tom calmo, quase suplicante:— Giovana, me escuta. Nosso inimigo agora é o Sílvio. Este não é o momento para brigas internas, está entendendo? Você não percebe que ele está te manipulando? Ele criou essa armadilha, e você caiu direitinho. Não pensou que é exatamente isso que ele quer? Que a gente se destrua antes mesmo de chegar nele? Me solta. Eu prometo que esqueço tudo isso. Nós nos unimos contra o Sílvio, acabamos com ele, e depois não teremos mais ninguém nos perseguindo. Você não quer ter uma vida boa? Não quer virar o jogo? Não sonha em ser uma mulher rica e respeitada? Eu posso te dar isso! Eu sou muito mais confiável do que ele.A dor no braço o fez apertar os olhos por um instante. Ele res
Quem gostaria de um "amor" assim? Era doentio. Sufocante.— Acha que meu amor é nojento? Giovana, você só merece alguém como eu para gostar de você. Acha mesmo que o Sílvio iria querer uma mulher venenosa como você? — Arthur viu o olhar de desprezo dela e sentiu o coração se partir em mil pedaços.O olhar frio de Giovana, seu colapso emocional, eram muito mais dolorosos do que as facadas que ela lhe dava. Aquilo o devastava por dentro.Arthur suava frio. O sangue escorria junto com o suor, traçando linhas rubras no rosto pálido. Seus óculos estavam manchados de vermelho, quase opacos pela sujeira. Ele cerrou os dentes, insistindo em um último alerta:— Eu sei que não sou páreo para o Sílvio. Mas vou te dizer uma coisa, Giovana: pense com clareza. Se você me matar, vai morrer ainda mais rápido. Você acha que consegue lidar com o Sílvio sozinha? Você é ingênua demais. Acredita mesmo que, assim que eu morrer, ele não vai virar contra você? Seus sonhos acabam aqui. Só eu posso te ajudar. S