Sílvio estava sentado no banco traseiro do carro. Vestia o mesmo terno preto de sempre, recostado no assento com uma postura relaxada, mas seu olhar estava fixo na lua fria e solitária que brilhava no céu. A janela estava parcialmente aberta, e o vento gelado entrava suavemente.A neve havia finalmente parado. Era raro ver a lua depois de uma tempestade assim. A luz prateada caía sobre o chão coberto pela neve que ainda não havia derretido, iluminando tudo com um brilho suave e quase etéreo.— O que você acha que a Lúcia está fazendo agora? — Perguntou Sílvio de repente, ainda olhando para a lua. A pergunta, no entanto, era dirigida a Leopoldo.Leopoldo, que segurava o volante com força, sentiu o corpo enrijecer. Como ele poderia saber o que Lúcia estava fazendo naquele momento? Mesmo assim, preferiu não contrariar o chefe e respondeu com cautela:— Acredito que a Sra. Lúcia esteja pensando no Sr. Sílvio.— Hoje eu disse coisas muito duras para ela. Você acha que ela ainda pensa em mim
Giovana pensava em como ficaria vestida de noiva, imaginando o momento em que Sílvio finalmente a pediria em casamento. Seus lábios curvaram-se em um sorriso involuntário. Antes, seu único objetivo era colocar as mãos na fortuna de Sílvio, mas agora ela estava completamente apaixonada por ele.Ela enxugou as lágrimas que escorriam pelo rosto e foi até o closet, onde escolheu uma saia de couro preta. Após terminar uma maquiagem impecável, calçou sapatos de salto alto na mesma tonalidade. Antes de sair, pegou uma adaga novinha e a guardou cuidadosamente dentro de sua bolsa preta. Deixando o hotel, chamou um táxi e deu o endereço de uma fábrica abandonada.Dentro de um carro estacionado não muito longe dali, Sílvio perguntou a Leopoldo:— Está tudo pronto?— Como você ordenou. Nossos homens já estão posicionados na fábrica abandonada. Assim que Giovana terminar o serviço, eles a capturam no ato. Instalamos câmeras no local com antecedência. Desta vez, ela não terá como escapar nem inventa
Ao olhar para a expressão arrogante e mandona de Arthur, Giovana sentiu o estômago revirar. Era repulsivo, nojento. Apertou com força a alça da bolsa que segurava e permaneceu imóvel, encarando-o com um olhar de desprezo.— Tá esperando o quê, sua idiota? Vem logo me soltar! Ou quer que eu acabe com você? — Arthur, vendo que ela não se movia, explodiu de raiva.Giovana caminhou até ele sem demonstrar qualquer emoção. Quando chegou perto, desferiu um tapa estrondoso em seu rosto:— Vai acabar com quem, hein? Arthur, é melhor você entender a situação. Agora, quem está no controle sou eu, e não você.— Você tá maluca? Como é que você tem coragem de me bater? — Arthur gritou, com o rosto já inchado como o de um porco abatido. O tapa abriu ainda mais as feridas, e sangue começou a escorrer de uma delas.Giovana inclinou-se para mais perto, os lábios curvados em um sorriso divertido, quase cruel, enquanto observava o estado deplorável dele.— Por que você não tenta me pedir desculpas? Quem s
O sangue escorria em gotas pesadas pelo cabo da adaga, caindo no chão com um som abafado. Arthur sentiu uma dor aguda e ofegou. Ele olhou para Giovana, aquela tola apaixonada, lutando para conter a raiva e a dor que borbulhavam em seu interior. Com o rosto pálido, esforçou-se para falar num tom calmo, quase suplicante:— Giovana, me escuta. Nosso inimigo agora é o Sílvio. Este não é o momento para brigas internas, está entendendo? Você não percebe que ele está te manipulando? Ele criou essa armadilha, e você caiu direitinho. Não pensou que é exatamente isso que ele quer? Que a gente se destrua antes mesmo de chegar nele? Me solta. Eu prometo que esqueço tudo isso. Nós nos unimos contra o Sílvio, acabamos com ele, e depois não teremos mais ninguém nos perseguindo. Você não quer ter uma vida boa? Não quer virar o jogo? Não sonha em ser uma mulher rica e respeitada? Eu posso te dar isso! Eu sou muito mais confiável do que ele.A dor no braço o fez apertar os olhos por um instante. Ele res
Quem gostaria de um "amor" assim? Era doentio. Sufocante.— Acha que meu amor é nojento? Giovana, você só merece alguém como eu para gostar de você. Acha mesmo que o Sílvio iria querer uma mulher venenosa como você? — Arthur viu o olhar de desprezo dela e sentiu o coração se partir em mil pedaços.O olhar frio de Giovana, seu colapso emocional, eram muito mais dolorosos do que as facadas que ela lhe dava. Aquilo o devastava por dentro.Arthur suava frio. O sangue escorria junto com o suor, traçando linhas rubras no rosto pálido. Seus óculos estavam manchados de vermelho, quase opacos pela sujeira. Ele cerrou os dentes, insistindo em um último alerta:— Eu sei que não sou páreo para o Sílvio. Mas vou te dizer uma coisa, Giovana: pense com clareza. Se você me matar, vai morrer ainda mais rápido. Você acha que consegue lidar com o Sílvio sozinha? Você é ingênua demais. Acredita mesmo que, assim que eu morrer, ele não vai virar contra você? Seus sonhos acabam aqui. Só eu posso te ajudar. S
O salto fino e pontudo do sapato cravou-se com força no pulso de Arthur, que jazia no chão, imerso em uma poça de sangue. A dor era tão intensa que ele sentiu a vista escurecer. A camisa de tom escuro, encharcada pelo suor e pelo sangue, grudava em suas costas marcadas por feridas. Estava fria e incômoda, uma sensação insuportável.Arthur sempre esteve no controle, de pé, enquanto ela se curvava como um peixe sobre a tábua, pronto para ser fatiado. Quem diria que o predador se tornaria presa um dia? O velho caçador, que passou a vida abatendo suas vítimas, agora era devorado por uma delas.Giovana ergueu levemente o queixo, exibindo aquela postura arrogante que Arthur conhecia tão bem. Talvez fosse a dor absurda, ou talvez algo mais profundo, mas ele não conseguiu evitar: sua mente o levou de volta ao momento em que viu Giovana pela primeira vez.Era um dia bonito, com uma brisa suave. Giovana havia torcido o tornozelo e foi levada ao hospital por Sílvio. Quando Arthur a viu pela prime
“Quem mais pode ajudá-la agora? Será que Sílvio realmente quer se casar com ela, ou tudo isso é só mais uma armadilha?”Arthur nunca foi do tipo que gosta de abrir o coração. Além disso, ele sabia que não era digno de gostar de Giovana. Comparado a Sílvio, ele era um homem de meia-idade, barrigudo, calvo, sem nenhum traço que pudesse competir com o rosto jovem e atraente de Sílvio. Sem dinheiro, sem poder, vivia apenas à sombra de Sílvio, implorando por uma migalha de sobrevivência. E mesmo que tivesse dinheiro, nunca seria suficiente para se equiparar ao que Sílvio tinha.A única coisa que Arthur possuía era sua astúcia. Ele acreditava que ele e Giovana estariam para sempre presos nesse jogo de gato e rato, mas, inesperadamente, o fim chegou muito antes do que ele imaginava. Arthur lamentava, arrependeu-se profundamente de não ter agido contra Sílvio mais cedo. E mais ainda, arrependia-se de nunca ter tratado Giovana com o cuidado que ela merecia. Por muito tempo, ele apenas descontou
Finalmente, o tão esperado dia havia chegado. A partir de agora, ninguém mais saberia das sujeiras que Giovana havia feito, nem teria como ameaçá-la ou usá-las para obrigá-la a fazer coisas contra sua vontade.Giovana deu alguns passos cambaleantes para trás e, em meio à euforia, soltou uma gargalhada alta e nervosa:— Que maravilha! Que maravilha! A partir de hoje, ninguém mais vai ficar no meu caminho!Mas, conforme ria, uma tristeza inesperada tomou conta dela. Lágrimas grossas começaram a escorrer de seus olhos avermelhados. Todas as dores e humilhações que havia suportado até aqui pesavam em seu peito, e ela não conseguiu conter o choro. Do lado de fora do galpão velho, um relâmpago roxo cortou o céu, iluminando rapidamente o ambiente escuro. Logo depois, o som da chuva começou a ecoar no telhado de amianto, com gotas caindo pesadamente e espalhando-se por toda parte."Chuva pode lavar todas as sujeiras do mundo. Quando a chuva terminar, o sol vai surgir. E quando o sol surgir, mi