Na mansão da família Araújo, em Cidade A.O céu estava pesado, cinzento, e a neve caía furiosamente.Lúcia havia se trancado no terraço. Diante dela, um braseiro emanava chamas que dançavam ao sabor do vento gelado. No chão, ao lado dela, estavam folhas de papel com desenhos. Eram retratos de Sílvio: ele a carregando nas costas, ele concentrado em uma aula na sala de aula, e eles caminhando juntos pelo campus, onde ele, com uma mão, empurrava uma bicicleta enquanto segurava a mão dela com a outra.Sempre que a saudade apertava, Lúcia desenhava Sílvio. Mas agora, ele havia mudado. Sílvio estava de casamento marcado com outra mulher. O telefonema de hoje foi a gota d’água; ela não podia mais se enganar.Uma lágrima solitária caiu sobre o papel, mas o vento frio rapidamente secou o rastro. Em seguida, ela jogou os desenhos no braseiro. Depois, pegou um caderno onde havia escrito incontáveis vezes o nome dele e também o lançou ao fogo.Os papéis e o caderno logo se transformaram em cinzas,
Lúcia pensou por um momento e sorriu de leve:— Vamos ver o que acontece. Perdi a memória, e minha única âncora, o Sílvio, também se afastou de mim. Quando eu conseguir me recompor, acho que vou procurar um emprego. Ficar presa às lembranças de um amor perdido não vai me levar a lugar nenhum.— Já tem algo em mente? Posso ajudar você a encontrar alguma coisa. — Basílio pareceu lembrar de algo e sugeriu. — O escritório da presidência do Grupo Araújo está precisando de uma secretária. Que tal tentar?Lúcia não demonstrou interesse. Pensar em Sílvio, prestes a se casar com outra mulher, fazia seu coração apertar:— Vamos deixar pra depois.Mais tarde naquela noite.Era a última noite de Lúcia na fazenda. O humor dela não estava dos melhores, e durante o jantar, resolveu beber um pouco de vinho. Basílio a acompanhou. Ele ficou observando suas bochechas coradas, como duas nuvens de fogo no céu do entardecer, e acabou se perdendo em seus pensamentos.Lúcia, já um pouco embriagada, começou a
Lúcia estava escorada na beira do sofá, segurando uma garrafa de vinho vazia. Sem um pingo de compostura, soltou um arroto alcoólico. Os olhos se abriam e fechavam pesadamente, a mente enevoada, a cabeça baixa. Na verdade, não prestava atenção em nada do que ouvia, mas mesmo assim fazia questão de responder com entusiasmo fingido:— E depois?Na cabeça de Lúcia, só havia memórias de Sílvio. Boas, ruins, momentos felizes e, claro, outros de tristeza.Sentada ali, a mente já tinha viajado para um passado distante.Basílio, ao ouvir a pergunta dela, não conseguiu evitar a ponta de alegria que brotou em seu peito. Achou que ela estava mesmo interessada na sua história. Seus lábios se curvaram em um leve sorriso, e ele continuou contando, com aquela calma quase hipnotizante. Revelou como, por ser um filho bastardo, jamais teve coragem de se aproximar dela. Mas, para ficar perto de Lúcia, ele foi atrás dela, seguindo seus passos por onde pudesse.Escola. Faculdade.Basílio viu com seus própr
— Depois, nós nos reencontramos. Você estava encurralada por um bando de repórteres na neve, e eu fui o responsável por afastá-los. Mais tarde, você foi ao Bairro das Árvores e acabou sendo atropelada pela Olga. Eu investiguei esse caso. Foi aí que eu descobri que você não estava feliz. Por isso, voltei para a família Araújo. Voltei para assumir a presidência do Grupo Araújo, não porque eu quisesse dinheiro ou poder. Na verdade, eu desprezo essa família e essa vida. Mas eu queria ser o seu apoio. Eu sabia que o Sílvio era poderoso, e, se eu fosse apenas um policial qualquer, não teria como proteger você. Então, sem dizer nada, pedi demissão. De repente, me tornei o novo presidente do Grupo Araújo, o futuro líder da família Araújo.Basílio falou com um misto de emoções em sua voz. Fez uma pausa, respirou fundo e continuou:— Eu não podia me declarar antes porque sabia que o seu coração estava com outra pessoa. Eu temia que isso a colocasse em uma posição difícil. Mas agora o Sílvio já s
Uma corrente elétrica, como se atravessasse seu pulso, percorreu o corpo inteiro de Basílio. Era uma sensação de formigamento. Seu corpo, normalmente ereto e firme, ficou imediatamente rígido. Ele achou que tinha visto errado e abaixou as pálpebras, mas os dedos finos e delicados, de pele clara, apertavam com força seu pulso.— Não vá... não vá...A voz baixa e entrecortada de Lúcia soou atrás dele, acompanhada de soluços.Basílio mal podia acreditar. Lúcia, de repente, segurava seu pulso e pedia para ele não ir embora. Ele virou o rosto, e quem mais poderia ser senão ela? Era Lúcia. Ainda com os olhos fechados, murmurando palavras desconexas. Seu rosto estava pálido, quase translúcido, e os cabelos negros espalhados como um véu sobre o travesseiro.O coração de Basílio apertou de repente. Será que ela tinha ouvido sua confissão? Talvez estivesse considerando tudo o que ele acabara de dizer. Afinal, ele havia falado por tanto tempo... como ela não teria escutado?Ele pensou que, por fi
Sílvio estava sentado no banco traseiro do carro. Vestia o mesmo terno preto de sempre, recostado no assento com uma postura relaxada, mas seu olhar estava fixo na lua fria e solitária que brilhava no céu. A janela estava parcialmente aberta, e o vento gelado entrava suavemente.A neve havia finalmente parado. Era raro ver a lua depois de uma tempestade assim. A luz prateada caía sobre o chão coberto pela neve que ainda não havia derretido, iluminando tudo com um brilho suave e quase etéreo.— O que você acha que a Lúcia está fazendo agora? — Perguntou Sílvio de repente, ainda olhando para a lua. A pergunta, no entanto, era dirigida a Leopoldo.Leopoldo, que segurava o volante com força, sentiu o corpo enrijecer. Como ele poderia saber o que Lúcia estava fazendo naquele momento? Mesmo assim, preferiu não contrariar o chefe e respondeu com cautela:— Acredito que a Sra. Lúcia esteja pensando no Sr. Sílvio.— Hoje eu disse coisas muito duras para ela. Você acha que ela ainda pensa em mim
Giovana pensava em como ficaria vestida de noiva, imaginando o momento em que Sílvio finalmente a pediria em casamento. Seus lábios curvaram-se em um sorriso involuntário. Antes, seu único objetivo era colocar as mãos na fortuna de Sílvio, mas agora ela estava completamente apaixonada por ele.Ela enxugou as lágrimas que escorriam pelo rosto e foi até o closet, onde escolheu uma saia de couro preta. Após terminar uma maquiagem impecável, calçou sapatos de salto alto na mesma tonalidade. Antes de sair, pegou uma adaga novinha e a guardou cuidadosamente dentro de sua bolsa preta. Deixando o hotel, chamou um táxi e deu o endereço de uma fábrica abandonada.Dentro de um carro estacionado não muito longe dali, Sílvio perguntou a Leopoldo:— Está tudo pronto?— Como você ordenou. Nossos homens já estão posicionados na fábrica abandonada. Assim que Giovana terminar o serviço, eles a capturam no ato. Instalamos câmeras no local com antecedência. Desta vez, ela não terá como escapar nem inventa
Ao olhar para a expressão arrogante e mandona de Arthur, Giovana sentiu o estômago revirar. Era repulsivo, nojento. Apertou com força a alça da bolsa que segurava e permaneceu imóvel, encarando-o com um olhar de desprezo.— Tá esperando o quê, sua idiota? Vem logo me soltar! Ou quer que eu acabe com você? — Arthur, vendo que ela não se movia, explodiu de raiva.Giovana caminhou até ele sem demonstrar qualquer emoção. Quando chegou perto, desferiu um tapa estrondoso em seu rosto:— Vai acabar com quem, hein? Arthur, é melhor você entender a situação. Agora, quem está no controle sou eu, e não você.— Você tá maluca? Como é que você tem coragem de me bater? — Arthur gritou, com o rosto já inchado como o de um porco abatido. O tapa abriu ainda mais as feridas, e sangue começou a escorrer de uma delas.Giovana inclinou-se para mais perto, os lábios curvados em um sorriso divertido, quase cruel, enquanto observava o estado deplorável dele.— Por que você não tenta me pedir desculpas? Quem s