O som de notificação do celular ecoou pelo apartamento.Sílvio pegou o telefone com uma mão, enquanto a outra segurava o cigarro já pela metade.[Sílvio, tive um acidente de carro de última hora. Amanhã você pode vir me buscar no hospital?]Os olhos de Sílvio exibiram um sorriso irônico, mas ele, dissimulado, respondeu com um tom de preocupação e concordou com o pedido dela.Leopoldo, após terminar o relatório, estava ansioso para ir embora e preparar o jantar para a esposa. No entanto, foi chamado por Sílvio antes de sair:— Agradeça à sua esposa por mim.Leopoldo parou por um instante, surpreso. O Sr. Sílvio, conhecido por ser frio e pragmático, que normalmente agradecia com dinheiro, agora estava dizendo “Agradecer”?Ele piscou, achando que havia ouvido errado.Sílvio, percebendo o silêncio, repetiu com firmeza:— Diga a ela que sou grato.Leopoldo coçou o nariz, soltando um sorriso descontraído:— Não precisa agradecer, Sr. Sílvio. É o mínimo que podíamos fazer. Ela nem imaginava q
Sílvio lavava o sangue que escorria debaixo do nariz, mas, dessa vez, parecia impossível estancar. O fluxo era forte e insistente, e ele começou a se sentir tonto, como se a cabeça girasse. De repente, veio à mente a imagem de Lúcia cuspindo sangue na frente dele tantas vezes. Aquilo fez seus pensamentos ficarem ainda mais confusos.Pegou o celular e mandou uma mensagem ao vice-diretor do Hospital Serra Encantada, pedindo que fosse até Cidade A para ajudá-lo com um diagnóstico. Por enquanto, ele o colocaria para trabalhar no hospital que administrava.Depois disso, Sílvio secou o cabelo, vestiu um roupão e, ainda descalço, saiu do banheiro.Sentou-se no sofá da sala, pegou um cigarro sobre a mesa de centro e o acendeu. O aroma familiar da fumaça logo tomou conta do ambiente, misturando-se ao silêncio pesado da noite.Enquanto isso, na mansão da família Araújo, Lúcia se sentia tão abatida que parecia carregar o peso do mundo nos ombros. Com uma rosa seca nas mãos, ela arrancava as pétal
O toque do celular ecoava ao lado de Lúcia, uma vibração insistente que parecia aumentar o peso no seu peito. Seu coração batia como se estivesse preso sob uma rocha enorme. Um segundo, dois segundos, três segundos... e nada de atender. Ela apertava o aparelho com força, os dedos ficando brancos.“Sílvio... o que você está fazendo?” pensou Lúcia, a ansiedade tomando conta. Hoje em dia, ninguém desgruda do celular. Se ele não viu a ligação, seria difícil de acreditar.Lúcia tentou se acalmar, repetindo para si mesma: “Não vá pensar o pior, Lúcia. Ele pode estar ocupado. Talvez o celular esteja no silencioso. Quem sabe ele está no banho, e o celular ficou carregando no quarto...”Mas, lá no fundo, evitava encarar o pensamento mais cruel: “Ele viu... e simplesmente não quer atender.”Naquele exato momento, Sílvio estava sentado no sofá, tragando lentamente um cigarro enquanto segurava o celular em mãos. Na tela, o nome "Lúcia" piscava insistentemente.Ela estava ligando para ele. Ele quer
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no
Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.O relógio na parede marcava onze horas. L
- Eu vou soltar fogos de artifício por dias e noites no seu funeral para comemorar sua morte! - Disse Sílvio.Ao ouvir isso, o coração de Lúcia, que já estava pendurado por um fio, se despedaçou completamente. Cada pedaço, ensanguentado, parecia impossível de juntar novamente.Era difícil imaginar o quão frio Sílvio poderia ser. Ele desejava sua morte com tanta indiferença, falando com um sorriso sarcástico.- Sílvio, se quer casar com a Giovana, vai ter que esperar eu morrer.O homem que ela havia moldado com suas próprias mãos havia sido seduzido por uma mulher sem escrúpulos. Ela não podia suportar essa humilhação.Se estavam destinados ao inferno, que fossem os três juntos.- Lúcia, ainda vai chegar o dia em que você vai chorar e implorar de joelhos para se divorciar de mim!O olhar penetrante de Sílvio estava frio como gelo. Sem qualquer hesitação, ele bateu a porta ao sair.Aquela noite, ela não conseguiu dormir. Não era por falta de vontade, mas porque simplesmente não conseguia
- Pode ser parcelado? - Lúcia perguntou com a voz trêmula.A funcionária do caixa, com uma expressão fria e acostumada a esse tipo de situação, respondeu: - Somos um hospital particular, não fazemos parcelamento. Ou você transfere seu pai ou providencia o dinheiro.As pessoas na fila atrás dela começaram a revirar os olhos e a reclamar:- Você vai pagar ou não? Se não, sai da frente, estamos esperando.- Exato, está ocupando o lugar à toa.- Se não tem dinheiro, por que veio ao hospital? Vai para casa esperar a morte!Lúcia levantou os olhos levemente e, com um pedido de desculpas, saiu da fila.Ela tinha poucos amigos e pedir dinheiro emprestado era fora de questão.A única pessoa que poderia ajudá-la era Sílvio.Ela ligou, mas ele não atendeu.Mandou uma mensagem: [Assunto urgente, atenda, Presidente Sílvio.]Era a primeira vez que ela o chamava de Presidente Sílvio.Primeira ligação, sem resposta. Segunda, terceira, também não.Ela continuou insistindo, sem desistir, mesmo com o co
Lúcia ouviu um zumbido nos ouvidos e sua visão ficou turva por um momento. Antes que pudesse reagir, sentiu suor frio na testa.Sandra, ainda furiosa, deu mais um tapa na filha.Lúcia quase caiu, mas uma enfermeira bondosa a segurou.Com a visão gradualmente recuperada, ela viu a mãe, furiosa, olhando para ela e gritando:- Sua ingrata! Eu te avisei para não fazer isso, mas você insistiu! Eu sempre disse que Sílvio não era bom para você, que ele tinha segundas intenções! Eu escolhi para você um bom partido, alguém do nosso nível, mas você preferiu um órfão, um segurança! E agora? Como ele te trata? Como ele nos trata? A família Baptista, que sempre foi tão respeitada, está arruinada por sua causa, tudo por sua culpa!Sandra, com o rosto vermelho de raiva, levantou a mão para bater de novo, mas foi contida pelos profissionais de saúde.Lúcia, com o rosto dolorido, tentou falar, mas não conseguiu emitir uma palavra. Tudo o que podia fazer era chorar de arrependimento.Na maca, o pai come