Lúcia levantou o rosto, deixando que os flocos de neve caíssem em suas bochechas. No caminho até Sílvio, o vento gelado soprava contra seu rosto, mas, curiosamente, ela não sentia frio.Os arranha-céus imponentes pareciam tocar as nuvens, e em um deles havia um enorme cartaz de propaganda. Na imagem, um homem de feições marcantes estava sentado numa cadeira, vestindo um terno impecável. Apesar da expressão séria, a aura de poder e elegância era inegável.Lúcia sorriu para o homem da foto:— Sílvio, eu vim te encontrar. Vim te contar a verdade.Ela atravessou a faixa de pedestres impecavelmente pintada e entrou no Grupo Baptista. Era o horário de expediente, mas o prédio estava surpreendentemente tranquilo. Ela pegou o elevador social e subiu até o andar da presidência. Caminhando pelo longo corredor, ela notou o carpete cinza com padrões discretos que abafava o som dos passos.Dos dois lados do corredor estavam os escritórios. Com curiosidade, Lúcia lançou um olhar rápido. Os homens, t
Lúcia ainda estava tentando entender o que estava acontecendo quando foi violentamente empurrada por Giovana. Seu corpo inteiro, como se fosse um saco de areia, colidiu com força na borda da mesa. Uma dor lancinante percorreu todo o seu corpo, e ela não conseguiu conter um arquejo de dor.— Solta… solta… — Lúcia tentou dizer, com a respiração entrecortada.Giovana riu, fria e sarcástica:— Soltar você? Você mesma veio aqui me provocar e agora quer que eu te solte? Sua idiota! Você não tem cérebro, não? Veio até aqui por conta própria, como se estivesse pedindo para morrer!Antes que Lúcia pudesse reagir, Giovana agarrou a nuca dela com força e bateu sua cabeça contra a superfície da mesa. O impacto foi brutal, e o sangue começou a escorrer pela testa de Lúcia, borrando sua visão quase instantaneamente.— Já tentei te matar várias vezes e você ainda não morreu, hein? Que sorte de merda a sua! Câncer em estágio terminal? Você sobreviveu! Pulou de um prédio? Também sobreviveu! Seus pais m
A porta do escritório foi escancarada com um chute. Sílvio entrou apressado e viu o cinzeiro cair das mãos de Lúcia, batendo no chão com um som seco.Giovana estava com o rosto completamente coberto de sangue. Ela tapava os lábios com as mãos, chorando de maneira desesperada.— O que foi que eu fiz de errado para você me tratar assim? — Giovana soluçou, com a voz embargada. — Me mata de uma vez, me mata! Eu sou a verdadeira Lúcia, eu juro!Lúcia estava paralisada, tentando compreender o que estava acontecendo.De repente, Giovana caiu de joelhos na frente dela, com um baque surdo, e começou a bater a testa no chão enquanto a implorava, em meio a lágrimas:— Quem é você? Por que está fazendo isso comigo? Eu te imploro! Olha, eu me ajoelho, eu faço o que você quiser! Eu e meu marido passamos por tanta coisa pra chegar até aqui... Por que você quer destruir o que temos? Por que você quer acabar com o nosso amor?— Eu... — A voz de Lúcia falhou. Sua garganta estava seca, e a dor na testa e
Ao ouvir aquelas palavras, Giovana, que estava ao lado de Sílvio, ficou tensa. Antes mesmo que ele pudesse dizer algo, ela imediatamente se adiantou, negando com pressa:— Não pode!Sílvio virou-se para ela, estreitando os olhos.Giovana percebeu que havia falado demais e rapidamente tentou se explicar com uma voz suave e quase vulnerável:— Sílvio, não é medo, muito menos outra coisa... Eu só quero que você fique comigo. Minha testa está doendo muito. Você me leva ao hospital, por favor?— Sílvio, eu só preciso de cinco minutos para conversar com você! — Lúcia, percebendo o silêncio dele, cedeu um pouco.Cinco minutos... Não podia ser muito, certo? Ela simplesmente não acreditava que Sílvio, aquele homem com quem fora tão íntima, tão apaixonada no passado, recusaria cinco míseros minutos de conversa.O olhar frio de Sílvio oscilava entre Giovana e Lúcia. Nesse momento, Leopoldo entrou pela porta, seguido por alguns seguranças. Assim que viu Lúcia, franziu as sobrancelhas, claramente i
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no
Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.O relógio na parede marcava onze horas. L
- Eu vou soltar fogos de artifício por dias e noites no seu funeral para comemorar sua morte! - Disse Sílvio.Ao ouvir isso, o coração de Lúcia, que já estava pendurado por um fio, se despedaçou completamente. Cada pedaço, ensanguentado, parecia impossível de juntar novamente.Era difícil imaginar o quão frio Sílvio poderia ser. Ele desejava sua morte com tanta indiferença, falando com um sorriso sarcástico.- Sílvio, se quer casar com a Giovana, vai ter que esperar eu morrer.O homem que ela havia moldado com suas próprias mãos havia sido seduzido por uma mulher sem escrúpulos. Ela não podia suportar essa humilhação.Se estavam destinados ao inferno, que fossem os três juntos.- Lúcia, ainda vai chegar o dia em que você vai chorar e implorar de joelhos para se divorciar de mim!O olhar penetrante de Sílvio estava frio como gelo. Sem qualquer hesitação, ele bateu a porta ao sair.Aquela noite, ela não conseguiu dormir. Não era por falta de vontade, mas porque simplesmente não conseguia
- Pode ser parcelado? - Lúcia perguntou com a voz trêmula.A funcionária do caixa, com uma expressão fria e acostumada a esse tipo de situação, respondeu: - Somos um hospital particular, não fazemos parcelamento. Ou você transfere seu pai ou providencia o dinheiro.As pessoas na fila atrás dela começaram a revirar os olhos e a reclamar:- Você vai pagar ou não? Se não, sai da frente, estamos esperando.- Exato, está ocupando o lugar à toa.- Se não tem dinheiro, por que veio ao hospital? Vai para casa esperar a morte!Lúcia levantou os olhos levemente e, com um pedido de desculpas, saiu da fila.Ela tinha poucos amigos e pedir dinheiro emprestado era fora de questão.A única pessoa que poderia ajudá-la era Sílvio.Ela ligou, mas ele não atendeu.Mandou uma mensagem: [Assunto urgente, atenda, Presidente Sílvio.]Era a primeira vez que ela o chamava de Presidente Sílvio.Primeira ligação, sem resposta. Segunda, terceira, também não.Ela continuou insistindo, sem desistir, mesmo com o co