Capítulo 789A cabeça de Sílvio parecia prestes a explodir. Ele avançou a passos largos, como se o tempo tivesse parado ao seu redor.— Lúcia! Lúcia! — Sílvio se ajoelhou no chão coberto de neve e sangue, envolvendo o corpo dela em seus braços.Lúcia vestia um casaco vermelho, sua maquiagem ainda estava intacta, mas toda a beleza de seu rosto havia sido coberta pelo vermelho intenso do sangue. O corte na parte de trás de sua cabeça continuava a sangrar incessantemente, tingindo as mãos de Sílvio com o calor que escapava dela. Seus olhos estavam cerrados, sua boca fechada, mas o sangue não parava de escorrer, como se o próprio corpo dela estivesse desistindo.— Lúcia... Lúcia... — Sílvio balançava o corpo dela suavemente, como se tentasse trazê-la de volta à vida. Mas ela não reagia. Ela não se movia.— Onde está a ambulância? Cadê a ambulância?! — Rugiu Sílvio, sua voz carregada de desespero e raiva, enquanto encarava as pessoas que se aglomeravam ao redor.Era raro ver Sílvio perder o
Leopoldo já havia levado o carro à máxima velocidade permitida e além disso. Mesmo assim, ele entendia perfeitamente a urgência e o desespero do Sr. Sílvio. Ninguém conhecia tão bem quanto ele o quanto Sílvio se importava e sofria por Lúcia.O carro freou bruscamente na entrada do hospital. Assim que pararam, enfermeiros já estavam a postos com uma maca, prontos para levar Lúcia diretamente à sala de cirurgia.Arthur, com seu jaleco branco impecável, os aguardava na entrada do bloco cirúrgico. Ele inspecionou rapidamente o estado de Lúcia, mas sua expressão ficou sombria.— A situação da Sra. Lúcia é extremamente crítica. Precisamos iniciar os procedimentos de emergência agora mesmo.— Não importa o custo, Arthur. Faça o que for necessário, mas salve a vida dela. — Ordenou Sílvio, com um olhar firme, que não admitia contrariedade.Arthur assentiu com seriedade:— Não se preocupe, Sr. Sílvio. A Sra. Lúcia é uma pessoa muito importante para o senhor. Vamos fazer tudo o que estiver ao nos
Sílvio estava parado junto à janela do corredor, observando os flocos de neve que caíam sem parar lá fora. Sua alma parecia afundar em um abismo sem fim. Ele se lembrava do dia em que a conheceu pela primeira vez, no início do curso universitário, durante a recepção dos calouros.Lúcia era a presidente do grêmio estudantil, usando o mesmo casaco vermelho de plumas que vestia hoje, no fatídico dia em que tudo mudou. Os cabelos presos em um coque casual, a maquiagem impecável. Talvez fosse o reflexo de uma vida cercada de requinte e influências, mas bastava sua simples presença para que ela se destacasse na multidão. Era impossível não notá-la. Entre centenas de rostos anônimos, ela era como uma estrela que brilhava mais forte.Sílvio seguia Giovana de perto, enquanto ela sussurrava, com um meio sorriso no rosto:— Aquela é a Sra. Lúcia, da família Baptista. Super esnobe. Não gosta de homens que correm atrás dela. Se quiser impressioná-la, seja frio, distante. Vai por mim, funciona.Não
A mente de Sílvio parecia um turbilhão incontrolável. Ele não conseguia parar de pensar no pior: e se Lúcia realmente morresse? O que ele faria? Por mais que tentasse, não encontrava uma resposta. Pensar nisso só fazia sua cabeça latejar, como se fosse explodir.Ao sair do hospital, suas botas pretas afundaram na neve espessa, provocando um som rítmico de "croc, croc" a cada passo. Os flocos de neve, grandes e pesados, caíam sobre o rosto tenso, desenhando linhas rígidas em sua expressão. O casaco preto já começava a acumular uma leve camada de neve nos ombros.Ele acelerou o passo até o Cullinan estacionado ali perto. Puxou a porta com força e se jogou no banco do motorista. O interior do carro ainda carregava um cheiro metálico, o cheiro do sangue que Lúcia havia perdido momentos antes. Aquela fragrância pesada o sufocava, tornando o ambiente insuportável. Com um movimento rápido, apertou o botão do controle na lateral e baixou o vidro da janela até a metade. O vento gelado invadiu o
Sílvio carregava a sacola com as roupas arrumadas para Lúcia e acabava de chegar ao centro cirúrgico do hospital. Mas, ao se aproximar, percebeu que a porta da sala de cirurgia estava aberta, as luzes apagadas e o ambiente completamente vazio.“Lúcia? Cadê ela? Por que não tem ninguém aqui? Será que a cirurgia já terminou? Será que a transferiram para o quarto?” — Pensou Sílvio, mas um frio inexplicável tomou conta de seu peito. Algo não parecia certo. Ele sentia uma angústia crescente, como se a situação fosse pior do que aparentava.Pegou o celular no bolso e ligou para Leopoldo, mas o telefone chamava sem resposta.Nesse momento, uma enfermeira jovem, com uma máscara cobrindo boa parte do rosto, passou por ele apressada. Sílvio prontamente a abordou:— A Sra. Lúcia, que estava na cirurgia agora há pouco, onde ela está?A enfermeira levantou os olhos e, ao reconhecê-lo como o marido de Lúcia, hesitou por um instante antes de responder, apertando os lábios:— A cirurgia já foi concluí
— Sr. Sílvio, por favor, mantenha a calma! — Implorou Arthur.Sílvio agarrou a gola do jaleco de Arthur e, com um soco firme e cheio de raiva, acertou o rosto do médico. O impacto foi tão forte que um dos dentes de Arthur foi cuspido no chão.— Manter a calma? Você quer que eu mantenha a calma? Me diz como, desgraçado! Vocês estão cada vez mais ousados! Quem autorizou vocês a interromper a cirurgia? Quem mandou levar ela pra cá, hein? Responde!Com um chute certeiro no peito de Arthur, Sílvio o fez gemer de dor, enquanto o médico, suando frio, não ousava reagir:— Sr. Sílvio, eu fiz o possível, mas a Sra. Lúcia... ela não resistiu. Foi o destino, senhor.— Destino, o caralho! Levanta agora! Vai continuar a tentar salvar ela, já! — Gritou Sílvio, agarrando o braço de Arthur e o puxando com força, tentando obrigá-lo a se levantar.Arthur foi arrastado pelo chão, o jaleco branco se rasgando enquanto tentava resistir.— Sr. Sílvio, mesmo que o senhor queira a minha vida, eu não posso fazer
Aquelas palavras atingiram Sílvio como uma faca no peito, fazendo sua raiva explodir.— Saiam daqui! Todos vocês, agora! Sumam da minha frente! — Berrou Sílvio, sua voz ecoando pelas paredes frias do necrotério.— Sr. Sílvio, por favor, tente se acalmar... meus pêsames. — Leopoldo observava o estado emocional crítico do chefe com preocupação.Ninguém conhecia melhor que Leopoldo o quanto Lúcia significava para Sílvio. Ele sabia que Sílvio era capaz de qualquer coisa por ela, até mesmo doar uma parte do próprio fígado, como já havia feito uma vez. Apesar de sua dificuldade em expressar sentimentos, o amor que ele sentia por Lúcia era inquestionável.— Eu mandei vocês saírem! Vocês estão surdos ou o quê? Ninguém entra aqui sem a minha permissão, entendeu? Fora! — Rugiu Sílvio, ainda mais furioso, os olhos brilhando de ódio.Leopoldo e Arthur trocaram olhares tensos. Ambos se levantaram do chão com dificuldade, ainda sentindo os golpes de Sílvio, e deixaram o necrotério em silêncio. Antes
— Boa notícia. — Disse Giovana.— Lúcia morreu. Desta vez é de verdade.— Morreu mesmo? Mas há poucos dias ela também tinha “morrido”. Será que desta vez...— Não vai ter volta. Nem Jesus pode salvá-la agora.— E a má notícia?— Lúcia já era, mas se você não conseguir fazer o Sílvio se apaixonar por você dentro de um mês, você também não terá mais utilidade como peça no meu jogo.— Pode confiar em mim. Com a Lúcia fora do caminho, nenhum problema será grande demais!Giovana sentiu os olhos se encherem de lágrimas de felicidade. Lúcia estava morta. Finalmente morta. Ela chorava, mas de alegria. Era como se já tivesse um pé dentro da família Baptista. Durante todo esse tempo, aquele velho desgraçado a havia torturado, mas agora ela tinha entendido: grandes conquistas exigem grandes sacrifícios, e ela estava disposta a pagar o preço.Sílvio seria dela. A fortuna da família Baptista também. Ela sabia esperar. Quando finalmente se tornasse a Sra. Baptista, daria cabo daquele velho nojento,