Giovana ligou para Sílvio, chorando desesperada. Se não fosse pela indicação de que a ligação estava ativa, ela teria certeza de que ele nem havia atendido. Do outro lado da linha, não houve uma palavra, nenhum consolo, absolutamente nada. No meio do choro, Giovana ouviu o tom de encerramento da chamada. Sílvio simplesmente desligou. Furiosa, Giovana quase jogou o celular longe, mas, em vez disso, fez outra ligação. Desta vez, para a gerente de uma cliente:— O plano será antecipado para esta noite! A voz hesitante da mulher soou do outro lado: — Srta. Giovana, combinamos que seria apenas uma injeção para assustar a Lúcia. Nada de assassinato. Isso é coisa que dá cadeia! Giovana baixou o tom, mas seu tom de ameaça era ainda mais afiado:— Poupe-me de desculpas! Vou ser clara: sua filha está nas minhas mãos. Se algo der errado, será você quem vai sofrer as consequências. E, se Lúcia não recuperar a memória hoje à noite, se prepare para organizar o enterro da sua filha! Enquant
Sílvio continuou desabotoando a camisa sem responder. Lúcia, sem conseguir segurar a irritação, insistiu: — Giovana te ligou para reclamar, e você ficou com pena dela, não foi? Sílvio franziu as sobrancelhas, evitando olhar diretamente para ela. — Sílvio, você gosta dela? Ela é sua ex? Por acaso vocês têm fotos de casamento guardadas? Ela deve ser muito importante para você, não é? Não pode ser só uma simples benfeitora, certo? As perguntas em sequência fizeram Sílvio apertar ainda mais os lábios. Talvez fosse o efeito do álcool, mas sua paciência parecia ter se esgotado. Ele se virou, o olhar pesado: — Lúcia, chega desse assunto. — Chega desse assunto? — Lúcia repetiu, incrédula. Sílvio pousou as mãos nos ombros dela, tentando acalmá-la:— Vamos comer. Eu não gosto dela, está bem? Por favor, não seja tão impulsiva. — Você acha que eu estou sendo impulsiva?Os olhos de Lúcia estavam secos e ardidos, mas ela piscou, tentando segurar as lágrimas. Ela pensava que sua supo
Sílvio estava completamente exausto, a cabeça a mil por causa das duas mulheres. Com um suspiro, ele apagou a tela do celular, ainda sem dar resposta. Depois de tomar um banho quente, vestiu o pijama e se aproximou do espelho. Segurando o secador, começou a secar os cabelos. Quando estavam quase secos, percebeu, através do reflexo, que começava a ter sangramento nasal. Seus dedos pressionaram o nariz, e o vermelho vivo do sangue manchou sua mão. Era evidente: ele precisava ir ao médico. Algo em seu corpo parecia estar errado.Depois de terminar de secar o cabelo, Sílvio pegou o celular e ligou para Leopoldo:— Transfira dois milhões para a conta da Giovana.Leopoldo permaneceu em silêncio do outro lado da linha. Sílvio foi direto:— Use a conta da empresa e faça isso agora.Era claro que ele tentava usar o dinheiro para aplacar a raiva de Giovana. Quando chegou à cozinha, notou que os pratos estavam exatamente como ele os deixara intocados. Tudo estava igual ao que havia encontrado ant
O telefone foi desligado.Sílvio, irritado, mordia a ponta do cigarro enquanto observava outra notificação do WhatsApp. Giovana havia enviado a localização de um bar. Logo em seguida, uma nova mensagem chegou acompanhada de uma foto de uma faca reluzente:[Comprei isso para dar fim à minha vida. O que você prefere, Sílvio: que eu me jogue ou que use essa faca para cortar a artéria do pulso? Escolha para mim.] Sílvio apagou o celular com força, incapaz de ficar parado. Ele sabia que não deveria ir atrás de Giovana. Precisava levar em consideração os sentimentos de Lúcia. Mas Giovana era sua benfeitora. Ela havia dado cinco milhões de reais para ajudá-lo e, pior, sacrificou sua própria aparência ao salvá-lo. Tudo isso resultou na depressão dela, agravada pelos ciúmes de Lúcia. Se Giovana realmente tirasse a própria vida naquela noite, ele carregaria esse peso para sempre. Tomou uma decisão. Iria levá-la para casa e pedir para Leopoldo organizar sua saída do país. Seria a última vez q
Sílvio chegou ao bar e desceu do carro apressado.Na entrada, Leopoldo estava de pé, observando o movimento. Ao ver Sílvio, desceu rapidamente os degraus, encontrando-o no meio do caminho. Enquanto caminhavam para dentro do bar, Sílvio perguntou, sem olhar para trás:— Como está a Giovana? — Sr. Sílvio, a Srta. Giovana está em um estado crítico. Ela chorou, gritou e ameaçou se matar. Já recolhi a faca, as garrafas e qualquer outro objeto cortante, mas ela não para de insistir. Disse que só vai se acalmar se o senhor aparecer. — Respondeu Leopoldo, num tom frio e direto. Quando Sílvio se aproximou da porta do camarote, ouviu o som abafado de choro vindo de dentro. Seu semblante, que havia relaxado por um breve momento, voltou a se fechar. — Ela me expulsou do camarote e trancou a porta. — Comentou Leopoldo, antes que Sílvio pudesse perguntar.— Ela terminou mesmo o namoro? — Sim, senhor. E os dois milhões que o senhor transferiu para ela já foram devolvidos.Sílvio lançou um o
— Você agora está tão obcecado por ela, mas será que seus pais saberiam disso? Eles foram mortos por Abelardo, não sobrou nem os ossos! Sílvio, você tem coragem de olhar nos olhos deles, mesmo que apenas em pensamento? Você não acha que seus pais estão lá no céu te amaldiçoando pelo que está fazendo? — Giovana!— E quanto à Lúcia? Você realmente acredita que ela te ama? Talvez agora ela dependa de você, talvez até ache que te ama, mas isso tudo só porque perdeu a memória! Quanto tempo você acha que vai conseguir esconder a verdade dela?— Isso não é da sua conta.— Não é da minha conta, né? Pois eu conheço a Lúcia há muito mais tempo que você. Para ela, a família sempre veio antes de qualquer amor. Sílvio, acredita em mim: se ela recuperar a memória, a primeira coisa que ela vai fazer é te deixar. Todo esse esforço que você está fazendo agora? Tudo em vão. Ela nunca vai reconhecer isso como amor, só vai te odiar ainda mais por causa da morte dos pais dela! Só eu te amo de verdade, Sí
O celular de Sílvio havia ficado esquecido no banco traseiro do carro. Giovana lançou um olhar frio para a tela que piscava incessantemente, esboçou um sorriso cínico e voltou a olhar para as luzes de neon pela janela.O aparelho estava no modo silencioso, e Leopoldo, que dirigia, não percebeu que Lúcia estava ligando. Logo, a tela apagou novamente.Ao chegar ao hospital, Giovana encontrou Arthur, vestido com o jaleco branco. O coração dela apertou, mas o que predominava era um profundo desgosto.Assim que Leopoldo foi embora, Arthur, com a desculpa de aplicar uma injeção, a levou até o quarto de enfermagem. Lá, ele a submeteu a mais uma sessão de tortura e abuso.Desde que Giovana sabotara o carro dele em uma tentativa fracassada de assassinato, Arthur parecia encontrar prazer em inventar formas de castigá-la, especialmente naquele tipo de situação.A dor era tamanha que Giovana já estava entorpecida. Ela se agarrava aos lençóis com força enquanto ele finalmente a deixava em paz, com
— Eu te joguei daquele penhasco, e você ainda conseguiu sobreviver! Você está me tirando do sério! — A gerente, furiosa, não conseguia parar de pensar em como sua vida perfeita tinha sido arruinada por aquela miserável.O pensamento de sua filha querida ainda estar nas mãos de Giovana lhe dava um nó na garganta. Sabia que Sílvio, tão obcecado por Lúcia, jamais a perdoaria. A gerente estava encurralada. E, no fim das contas, tudo isso era culpa de Lúcia.Mas deixar Lúcia recuperar a memória e encerrar tudo assim? Isso era inconcebível. A raiva consumia a gerente, que descarregava toda a sua frustração e sofrimento no corpo frágil de Lúcia.Ela começou a golpeá-la com socos e chutes, arrastando Lúcia pelos cabelos até a parede do velho galpão. Com força brutal, bateu a cabeça dela contra a superfície áspera e úmida. O sangue escorria pela testa de Lúcia, manchando a parede como se fosse uma pintura macabra.Com a cabeça latejando de dor, Lúcia tentava entender como tinha caído nas garras