— Basílio, eu sei que você acha que eu sou uma mulher boba. — Lúcia murmurou, olhando para o casaco em seu colo. — Antes, quando eu via outras pessoas fazendo essas coisas estúpidas, também pensava que elas eram tolas. Mas agora eu entendo... Isso é amor. Basílio, você não entende.Basílio apertou o volante com mais força. Ele, não entende?— Um dia, você também vai encontrar uma garota de quem goste muito, alguém por quem você vai fazer de tudo, sem esperar nada em troca. Quando esse dia chegar, você vai entender o que estou sentindo. Mas eu não quero que você passe pelo que eu passei. Você é um homem bom, Basílio. Eu só desejo que você e a mulher que você ama possam se entender perfeitamente, sem ter que enfrentar tantos obstáculos. — Lúcia mordeu o lábio, suas palavras eram sinceras. De verdade, ela só queria que seus amigos tivessem uma vida tranquila.Os olhos de Basílio se estreitaram ligeiramente. Era uma clara rejeição aos seus sentimentos. Uma dor aguda atravessou seu peito.—
Basílio carregou Lúcia de volta ao quarto. O celular no bolso da calça não parava de tocar, mas ele não tinha mãos livres para atender. Caminhou apressado com Lúcia nos braços, até chegar ao quarto, onde a colocou cuidadosamente na cama. Nesse momento, o vice-diretor entrou acompanhado de uma enfermeira. Ao ver o rosto corado de Lúcia e suas sobrancelhas franzidas, ele exclamou com seriedade:— Ela acabou de sair de uma cirurgia e já foi se aventurar por aí. Isso é uma loucura! Sem perder tempo, o vice-diretor ordenou à enfermeira que desse a Sra. Lúcia um antitérmico e a conectasse ao soro. Só então voltou sua atenção para Basílio:— Sr. Basílio, o senhor precisa cuidar melhor da Sra. Lúcia. Ela precisa de repouso absoluto. Nada de sair por aí tomando vento. O corpo dela ainda não se recuperou completamente. Isso não pode acontecer de novo! — Tudo bem. — Basílio assentiu. — Vou cuidar dela. Enquanto isso, o celular voltou a tocar. Basílio pegou o aparelho no bolso e viu uma chama
Basílio sabia, era claro, que o nome que Sílvio chamava era o de Lúcia. — Ela está bem. A cirurgia foi um sucesso. Está com um pouco de febre, mas assim que melhorar e acordar, eu a trago para te ver. — Respondeu Basílio, em tom firme. Sílvio o encarou com um olhar fixo. — Você confiou ela a mim, então é minha obrigação devolvê-la a você sem um arranhão. — Continuou Basílio, sério. Sílvio o observava, e sua expressão transparecia gratidão.— Não me olhe assim. Não faço isso por você. Sílvio, essa situação toda me mostrou o quanto Lúcia te ama. Durante os dias em que você estava na UTI, ela não mediu esforços. Enfrentou uma tempestade de neve, rezando por você a cada passo até chegar na igreja. Passou noites copiando passagens da Bíblia, implorando pela sua recuperação. E, no fim, ficou doente por causa disso. — Basílio soltou uma risada irônica. Sílvio ouviu tudo em silêncio, mas seus olhos refletiam uma dor profunda. Seus lábios tremeram levemente, e era evidente o quanto aquel
Lúcia acordou ao meio-dia do dia seguinte. Abriu os olhos de repente e percebeu que tinha um soro preso na mão. Não fazia ideia de quanto tempo havia dormido, mas sentia o corpo dolorido e a boca seca como um deserto. Quando tentou sair da cama, a porta do quarto se abriu. Basílio entrou e, ao vê-la tentando retirar a agulha da mão, segurou sua mão com firmeza:— Lúcia, você ainda está muito fraca. Não pode sair da cama. — Eu... — Lúcia tentou falar, mas sua garganta estava tão seca e áspera que parecia ter uma lixa raspando por dentro. Basílio tentou tranquilizá-la:— O Sílvio acordou. Está fora de perigo e já foi transferido para um quarto normal. — Sério? Você não está mentindo para mim? — É verdade. Eu já o vi. Assim que você melhorar, eu levo você para vê-lo. — Quero ligar para ele. — Lúcia não acreditava. Basílio pegou o celular e, diante dela, discou o número de Sílvio. O celular tocou algumas vezes antes de ser atendido. Ele colocou no viva-voz.— Sr. Basílio, o Sr.
— Tanto faz. — Lúcia não se importava nem um pouco com o que ia comer, só queria melhorar logo. Basílio insistiu:— Que tal uma canja? — Pode ser. — Lúcia presumiu que ele buscaria algo em um restaurante e traria de volta, sem dar muita atenção ao assunto. Enquanto isso, uma enfermeira entrou para trocar o curativo de Lúcia. Basílio aproveitou para sair do quarto, pegar o celular e enviar uma mensagem ao assistente: pediu que ele fosse a um mercado próximo comprar frango fresco e os ingredientes necessários para preparar uma canja. O assistente, surpreso, hesitou por um momento. Não entendia por que deveria comprar aquilo, mas concordou prontamente. Assim que terminou a ligação, chegou a cuidadora que Basílio havia contratado para Lúcia. Ele deu as instruções necessárias, acompanhou-a até o quarto e, em seguida, voltou ao hotel. Mal havia chegado à porta da suíte quando avistou o assistente com várias sacolas de ingredientes. Ele ainda havia pensado em comprar dois potes pa
Basílio chegou ao quarto de Lúcia com a marmita na mão. Colocou o recipiente com a canja na frente dela e observou enquanto ela comia com atenção. O olhar dele caiu sobre a própria mão. A palma, já avermelhada e cheia de bolhas, latejava de dor, o que o fez soltar um leve suspiro. — Você está se sentindo bem? — Lúcia perguntou, levantando os olhos e notando a expressão tensa dele. Basílio imediatamente fechou a mão, escondendo-a ao lado do corpo. A pálpebra dele tremeu levemente antes de responder:— Estou bem.— Essa canja é de qual restaurante? — E o que achou do sabor?— Está deliciosa. É a melhor canja que já tomei. — Que bom. Amanhã eu trago mais para você. Esse restaurante não tem só canja, sabia? Eles também fazem outros pratos, como arroz de frutos do mar. Experimentei uma vez, estava ótimo. — Não é incômodo demais para você? — Perguntou Lúcia, meio sem jeito. Basílio abriu um sorriso caloroso:— Nós somos amigos. Não precisa se preocupar com isso. Lúcia não respo
— Hum? — Basílio voltou à realidade. Lúcia exibia um sorriso radiante:— Vamos ver o Sílvio, vai? — Só de vê-lo, você já fica tão feliz assim?— Claro! Ele é meu marido.— Antes de perder a memória, você queria se divorciar dele. — Basílio provocou, caminhando ao lado dela enquanto saíam do quarto. Lúcia parou por um instante, mas logo explicou:— Aquilo foi coisa da minha imaturidade. Agora é diferente. Quero tratá-lo bem, fazer tudo certo. Além disso, vamos nos casar de novo, sabia? — Casar de novo? — Sim. Por causa da minha amnésia, ele quer fazer outra cerimônia. E o Sr. Basílio, claro, está convidado para o nosso casamento. — Se você me convidar para ser padrinho, eu aceito. — Respondeu Basílio com um sorriso. Mas, por dentro, sentia um gosto amargo. Ela ia mesmo refazer o casamento. Basílio deveria estar feliz por ela. Desta vez, a princesa e o cavaleiro teriam um final perfeito. Quando chegaram ao fim do corredor, em frente a outro quarto, Basílio parou e indicou
— Sra. Lúcia, que bom que chegou! — Disse Leopoldo ao vê-la entrar no quarto, sorrindo enquanto se levantava. Ele coçou o nariz, percebendo que deveria dar espaço, e acrescentou. — Vou sair pra fumar um cigarro. Cuida bem do Sr. Sílvio, está bem?Sem esperar resposta, ele abriu a porta e saiu, fechando-a com cuidado atrás de si. Agora sem mais ninguém no quarto, o ambiente ficou silencioso, quase solene.Lúcia olhou para a cama onde Sílvio estava deitado. Ele vestia o mesmo uniforme listrado que o dela, típico de pacientes hospitalares, parecendo até uma combinação de casal. Era tão diferente daquela imagem de meio mês atrás, quando ele ainda usava um respirador na boca e no nariz. Agora, apesar de ainda conectado a vários aparelhos, já não precisava da ajuda do equipamento. O rosto dele estava um pouco mais corado, revelando sinais de recuperação.A sensação era de que uma eternidade havia passado. Finalmente estavam frente a frente novamente, depois de tantos altos e baixos, quase co