O pé de Sílvio, que já havia dado um passo à frente, recuou instantaneamente. Seus olhos âmbar, como se tivessem sido atingidos por uma lâmina afiada, se contraíram bruscamente.Ele apertou com força os comprimidos na mão, que ficaram marcados na palma. Era assim que ela o via agora? Mesmo ele estando disposto a fazer qualquer coisa por ela, até arriscando a própria vida para doar um pedaço de seu fígado, ela simplesmente não queria vê-lo.A garganta de Sílvio estava seca e apertada. Ele umedeceu os lábios, sem ousar se mover. Não ousava sequer respirar fundo, com medo de que qualquer palavra sua pudesse provocar uma reação ainda mais desesperada em Lúcia.— Sílvio, se você der mais um passo, eu me mato aqui na sua frente! — Lúcia gritou novamente, temendo que ele não a levasse a sério. Seus dedos pálidos agarravam com força o cabo da faca.Seu pescoço era longo, branco, e a lâmina da faca estava tão próxima que, com um leve movimento, furou a pele. Pequenas gotas de sangue começaram a
Sílvio continuava em silêncio.Apagar todas as lembranças dela com uma injeção de amnésia… Isso seria realmente a melhor solução?— Sr. Sílvio, a Sra. Lúcia está doente, tanto física quanto mentalmente. Se ela não esquecer essas lembranças, não será capaz de aceitar o tratamento. Quanto mais forçada, mais forte será a resistência dela. E isso só vai tornar as coisas ainda mais complicadas. — Argumentou o vice-diretor.Sílvio ainda não disse nada.Leopoldo, que até então estava em silêncio, decidiu falar:— Sr. Sílvio, eu também acho que seria melhor para todos se a Sra. Lúcia esquecesse essas memórias dolorosas. Isso seria bom para ela e para o senhor. O que o senhor quer é que ela se recupere, que viva bem, certo? Mesmo que ela perca a memória, o senhor vai estar ao lado dela, e o amor pode ser reconstruído com o tempo. Mas, se continuar desse jeito, ela realmente pode não sobreviver.Tudo aquilo fazia sentido para Sílvio. Ele sabia disso.Sem as lembranças dolorosas, Lúcia talvez não
Quando Lúcia despertou, já era o segundo dia após a aplicação da injeção de amnésia.Ela sentia como se tivesse acabado de sair de um sonho longo, muito longo. No sonho, seus pais estavam presentes, ambos jovens, e ela, ainda criança, vivia momentos calorosos e felizes com eles. Ao acordar, porém, mal conseguia lembrar dos detalhes daquele sonho. Sua mente estava confusa, e o cansaço dominava seu corpo. Ela se sentia exausta, como se cada músculo estivesse pesado. Uma fadiga intensa a fez franzir a testa.Deitada na cama do hospital, Lúcia olhou ao redor. Estava em um quarto de hospital. A luz do sol entrava pela janela com força, um pouco ofuscante.As cortinas brancas não estavam completamente fechadas e balançavam suavemente ao sabor do vento. A luz refletia em uma planta verdejante ao lado da janela, e as folhas pareciam ter sido banhadas por uma camada dourada.A claridade incomodava seus olhos, que ardiam levemente. Ela abaixou o olhar e viu uma agulha presa à sua mão, envolta c
— Você se chama Lúcia, e eu me chamo Sílvio. Nós somos órfãos e passamos por muitas coisas parecidas.Ao ouvir que era órfã, Lúcia franziu novamente as sobrancelhas:— Órfã?— Sim, seus pais morreram quando você ainda era muito pequena. Mas não se preocupe, você não está sozinha. Eu estou aqui com você.Os olhos de Lúcia brilharam com um misto de surpresa e tristeza. Então ela era órfã, e seus pais haviam morrido tão cedo…— E qual é a nossa relação? — Lúcia perguntou, confusa, olhando para o homem à sua frente.Com uma voz suave, ele respondeu:— Nós somos casados.— Casados? — Lúcia arregalou os olhos.Sílvio assentiu:— Sim, crescemos juntos, somos como almas gêmeas. Sempre tivemos uma relação muito forte, até que você foi diagnosticada com câncer de fígado em estágio avançado. Agora estamos no hospital para o tratamento. Depois de amanhã, um especialista muito renomado vai te examinar. Ele é excelente e tem muita experiência com esse tipo de cirurgia. Você não precisa se preocupar
Enquanto ele escrevia, toda a sua atenção estava focada no papel. Seus dedos, delineados e firmes, seguravam a caneta com precisão, enquanto o corpo, envolto no casaco preto, permanecia ereto.Talvez por causa das bandagens em sua mão, Sílvio escrevia devagar.Lúcia o observava discretamente, percebendo que ele não era feio.Quando terminou de escrever, Sílvio levantou os olhos e encontrou o olhar curioso de Lúcia.O rosto dela ficou imediatamente corado, desviando o olhar como se tivesse sido pega fazendo algo proibido. Era realmente constrangedor ser flagrada espiando alguém.Com a mão enfaixada, Sílvio entregou o papel a ela, dizendo com um sorriso no rosto:— Pode olhar para o seu marido sem precisar disfarçar.Lúcia ficou ainda mais envergonhada.Depois que Sílvio saiu do quarto, Lúcia, com as bochechas quentes, olhou para o papel em suas mãos, admirando a caligrafia firme e bonita.Então, ele se chamava Sílvio Medeiros. O nome dele soava bem, e a sua caligrafia era igualmente imp
— O Sr. Sílvio já sacrificou muito, até mesmo arriscando a própria vida para garantir que a senhora receba o tratamento adequado. Então, por favor, colabore com o tratamento. Quando a cirurgia for bem-sucedida, fique ao lado dele. O Sr. Sílvio não é de falar o que sente. Ele é do tipo que tem um coração mole, mas uma boca dura. Às vezes, ele não sabe como expressar o que sente, mas eu posso garantir que ele ama a senhora. Em todos esses anos, eu nunca o vi se importar tanto com alguém. Por favor, cuide bem dele. Se ele chegou até aqui, foi por causa do amor que sente pela senhora.Leopoldo havia omitido alguns detalhes, como o fato de Abelardo e Sandra estarem no carro no momento do acidente, ou que foi Giovana quem salvou Sílvio.Também não mencionou que, durante o sequestro, Sílvio não havia decidido pular do penhasco, e sim fora empurrado pela gerente.Mas Leopoldo acreditava que esses detalhes não importavam no momento. O que era importante era o sentimento por trás da história. Pe
— Claro que fui eu quem a amou mais.— Então o Sr. Sílvio foi quem correu atrás da sua esposa? — A apresentadora brincou, com um sorriso no rosto.Sílvio hesitou por um segundo, como se não esperasse aquela pergunta, mas logo sorriu e acenou com a cabeça.Lúcia apagou o tablet. Então foi ele quem a conquistou. Ele tinha dito que ela era órfã, que seus pais haviam morrido quando ela ainda era muito pequena e que eles cresceram juntos, como amigos de infância.Foi só pesquisando sobre ele que Lúcia descobriu que Sílvio não era um homem comum, mas sim um verdadeiro magnata. Ele tinha tudo: boa aparência, um físico impecável, e ainda assim escolheu se casar com ela, permanecendo ao seu lado sem nunca abandoná-la. Realmente, um homem extraordinário.Ela sabia que muitos homens de sucesso, ao atingirem o auge, trocavam de esposa por uma mais jovem ou alguém que pudesse abrir mais portas para eles. Mas Sílvio não. Ele ficou com ela, mesmo sabendo que Lúcia era órfã e estava gravemente doente.
Dr. Daulo estreitou os olhos e olhou para ela com cautela:— Sra. Lúcia, você tem certeza? Eu não posso garantir que você sairá viva da mesa de cirurgia.— Eu tenho certeza. E, quem sabe, se eu tiver sorte, um milagre pode acontecer. — Lúcia respondeu, quase como se estivesse falando para si mesma. Milagres eram chamados de milagres justamente porque eram raros. Se um milagre acontecesse, ela não estaria naquela situação.Mas ela não podia ser egoísta. Sílvio havia feito tanto por ela, como Leopoldo havia mencionado. Ele havia abandonado o trabalho, gastado tanto dinheiro... Se ela desistisse agora, todo o dinheiro investido no tratamento seria jogado fora.Ela era uma órfã, sem nada a oferecer, uma mulher sem posses ou status. E mesmo assim, Sílvio, um homem de sucesso, a escolheu e permaneceu devotado a ela. O mínimo que ela podia fazer era lutar pela vida, para se curar, como forma de retribuição.Nesse momento, uma enfermeira entrou, lembrando Lúcia de que era hora de receber o so