Enquanto ele escrevia, toda a sua atenção estava focada no papel. Seus dedos, delineados e firmes, seguravam a caneta com precisão, enquanto o corpo, envolto no casaco preto, permanecia ereto.Talvez por causa das bandagens em sua mão, Sílvio escrevia devagar.Lúcia o observava discretamente, percebendo que ele não era feio.Quando terminou de escrever, Sílvio levantou os olhos e encontrou o olhar curioso de Lúcia.O rosto dela ficou imediatamente corado, desviando o olhar como se tivesse sido pega fazendo algo proibido. Era realmente constrangedor ser flagrada espiando alguém.Com a mão enfaixada, Sílvio entregou o papel a ela, dizendo com um sorriso no rosto:— Pode olhar para o seu marido sem precisar disfarçar.Lúcia ficou ainda mais envergonhada.Depois que Sílvio saiu do quarto, Lúcia, com as bochechas quentes, olhou para o papel em suas mãos, admirando a caligrafia firme e bonita.Então, ele se chamava Sílvio Medeiros. O nome dele soava bem, e a sua caligrafia era igualmente imp
— O Sr. Sílvio já sacrificou muito, até mesmo arriscando a própria vida para garantir que a senhora receba o tratamento adequado. Então, por favor, colabore com o tratamento. Quando a cirurgia for bem-sucedida, fique ao lado dele. O Sr. Sílvio não é de falar o que sente. Ele é do tipo que tem um coração mole, mas uma boca dura. Às vezes, ele não sabe como expressar o que sente, mas eu posso garantir que ele ama a senhora. Em todos esses anos, eu nunca o vi se importar tanto com alguém. Por favor, cuide bem dele. Se ele chegou até aqui, foi por causa do amor que sente pela senhora.Leopoldo havia omitido alguns detalhes, como o fato de Abelardo e Sandra estarem no carro no momento do acidente, ou que foi Giovana quem salvou Sílvio.Também não mencionou que, durante o sequestro, Sílvio não havia decidido pular do penhasco, e sim fora empurrado pela gerente.Mas Leopoldo acreditava que esses detalhes não importavam no momento. O que era importante era o sentimento por trás da história. Pe
— Claro que fui eu quem a amou mais.— Então o Sr. Sílvio foi quem correu atrás da sua esposa? — A apresentadora brincou, com um sorriso no rosto.Sílvio hesitou por um segundo, como se não esperasse aquela pergunta, mas logo sorriu e acenou com a cabeça.Lúcia apagou o tablet. Então foi ele quem a conquistou. Ele tinha dito que ela era órfã, que seus pais haviam morrido quando ela ainda era muito pequena e que eles cresceram juntos, como amigos de infância.Foi só pesquisando sobre ele que Lúcia descobriu que Sílvio não era um homem comum, mas sim um verdadeiro magnata. Ele tinha tudo: boa aparência, um físico impecável, e ainda assim escolheu se casar com ela, permanecendo ao seu lado sem nunca abandoná-la. Realmente, um homem extraordinário.Ela sabia que muitos homens de sucesso, ao atingirem o auge, trocavam de esposa por uma mais jovem ou alguém que pudesse abrir mais portas para eles. Mas Sílvio não. Ele ficou com ela, mesmo sabendo que Lúcia era órfã e estava gravemente doente.
Dr. Daulo estreitou os olhos e olhou para ela com cautela:— Sra. Lúcia, você tem certeza? Eu não posso garantir que você sairá viva da mesa de cirurgia.— Eu tenho certeza. E, quem sabe, se eu tiver sorte, um milagre pode acontecer. — Lúcia respondeu, quase como se estivesse falando para si mesma. Milagres eram chamados de milagres justamente porque eram raros. Se um milagre acontecesse, ela não estaria naquela situação.Mas ela não podia ser egoísta. Sílvio havia feito tanto por ela, como Leopoldo havia mencionado. Ele havia abandonado o trabalho, gastado tanto dinheiro... Se ela desistisse agora, todo o dinheiro investido no tratamento seria jogado fora.Ela era uma órfã, sem nada a oferecer, uma mulher sem posses ou status. E mesmo assim, Sílvio, um homem de sucesso, a escolheu e permaneceu devotado a ela. O mínimo que ela podia fazer era lutar pela vida, para se curar, como forma de retribuição.Nesse momento, uma enfermeira entrou, lembrando Lúcia de que era hora de receber o so
— O risco da sua cirurgia não é menor do que o da Sra. Lúcia. Já pensou que você pode morrer na mesa de operações? — O Dr. Daulo comentou, com um sorriso frio nos lábios.— Já pensei. — Sílvio respondeu calmamente.O Dr. Daulo o observou atentamente:— Quando você veio me procurar pela primeira vez, mesmo eu te rejeitando, você não desistiu e mostrou persistência. Por isso estou sendo franco com você agora. A vida só nos é dada uma vez. Vale a pena arriscar a sua por uma mulher? Com seu poder e status, encontrar outra mulher melhor do que ela não seria difícil.Sim, Sílvio já pensara assim no passado. Para ele, as mulheres eram apenas um detalhe na vida. O foco sempre foi o poder, os negócios e a vingança.Mas agora, ele já não via as coisas dessa forma.Claro, havia muitas mulheres dispostas a se casar com ele. Encontrar alguém mais jovem e mais bonita que Lúcia não seria nenhum desafio. Mas, nesta vida, ele havia se apaixonado por Lúcia, e era ela quem ele queria, ponto final.— Lúci
Lúcia aceitou a explicação de Basílio sem questionar. Algo nele a fazia acreditar que ele não era uma má pessoa.— E qual é o seu nome?— Basílio Araújo. — Ele pronunciou o nome devagar, com clareza, para que ela pudesse gravá-lo.Anos atrás, quando se conheceram pela primeira vez, ela também lhe perguntara o nome da mesma maneira, e ele havia respondido exatamente assim.Mas, naquela época, ela não conseguira lembrar.No meio da multidão, ele era praticamente invisível. Filho ilegítimo, tímido e inseguro, ele não ousava se aproximar dela. Só a observava de longe, admirando-a em silêncio.Agora, ele era o presidente do Grupo Araújo, trazido de volta pela família rica de seu pai. No entanto, ela já não tinha mais nenhum laço com ele.Lúcia repetiu o nome dele:— Basílio. É um nome bonito. Vou me lembrar.— Lúcia, você está feliz agora? — Basílio perguntou, com um olhar cheio de sentimentos conflitantes: compaixão, dor e preocupação.Ele estava triste por ela ter perdido a memória, mas s
Sílvio semicerrava os olhos, claramente percebendo o tom sarcástico da provocação. De repente, o elevador se abriu, e Basílio entrou com as mãos nos bolsos da calça. A porta estava prestes a fechar, mas uma mão firme a impediu. Sílvio também entrou, estendeu os dedos longos e apertou o botão para descer.O elevador começou a se mover lentamente para baixo. Só então Sílvio olhou para Basílio: — Lúcia é minha esposa. Fique longe dela.— E ela ainda seria sua esposa se não tivesse perdido a memória? — Basílio lançou um olhar provocador e um sorriso de deboche.A mão de Sílvio, ao lado do corpo, se fechou em um punho. Ele não era de levar desaforo para casa, e Basílio não escondia a intenção de provocá-lo. Mas o fato é que Basílio tinha conseguido convencer o Dr. Daulo a ajudar, o que, indiretamente, salvou a vida de Lúcia. Pensando nisso, o punho de Sílvio aos poucos se relaxou.Basílio soltou outra risada irônica:— Foi você quem causou a amnésia dela?Sílvio ficou em silêncio, mas o
— Basílio, eu sei que antes eu te via como um bastardo oportunista, alguém de moral duvidosa, sempre de olho na minha esposa. Mas dessa vez, com a doença da Lúcia, pude perceber outra coisa. Você não é uma má pessoa. Sem sua ajuda, ela jamais teria conseguido ser atendida pelo Dr. Daulo. Com você, sei que ela não sofreria no futuro. — Disse Sílvio.— Poupa seu discurso pra outra pessoa. Se você for homem de verdade, vai sair da cirurgia de cabeça erguida. A sua esposa não precisa de ninguém para cuidar dela. — Basílio respondeu, com um sorriso meio debochado e desviando o olhar, fingindo indiferença. — Eu não tenho o menor interesse em mulheres casadas. Isso não faz meu tipo.Mas ele mentia. Gostava de Lúcia havia anos, desde muito antes de Sílvio sequer conhecê-la. Ele a conhecia desde sempre, mas sendo um filho ilegítimo, vivendo à margem e sem destaque, ela nunca soube de sua existência.Basílio deu as costas para sair, mas antes que pudesse ir embora, ouviu a voz de Sílvio atrás de