— O risco da sua cirurgia não é menor do que o da Sra. Lúcia. Já pensou que você pode morrer na mesa de operações? — O Dr. Daulo comentou, com um sorriso frio nos lábios.— Já pensei. — Sílvio respondeu calmamente.O Dr. Daulo o observou atentamente:— Quando você veio me procurar pela primeira vez, mesmo eu te rejeitando, você não desistiu e mostrou persistência. Por isso estou sendo franco com você agora. A vida só nos é dada uma vez. Vale a pena arriscar a sua por uma mulher? Com seu poder e status, encontrar outra mulher melhor do que ela não seria difícil.Sim, Sílvio já pensara assim no passado. Para ele, as mulheres eram apenas um detalhe na vida. O foco sempre foi o poder, os negócios e a vingança.Mas agora, ele já não via as coisas dessa forma.Claro, havia muitas mulheres dispostas a se casar com ele. Encontrar alguém mais jovem e mais bonita que Lúcia não seria nenhum desafio. Mas, nesta vida, ele havia se apaixonado por Lúcia, e era ela quem ele queria, ponto final.— Lúci
Lúcia aceitou a explicação de Basílio sem questionar. Algo nele a fazia acreditar que ele não era uma má pessoa.— E qual é o seu nome?— Basílio Araújo. — Ele pronunciou o nome devagar, com clareza, para que ela pudesse gravá-lo.Anos atrás, quando se conheceram pela primeira vez, ela também lhe perguntara o nome da mesma maneira, e ele havia respondido exatamente assim.Mas, naquela época, ela não conseguira lembrar.No meio da multidão, ele era praticamente invisível. Filho ilegítimo, tímido e inseguro, ele não ousava se aproximar dela. Só a observava de longe, admirando-a em silêncio.Agora, ele era o presidente do Grupo Araújo, trazido de volta pela família rica de seu pai. No entanto, ela já não tinha mais nenhum laço com ele.Lúcia repetiu o nome dele:— Basílio. É um nome bonito. Vou me lembrar.— Lúcia, você está feliz agora? — Basílio perguntou, com um olhar cheio de sentimentos conflitantes: compaixão, dor e preocupação.Ele estava triste por ela ter perdido a memória, mas s
Sílvio semicerrava os olhos, claramente percebendo o tom sarcástico da provocação. De repente, o elevador se abriu, e Basílio entrou com as mãos nos bolsos da calça. A porta estava prestes a fechar, mas uma mão firme a impediu. Sílvio também entrou, estendeu os dedos longos e apertou o botão para descer.O elevador começou a se mover lentamente para baixo. Só então Sílvio olhou para Basílio: — Lúcia é minha esposa. Fique longe dela.— E ela ainda seria sua esposa se não tivesse perdido a memória? — Basílio lançou um olhar provocador e um sorriso de deboche.A mão de Sílvio, ao lado do corpo, se fechou em um punho. Ele não era de levar desaforo para casa, e Basílio não escondia a intenção de provocá-lo. Mas o fato é que Basílio tinha conseguido convencer o Dr. Daulo a ajudar, o que, indiretamente, salvou a vida de Lúcia. Pensando nisso, o punho de Sílvio aos poucos se relaxou.Basílio soltou outra risada irônica:— Foi você quem causou a amnésia dela?Sílvio ficou em silêncio, mas o
— Basílio, eu sei que antes eu te via como um bastardo oportunista, alguém de moral duvidosa, sempre de olho na minha esposa. Mas dessa vez, com a doença da Lúcia, pude perceber outra coisa. Você não é uma má pessoa. Sem sua ajuda, ela jamais teria conseguido ser atendida pelo Dr. Daulo. Com você, sei que ela não sofreria no futuro. — Disse Sílvio.— Poupa seu discurso pra outra pessoa. Se você for homem de verdade, vai sair da cirurgia de cabeça erguida. A sua esposa não precisa de ninguém para cuidar dela. — Basílio respondeu, com um sorriso meio debochado e desviando o olhar, fingindo indiferença. — Eu não tenho o menor interesse em mulheres casadas. Isso não faz meu tipo.Mas ele mentia. Gostava de Lúcia havia anos, desde muito antes de Sílvio sequer conhecê-la. Ele a conhecia desde sempre, mas sendo um filho ilegítimo, vivendo à margem e sem destaque, ela nunca soube de sua existência.Basílio deu as costas para sair, mas antes que pudesse ir embora, ouviu a voz de Sílvio atrás de
Lúcia ficou completamente atordoada, os pensamentos se esvaindo, com os olhos arregalados. Ela olhava Sílvio, que mantinha os olhos fechados, e estavam tão próximos, mais próximos do que jamais estiveram.Seu coração batia de forma desenfreada, acelerando em um ritmo que nunca sentira antes, uma sensação que lhe percorria os nervos como pequenos choques elétricos, arrepiando cada parte de seu corpo. Ela não se lembrava do passado, mal tinha passado dois dias ao lado desse homem que chamava de marido, mas, apesar da intimidade repentina, não sentia desconforto. Pelo contrário, o toque dele, embora inesperado, parecia natural.A mão de Sílvio, que se entrelaçava em seus cabelos e segurava a nuca dela, hesitou por um momento, como se temesse que ela não estivesse gostando. Ele afastou os lábios dos dela, abrindo os olhos de repente. Lúcia reparou em seus cílios longos, quase como as asas de uma borboleta prestes a voar. Seus olhos eram de um tom âmbar, e ela conseguia ver seu reflexo na
Sílvio se lembrou de como foi no começo, quando ele e Lúcia estavam juntos pela primeira vez. Ambos eram os primeiros parceiros um do outro, e até o primeiro beijo deles foi compartilhado.Teve uma vez em que eles foram para um quarto de hotel, deitados na cama sem saber o que fazer, nem mesmo como beijar direito. Acabaram colocando um filme pornô para aprenderem na hora e seguirem o exemplo.Depois de assistir, ele tentou o primeiro beijo, e logo entendeu o jeito certo, fazendo o coração de Lúcia bater mais forte até que ela se entregou, derretendo nos braços dele.Lúcia gostava tanto dele que não conseguia se afastar, e havia uma razão mais profunda para isso: Sílvio a havia conquistado completamente na intimidade. Dizem que o caminho para o coração de uma mulher passa pelo prazer, e Sílvio acreditava firmemente nisso. Os dois compartilhavam essa certeza sem precisar falar sobre.Quando Lúcia ficava chateada com ele por estar ocupado demais no trabalho e não conseguir dar atenção, e
Sílvio sorriu de leve e estendeu a mão larga e áspera, acariciando o topo dos cabelos negros de Lúcia. Mesmo doente, os fios dela eram suaves ao toque, como plumas roçando a palma dele.— Difícil avaliar? — Lúcia disse, comprimindo os lábios.Ele deu um leve tapinha em seus cabelos. — Você beija melhor que eu.Sílvio a envolveu nos braços, sua mão deslizando sob a bata de hospital dela, subindo lentamente enquanto repousava o queixo em seu ombro. — A cirurgia é depois de amanhã. Tem algum desejo antes disso?Lúcia corou com o toque dos dedos dele, mordeu o lábio e pensou com seriedade antes de responder:— Quero visitar o túmulo dos meus pais.Ela se lembrou do que o Dr. Daulo disse sobre as chances do procedimento. Eram apenas 40%, e ela mal recordava quem eram seus pais. Sentia uma culpa profunda por isso. Queria, enquanto ainda havia tempo, saber onde estavam enterrados e deixar uma flor para eles pessoalmente.— O cemitério fica num vilarejo isolado, lá em Cidade A. De carro, são
Sílvio, mesmo tendo alcançado riqueza e sucesso, nunca a abandonou. Ele sempre estava lá, cuidando dela, bancando o tratamento, enquanto ela, teimosa e medrosa, ainda se recusava a tomar os remédios e rejeitava a cura. Lúcia se sentia longe de ser uma boa esposa. Naquele momento, o peito apertou de culpa e tristeza, como se a dor do ferimento na mão dele tivesse se instalado direto no seu coração. Lágrimas quentes escaparam de seus olhos, caindo uma a uma sobre a faixa de gaze que envolvia a mão machucada de Sílvio.— Lúcia, o que houve? Está se sentindo mal de novo? Vou pegar seu analgésico. — Sílvio notou as lágrimas brilhantes no curativo e, num segundo, ficou alerta, abrindo o zíper da bolsa dela para procurar o remédio.Que tolo! Ele estava todo machucado por causa dela e ainda achava que o problema era com o estado dela. Sem pensar, virou-se, envolvendo o pescoço dele com os braços, agarrando sua jaqueta com força, amassando o tecido entre os dedos enquanto soluços escapavam inc