No hospital Serra Encantada, no escritório do diretor, o vice-diretor olhava para Sílvio com uma expressão preocupada:— Sr. Sílvio, o estado de saúde de sua esposa não pode esperar mais. Ela precisa urgentemente começar o tratamento. Se continuar adiando, nem Deus poderá salvá-la.— O Dr. Daulo estará aqui depois de amanhã para avaliá-la pessoalmente. Preparem tudo no hospital. — Respondeu Sílvio, com o rosto sombrio.O vice-diretor respirou aliviado ao ouvir isso:— Isso é ótimo.Como se lembrasse de algo, ele perguntou:— Sr. Sílvio, nós ainda não encontramos um fígado compatível para a Sra. Lúcia. O Dr. Daulo conseguiu encontrar um?— Eu vou doar.Essas palavras deixaram o vice-diretor boquiaberto. Preocupado, ele insistiu:— Mas, Sr. Sílvio, o estado de saúde da Sra. Lúcia é gravíssimo. Sua doação não será de apenas uma parte do fígado, mas a remoção de todo o lobo esquerdo! Retirar uma parte tão grande pode colocar sua vida em risco. E há a chance de que a cirurgia falhe. Se isso
— A memória perdida pode voltar algum dia? — Perguntou Leopoldo ao vice-diretor.O vice-diretor respondeu:— As chances são de cinquenta por cento. No entanto, se ninguém mexer com ela ou se ela mesma não tentar recuperar as lembranças, geralmente não há risco de que volte sozinha.Depois, ele olhou seriamente para Sílvio:— Sr. Sílvio, o senhor precisa decidir logo se vai usar a injeção de amnésia para que a Sra. Lúcia coopere com o tratamento. Afinal, o Dr. Daulo virá depois de amanhã para a consulta, e não podemos mais perder tempo.Sílvio sentia o peso da decisão sufocá-lo. Sua mente estava uma confusão completa. Ele apertou os lábios e disse:— Deixe-me pensar. Hoje mesmo dou uma resposta.Ao sair do escritório, Sílvio entrou no elevador e, exausto, massageou as têmporas. Seu celular tocou de repente. Ele atendeu, e a voz do Dr. Arthur surgiu do outro lado da linha, cheia de formalidades e rodeios.— O que você quer dizer com isso? — Sílvio perguntou, franzindo a testa.— Sr. Sílv
Lúcia estava com a cabeça fervendo de raiva, pensamentos girando em torno das fotos provocadoras e das mensagens de Giovana. Ela não conseguia manter a calma ou ser racional. Tudo o que queria era gritar, extravasar, enlouquecer.Sílvio, por outro lado, nunca havia visto Lúcia desse jeito. Ela sempre foi uma mulher sensata, compreensiva, jamais havia sido tão violenta, muito menos machucado alguém dessa forma e, ainda por cima, agido como se tivesse razão.Ele sabia que, de certa forma, também era responsável pela morte dos pais dela e por ela ter se tornado órfã. Esse pensamento apagou qualquer raiva que ele pudesse sentir.Sem dizer nada, ele se virou e fechou a porta do quarto, com o semblante inexpressivo.— O que você vai fazer? — Gritou Lúcia, em um surto de pânico.Ela estava à beira de um colapso. Não conseguia segurar as lágrimas, a raiva, a loucura que parecia tomar conta de sua mente. Sua saúde mental estava se deteriorando rapidamente.Sílvio, no entanto, não parecia ter me
O pé de Sílvio, que já havia dado um passo à frente, recuou instantaneamente. Seus olhos âmbar, como se tivessem sido atingidos por uma lâmina afiada, se contraíram bruscamente.Ele apertou com força os comprimidos na mão, que ficaram marcados na palma. Era assim que ela o via agora? Mesmo ele estando disposto a fazer qualquer coisa por ela, até arriscando a própria vida para doar um pedaço de seu fígado, ela simplesmente não queria vê-lo.A garganta de Sílvio estava seca e apertada. Ele umedeceu os lábios, sem ousar se mover. Não ousava sequer respirar fundo, com medo de que qualquer palavra sua pudesse provocar uma reação ainda mais desesperada em Lúcia.— Sílvio, se você der mais um passo, eu me mato aqui na sua frente! — Lúcia gritou novamente, temendo que ele não a levasse a sério. Seus dedos pálidos agarravam com força o cabo da faca.Seu pescoço era longo, branco, e a lâmina da faca estava tão próxima que, com um leve movimento, furou a pele. Pequenas gotas de sangue começaram a
Sílvio continuava em silêncio.Apagar todas as lembranças dela com uma injeção de amnésia… Isso seria realmente a melhor solução?— Sr. Sílvio, a Sra. Lúcia está doente, tanto física quanto mentalmente. Se ela não esquecer essas lembranças, não será capaz de aceitar o tratamento. Quanto mais forçada, mais forte será a resistência dela. E isso só vai tornar as coisas ainda mais complicadas. — Argumentou o vice-diretor.Sílvio ainda não disse nada.Leopoldo, que até então estava em silêncio, decidiu falar:— Sr. Sílvio, eu também acho que seria melhor para todos se a Sra. Lúcia esquecesse essas memórias dolorosas. Isso seria bom para ela e para o senhor. O que o senhor quer é que ela se recupere, que viva bem, certo? Mesmo que ela perca a memória, o senhor vai estar ao lado dela, e o amor pode ser reconstruído com o tempo. Mas, se continuar desse jeito, ela realmente pode não sobreviver.Tudo aquilo fazia sentido para Sílvio. Ele sabia disso.Sem as lembranças dolorosas, Lúcia talvez não
Quando Lúcia despertou, já era o segundo dia após a aplicação da injeção de amnésia.Ela sentia como se tivesse acabado de sair de um sonho longo, muito longo. No sonho, seus pais estavam presentes, ambos jovens, e ela, ainda criança, vivia momentos calorosos e felizes com eles. Ao acordar, porém, mal conseguia lembrar dos detalhes daquele sonho. Sua mente estava confusa, e o cansaço dominava seu corpo. Ela se sentia exausta, como se cada músculo estivesse pesado. Uma fadiga intensa a fez franzir a testa.Deitada na cama do hospital, Lúcia olhou ao redor. Estava em um quarto de hospital. A luz do sol entrava pela janela com força, um pouco ofuscante.As cortinas brancas não estavam completamente fechadas e balançavam suavemente ao sabor do vento. A luz refletia em uma planta verdejante ao lado da janela, e as folhas pareciam ter sido banhadas por uma camada dourada.A claridade incomodava seus olhos, que ardiam levemente. Ela abaixou o olhar e viu uma agulha presa à sua mão, envolta c
— Você se chama Lúcia, e eu me chamo Sílvio. Nós somos órfãos e passamos por muitas coisas parecidas.Ao ouvir que era órfã, Lúcia franziu novamente as sobrancelhas:— Órfã?— Sim, seus pais morreram quando você ainda era muito pequena. Mas não se preocupe, você não está sozinha. Eu estou aqui com você.Os olhos de Lúcia brilharam com um misto de surpresa e tristeza. Então ela era órfã, e seus pais haviam morrido tão cedo…— E qual é a nossa relação? — Lúcia perguntou, confusa, olhando para o homem à sua frente.Com uma voz suave, ele respondeu:— Nós somos casados.— Casados? — Lúcia arregalou os olhos.Sílvio assentiu:— Sim, crescemos juntos, somos como almas gêmeas. Sempre tivemos uma relação muito forte, até que você foi diagnosticada com câncer de fígado em estágio avançado. Agora estamos no hospital para o tratamento. Depois de amanhã, um especialista muito renomado vai te examinar. Ele é excelente e tem muita experiência com esse tipo de cirurgia. Você não precisa se preocupar
Enquanto ele escrevia, toda a sua atenção estava focada no papel. Seus dedos, delineados e firmes, seguravam a caneta com precisão, enquanto o corpo, envolto no casaco preto, permanecia ereto.Talvez por causa das bandagens em sua mão, Sílvio escrevia devagar.Lúcia o observava discretamente, percebendo que ele não era feio.Quando terminou de escrever, Sílvio levantou os olhos e encontrou o olhar curioso de Lúcia.O rosto dela ficou imediatamente corado, desviando o olhar como se tivesse sido pega fazendo algo proibido. Era realmente constrangedor ser flagrada espiando alguém.Com a mão enfaixada, Sílvio entregou o papel a ela, dizendo com um sorriso no rosto:— Pode olhar para o seu marido sem precisar disfarçar.Lúcia ficou ainda mais envergonhada.Depois que Sílvio saiu do quarto, Lúcia, com as bochechas quentes, olhou para o papel em suas mãos, admirando a caligrafia firme e bonita.Então, ele se chamava Sílvio Medeiros. O nome dele soava bem, e a sua caligrafia era igualmente imp