Por mais que Sílvio tentasse falar com ela e buscasse acalmá-la, Lúcia simplesmente ficou em silêncio, com o olhar perdido, deixando as lágrimas caírem sem sequer lhe dirigir um único olhar.Toda a paciência de Sílvio se esgotou. Ele saiu do quarto, batendo a porta com força.Ao sair da ala de internação, foi recebido pelo vento gelado do lado de fora. As altas árvores de pinho estavam cobertas de neve, e o chão, húmido, refletia a claridade branca do ambiente. O vento cortante balançava as árvores, fazendo-as inclinar de um lado para o outro.Sílvio desceu os degraus da entrada do hospital, sentindo uma raiva surda crescer dentro de si. Os flocos de neve cristalinos caíam sobre seu rosto, sobre seu cabelo impecavelmente penteado, sobre os ombros do casaco preto e sobre os sapatos brilhantes que ele usava.Ele pensou em acender um cigarro. Tirou um do bolso e tentou várias vezes usar o isqueiro, mas o vento forte apagava a chama toda vez.A frustração aumentou. Sílvio quebrou o cigarro
Ao baixar os olhos, Sílvio viu a mão de Lúcia, abraçada às pernas. A pele estava vermelha e inchada. O coração dele se apertou de dor e raiva.Ela estava machucada. Embora fosse apenas uma queimadura leve, a dor parecia latejar nele.Mas o que o irritava mais era o fato de ela ter passado o dia inteiro fazendo drama. Ele não conseguia entender porque ela estava se comportando assim, cada vez mais intransigente.— Você não tem mais cuidado? Está doendo? — Sílvio suavizou o tom de voz, tentando iniciar uma conversa.Lúcia continuou sem se virar. Ele não se deixou abater. Abriu a caixa da pomada de queimadura e continuou:— Ainda está brava? Não fique assim. Ficar nervosa só te envelhece mais rápido.Lúcia, ainda olhando para as cortinas, piscou lentamente seus olhos secos.Ela sabia que Sílvio estava tentando acalmá-la, tentando ser gentil.O Sílvio de antes jamais teria tanta paciência. Era sempre ela quem cedia, quem o perdoava.Ela deveria sentir-se satisfeita agora. Mas, ao lembrar d
Lúcia fechou os olhos e disse:— Estou cansada, não quero brigar com você.— Eu não quero brigar, Lúcia! Quero que você se trate, estou tentando te ajudar! Não entendo por que você só pensa em morrer! A morte vem para todos, não há como fugir dela! Mas por que você tem tanta pressa? Acha que se morrer agora vai garantir um lugar no céu? — Sílvio tentava controlar a raiva que subia em seu peito. Ele nunca havia se rebaixado tanto para alguém antes. — Lúcia, eu quero que você viva. Quero que viva comigo. Você sabe, eu sou órfão. Meus pais morreram quando eu era criança. Não tenho parentes, não tenho amigos. Só tenho você.Ele fez uma pausa, a voz ficando mais fraca, quase suplicante:— Se você morrer, o que vai ser de mim? Os mortos não sentem dor, mas quem fica, Lúcia, quem fica carrega o fardo mais pesado. Por favor, estou te pedindo, não faça isso.Ao ouvir a palavra “pedir”, os cílios de Lúcia tremeram levemente. Ela se virou, olhando diretamente para ele pela primeira vez em muito t
— Você gosta tanto dele, não é? Então viva por ele. — Sílvio achou que ela estava começando a ceder. — Você se divorciou por causa dele. Se morrer, qual foi o sentido de se divorciar?Ele fez uma pausa, tentando parecer mais leve:— Já decidi, quando você se casar com ele, vou te dar um belo presente. E de agora em diante, eu serei seu irmão, sua família.Lúcia soltou uma risada amarga. Seria possível? Seu ex-marido agora queria ser seu irmão? Que tipo de piada era essa?— Sua boa intenção, Sílvio, eu não posso aceitar.— O que você quer, então? Diga-me, e eu farei.— Quero que meus pais voltem à vida. Quero que a família Baptista volte a ser o que era. Quero nunca ter te conhecido. Você pode fazer isso? Se puder, eu aceito o tratamento imediatamente.Toda a paciência de Sílvio se esgotou. Aquele comportamento de Lúcia, recusando tudo, era demais para ele.— Você está sendo irracional de novo?— Se você acha isso, então sim.— Lúcia, por que você se tornou essa pessoa? — Sílvio a olhav
— Está doendo? Você estava distraída enquanto limpava o chão! Parece que ainda não está doendo o suficiente. — Dr. Arthur falou com frieza, enquanto aumentava a pressão do pé sobre a mão de Giovana.Giovana gritava de dor, quase em desespero. Desde que sua tentativa de matar aquele velho pervertido falhou, ele não parava de torturá-la em vingança.Dr. Arthur observava o rosto contorcido de dor de Giovana, soltando algumas risadas secas. Aquela mulher era uma verdadeira cobra. Ele havia tentado se casar com ela, dar uma família ao filho que esperavam, mas ela armou para ele, mexendo nos freios do carro e quase o matando em um acidente.Ele sobreviveu por sorte, escapando por pouco da morte. Agora, ao vê-la ali, humilhada, ele não sentia mais nenhum desejo por ela. Para ele, ela já não tinha valor algum.— Lúcia já falou com você?— Ainda... Ainda não... — Giovana mal conseguia respirar de tanta dor.Dr. Arthur se agachou diante dela, mantendo o pé firme sobre sua mão inchada. Com a outr
No hospital Serra Encantada, no escritório do diretor, o vice-diretor olhava para Sílvio com uma expressão preocupada:— Sr. Sílvio, o estado de saúde de sua esposa não pode esperar mais. Ela precisa urgentemente começar o tratamento. Se continuar adiando, nem Deus poderá salvá-la.— O Dr. Daulo estará aqui depois de amanhã para avaliá-la pessoalmente. Preparem tudo no hospital. — Respondeu Sílvio, com o rosto sombrio.O vice-diretor respirou aliviado ao ouvir isso:— Isso é ótimo.Como se lembrasse de algo, ele perguntou:— Sr. Sílvio, nós ainda não encontramos um fígado compatível para a Sra. Lúcia. O Dr. Daulo conseguiu encontrar um?— Eu vou doar.Essas palavras deixaram o vice-diretor boquiaberto. Preocupado, ele insistiu:— Mas, Sr. Sílvio, o estado de saúde da Sra. Lúcia é gravíssimo. Sua doação não será de apenas uma parte do fígado, mas a remoção de todo o lobo esquerdo! Retirar uma parte tão grande pode colocar sua vida em risco. E há a chance de que a cirurgia falhe. Se isso
— A memória perdida pode voltar algum dia? — Perguntou Leopoldo ao vice-diretor.O vice-diretor respondeu:— As chances são de cinquenta por cento. No entanto, se ninguém mexer com ela ou se ela mesma não tentar recuperar as lembranças, geralmente não há risco de que volte sozinha.Depois, ele olhou seriamente para Sílvio:— Sr. Sílvio, o senhor precisa decidir logo se vai usar a injeção de amnésia para que a Sra. Lúcia coopere com o tratamento. Afinal, o Dr. Daulo virá depois de amanhã para a consulta, e não podemos mais perder tempo.Sílvio sentia o peso da decisão sufocá-lo. Sua mente estava uma confusão completa. Ele apertou os lábios e disse:— Deixe-me pensar. Hoje mesmo dou uma resposta.Ao sair do escritório, Sílvio entrou no elevador e, exausto, massageou as têmporas. Seu celular tocou de repente. Ele atendeu, e a voz do Dr. Arthur surgiu do outro lado da linha, cheia de formalidades e rodeios.— O que você quer dizer com isso? — Sílvio perguntou, franzindo a testa.— Sr. Sílv
Lúcia estava com a cabeça fervendo de raiva, pensamentos girando em torno das fotos provocadoras e das mensagens de Giovana. Ela não conseguia manter a calma ou ser racional. Tudo o que queria era gritar, extravasar, enlouquecer.Sílvio, por outro lado, nunca havia visto Lúcia desse jeito. Ela sempre foi uma mulher sensata, compreensiva, jamais havia sido tão violenta, muito menos machucado alguém dessa forma e, ainda por cima, agido como se tivesse razão.Ele sabia que, de certa forma, também era responsável pela morte dos pais dela e por ela ter se tornado órfã. Esse pensamento apagou qualquer raiva que ele pudesse sentir.Sem dizer nada, ele se virou e fechou a porta do quarto, com o semblante inexpressivo.— O que você vai fazer? — Gritou Lúcia, em um surto de pânico.Ela estava à beira de um colapso. Não conseguia segurar as lágrimas, a raiva, a loucura que parecia tomar conta de sua mente. Sua saúde mental estava se deteriorando rapidamente.Sílvio, no entanto, não parecia ter me