— Dinheiro não é problema.A mansão estava imersa na escuridão. Sílvio apoiava-se na mesa, com os dedos longos segurando o celular. Sua voz soava rouca.Do outro lado da linha, Ilídio riu suavemente:— Sr. Sílvio, não se trata de dinheiro. Meu pai já passou dos setenta e há muito tempo deixou de se importar com fama ou fortuna. O que ele valoriza agora é o destino, a sorte de cruzar com as pessoas certas.— Sr. Ilídio, soube que você está interessado naquele terreno no sul da cidade? — Sílvio comentou, sua voz carregada de intenções.Ilídio riu mais uma vez:— Haha, Sr. Sílvio, vejo que está muito bem informado sobre nossos negócios. Mas, mesmo que o senhor me concedesse aquele terreno, eu não teria coragem de aceitá-lo. — Ele continuou, ainda com um tom descontraído. — Meu pai já assumiu um novo caso. O paciente deve consultá-lo a qualquer momento. A verdade é que ele está com as mãos cheias, Sr. Sílvio. Acho melhor o senhor procurar outro especialista.Sílvio percebeu que aquilo era
Lúcia sempre amou as cerejeiras brancas, que floresciam em cachos. Nos anos anteriores, nessa época, essas árvores já estariam cobertas de flores. Mas, naquele ano, as flores ainda não haviam desabrochado.Tudo naquele ano parecia fora do lugar, cheio de estranheza e tristeza.Sílvio pensava que, uma vez curada, levaria Lúcia para morar em algum lugar cercado por cerejeiras. Longe de tudo, longe do caos.Ele não queria mais trabalhar dia e noite, nem se afundar em ódio e vingança. Esse sentimento já havia se dispersado há tempos.Agora, Sílvio só desejava viver uma vida tranquila ao lado de Lúcia.— Sr. Sílvio, chegamos. — A voz de Leopoldo o trouxe de volta à realidade.Sílvio levantou os olhos e viu que o carro estava estacionado em frente a uma grande mansão na encosta de uma colina.Ele abriu a porta e desceu.A mansão era imponente, com uma arquitetura típica de castelo europeu. Um vasto gramado verde se estendia à frente, com uma fonte decorativa e magnólias cujos botões estavam
Sílvio era um homem esperto. O mordomo havia deixado as coisas bem claras. Insistir mais seria falta de tato.O mordomo, mantendo sua postura educada e cortês, acompanhou Sílvio e Leopoldo até a saída. Embora fosse extremamente atencioso, não revelou nenhuma informação útil.De volta ao Maserati, Sílvio abaixou o vidro e acendeu um cigarro, tragando fundo. Ele estava irritado, muito irritado. Era a primeira vez que alguém não lhe dava a devida consideração.— Sr. Sílvio, e agora? O que faremos? — Leopoldo perguntou, cauteloso.Sílvio estava prestes a responder quando, de repente, o som de uma notificação interrompeu seus pensamentos. O celular vibrava ao lado.Ao pegar o aparelho e dar uma olhada, Sílvio congelou por um instante. Era Lúcia. Ela estava lhe ligando?Lúcia, que no dia anterior havia dito para ele nunca mais aparecer. Lúcia, que dissera que ele nem era digno de cuidar de seu corpo após a morte. E agora, ela ligava? O que poderia querer?Leopoldo percebeu o choque no sembla
— Sr. Sílvio, o senhor acha que o Dr. Daulo realmente está doente?— Enquanto eu não convencer o Dr. Daulo a tratar Lúcia, não vou a lugar nenhum. — Sílvio murmurou. E precisava ser rápido, porque ele podia esperar, mas Lúcia não.A saúde dela piorava a cada dia. Embora os medicamentos a mantivessem estável, aquilo era apenas uma solução temporária. E, como todos sabem, remédio em excesso é veneno. Continuar assim não era uma solução duradoura.Ele precisava convencer o Dr. Daulo a tratá-la.Às cinco da tarde, Leopoldo exclamou:— Sr. Sílvio, olhe! O Dr. Daulo saiu! Ele não parece nada doente. E aquele homem que ele está acompanhando... Ele me parece familiar!Ao ouvir isso, Sílvio ergueu os olhos. Lá estava Daulo, junto com o mordomo, despedindo-se de um homem alto, vestindo um moletom verde militar e um boné de beisebol. Seu estilo era casual. Ao lado dele, uma moto preta estava estacionada.Sílvio reconheceu o homem de costas imediatamente:— Basílio?— Não pode ser. Basílio é só um
O choro de Giovana deixou Dr. Arthur impaciente. Ele deu-lhe um tapa, e ela parou de chorar na hora. Após um momento de intimidade, Dr. Arthur jogou um molho de chaves de uma casa de luxo na direção dela. As chaves caíram em seus dedos, e a dor fez seus olhos se encherem de lágrimas.— Volte e limpe o chão. — Disse Arthur.— Eu… — Giovana ficou confusa.Antes, Arthur, mesmo sendo rude quando estavam juntos, jamais a mandara fazer serviços pesados. Agora estava tratando-a como uma empregada gratuita?— Depois vá comprar comida, faça o jantar e me espere. — Disse Arthur.— Eu não sei cozinhar! — Respondeu Giovana.Dr. Arthur, sem paciência, deu-lhe outro tapa, que a deixou tonta:— Agora sabe cozinhar?— Sei. — Murmurou Giovana, engolindo o choro. Esse homem era um verdadeiro sádico, estava passando dos limites.Arthur agarrou seus cabelos com força, forçando-a a encará-lo:— Manter você por perto não é para que viva uma vida de luxo. Se não fosse pelo favor que prestou a Lúcia ao assumi
Leopoldo também se aproximou, ficando ao lado de Sílvio, e acenou para Basílio em um cumprimento discreto. Basílio não se incomodou e respondeu com um sorriso debochado:— Eu sou o filho ilegítimo, mas fui trazido de volta pelo meu próprio pai. Sou um herdeiro legítimo. Diferente de certas pessoas que manipulam sentimentos para subir na vida, um verdadeiro fracassado.— Quem você está chamando de fracassado? — Sílvio riu, irritado, e agarrou Basílio pelo colarinho.Basílio o encarou sem medo:— Eu não mencionei ninguém. O Sr. Sílvio está se sentindo ofendido à toa?— Seu…Sílvio levantou o punho, pronto para acertar Basílio. Para ele, essas provocações eram intoleráveis.Temendo que a situação saísse do controle, Leopoldo puxou a manga de Sílvio:— Sr. Sílvio, lembre-se do nosso propósito aqui. Vamos evitar problemas desnecessários.Sílvio respirou fundo, recuperando a calma aos poucos, e depois soltou o colarinho de Basílio, que soltou uma risada sarcástica:— Não é à toa que o Dr. Da
— Leopoldo, saia da frente.A voz gelada de Sílvio ecoou no ar. Leopoldo apertou os lábios e, ao virar-se, olhou para Sílvio sentado no chão.— Se continuar assim, alguém vai acabar morto. — Alertou Leopoldo.— Nem você vai me obedecer? — Retrucou Sílvio com um sorriso cínico.Após um longo momento de hesitação, Leopoldo cedeu e se afastou. Ele se abaixou para ajudar Sílvio a levantar-se. Sílvio cuspiu um pouco de sangue no chão e limpou o canto da boca. Ao olhar para o dedo manchado de vermelho, um pensamento lhe atravessou a mente: Basílio realmente havia pegado pesado. Não havia dúvidas, Basílio estava mesmo apaixonado por Lúcia. Ele tinha certeza de que era ela quem Basílio queria salvar. Ao perceber que Lúcia ainda poderia ter esperança, Sílvio soltou uma risada discreta.— Está rindo de quê? — Perguntou Basílio e o olhou com olhos semicerrados.O vento frio soprou, levantando a aba do pesado sobretudo preto de Sílvio. A camisa escura que usava por baixo reforçava o ar sombrio e c
— Sílvio, sem a Lúcia, os outros termos não me interessam nem um pouco. — Disse Basílio.— Você planejou isso há muito tempo, né? — Sílvio fixou o olhar em Basílio.Basílio, com um sorriso irônico, respondeu com sinceridade:— Só eu posso convencer o Dr. Daulo. Tenho uma dívida de vida com ele. Sílvio, amar alguém é também saber deixar ir. Vocês dois juntos só trazem sofrimento um ao outro. Talvez, se você soltá-la, ela possa ter uma vida melhor. Sr. Sílvio, já disse o que precisava. Pense com calma. E pare de me seguir. Um presidente do Grupo Baptista, correndo atrás de um filho bastardo como eu, não fica nada bem.Após suas últimas palavras, Basílio caminhou até a moto, colocou o capacete e girou o acelerador. Em segundos, partiu em alta velocidade, deixando uma nuvem de poeira para trás.— Sr. Sílvio, o senhor está bem? — Leopoldo perguntou, preocupado ao ver Sílvio olhando fixamente para o horizonte.Sílvio apenas balançou a cabeça, em silêncio, e foi em direção ao Maserati. Leopol