Leopoldo também se aproximou, ficando ao lado de Sílvio, e acenou para Basílio em um cumprimento discreto. Basílio não se incomodou e respondeu com um sorriso debochado:— Eu sou o filho ilegítimo, mas fui trazido de volta pelo meu próprio pai. Sou um herdeiro legítimo. Diferente de certas pessoas que manipulam sentimentos para subir na vida, um verdadeiro fracassado.— Quem você está chamando de fracassado? — Sílvio riu, irritado, e agarrou Basílio pelo colarinho.Basílio o encarou sem medo:— Eu não mencionei ninguém. O Sr. Sílvio está se sentindo ofendido à toa?— Seu…Sílvio levantou o punho, pronto para acertar Basílio. Para ele, essas provocações eram intoleráveis.Temendo que a situação saísse do controle, Leopoldo puxou a manga de Sílvio:— Sr. Sílvio, lembre-se do nosso propósito aqui. Vamos evitar problemas desnecessários.Sílvio respirou fundo, recuperando a calma aos poucos, e depois soltou o colarinho de Basílio, que soltou uma risada sarcástica:— Não é à toa que o Dr. Da
— Leopoldo, saia da frente.A voz gelada de Sílvio ecoou no ar. Leopoldo apertou os lábios e, ao virar-se, olhou para Sílvio sentado no chão.— Se continuar assim, alguém vai acabar morto. — Alertou Leopoldo.— Nem você vai me obedecer? — Retrucou Sílvio com um sorriso cínico.Após um longo momento de hesitação, Leopoldo cedeu e se afastou. Ele se abaixou para ajudar Sílvio a levantar-se. Sílvio cuspiu um pouco de sangue no chão e limpou o canto da boca. Ao olhar para o dedo manchado de vermelho, um pensamento lhe atravessou a mente: Basílio realmente havia pegado pesado. Não havia dúvidas, Basílio estava mesmo apaixonado por Lúcia. Ele tinha certeza de que era ela quem Basílio queria salvar. Ao perceber que Lúcia ainda poderia ter esperança, Sílvio soltou uma risada discreta.— Está rindo de quê? — Perguntou Basílio e o olhou com olhos semicerrados.O vento frio soprou, levantando a aba do pesado sobretudo preto de Sílvio. A camisa escura que usava por baixo reforçava o ar sombrio e c
— Sílvio, sem a Lúcia, os outros termos não me interessam nem um pouco. — Disse Basílio.— Você planejou isso há muito tempo, né? — Sílvio fixou o olhar em Basílio.Basílio, com um sorriso irônico, respondeu com sinceridade:— Só eu posso convencer o Dr. Daulo. Tenho uma dívida de vida com ele. Sílvio, amar alguém é também saber deixar ir. Vocês dois juntos só trazem sofrimento um ao outro. Talvez, se você soltá-la, ela possa ter uma vida melhor. Sr. Sílvio, já disse o que precisava. Pense com calma. E pare de me seguir. Um presidente do Grupo Baptista, correndo atrás de um filho bastardo como eu, não fica nada bem.Após suas últimas palavras, Basílio caminhou até a moto, colocou o capacete e girou o acelerador. Em segundos, partiu em alta velocidade, deixando uma nuvem de poeira para trás.— Sr. Sílvio, o senhor está bem? — Leopoldo perguntou, preocupado ao ver Sílvio olhando fixamente para o horizonte.Sílvio apenas balançou a cabeça, em silêncio, e foi em direção ao Maserati. Leopol
Sílvio estava na fila, destacando-se no meio das pessoas ao redor. Mesmo com uma pequena bandagem branca na testa, seus traços fortes pareciam obra-prima esculpida pelas próprias mãos de Deus, chamando a atenção dos transeuntes, que não conseguiam evitar olhares curiosos.Logo chegou a vez de Sílvio. Ele pediu uma porção de batatas fritas, um hambúrguer e um purê de batatas. A dona da barraca, uma jovem senhora, ficou visivelmente envergonhada ao vê-lo, suas bochechas coraram, e ela acabou de dar mais na porção que serviu a ele.Sílvio pagou, agradeceu com um aceno e desceu os degraus em direção ao Maserati estacionado.— Senhor... — Uma voz feminina o chamou.Sílvio continuou andando, sem perceber que era com ele. Só parou quando uma jovem de vestido colorido e coque no alto da cabeça, carregando uma mochila, se aproximou ofegante e bloqueou seu caminho. O rosto dela estava levemente corado pela corrida:— Senhor, eu estava chamando o senhor! Por que não respondeu?Chamando ele?Sílvi
— Quando você vai voltar? A voz impaciente de Lúcia soou pelo telefone.Em outros tempos, Sílvio teria retrucado com sarcasmo, mas agora, aquele toque fria já o fazia sentir-se satisfeito, até um pouco reconfortado.Um leve sorriso surgiu nos lábios de Sílvio:— Está preocupada comigo?— Já estou perdendo a paciência. Preciso falar com você. Volte logo. — Respondeu Lúcia, fria, antes de desligar abruptamente.Ele queria dizer a ela que também estava ansioso para vê-la, por isso estava voltando o mais rápido possível. Em breve, eles estariam juntos outra vez. Mas, antes que pudesse expressar esses sentimentos, ela já havia desligado. Um aperto amargo tomou conta de seu coração. Seria possível que ela realmente tivesse tão pouca paciência com ele a esse ponto? Nem ao menos uma palavra completa ela deixava ele dizer.Dentro de sua mente, parecia haver duas vozes. Uma parte de si sentia que Lúcia estava sendo injusta, ignorando seus esforços e o quanto ele se sacrificava, indo de um lado
Desde que entrou, os olhos de Sílvio ficaram presos em Lúcia. Ela continuava vestida com aquele pijama de hospital largo, que agora parecia ainda mais folgado em seu corpo magro. Parecia uma flor murcha, prestes a cair do galho, resistindo ao vento com seu último suspiro.Sílvio sentiu um aperto no coração ao ouvir o tom frio dela. Seus dedos, que seguravam os lanches, enrijeceram por um momento. Ela claramente tinha visto o ferimento em sua testa, mas escolheu ignorar. Se fosse antes, Lúcia teria se preocupado, como um passarinho curioso, fazendo mil perguntas: se doía, onde ele tinha se machucado, por que foi tão descuidado.Mas agora, ela mal olhou para ele antes de desviar o olhar, como se ele não estivesse ali. O coração de Sílvio se encheu de uma mistura de sentimentos, um sabor amargo que ele não conseguia engolir. Eles já foram tão felizes, o casal que todos invejavam... Como as coisas chegaram a esse ponto? A dor o inundava, invadindo-o por inteiro.Apesar de tudo, Sílvio já n
As batatas fritas tinham uma aparência tentadora, douradas e crocantes, cobertas com o tempero especial da casa. O aroma era irresistível.Sílvio aproximou as batatas do rosto dela:— Quer experimentar?Era como se ele dissesse, "Lúcia, eu sou o mesmo Sílvio de antes. Aquele que voltou, que não quer te desapontar. Volta, vamos recomeçar. Tudo pode voltar a ser como antes."Ele a observava com intensidade. Lúcia também olhou para ele. Por alguns segundos, o silêncio pairou entre eles. Ela não se mexeu, não disse se queria ou não comer. Apenas ficou ali, imóvel, com um olhar perdido, encarando-o.— Sílvio, se você tivesse essa paciência comigo antes, se tivesse trazido esses lanches naquela época... Eu ficaria tão feliz. — Murmurou Lúcia.Ela falava a verdade.— Ainda dá tempo. Você gosta dessas coisas, eu posso continuar comprando pra você. Vou ficar do seu lado, cuidar de você até que se recupere. Quando você melhorar, vou reduzir o trabalho, vamos sair juntos, viajar, comer todas essa
O corpo de Lúcia, coberto pelo pijama do hospital, encostava-se na beira da cama. Seus olhos pousaram no rosto de Sílvio ao seu lado.O olhar dele transbordava expectativa e esperança. Era o mesmo olhar que ela já teve um dia. A ironia estava em como agora os papéis haviam se invertido.— Sílvio, vamos nos divorciar. — Disse Lúcia com uma voz suave, mas com o rosto marcado pelo cansaço.Ao ouvir essas palavras, o brilho de esperança nos olhos de Sílvio se apagou de imediato, como estrelas desaparecendo uma a uma no céu noturno.As mãos de Sílvio, caídas ao lado do corpo, se fecharam em punhos. Ele sentiu os músculos do corpo se enrijecerem, como se estivesse tentando processar o que acabara de ouvir. Será que tinha entendido errado?O silêncio caiu pesado entre eles.Lúcia percebeu que ele não respondia e pensou que ele não tivesse escutado. Então, repetiu, em um tom mais firme:— Sílvio, eu disse, vamos nos divorciar. Você ouviu?A impaciência transparecia em sua voz.— Hoje não é Dia