Sílvio sempre foi introspectivo, do tipo que desprezava demonstrações de afeto exageradas. Para ele, homens que viviam de palavras doces e promessas vazias eram desprezíveis. O verdadeiro amor se provava com atitudes, não com discursos melosos.Ele não era como Basílio.Houve momentos em que Sílvio quase perdera a esperança no casamento, mas agora, vendo Lúcia tão submissa, tão tranquila, ele sentiu como se a antiga Lúcia tivesse voltado.O homem baixou o olhar, observando como a luz da lua iluminava levemente o pequeno volume na barriga de Lúcia. Com a mão larga, ele a tocou suavemente, percorrendo o contorno daquela nova vida que crescia ali.Era difícil acreditar que, dentro dela, havia um ser humano pequeno, uma semente que estava germinando e crescendo. Esse bebê era a continuação do que restava do casamento deles.Era trágico, no entanto, pensar que ele havia chegado ao ponto de precisar de uma criança para manter Lúcia ao seu lado.Deitada no calor dos lençóis acinzentados, Lúci
Lúcia observou Sílvio, que estava com os olhos semicerrados, inspecionando as feridas em seu braço. Por um breve momento, um lampejo de preocupação passou pelos olhos dela. Mas logo foi substituído pelo ódio e desprezo.Ela lembrou de seus pais. Eles estavam mortos por causa dele. A família Baptista havia falido por culpa dele.Qualquer traço de preocupação que ela pudesse sentir se transformou em puro rancor.Sílvio soltou um gemido abafado de dor. Ao olhar para o braço, viu que o cotovelo estava em carne viva, um ferimento profundo que deixava à mostra carne e sangue.Ele levantou os olhos na direção de Lúcia, que ainda estava na cama. A luz da lua entrava suavemente pela janela, dando ao quarto um ar de sonho, mas a situação era tudo menos isso.Mesmo assim, Sílvio conseguia ver a expressão fria e indiferente no rosto de Lúcia. Ele franziu o cenho e falou, com a voz carregada de decepção:— Depois de tudo isso, você ainda não está satisfeita? Eu estou aqui, sangrando, e você não se
— Você quer que eu morra? — Sílvio perguntou, avançando em direção à porta onde Lúcia estava. Seus olhos semicerrados carregavam uma intensidade ameaçadora.A luz da lua banhava o perfil de Sílvio, projetando uma longa sombra no chão. Aquela sombra transmitia uma tristeza profunda, um isolamento melancólico que parecia refletir sua alma.Lúcia o encarou, recuando alguns passos:— Quero.— Você acha que eu sou o assassino? Não importa o quanto eu explique, você sempre vai pensar que estou mentindo? — Continuou Sílvio, aproximando-se cada vez mais.Lúcia continuava recuando, mantendo a distância daquele homem que tanto desprezava:— Sim.Ao ouvir isso, os olhos de Sílvio ficaram rapidamente vermelhos. Ele a encarou com uma mistura de raiva e mágoa.Por um instante, Lúcia percebeu uma expressão de tristeza nos olhos dele. Mas o que ele tinha para se sentir assim? Que direito tinha de se sentir injustiçado?Ela lembrou a si mesma: "Lúcia, pense nos seus pais. Não se deixe enganar por essa
Naquela época, ainda na faculdade, Sílvio a segurava pela cintura com delicadeza. Ele, sempre tão frio e reservado, havia mudado completamente naquele momento, beijando suavemente seus olhos. Ele dizia que os olhos dela eram como estrelas no céu noturno.— Quero passar a vida inteira cuidando dessa sua estrela. — Ele sussurrava.Na primeira vez em que fizeram amor, Sílvio disse, com uma voz doce:— Lúcia, vai ser suave. Eu prometo.No começo do namoro, ele não gostava de se aproximar muito dela em público. Sempre que saíam para passear, ele andava à frente, enquanto ela ficava para trás, tentando acompanhá-lo.Depois de várias vezes, Lúcia começou a se irritar com essa atitude. Um dia, ela fingiu torcer o tornozelo e exigiu que ele a carregasse nas costas. Caso contrário, ela não iria se levantar.Sílvio ficou visivelmente desconcertado e constrangido. Ele não sabia como reagir, então ficou parado, com os lábios cerrados, sem saber o que fazer.Lúcia era bonita e logo atraiu a atenção
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no
Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.O relógio na parede marcava onze horas. L
- Eu vou soltar fogos de artifício por dias e noites no seu funeral para comemorar sua morte! - Disse Sílvio.Ao ouvir isso, o coração de Lúcia, que já estava pendurado por um fio, se despedaçou completamente. Cada pedaço, ensanguentado, parecia impossível de juntar novamente.Era difícil imaginar o quão frio Sílvio poderia ser. Ele desejava sua morte com tanta indiferença, falando com um sorriso sarcástico.- Sílvio, se quer casar com a Giovana, vai ter que esperar eu morrer.O homem que ela havia moldado com suas próprias mãos havia sido seduzido por uma mulher sem escrúpulos. Ela não podia suportar essa humilhação.Se estavam destinados ao inferno, que fossem os três juntos.- Lúcia, ainda vai chegar o dia em que você vai chorar e implorar de joelhos para se divorciar de mim!O olhar penetrante de Sílvio estava frio como gelo. Sem qualquer hesitação, ele bateu a porta ao sair.Aquela noite, ela não conseguiu dormir. Não era por falta de vontade, mas porque simplesmente não conseguia
- Pode ser parcelado? - Lúcia perguntou com a voz trêmula.A funcionária do caixa, com uma expressão fria e acostumada a esse tipo de situação, respondeu: - Somos um hospital particular, não fazemos parcelamento. Ou você transfere seu pai ou providencia o dinheiro.As pessoas na fila atrás dela começaram a revirar os olhos e a reclamar:- Você vai pagar ou não? Se não, sai da frente, estamos esperando.- Exato, está ocupando o lugar à toa.- Se não tem dinheiro, por que veio ao hospital? Vai para casa esperar a morte!Lúcia levantou os olhos levemente e, com um pedido de desculpas, saiu da fila.Ela tinha poucos amigos e pedir dinheiro emprestado era fora de questão.A única pessoa que poderia ajudá-la era Sílvio.Ela ligou, mas ele não atendeu.Mandou uma mensagem: [Assunto urgente, atenda, Presidente Sílvio.]Era a primeira vez que ela o chamava de Presidente Sílvio.Primeira ligação, sem resposta. Segunda, terceira, também não.Ela continuou insistindo, sem desistir, mesmo com o co