Mesmo que milagres existissem, eles nunca aconteciam para Lúcia. Se fosse assim, ela teria sido recompensada por todos os seus esforços para manter o casamento com Sílvio. Seu pai não teria caído da varanda, sua mãe não teria morrido voltando do funeral dele, e ela não estaria com câncer em estágio terminal.Lúcia balançou a cabeça.— Fale a verdade, doutor.— Eu também não acreditava em milagres. Até ver o que está acontecendo com você.— O quê?— Srta. Lúcia, pela lógica, você não deveria estar viva agora. Fiquei surpreso quando você chegou hoje no hospital. E, ao olhar os seus exames, vi algo ainda mais inesperado: seu corpo está melhorando. As células cancerígenas pararam de se espalhar. — O médico sorriu. — Se isso não é um milagre, então o que seria? Em pacientes com câncer de fígado em estágio terminal, o esperado é muito sofrimento, dor constante, acúmulo de líquido no abdômen, e a imobilidade. Ou seja, eles basicamente esperam a morte. Mas você não apresentou nenhum desses sin
— Então me diga, onde você foi estúpida? — Sílvio perguntou, com um sorriso frio no rosto, enquanto afastava a perna da calça de modo discreto, evitando o toque da mulher que tentou agarrá-lo.As lágrimas escorriam pelas longas e falsas cílios da gerente, arruinando sua maquiagem impecável.— Eu... Eu não deveria ter tido pensamentos inapropriados sobre o senhor ontem... — Murmurou, gaguejando.— E o que mais? — Sílvio semicerrava os olhos, claramente se divertindo com a situação.A gerente ficou em silêncio, sem conseguir pensar em outra coisa, claramente sem saber o que dizer.Sílvio soltou uma risada sarcástica.— Você ofendeu a pessoa errada!— Quem? — A mulher ficou confusa. Ela pensava que, além de Sílvio, não havia mais ninguém que ela pudesse ter ofendido.— A mulher que estava jantando com o Dr. Eduardo ontem. — Sílvio disse em um tom cortante. — Ela é minha esposa!A gerente ficou paralisada, suas pernas fraquejaram, e ela caiu de joelhos no tapete, completamente atônita. Com
A gerente, de costas para Lúcia, ouviu suas palavras e apertou os dentes de raiva. Mas, com Sílvio deixando claro que, se ela não conseguisse agradar Lúcia, seria abandonada pela empresa, ela não tinha escolha. Tinha gastado trezentos mil reais nas bolsas, o que a deixava ainda mais frustrada.Como essa Lúcia podia ser tão difícil? Mas a gerente não podia desistir. Se perdesse o emprego, ainda teria que arcar com uma indenização de milhões. Sem alternativas, forçou um sorriso e correu novamente até Lúcia.— Sra. Baptista, você está certa. Eu realmente não sou digna de sua raiva. Então, você não está mais chateada, certo? Podemos deixar isso para trás?Lúcia não disse nada.— Por favor. — Continuou a gerente, sua voz assumindo um tom de desespero. — Pode pedir ao Sr. Sílvio para reconsiderar? Ele cancelou todos os contratos da minha empresa, e agora só você pode me ajudar. Pode falar com ele por mim?Lúcia finalmente entendeu. Então era por isso que a mulher estava tão desesperada. Síl
Desde que Sílvio se feriu com os cacos de um vaso que caiu na Mansão Baptista, ele não apareceu mais na frente de Lúcia.Ela, por sua vez, estava contente com a paz e aproveitou para se concentrar em seu trabalho com Eduardo, avançando no caso e buscando provas.Eduardo informou que o tribunal já havia emitido a intimação para o Grupo Baptista.De alguma forma, a notícia vazou, e um jornalista de entretenimento revelou que Sílvio estava envolvido em um processo complicado, possivelmente relacionado a uma acusação de homicídio doloso.Em pouco tempo, a internet foi tomada por especulações. A reputação de Sílvio manchou a imagem do Grupo Baptista, e as ações da empresa começaram a despencar.Curiosamente, o departamento jurídico da empresa não emitiu nenhuma nota ou ação contra os detratores, deixando que a situação se agravasse.Na noite anterior ao julgamento, Lúcia convidou Eduardo para jantar, como forma de agradecimento por toda a ajuda que ele vinha dando.Depois, Eduardo a levou d
— Amanhã é o julgamento, Lúcia. Não tem mais volta. Já pensou que, depois disso, você e o Sílvio nunca mais poderão se reconciliar? Essa ferida nunca vai cicatrizar.Lúcia respirou fundo, apertando as mãos com força.Voltar atrás? Eles já tinham passado do ponto de retorno há muito tempo.Desde que Sílvio começou a traí-la com Giovana. Desde que ela foi diagnosticada com câncer em estágio avançado.Desde que seu pai sofreu o acidente de carro e Sílvio zombou de sua mãe pelo telefone.Desde que seu pai morreu, e sua mãe faleceu no caminho do enterro.A relação deles estava completamente destruída. Eles haviam passado de amantes apaixonados, que juraram amor eterno, para inimigos que não suportavam estar no mesmo ambiente.Ela não queria voltar ao que tinham antes. Se voltasse, estaria traindo a memória de seus pais. Eles teriam morrido em vão, e ela não era tão tola a esse ponto.Lúcia olhou para suas unhas pálidas, sem vida, como se refletissem o estado de sua alma, que também estava
— Eu estou rindo porque sua punição está prestes a chegar. — Lúcia soltou uma risada sarcástica.O sorriso em seus lábios era de escárnio, de provocação, quase como se estivesse assistindo a um espetáculo de tragédia iminente.Sílvio observou as estrelas cintilando nos olhos dela. Desde o acidente de Abelardo, ele não a via assim, tão radiante. Será que a desgraça dele a fazia tão feliz?Com a taça de vinho na mão, Sílvio deu alguns passos em direção a Lúcia:— Amanhã no tribunal, é quando eu vou receber essa tal “punição”? — Sua voz estava cheia de ironia, um deboche leve, como se tivesse o controle da situação, sem qualquer sinal de preocupação.— Sílvio, a justiça pode demorar, mas nunca falha. Você não vai escapar dessa. — O tom de Lúcia era firme.— Vamos ver. — Sílvio respondeu, com um sorriso ao canto dos lábios. Ao notar que o cabelo dela estava um pouco desalinhado, ele estendeu a mão, instintivamente, para arrumá-lo.Lúcia se afastou bruscamente: — Não ouse me tocar com essa
Para dar a ele uma sensação de segurança, Lúcia parou de usar maquiagem e de se vestir com esmero.Mas hoje era diferente. Hoje, ela enfrentaria Sílvio no tribunal, e queria estar no seu melhor.Depois de aplicar a base, desenhar as sobrancelhas e passar o batom, Lúcia olhou no espelho. A mulher que ela via agora parecia ter recuperado o brilho de antes, a aparência de uma pessoa saudável. Só então ela se sentiu mais tranquila.Às nove e quarenta, Eduardo enviou uma mensagem dizendo que o carro já estava esperando por ela lá embaixo.Lúcia respondeu rapidamente. Pegou uma garrafinha de água, uma embalagem de analgésicos e colocou tudo na mochila. Ela vestiu um par de tênis confortáveis e, antes de sair, pegou uma foto de seu pai que estava sobre a mesa.Ela passou a mão pelo rosto gentil de seu pai.— Pai, estou indo buscar justiça por você. Me proteja, por favor.Quando Eduardo viu Lúcia entrar no carro, ficou surpreso com a mudança em seu visual.— O que foi? Estou estranha? — Lúcia
— Obrigada. — Lúcia, pensando que era Eduardo, agradeceu e saiu do carro pelo banco do passageiro.Ao levantar os olhos, viu Sílvio, com um longo casaco preto e óculos escuros, fechando a porta do carro para ela. Seu rosto não revelava nenhuma emoção.Assim que o reconheceu, a expressão de Lúcia desabou.Ao redor deles, uma multidão de jornalistas se aglomerava, fazendo perguntas a todo momento.— Com licença! — Lúcia falou em um tom ríspido.Os repórteres, vendo Lúcia e Sílvio juntos na entrada do tribunal, começaram a tirar fotos furiosamente, sentindo que estavam diante de uma grande manchete: [O CEO do Grupo Baptista e sua esposa, em um embate público na porta do tribunal.]Sílvio queria escoltar Lúcia até o tribunal, já que a multidão de jornalistas era implacável e penetrante. Porém, ao perceber que ela não parecia nem um pouco grata, ele sentiu um nó na garganta, e suas pernas pareceram pesadas, como se estivessem presas ao chão.Lúcia, impaciente, o empurrou para o lado, enqua