— Você quer que eu morra? — Sílvio perguntou, avançando em direção à porta onde Lúcia estava. Seus olhos semicerrados carregavam uma intensidade ameaçadora.A luz da lua banhava o perfil de Sílvio, projetando uma longa sombra no chão. Aquela sombra transmitia uma tristeza profunda, um isolamento melancólico que parecia refletir sua alma.Lúcia o encarou, recuando alguns passos:— Quero.— Você acha que eu sou o assassino? Não importa o quanto eu explique, você sempre vai pensar que estou mentindo? — Continuou Sílvio, aproximando-se cada vez mais.Lúcia continuava recuando, mantendo a distância daquele homem que tanto desprezava:— Sim.Ao ouvir isso, os olhos de Sílvio ficaram rapidamente vermelhos. Ele a encarou com uma mistura de raiva e mágoa.Por um instante, Lúcia percebeu uma expressão de tristeza nos olhos dele. Mas o que ele tinha para se sentir assim? Que direito tinha de se sentir injustiçado?Ela lembrou a si mesma: "Lúcia, pense nos seus pais. Não se deixe enganar por essa
Naquela época, ainda na faculdade, Sílvio a segurava pela cintura com delicadeza. Ele, sempre tão frio e reservado, havia mudado completamente naquele momento, beijando suavemente seus olhos. Ele dizia que os olhos dela eram como estrelas no céu noturno.— Quero passar a vida inteira cuidando dessa sua estrela. — Ele sussurrava.Na primeira vez em que fizeram amor, Sílvio disse, com uma voz doce:— Lúcia, vai ser suave. Eu prometo.No começo do namoro, ele não gostava de se aproximar muito dela em público. Sempre que saíam para passear, ele andava à frente, enquanto ela ficava para trás, tentando acompanhá-lo.Depois de várias vezes, Lúcia começou a se irritar com essa atitude. Um dia, ela fingiu torcer o tornozelo e exigiu que ele a carregasse nas costas. Caso contrário, ela não iria se levantar.Sílvio ficou visivelmente desconcertado e constrangido. Ele não sabia como reagir, então ficou parado, com os lábios cerrados, sem saber o que fazer.Lúcia era bonita e logo atraiu a atenção
Sílvio ficou profundamente irritado com a atitude indiferente de Lúcia e a encarou por um longo tempo.— Lúcia, você está se superando. — Ele riu friamente. — Abelardo merece que eu pague com a vida por ele? Ele e sua mãe não valem nada, morrer foi só o destino cobrando o que deviam.Lúcia tremia de raiva.— Sílvio, sua hora vai chegar! Não vai demorar muito para você cair!Sílvio se virou, pegou o paletó que estava no sofá e o vestiu. Em seguida, enviou uma mensagem para Leopoldo, pedindo que viesse buscá-lo na Mansão Baptista. Sílvio tinha bebido e não podia dirigir.Ele estava com ferimentos nas costas e nas mãos e precisava ir ao hospital. Também mandou uma mensagem para o Dr. Arthur, pedindo que o esperasse no hospital. Depois, guardou o celular no bolso do paletó.Antes de sair, Sílvio olhou para Lúcia.— Estou curioso para ver como você pretende me colocar atrás das grades.Ele riu com sarcasmo e saiu do quarto.Lúcia estava à beira de um ataque de nervos. A forma como ele a men
— Claro, Sr. Sílvio. — Dr. Arthur inclinou a cabeça respeitosamente e passou as instruções sobre os cuidados com os ferimentos, além das datas para a troca do curativo.No caminho de volta, Sílvio pareceu lembrar de algo e perguntou a Leopoldo:— Aquela empresa com a qual tivemos a reunião hoje, qual o nome?— Construção AG. — Respondeu Leopoldo.Era uma empresa relativamente pequena, com apenas algumas dezenas de funcionários, mas que estava ganhando reconhecimento por sua competência e pelo fato de oferecer boas oportunidades de negócio ao Grupo Baptista.Sílvio, sendo um homem que priorizava o lucro, havia decidido colaborar com eles. Ao longo do tempo, a parceria havia se tornado estável, com ambos os lados satisfeitos. No entanto, a gerente que o acompanhou hoje foi extremamente inconveniente, chegando até a insinuar que Eduardo e Lúcia eram um casal e a fazer comentários desrespeitosos sobre ela.— Termine qualquer negócio com essa empresa.Leopoldo ficou surpreso.— E se eles p
Lúcia esperou por horas uma ligação de Eduardo, que nunca veio. Ela estava tão ansiosa que mal conseguiu dormir, preocupada que poderia perder alguma notícia importante.Deitada, viu o céu escuro pela janela lentamente clarear, enquanto o sol vermelho subia pouco a pouco por trás das montanhas distantes, tingindo as nuvens de um brilho alaranjado. Naquela virada de ano, havia nevado por dias, mas hoje, finalmente, o tempo havia clareado. Será que sua vida também teria um dia claro como aquele?Lúcia estava preocupada com sua saúde; o médico havia dito que ela não tinha muito tempo. Além disso, havia o bebê em seu ventre, que, segundo os exames, estava passando por uma transformação incomum.Ela chamou um táxi e foi ao hospital.No caminho, finalmente recebeu uma ligação de Eduardo.— Lúcia, me desculpe, ontem terminei tarde e achei melhor te ligar hoje. Seu caso é complicado demais para resolver em poucas palavras por mensagem. Não queria atrapalhar seu sono, então liguei só agora. Nã
Mesmo que milagres existissem, eles nunca aconteciam para Lúcia. Se fosse assim, ela teria sido recompensada por todos os seus esforços para manter o casamento com Sílvio. Seu pai não teria caído da varanda, sua mãe não teria morrido voltando do funeral dele, e ela não estaria com câncer em estágio terminal.Lúcia balançou a cabeça.— Fale a verdade, doutor.— Eu também não acreditava em milagres. Até ver o que está acontecendo com você.— O quê?— Srta. Lúcia, pela lógica, você não deveria estar viva agora. Fiquei surpreso quando você chegou hoje no hospital. E, ao olhar os seus exames, vi algo ainda mais inesperado: seu corpo está melhorando. As células cancerígenas pararam de se espalhar. — O médico sorriu. — Se isso não é um milagre, então o que seria? Em pacientes com câncer de fígado em estágio terminal, o esperado é muito sofrimento, dor constante, acúmulo de líquido no abdômen, e a imobilidade. Ou seja, eles basicamente esperam a morte. Mas você não apresentou nenhum desses sin
— Então me diga, onde você foi estúpida? — Sílvio perguntou, com um sorriso frio no rosto, enquanto afastava a perna da calça de modo discreto, evitando o toque da mulher que tentou agarrá-lo.As lágrimas escorriam pelas longas e falsas cílios da gerente, arruinando sua maquiagem impecável.— Eu... Eu não deveria ter tido pensamentos inapropriados sobre o senhor ontem... — Murmurou, gaguejando.— E o que mais? — Sílvio semicerrava os olhos, claramente se divertindo com a situação.A gerente ficou em silêncio, sem conseguir pensar em outra coisa, claramente sem saber o que dizer.Sílvio soltou uma risada sarcástica.— Você ofendeu a pessoa errada!— Quem? — A mulher ficou confusa. Ela pensava que, além de Sílvio, não havia mais ninguém que ela pudesse ter ofendido.— A mulher que estava jantando com o Dr. Eduardo ontem. — Sílvio disse em um tom cortante. — Ela é minha esposa!A gerente ficou paralisada, suas pernas fraquejaram, e ela caiu de joelhos no tapete, completamente atônita. Com
A gerente, de costas para Lúcia, ouviu suas palavras e apertou os dentes de raiva. Mas, com Sílvio deixando claro que, se ela não conseguisse agradar Lúcia, seria abandonada pela empresa, ela não tinha escolha. Tinha gastado trezentos mil reais nas bolsas, o que a deixava ainda mais frustrada.Como essa Lúcia podia ser tão difícil? Mas a gerente não podia desistir. Se perdesse o emprego, ainda teria que arcar com uma indenização de milhões. Sem alternativas, forçou um sorriso e correu novamente até Lúcia.— Sra. Baptista, você está certa. Eu realmente não sou digna de sua raiva. Então, você não está mais chateada, certo? Podemos deixar isso para trás?Lúcia não disse nada.— Por favor. — Continuou a gerente, sua voz assumindo um tom de desespero. — Pode pedir ao Sr. Sílvio para reconsiderar? Ele cancelou todos os contratos da minha empresa, e agora só você pode me ajudar. Pode falar com ele por mim?Lúcia finalmente entendeu. Então era por isso que a mulher estava tão desesperada. Síl