Se contasse para Sílvio, o conflito entre ele e Lúcia poderia aumentar ainda mais.Mas se não dissesse, Sílvio poderia continuar negligente com Lúcia, e isso abriria espaço para o rival.Pensando nas consequências, Leopoldo levantou os olhos, como se tivesse tomado uma grande decisão, e disse:— O senhor precisa prestar mais atenção na Sra. Lúcia. O Basílio tem segundas intenções com ela.— Isso precisa ser dito? — Sílvio soltou um riso frio.Leopoldo continuou:— A Sra. Sandra, antes de morrer, começou a delirar e entregou a Lúcia aos cuidados de Basílio. E ele não recusou, aceitou o pedido.O rosto de Sílvio endureceu, tornando-se indecifrável. Sua sogra, até no leito de morte, parecia determinada a interferir. Será que ela não suportava a ideia de que ele e Lúcia pudessem viver em paz?— E o Basílio pediu para eu lhe dar um recado.— Que recado?— Ele disse que conhece a Sra. Lúcia há muito mais tempo que o senhor. Se ele quisesse algo, teria tido muitas oportunidades. — Leopoldo fe
Assim que Lúcia entrou na Mansão Baptista e abriu a porta, viu que tudo estava como sempre.Por um breve momento, ela quase conseguiu ver Abelardo sentado em sua cadeira de rodas, segurando uma caneta, escrevendo calmamente sobre a mesa. Sandra se aproximava com uma bandeja de frutas, colocando-a diante dele e dizendo:— Querido, você já está cansado. Descanse um pouco, não force tanto os olhos.Logo depois, Lúcia imaginou Abelardo se levantando com dificuldade da cadeira de rodas, com o apoio da mãe. Ele estava visivelmente emocionado, um sorriso de alegria iluminando seu rosto levemente rechonchudo.Abelardo ergueu o olhar, encontrando os olhos de Lúcia, e abriu os braços, com uma expressão de carinho e orgulho:— Lúcia, olha só! Eu consegui me levantar! Realizei o desejo que você tinha antes de viajar! Você está feliz, não está?O nariz de Lúcia ardeu, e ela balançou a cabeça, assentindo:— Muito feliz.— Vem cá, me dá um abraço. Filha, onde você estava? Hoje é Natal, o jantar já es
Lúcia olhou para a versão mais jovem de si mesma, que agora tinha parado de chorar e estava rindo.Ela piscou os olhos, e tudo desapareceu. A menina, o pai, a mãe, todos sumiram.Um vazio imenso tomou conta de Lúcia. A dor que sentia no peito era quase insuportável, uma angústia que a deixava sem ar. De repente, seu corpo começou a doer, como se inúmeras serpentes venenosas estivessem rasgando sua pele.A dor era lancinante, forçando-a a se agachar lentamente até o chão, enquanto o suor escorria de sua testa. Ela se deitou na carpete, seu rosto distorcido pela agonia que a consumia.Ela não queria pegar os remédios para dor. Não queria mais lutar. Deixar-se morrer parecia a solução mais fácil, assim poderia reencontrar seus pais.Antigamente, ela ainda tinha esperança, ainda se agarrava a sonhos e ilusões. Por isso, tomava os medicamentos com determinação, querendo viver mais alguns dias.Mas agora, tudo havia desmoronado. Ela aceitou seu destino.— Pai, mãe, me levem com vocês. Eu nã
Lúcia olhava fixamente para ele, como se estivesse avaliando suas intenções. Sílvio parecia genuinamente preocupado com ela. Mas ela sabia que era tudo uma farsa.Ela estava naquela situação por causa dele. Tudo o que acontecera, tudo o que ela tinha se tornado, era culpa daquele homem à sua frente.Quando Sílvio tentou tocá-la, Lúcia se afastou bruscamente, como se ele fosse algo repugnante. Ela empurrou o braço dele com nojo:— Tira essas suas mãos imundas de mim.O movimento a fez bater o braço de Sílvio no canto da mesa de centro, e ele soltou um gemido de dor.Olhando para o braço, viu que tinha arrancado um pouco da pele, e agora estava inchado e vermelho.— Tá doendo? — Lúcia lançou um olhar rápido para o ferimento dele, um leve sorriso de escárnio nos lábios.Sílvio levantou o olhar. O que ele viu nos olhos dela foi um brilho cruel, um sorriso gélido.Ela estava rindo da dor dele! E aquela frieza em seus olhos...Se fosse antes, no passado, Lúcia teria corrido para cuidar dele
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no
Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.O relógio na parede marcava onze horas. L
- Eu vou soltar fogos de artifício por dias e noites no seu funeral para comemorar sua morte! - Disse Sílvio.Ao ouvir isso, o coração de Lúcia, que já estava pendurado por um fio, se despedaçou completamente. Cada pedaço, ensanguentado, parecia impossível de juntar novamente.Era difícil imaginar o quão frio Sílvio poderia ser. Ele desejava sua morte com tanta indiferença, falando com um sorriso sarcástico.- Sílvio, se quer casar com a Giovana, vai ter que esperar eu morrer.O homem que ela havia moldado com suas próprias mãos havia sido seduzido por uma mulher sem escrúpulos. Ela não podia suportar essa humilhação.Se estavam destinados ao inferno, que fossem os três juntos.- Lúcia, ainda vai chegar o dia em que você vai chorar e implorar de joelhos para se divorciar de mim!O olhar penetrante de Sílvio estava frio como gelo. Sem qualquer hesitação, ele bateu a porta ao sair.Aquela noite, ela não conseguiu dormir. Não era por falta de vontade, mas porque simplesmente não conseguia
- Pode ser parcelado? - Lúcia perguntou com a voz trêmula.A funcionária do caixa, com uma expressão fria e acostumada a esse tipo de situação, respondeu: - Somos um hospital particular, não fazemos parcelamento. Ou você transfere seu pai ou providencia o dinheiro.As pessoas na fila atrás dela começaram a revirar os olhos e a reclamar:- Você vai pagar ou não? Se não, sai da frente, estamos esperando.- Exato, está ocupando o lugar à toa.- Se não tem dinheiro, por que veio ao hospital? Vai para casa esperar a morte!Lúcia levantou os olhos levemente e, com um pedido de desculpas, saiu da fila.Ela tinha poucos amigos e pedir dinheiro emprestado era fora de questão.A única pessoa que poderia ajudá-la era Sílvio.Ela ligou, mas ele não atendeu.Mandou uma mensagem: [Assunto urgente, atenda, Presidente Sílvio.]Era a primeira vez que ela o chamava de Presidente Sílvio.Primeira ligação, sem resposta. Segunda, terceira, também não.Ela continuou insistindo, sem desistir, mesmo com o co