Leopoldo ligou para Sílvio para informar:— Presidente Sílvio, a Sra. Lúcia já chegou em segurança à Mansão Baptista. Mas ela parece estar muito abalada e não permitiu que eu ficasse por perto. Estou preocupado que, com tudo o que aconteceu, ela possa fazer alguma besteira.Ele realmente não queria pensar no pior, especialmente quando se tratava de Lúcia. Ela havia sido muito generosa com ele — foi Lúcia quem o apresentou à mulher que viria a ser o amor de sua vida. Mas, nos últimos dois dias, ela havia perdido as duas pessoas mais importantes de sua vida, tornando-se órfã. Qualquer um ficaria devastado, e ainda mais Lúcia, que estava grávida.— Estou indo. Espere por mim antes de sair. — A voz de Sílvio soava cansada pelo telefone, antes de ele encerrar a ligação.Na sede do Grupo Baptista, a mesa de Sílvio estava cheia de pastas e documentos, que se empilhavam cada vez mais. Era época de Natal, mas, para sua esposa, as festividades haviam sido destruídas por uma sucessão de tragéd
Se contasse para Sílvio, o conflito entre ele e Lúcia poderia aumentar ainda mais.Mas se não dissesse, Sílvio poderia continuar negligente com Lúcia, e isso abriria espaço para o rival.Pensando nas consequências, Leopoldo levantou os olhos, como se tivesse tomado uma grande decisão, e disse:— O senhor precisa prestar mais atenção na Sra. Lúcia. O Basílio tem segundas intenções com ela.— Isso precisa ser dito? — Sílvio soltou um riso frio.Leopoldo continuou:— A Sra. Sandra, antes de morrer, começou a delirar e entregou a Lúcia aos cuidados de Basílio. E ele não recusou, aceitou o pedido.O rosto de Sílvio endureceu, tornando-se indecifrável. Sua sogra, até no leito de morte, parecia determinada a interferir. Será que ela não suportava a ideia de que ele e Lúcia pudessem viver em paz?— E o Basílio pediu para eu lhe dar um recado.— Que recado?— Ele disse que conhece a Sra. Lúcia há muito mais tempo que o senhor. Se ele quisesse algo, teria tido muitas oportunidades. — Leopoldo fe
Assim que Lúcia entrou na Mansão Baptista e abriu a porta, viu que tudo estava como sempre.Por um breve momento, ela quase conseguiu ver Abelardo sentado em sua cadeira de rodas, segurando uma caneta, escrevendo calmamente sobre a mesa. Sandra se aproximava com uma bandeja de frutas, colocando-a diante dele e dizendo:— Querido, você já está cansado. Descanse um pouco, não force tanto os olhos.Logo depois, Lúcia imaginou Abelardo se levantando com dificuldade da cadeira de rodas, com o apoio da mãe. Ele estava visivelmente emocionado, um sorriso de alegria iluminando seu rosto levemente rechonchudo.Abelardo ergueu o olhar, encontrando os olhos de Lúcia, e abriu os braços, com uma expressão de carinho e orgulho:— Lúcia, olha só! Eu consegui me levantar! Realizei o desejo que você tinha antes de viajar! Você está feliz, não está?O nariz de Lúcia ardeu, e ela balançou a cabeça, assentindo:— Muito feliz.— Vem cá, me dá um abraço. Filha, onde você estava? Hoje é Natal, o jantar já es
Lúcia olhou para a versão mais jovem de si mesma, que agora tinha parado de chorar e estava rindo.Ela piscou os olhos, e tudo desapareceu. A menina, o pai, a mãe, todos sumiram.Um vazio imenso tomou conta de Lúcia. A dor que sentia no peito era quase insuportável, uma angústia que a deixava sem ar. De repente, seu corpo começou a doer, como se inúmeras serpentes venenosas estivessem rasgando sua pele.A dor era lancinante, forçando-a a se agachar lentamente até o chão, enquanto o suor escorria de sua testa. Ela se deitou na carpete, seu rosto distorcido pela agonia que a consumia.Ela não queria pegar os remédios para dor. Não queria mais lutar. Deixar-se morrer parecia a solução mais fácil, assim poderia reencontrar seus pais.Antigamente, ela ainda tinha esperança, ainda se agarrava a sonhos e ilusões. Por isso, tomava os medicamentos com determinação, querendo viver mais alguns dias.Mas agora, tudo havia desmoronado. Ela aceitou seu destino.— Pai, mãe, me levem com vocês. Eu nã
Lúcia olhava fixamente para ele, como se estivesse avaliando suas intenções. Sílvio parecia genuinamente preocupado com ela. Mas ela sabia que era tudo uma farsa.Ela estava naquela situação por causa dele. Tudo o que acontecera, tudo o que ela tinha se tornado, era culpa daquele homem à sua frente.Quando Sílvio tentou tocá-la, Lúcia se afastou bruscamente, como se ele fosse algo repugnante. Ela empurrou o braço dele com nojo:— Tira essas suas mãos imundas de mim.O movimento a fez bater o braço de Sílvio no canto da mesa de centro, e ele soltou um gemido de dor.Olhando para o braço, viu que tinha arrancado um pouco da pele, e agora estava inchado e vermelho.— Tá doendo? — Lúcia lançou um olhar rápido para o ferimento dele, um leve sorriso de escárnio nos lábios.Sílvio levantou o olhar. O que ele viu nos olhos dela foi um brilho cruel, um sorriso gélido.Ela estava rindo da dor dele! E aquela frieza em seus olhos...Se fosse antes, no passado, Lúcia teria corrido para cuidar dele
— Natal é um dia de alegria, de reunir a família! Você não podia, por mim, deixar isso de lado? Eu já te disse, você pode descontar todo o seu ódio, toda a sua raiva em mim! Eu não vou reclamar! Mas deixa meu pai em paz, deixa a família Baptista em paz! Deixa minha mãe em paz! Sílvio, você é um manipulador, um hipócrita que fala de moral, mas age como um monstro! Você é pior que um animal! Porque nem os animais traem sua própria família! — Lúcia disparava com a voz trêmula, carregada de dor. — Você lembra do que me prometeu? Você disse que se eu tivesse o seu filho, você ia proteger minha família, cuidar deles. Jurou que ia ampará-los, que ia garantir que nada de ruim acontecesse! Você fez até um juramento! Disse que, se quebrasse sua palavra, você morreria! Sílvio, você acha que a justiça nunca vai te alcançar? Acha que pode brincar comigo, destruir minha família uma pessoa por vez? É isso que você quer, né? — Ela gritou com todas as forças, a voz quase se apagando de tanto esforço.
Lúcia se debatia sem parar, mas seus braços estavam firmemente presos por Sílvio, que os segurava com força, sem deixar espaço para que ela se movesse.Os beijos dele não eram nem um pouco agradáveis, ao contrário, a faziam sentir nojo.Ela virava o rosto repetidamente, tentando escapar. Mas o beijo frio de Sílvio, carregado com o cheiro de cigarro, acabava pousando em sua bochecha esquerda.Ele, teimoso, insistia em beijá-la novamente.Lúcia virou o rosto mais uma vez, fazendo com que ele errasse o alvo.Toda a paciência que Sílvio tinha foi completamente esgotada por aquela mulher. Não sobrara nem um pingo.A raiva e o ciúme queimavam dentro dele. Ela o evitava com tanta determinação, mas não tinha o menor pudor com Basílio. Por que isso? O que ele tinha de pior que o filho ilegítimo? Tudo o que ele havia feito por Lúcia, por aquela maldita família Baptista, não era o suficiente?— Por que está fugindo? — Sílvio perguntou, com os olhos vermelhos de fúria, enquanto agarrava o pescoço
Lúcia piscou os olhos secos e logo se lembrou de quando levou comida para ele no hospital.Mas ele estava no quarto de Giovana, cuidando dela. Giovana, com os olhos cheios de admiração, perguntou:— Sílvio, e se eu pedisse para você se casar comigo? E se eu quisesse que você cumprisse sua promessa e me fizesse sua esposa? Você aceitaria?Ela envolveu o pescoço dele com os braços e o beijou nos lábios sem hesitar.Lúcia viu claramente que ele não afastou Giovana!Lembrou-se também do Natal, quando ela e a mãe voltavam da padaria com bolos para o pai e o encontraram pendurado na sacada. Sílvio segurava a mão dele, como se estivessem travando uma espécie de disputa.Ela chamou por Sílvio, e assim que ele a viu, soltou a mão de seu pai. O corpo de seu pai despencou para o vazio!Ele não precisava ter morrido. Poderia ter vivido o resto de seus dias em paz!Sílvio era um assassino. Um assassino cruel e sem coração!Lúcia ainda se lembrava de sua mãe, que, no caminho de volta do funeral do p