Lúcia olhava fixamente para ele, como se estivesse avaliando suas intenções. Sílvio parecia genuinamente preocupado com ela. Mas ela sabia que era tudo uma farsa.Ela estava naquela situação por causa dele. Tudo o que acontecera, tudo o que ela tinha se tornado, era culpa daquele homem à sua frente.Quando Sílvio tentou tocá-la, Lúcia se afastou bruscamente, como se ele fosse algo repugnante. Ela empurrou o braço dele com nojo:— Tira essas suas mãos imundas de mim.O movimento a fez bater o braço de Sílvio no canto da mesa de centro, e ele soltou um gemido de dor.Olhando para o braço, viu que tinha arrancado um pouco da pele, e agora estava inchado e vermelho.— Tá doendo? — Lúcia lançou um olhar rápido para o ferimento dele, um leve sorriso de escárnio nos lábios.Sílvio levantou o olhar. O que ele viu nos olhos dela foi um brilho cruel, um sorriso gélido.Ela estava rindo da dor dele! E aquela frieza em seus olhos...Se fosse antes, no passado, Lúcia teria corrido para cuidar dele
— Natal é um dia de alegria, de reunir a família! Você não podia, por mim, deixar isso de lado? Eu já te disse, você pode descontar todo o seu ódio, toda a sua raiva em mim! Eu não vou reclamar! Mas deixa meu pai em paz, deixa a família Baptista em paz! Deixa minha mãe em paz! Sílvio, você é um manipulador, um hipócrita que fala de moral, mas age como um monstro! Você é pior que um animal! Porque nem os animais traem sua própria família! — Lúcia disparava com a voz trêmula, carregada de dor. — Você lembra do que me prometeu? Você disse que se eu tivesse o seu filho, você ia proteger minha família, cuidar deles. Jurou que ia ampará-los, que ia garantir que nada de ruim acontecesse! Você fez até um juramento! Disse que, se quebrasse sua palavra, você morreria! Sílvio, você acha que a justiça nunca vai te alcançar? Acha que pode brincar comigo, destruir minha família uma pessoa por vez? É isso que você quer, né? — Ela gritou com todas as forças, a voz quase se apagando de tanto esforço.
Lúcia se debatia sem parar, mas seus braços estavam firmemente presos por Sílvio, que os segurava com força, sem deixar espaço para que ela se movesse.Os beijos dele não eram nem um pouco agradáveis, ao contrário, a faziam sentir nojo.Ela virava o rosto repetidamente, tentando escapar. Mas o beijo frio de Sílvio, carregado com o cheiro de cigarro, acabava pousando em sua bochecha esquerda.Ele, teimoso, insistia em beijá-la novamente.Lúcia virou o rosto mais uma vez, fazendo com que ele errasse o alvo.Toda a paciência que Sílvio tinha foi completamente esgotada por aquela mulher. Não sobrara nem um pingo.A raiva e o ciúme queimavam dentro dele. Ela o evitava com tanta determinação, mas não tinha o menor pudor com Basílio. Por que isso? O que ele tinha de pior que o filho ilegítimo? Tudo o que ele havia feito por Lúcia, por aquela maldita família Baptista, não era o suficiente?— Por que está fugindo? — Sílvio perguntou, com os olhos vermelhos de fúria, enquanto agarrava o pescoço
Lúcia piscou os olhos secos e logo se lembrou de quando levou comida para ele no hospital.Mas ele estava no quarto de Giovana, cuidando dela. Giovana, com os olhos cheios de admiração, perguntou:— Sílvio, e se eu pedisse para você se casar comigo? E se eu quisesse que você cumprisse sua promessa e me fizesse sua esposa? Você aceitaria?Ela envolveu o pescoço dele com os braços e o beijou nos lábios sem hesitar.Lúcia viu claramente que ele não afastou Giovana!Lembrou-se também do Natal, quando ela e a mãe voltavam da padaria com bolos para o pai e o encontraram pendurado na sacada. Sílvio segurava a mão dele, como se estivessem travando uma espécie de disputa.Ela chamou por Sílvio, e assim que ele a viu, soltou a mão de seu pai. O corpo de seu pai despencou para o vazio!Ele não precisava ter morrido. Poderia ter vivido o resto de seus dias em paz!Sílvio era um assassino. Um assassino cruel e sem coração!Lúcia ainda se lembrava de sua mãe, que, no caminho de volta do funeral do p
A saúde de Sílvio sempre fora robusta, ele não teria problemas graves.Provavelmente, o motivo do sangue no nariz era o excesso de trabalho nos últimos dias, somado às situações estressantes que enfrentara. Além disso, ele não vinha se alimentando direito e o clima seco do inverno só piorava as coisas.Sílvio puxou um lenço de papel do porta-luvas e limpou o sangue da palma da mão. Sua irritação só aumentava.Lembrou-se de que tinha comprado comida japonesa para jantar com Lúcia. Mas, ao entrar na mansão, a encontrou deitada no tapete, com uma expressão de quem havia perdido toda a esperança na vida.Foi a raiva que o cegou e o fez esquecer o motivo real de sua visita: vê-la e entregar o jantar.Sílvio abriu a janela do carro e o vento frio entrou, batendo em seu rosto. A cabeça quente começou a esfriar aos poucos.Ele pegou uma caixa de cigarros, bateu para soltar um, colocou-o entre os lábios e o acendeu com um isqueiro. Tragou profundamente, enquanto o vento fazia a ponta do cigarro
Então, quando Marina encontrou outra desculpa, Lúcia ficou mais receptiva.Lúcia deu uma olhada no cesto de legumes que a outra carregava. Havia pepinos verdes e brilhantes, tomates vermelhos e suculentos, além de brócolis frescos.Marina ainda trazia uma galinha viva, que cacarejava alto, com os olhos vivos, se mexendo sem parar.— Essa é uma galinha caipira lá de casa. Vai ser ótima pra sua alimentação durante a gravidez, vai te dar muita força. — Disse Marina, sorrindo.Ao ouvir a palavra "gravidez", as sobrancelhas de Lúcia se franziram.Se Marina não tivesse mencionado, ela quase teria esquecido que ainda carregava uma criança deformada em seu ventre.Lúcia não queria ouvir mais nada sobre gravidez, mas sabia que não devia descontar sua frustração em quem não tinha culpa. Afinal, Marina sempre a tratou bem.— Obrigada. — Foi o que ela conseguiu dizer, depois de pensar por alguns instantes.Marina continuou:— Sra. Lúcia, eu estava pensando... Gostaria de ficar aqui por um tempo, f
Marina viu que a porta do escritório estava fechada. Estava preocupada com Lúcia, que não queria comer. Ela era uma mulher grávida, e se ficasse sem se alimentar, as consequências poderiam ser graves. Marina sabia que não poderia arcar com esse tipo de responsabilidade.Enquanto ela ponderava sobre o que fazer, o celular tocou.Ao ver que era Leopoldo, seu semblante escureceu. Rapidamente, ela desceu as escadas e foi para seu quarto de hóspedes. Só depois de fechar a porta, atendeu à chamada.Leopoldo era direto, sem rodeios.— Como está a Sra. Lúcia?Marina hesitou. Deveria contar a ele o que estava acontecendo com Lúcia? Se falasse, estaria efetivamente se tornando um espiã de Lúcia. Ela não queria traí-la.— Marina. — A voz de Leopoldo ficou mais firme. — O Sr. Sílvio te mandou aí para cuidar da Sra. Lúcia. Ela está grávida do nosso chefe. Se algo acontecer com o bebê, você acha que vai conseguir lidar com as consequências? Ele deu uma pausa, antes de pressioná-la ainda mais. — Vo
Abelardo sorriu, afagando os cabelos da filha.— Posso conversar, mas só por cinco minutos.— Pai, dinheiro não é tudo na vida. Se você ficar doente de tanto trabalhar, de que adianta todo esse esforço? A saúde é o mais importante.— Lúcia, seu pai já está velho. Eu te tive tarde. — Ele disse, suspirando.A menina olhou para ele, sem entender.— E o que isso tem de mais?— Significa que o tempo passa mais rápido para mim do que para você. Eu preciso garantir que você e sua mãe tenham uma vida boa. Dinheiro não compra tudo, mas, sem ele, as dificuldades da vida podem ser implacáveis. Quero que você e sua mãe vivam felizes, sem preocupações.— Pai, eu não entendo o que você está dizendo.— Não precisa entender, Lúcia. O que importa é que eu e sua mãe amamos você mais do que qualquer coisa no mundo. Nunca faríamos algo que pudesse te machucar.— Eu também amo você e a mamãe! — A pequena Lúcia sorriu, e, de repente, deu um beijo estalado na bochecha de Abelardo.Aquele beijo derreteu o cor