Lúcia implorava sem parar para que sua mãe resistisse só mais um pouco. Logo chegariam ao hospital, e lá poderiam salvá-la.Sandra fez um esforço para acenar com a cabeça.Para evitar que sua mãe adormecesse, Lúcia começou a contar piadas, chorando enquanto falava.As piadas até eram engraçadas, mas Lúcia não conseguia rir. Na verdade, à medida que falava, as lágrimas caíam cada vez mais.Sandra, tentando acompanhar, forçou um sorriso. Mesmo exausta, ela puxou os lábios numa tentativa de mostrar à filha que estava ouvindo.Mas o cansaço tomou conta de Sandra de repente. Seu corpo, já tão frágil, parecia pesado demais para sustentar. Era como se suas pálpebras estivessem carregadas de chumbo, e manter os olhos abertos tornou-se uma tarefa quase impossível.A visão dela começou a embaçar, e Lúcia, que estava bem à sua frente, começou a se multiplicar. Sandra piscava, tentando focar, mas não conseguia encontrar sua filha entre as várias imagens que enxergava.De repente, sua mente a trans
A mão de Sandra já estava completamente fria, sem qualquer vestígio de calor.— Mãe, acorda! Mãe, por favor, acorda! — Lúcia chorava descontroladamente, sacudindo o corpo da mãe. — Não me assusta assim. Não faz isso comigo! Não brinca desse jeito!Mas, por mais que Lúcia chorasse e implorasse, Sandra não reagia mais.— Basílio, por favor, leve minha mãe rápido para dentro do hospital, agora! — Lúcia secou as lágrimas e saiu apressada do carro.Basílio levantou Sandra em seus braços e entrou rapidamente no hospital.O Dr. Arthur, que estava no primeiro andar fazendo suas rondas, viu Basílio carregando Sandra, seguido por Lúcia e Leopoldo, e ficou surpreso.— Dr. Arthur, por favor, salve minha mãe, rápido! — Leopoldo pediu, ansioso.O médico prontamente mandou que Basílio levasse Sandra para a sala de emergência.Após uma breve avaliação, Dr. Arthur soltou um suspiro profundo. Com um olhar triste, ele encarou Lúcia e os outros.— Sra. Lúcia, sinto muito. Sua mãe já faleceu. Nós perdemos
Ao ouvir que era Sílvio ligando, Lúcia franziu a testa, sem conseguir evitar:— Não deixe ele vir.No enterro de seu pai, Sílvio já havia causado um desentendimento entre eles. Agora, Lúcia não queria que ele perturbasse o funeral de sua mãe.Sílvio era a pessoa que sua mãe mais detestava. Se ele aparecesse, Sandra não teria paz nem em sua passagem para o outro lado.As palavras de Lúcia deixaram Leopoldo surpreso. Ele olhou para o celular que ainda piscava em sua mão, hesitou um momento, depois disse:— Sra. Lúcia, vou atender lá fora.Com passos largos, Leopoldo saiu do prédio funerário. A neve lá fora caía com ainda mais intensidade.— Presidente Sílvio. — Leopoldo atendeu a ligação. — Desculpe a demora. Eu estava ocupado e não vi sua chamada. Peço desculpas.Sílvio estava irritado. Leopoldo sempre atendia de imediato, mas desta vez o fez esperar. Como ele não ficaria aborrecido? No entanto, considerando a situação delicada daquele dia, conteve sua irritação e perguntou, com a voz p
Leopoldo não queria deixar Basílio a sós com Lúcia. Sentia que havia algo de errado nas intenções dele e preferia não correr riscos.Antes que Basílio pudesse responder, Lúcia ergueu os olhos e o encarou:— Ele tem razão. Você já prestou suas condolências ao meu pai, e minha mãe com certeza já recebeu sua homenagem. Não precisa perder mais tempo com pessoas e assuntos que não importam.— Hoje estou livre, sem nada para fazer. Além do mais, a Sra. Sandra me pediu para cuidar de você. Só vou ficar tranquilo quando te vir em casa, em segurança. — Basílio mentiu. Na verdade, ele havia cancelado um compromisso importante com o pai para estar ali.Sabia que, ao voltar, seria repreendido, mas nada disso importava agora. Tudo o que ele queria era estar perto de Lúcia, mesmo que à distância, apenas para garantir que ela ficaria bem.Lúcia não respondeu mais nada.Na ida ao cemitério, foi Leopoldo quem dirigiu.Basílio, por sua vez, pegou uma pá e começou a cavar um novo buraco ao lado da cova d
Leopoldo ligou para Sílvio para informar:— Presidente Sílvio, a Sra. Lúcia já chegou em segurança à Mansão Baptista. Mas ela parece estar muito abalada e não permitiu que eu ficasse por perto. Estou preocupado que, com tudo o que aconteceu, ela possa fazer alguma besteira.Ele realmente não queria pensar no pior, especialmente quando se tratava de Lúcia. Ela havia sido muito generosa com ele — foi Lúcia quem o apresentou à mulher que viria a ser o amor de sua vida. Mas, nos últimos dois dias, ela havia perdido as duas pessoas mais importantes de sua vida, tornando-se órfã. Qualquer um ficaria devastado, e ainda mais Lúcia, que estava grávida.— Estou indo. Espere por mim antes de sair. — A voz de Sílvio soava cansada pelo telefone, antes de ele encerrar a ligação.Na sede do Grupo Baptista, a mesa de Sílvio estava cheia de pastas e documentos, que se empilhavam cada vez mais. Era época de Natal, mas, para sua esposa, as festividades haviam sido destruídas por uma sucessão de tragéd
Se contasse para Sílvio, o conflito entre ele e Lúcia poderia aumentar ainda mais.Mas se não dissesse, Sílvio poderia continuar negligente com Lúcia, e isso abriria espaço para o rival.Pensando nas consequências, Leopoldo levantou os olhos, como se tivesse tomado uma grande decisão, e disse:— O senhor precisa prestar mais atenção na Sra. Lúcia. O Basílio tem segundas intenções com ela.— Isso precisa ser dito? — Sílvio soltou um riso frio.Leopoldo continuou:— A Sra. Sandra, antes de morrer, começou a delirar e entregou a Lúcia aos cuidados de Basílio. E ele não recusou, aceitou o pedido.O rosto de Sílvio endureceu, tornando-se indecifrável. Sua sogra, até no leito de morte, parecia determinada a interferir. Será que ela não suportava a ideia de que ele e Lúcia pudessem viver em paz?— E o Basílio pediu para eu lhe dar um recado.— Que recado?— Ele disse que conhece a Sra. Lúcia há muito mais tempo que o senhor. Se ele quisesse algo, teria tido muitas oportunidades. — Leopoldo fe
Assim que Lúcia entrou na Mansão Baptista e abriu a porta, viu que tudo estava como sempre.Por um breve momento, ela quase conseguiu ver Abelardo sentado em sua cadeira de rodas, segurando uma caneta, escrevendo calmamente sobre a mesa. Sandra se aproximava com uma bandeja de frutas, colocando-a diante dele e dizendo:— Querido, você já está cansado. Descanse um pouco, não force tanto os olhos.Logo depois, Lúcia imaginou Abelardo se levantando com dificuldade da cadeira de rodas, com o apoio da mãe. Ele estava visivelmente emocionado, um sorriso de alegria iluminando seu rosto levemente rechonchudo.Abelardo ergueu o olhar, encontrando os olhos de Lúcia, e abriu os braços, com uma expressão de carinho e orgulho:— Lúcia, olha só! Eu consegui me levantar! Realizei o desejo que você tinha antes de viajar! Você está feliz, não está?O nariz de Lúcia ardeu, e ela balançou a cabeça, assentindo:— Muito feliz.— Vem cá, me dá um abraço. Filha, onde você estava? Hoje é Natal, o jantar já es
Lúcia olhou para a versão mais jovem de si mesma, que agora tinha parado de chorar e estava rindo.Ela piscou os olhos, e tudo desapareceu. A menina, o pai, a mãe, todos sumiram.Um vazio imenso tomou conta de Lúcia. A dor que sentia no peito era quase insuportável, uma angústia que a deixava sem ar. De repente, seu corpo começou a doer, como se inúmeras serpentes venenosas estivessem rasgando sua pele.A dor era lancinante, forçando-a a se agachar lentamente até o chão, enquanto o suor escorria de sua testa. Ela se deitou na carpete, seu rosto distorcido pela agonia que a consumia.Ela não queria pegar os remédios para dor. Não queria mais lutar. Deixar-se morrer parecia a solução mais fácil, assim poderia reencontrar seus pais.Antigamente, ela ainda tinha esperança, ainda se agarrava a sonhos e ilusões. Por isso, tomava os medicamentos com determinação, querendo viver mais alguns dias.Mas agora, tudo havia desmoronado. Ela aceitou seu destino.— Pai, mãe, me levem com vocês. Eu nã