Lúcia não sabia ao certo por que, mas diminuiu o ritmo.A respiração de Sandra ficava cada vez mais pesada, como se mãos invisíveis estivessem apertando sua garganta com força. Ela sentia o ar faltar e sua consciência começava a se embaralhar. De repente, teve uma visão de seu marido, e de si mesma, jovem, cheia de vida.Vinte e poucos anos atrás, exatamente naquele dia, ela e Abelardo andavam de mãos dadas pela neve, celebrando sua união, jurando amor eterno.Mas, após alguns instantes, a imagem mudou. A mão que segurava agora não era a de Abelardo, mas a de Lúcia.Com a voz fraca e arrastada, Sandra disse:— Lúcia, escuta bem o que eu vou te falar... Não importa o que aconteça, nunca desista da sua vida. Não faça nenhuma besteira. A vida só acontece uma vez. Se o Sílvio não te fizer feliz, você deve deixá-lo. Agora que seu pai se foi, você está livre desse fardo. E se eu também morrer, você pode finalmente viver sua vida em paz.Lúcia franziu as sobrancelhas ao ouvir aquilo:— Mãe, q
Lúcia se abaixou rapidamente, tentando levantar Sandra, mas ao tocar a mão da mãe, sentiu um frio assustador.— Mãe... Mãe... — Lúcia sussurrava, vendo as pálpebras de Sandra piscarem lentamente. Ela rapidamente verificou a respiração da mãe, que já era muito fraca.Basílio e Leopoldo correram ao mesmo tempo, mas Basílio foi mais rápido e pegou Sandra nos braços, caminhando apressado em direção ao carro.Sandra foi colocada no banco traseiro, deitada. Leopoldo assumiu o volante.Quando Basílio estava prestes a sair do carro, Sandra o olhou diretamente:— Basílio, tenho algumas palavras para você.— Basílio, venha com a gente, por favor. — Lúcia pediu, temendo que o último desejo da mãe não fosse realizado.Basílio assentiu e entrou no carro, fechando a porta enquanto Leopoldo ligava o motor, acelerando pela estrada sinuosa da montanha.— Leopoldo, por favor, vá mais rápido. Leve minha mãe ao hospital mais próximo. — Lúcia pediu, com os lábios trêmulos de preocupação.— Pode deixar, vou
Leopoldo olhou com desconfiança para Basílio, vendo-o como um rival de Sílvio. Achou que ele não tinha boas intenções e, por isso, se adiantou:— Sr. Basílio, não precisa se incomodar. — Leopoldo o empurrou levemente para o lado e, ele mesmo, carregou Sandra para fora do carro.O médico examinou rapidamente o estado de Sandra e seu semblante se tornou cada vez mais grave:— Vocês precisam levar a paciente para um hospital na cidade urgentemente. Aqui não temos os equipamentos necessários para salvá-la. Se demorarem, não terá mais o que fazer.As palavras do médico caíram como um golpe devastador.O hospital da Cidade A ficava a pelo menos meia hora de distância, mesmo dirigindo o mais rápido possível. Será que sua mãe aguentaria esse tempo?Sandra foi colocada de volta no carro, e Leopoldo acelerou como nunca, dirigindo em alta velocidade, tentando chegar ao hospital a tempo.Lúcia estava sentada de frente para a mãe, vendo o rosto de Sandra cada vez mais pálido e sentindo sua mão fica
Lúcia implorava sem parar para que sua mãe resistisse só mais um pouco. Logo chegariam ao hospital, e lá poderiam salvá-la.Sandra fez um esforço para acenar com a cabeça.Para evitar que sua mãe adormecesse, Lúcia começou a contar piadas, chorando enquanto falava.As piadas até eram engraçadas, mas Lúcia não conseguia rir. Na verdade, à medida que falava, as lágrimas caíam cada vez mais.Sandra, tentando acompanhar, forçou um sorriso. Mesmo exausta, ela puxou os lábios numa tentativa de mostrar à filha que estava ouvindo.Mas o cansaço tomou conta de Sandra de repente. Seu corpo, já tão frágil, parecia pesado demais para sustentar. Era como se suas pálpebras estivessem carregadas de chumbo, e manter os olhos abertos tornou-se uma tarefa quase impossível.A visão dela começou a embaçar, e Lúcia, que estava bem à sua frente, começou a se multiplicar. Sandra piscava, tentando focar, mas não conseguia encontrar sua filha entre as várias imagens que enxergava.De repente, sua mente a trans
A mão de Sandra já estava completamente fria, sem qualquer vestígio de calor.— Mãe, acorda! Mãe, por favor, acorda! — Lúcia chorava descontroladamente, sacudindo o corpo da mãe. — Não me assusta assim. Não faz isso comigo! Não brinca desse jeito!Mas, por mais que Lúcia chorasse e implorasse, Sandra não reagia mais.— Basílio, por favor, leve minha mãe rápido para dentro do hospital, agora! — Lúcia secou as lágrimas e saiu apressada do carro.Basílio levantou Sandra em seus braços e entrou rapidamente no hospital.O Dr. Arthur, que estava no primeiro andar fazendo suas rondas, viu Basílio carregando Sandra, seguido por Lúcia e Leopoldo, e ficou surpreso.— Dr. Arthur, por favor, salve minha mãe, rápido! — Leopoldo pediu, ansioso.O médico prontamente mandou que Basílio levasse Sandra para a sala de emergência.Após uma breve avaliação, Dr. Arthur soltou um suspiro profundo. Com um olhar triste, ele encarou Lúcia e os outros.— Sra. Lúcia, sinto muito. Sua mãe já faleceu. Nós perdemos
Ao ouvir que era Sílvio ligando, Lúcia franziu a testa, sem conseguir evitar:— Não deixe ele vir.No enterro de seu pai, Sílvio já havia causado um desentendimento entre eles. Agora, Lúcia não queria que ele perturbasse o funeral de sua mãe.Sílvio era a pessoa que sua mãe mais detestava. Se ele aparecesse, Sandra não teria paz nem em sua passagem para o outro lado.As palavras de Lúcia deixaram Leopoldo surpreso. Ele olhou para o celular que ainda piscava em sua mão, hesitou um momento, depois disse:— Sra. Lúcia, vou atender lá fora.Com passos largos, Leopoldo saiu do prédio funerário. A neve lá fora caía com ainda mais intensidade.— Presidente Sílvio. — Leopoldo atendeu a ligação. — Desculpe a demora. Eu estava ocupado e não vi sua chamada. Peço desculpas.Sílvio estava irritado. Leopoldo sempre atendia de imediato, mas desta vez o fez esperar. Como ele não ficaria aborrecido? No entanto, considerando a situação delicada daquele dia, conteve sua irritação e perguntou, com a voz p
Leopoldo não queria deixar Basílio a sós com Lúcia. Sentia que havia algo de errado nas intenções dele e preferia não correr riscos.Antes que Basílio pudesse responder, Lúcia ergueu os olhos e o encarou:— Ele tem razão. Você já prestou suas condolências ao meu pai, e minha mãe com certeza já recebeu sua homenagem. Não precisa perder mais tempo com pessoas e assuntos que não importam.— Hoje estou livre, sem nada para fazer. Além do mais, a Sra. Sandra me pediu para cuidar de você. Só vou ficar tranquilo quando te vir em casa, em segurança. — Basílio mentiu. Na verdade, ele havia cancelado um compromisso importante com o pai para estar ali.Sabia que, ao voltar, seria repreendido, mas nada disso importava agora. Tudo o que ele queria era estar perto de Lúcia, mesmo que à distância, apenas para garantir que ela ficaria bem.Lúcia não respondeu mais nada.Na ida ao cemitério, foi Leopoldo quem dirigiu.Basílio, por sua vez, pegou uma pá e começou a cavar um novo buraco ao lado da cova d
Leopoldo ligou para Sílvio para informar:— Presidente Sílvio, a Sra. Lúcia já chegou em segurança à Mansão Baptista. Mas ela parece estar muito abalada e não permitiu que eu ficasse por perto. Estou preocupado que, com tudo o que aconteceu, ela possa fazer alguma besteira.Ele realmente não queria pensar no pior, especialmente quando se tratava de Lúcia. Ela havia sido muito generosa com ele — foi Lúcia quem o apresentou à mulher que viria a ser o amor de sua vida. Mas, nos últimos dois dias, ela havia perdido as duas pessoas mais importantes de sua vida, tornando-se órfã. Qualquer um ficaria devastado, e ainda mais Lúcia, que estava grávida.— Estou indo. Espere por mim antes de sair. — A voz de Sílvio soava cansada pelo telefone, antes de ele encerrar a ligação.Na sede do Grupo Baptista, a mesa de Sílvio estava cheia de pastas e documentos, que se empilhavam cada vez mais. Era época de Natal, mas, para sua esposa, as festividades haviam sido destruídas por uma sucessão de tragéd